No dia 12 de janeiro de 1995, recebi pela manhã um telefonema de M, uma das secretárias de jornalismo da TV Bahia, afiliada da Rede Globo em Salvador, contando um fato no mínimo estranho. Alguém havia ligado da cidade de Feira de Santana – localizada a 12 km da capital para oferecer um furo fantástico de reportagem na área ufológica. Tal pessoa queria falar com o jornalista José Raimundo, o repórter que cobriu as aparições ufológicas em Mucugê, na Chapada Diamantina, para o programa Fantástico, em várias edições de grande audiência no fim do ano passado.
Liguei de imediato para a TV, falando com A, que confirmou toda a história e acrescentou que o senhor B, no início, queria saber quanto lhe pagariam por um fato sensacional. A secretária da TV Bahia também forneceu o telefone de B. Nosso contato com ele foi rápido e um tanto subjetivo. “Quanto ganho pela notícia?, indagou B. “Meu amigo”, respondi-lhe de imediato, “eu não posso oferecer nada sem saber o que você tem para vender e se essa mercadoria é de fato tão valiosa. Pelo menos tenho que saber do que se trata, com todos os detalhes. Aí, talvez, eu possa lhe dizer algo”. Então, B resolveu contar tudo, ou pelo menos, parte do que sabia, com o seguinte relato:
“Ontem pela madrugada, caiu alguma coisa luminosa em minha fazenda, dentro de uma lagoa. Era do tamanho de um fusca. Aquilo ficou boiando, parcialmente submerso, perto da beira do lago. Tentei puxar como pude, trazendo para perto de mim com uma vara. Aquilo parecia um parto… Começou primeiro a sair um líquido gosmento e depois saíram duas \’coisas\’ ou criaturas, ou bichos, sei lá… Um deles estava morto quando eu o tirei da água, e o outro, que ainda está vivo, está comigo. Eles medem mais ou menos 90 cm. O que está morto parece gente e o outro está gemendo e se parece com um bicho preguiça: é todo peludo e tem garras muito compridas nos pés e nas mãos”.
O sujeito ligou para a TV Bahia querendo vender uma notícia que, segundo ele, era um furo de reportagem. Pelo que disse à equipe de ufólogos do Grupo de Pesquisas Aeroespaciais Zenith (G-PAZ), tinha resgatado um UFO caído em sua propriedade, no interior da Bahia. De seu interior, o sujeito teria visto sair duas criaturas: uma teria morrido em pouco tempo e a outra ainda estaria viva, guardada em sua fazenda
Diante do impressionante relato que estava ouvindo, perguntei se podia ver os seres que havia capturado. Precisava fazer isso para saber se, de fato, valiam alguma coisa. B então disse que depois do almoço iria até a fazenda buscá-los. “Além dos bichos, tenho também alguns pedaços do aparelho, que parecem metálicos mas não são, parecem ouro mas não são, pois se fosse, ficaria com tudo”, completou o senhor B.
Saco Plástico — a tal fazenda se localiza a mais ou menos 25 km de Feira de Santana, de forma que B estaria de volta às 21h00. O homem perguntou-me como faria para trazer o material no veículo, ou seja: as criaturas. Sugeri, junto a outros membros do Grupo de Pesquisas Aeroespaciais Zenith (G-PAZ), que o ser morto fosse colocado num saco plástico bem fechado e acondicionado num isopor com bastante gelo. Quanto ao outro ser, ainda vivo, dissemos que poderia ser colocado numa caixa de papelão. Confesso que minha cabeça estava atordoada. Se isso tudo fosse verdade, tínhamos em mãos o caso ufológico do século. Por outro lado, se fosse uma piada de mau gosto, poderia implodir o G-PAZ, os ufólogos envolvidos com o caso e também um jornalista de valor. Tínhamos que tomar uma decisão. Pagar para ver?
No decorrer da tarde, fizemos inúmeras sondagens e trocamos idéias. Havia, sem dúvida, alguns componentes que emprestavam alta dose de veracidade ao caso. Porém, alguma coisa não cheirava bem – e com certeza não era o cadáver do suposto ET. Os ufólogos Valmir de Souza, do G-PAZ, Vicente Cardoso, do Núcleo de Pesquisa Ufológica (NPU), e Emanoel Paranhos, da Sociedade de Estudos Ufológicos de Lauro de Freitas (SEULF), estavam dispostos a ir comigo a Feira de Santana para iniciarmos as investigações. O jornalista José Raimundo estava um pouco reticente e chegamos a acertar que iríamos até Feira de Santana no início da manhã seguinte e, caso fosse tudo verdade, o repórter se deslocaria de imediato com sua equipe de cinegrafistas ou, em caso de força maior, eu ficaria autorizado a chamar uma equipe da FV Subaé, de Feira.
Às 21h00, Emanoel Paranhos, incumbido de fazer uma ligação para a fazenda e marcar a nossa ida até lá no dia seguinte, foi surpreendido pelo tratamento que lhe foi dado ao telefone. A pessoa que o atendeu se identificou como a esposa de B e primeiramente disse que ele não estava, para depois falar que ele não podia atender. De forma ríspida, pediu para não ligarmos mais, pois nada do que seu marido havia dito era verdade. “Não há nada na fazenda de misterioso, nada aconteceu e meu marido é um bêbado e mentiroso. Não levem suas palavras a sério”, disse a mulher a Paranhos. Tudo ficou muito confuso a partir desse ponto…
Realmente, B pode até ser mais um mentiroso querendo aparecer. Existem milhares de pessoas assim e não seria nem o primeiro nem o último a tentar enganar os ufólogos. Mas há outros detalhes que não nos fazem crer na história de sua esposa. Primeiro, a descrição de B sobre os fatos nos pareceu bastante coerente (com algumas reservas, é claro) no que diz respeito ao objeto, o material do UFO (parecido com metal, só que mais leve) etc. Segundo, sua descrição dos seres – um se parecendo com gente e outro um bicho preguiça, todo coberto de pêlos negros, olhos grandes e 4 dedos com garras muito grandes – é interessante e original demais para ser uma invenção de um bêbado. Oras, não seria mais lógico, ao se inventar uma história desse tipo, citar os seres como criaturas iguais, verdes, cabeçudas e vestidas com roupas espaciais ou prateadas?
Histórias em Quadrinhos — Pelo menos é isso que nos mostram muitas vezes as histórias em quadrinhos, desenhos animados ou filmes de ficção científica. E mais: se B era um fazendeiro beberrão e sem cultura (pelo menos era isso que transparecia na sua forma de falar comigo ao telefone), como se explica o fato de ele ter tido conhecimento específico de ETs já observados, que nos lembram, por exemplo, casos que aconteceram em Caracas e San Carlos, ambas cidades da Venezuela, em 1954? Outro detalhe curioso é o de B descrever dois seres diferentes, como pertencentes a duas raças específicas. Na literatura ufológica especializada temos tomado conhecimento de que seres de origens e raças diferentes, em algumas ocasiões, parecem realizar operações conjuntas na Terra, abduzindo pessoas e submetendo-as a exames médicos no interior de UFOs.
Contudo, não me lembro de nenhum caso citando seres peludos. Além disso, esses conhecimentos, apesar da enorme penetração da Revista UFO e de alguns livros e vídeos mais recentes, não estariam ao alcance ou interesse de B. De mais a mais, o detalhe do parto e do líquido
gosmento nos lembra um pouco o filme Fogo no Céu, que narra a odisséia de Travis Walton, quando acorda dentro de uma nave extraterrestre, numa espécie de casulo. Mas os seres mostrados são os do tipo grays (cinzas) e não os peludos ou humanóides… Por fim, todas as informações poderiam ser perfeitamente reais, ou melhor dizendo, coerentemente reais.
Porém, as reportagens sobre UFOs em Mucugê e na gruta de Brejões mostraram fatos e realidades que podem ter incomodado muito certas pessoas ou instituições. Outra suposição bastante lógica é que lodo o estardalhaço que fez B para conseguir ganhar algum dinheiro com seu furo de reportagem tenha levado “certas” pessoas ou instituições a chegarem primeiro ao palco dos acontecimentos e, após confiscarem tudo (como no Caso Roswell), convenceram o senhor B e sua esposa a negarem o fato… Se tivéssemos viajado para Feira de Santana imediatamente após recebermos o telefonema, teríamos encontrado alguma coisa? Talvez nunca saibamos.
Resta-nos ainda outra hipótese, mais séria, pelas implicações ou desdobramentos. Se o indivíduo fosse realmente bêbado e mentiroso, não poderia jamais fabular com tanta perfeição e coerência uma história dessas. Eis uma isca perfeita para qualquer pesquisador mais afoito: o perigo é que essas informações podem ter sido plantadas com um propósito específico, obscuro. Por fim, cabe a nós nos perguntarmos: o caso todo é verdade, uma mentira deslavada ou uma arapuca que não funcionou?