Poucos casos de seqüestros alienígenas foram tão investigados e debatidos em todo o mundo como o de Travis Walton, um lenhador de Snowflake, Arizona, O lenhador desapareceu por um período de 5 dias, após ter se encontrado com um UFO no dia 5 de novembro de 1975. A história de Travis constitui o tema central do filme Fogo no Céu, produzido em 1993 pela Paramount Pictures e dirigido por Robert Lieberman.
O filme não é apenas um conto de fantasia extraterrestre produzido em Hollywood. O caso Walton foi assiduamente investigado pelas autoridades policiais do condado de Navarro, Arizona — os oficiais chegaram até a pensar que Walton havia sido assassinado por um dos colegas que estavam com ele na ocasião do contato com o UFO no Bosque Nacional Apache-Sitgreaves. Há que se levar em conta, também, que. quando ocorreu este incidente há quase 20 anos, o tema dos seqüestros extraterrestres não era ainda parte integral da cultura popular dos EUA. Hoje em dia há inúmeros livros, revistas e programas de TV que comentam este assunto de forma constante.
Fogo no Céu tenta descrever o caso de Walton da forma mais realista possível. A trama mostra a história de 6 trabalhadores que, ao voltarem para suas casas num fim de tarde, passaram pela experiência mais inusitada de suas vidas. Após um dia inteiro cortando árvores, entraram no furgão e seguiram a caminho da cidade. Já na estrada, notaram uma imensa luz no céu. “Parecia um imenso pôr-do-sol e dava a impressão de que tudo pegava fogo”, descreveu Travis. Imaginaram que a floresta estava sendo incendiada e, não resistindo à curiosidade. Travis saiu do carro para verificar o que realmente estava acontecendo. Um objeto voador envolto numa imensa luz disparou um raio no peito de Walton. A força foi tanta que imediatamente atirou o lenhador ao chão. O motorista Rogers e os outros 4 colegas entraram em estado de pânico e saíram do lugar o mais rápido que puderam. Após uns 15 minutos na estrada, decidiram regressar para buscar Travis, imaginando que estaria ferido ou até mesmo morto.
IRONIA POLICIAL CONTRA AS TESTEMUNHAS DA ABDUÇÃO
Chegaram tarde, pois Travis e o UFO já haviam desaparecido, como num toque de mágica. Ainda com sérias dúvidas se a polícia acreditaria ou não na história, Rogers e os outros resolveram contar tudo as autoridades. Procuraram pelo xerife Marlin Gillespie e informaram o desaparecimento de Travis devido a um contato com um UFO. No dia seguinte, mais de 50 pessoas participaram de uma busca, que infelizmente não resultou em nada. Neste momento, uma idéia, certamente sinistra, surgiu na mente das autoridades policiais: os lenhadores poderiam ter assassinado Walton e cortado seu corpo em vários pedaços, inventando a história do UFO para encobrir o crime. Para tirar esta dúvida, a polícia submeteu Rogers e os outros 4 homens a uma serie de exames poligráficos com detector de mentiras, tais testes foram executados por experts do Departamento de Segurança Pública do estado do Arizona. Todos passaram bem no exame, com exceção do lenhador Allen Dalis que, segundo as palavras de um dos peritos, “estava demasiado agitado para ser submetido ao exame”.
Felizmente, Travis Walton reapareceu após 5 dias, num lugar a algumas milhas de onde ocorreu a abdução. Travis estava debilitado e psicologicamente desorientado. Até o dia de hoje afirma que só se recorda de uns 20 minutos de todo o tempo em que esteve desaparecido. Tais lembranças revelam que esteve no interior de uma nave-mãe e, posteriormente, em uma espécie de hangar ou base alienígena em lugar desconhecido. Hoje, quase 20 anos após a abdução, Travis faz uma revelação de vital importância para o andamento das investigações a respeito do caso. Diz ter sido seqüestrado por ETs malévolos e que foi salvo milagrosamente por uma outra raça de extraterrestres, provavelmente amigos da humanidade.
Segundo a sua descrição, os seres que o seqüestraram eram de baixa estatura, cabeça desproporcional ao corpo e olhos negros ovalados muito grandes. Travis descreve o ser que o teria salvado como um tipo humanóide de cabelos ruivos, vestindo uniformes azuis ajustados ao corpo. Este ET se parecia muito com os humanos. Enquanto que o encontro com os primeiros extraterrestres parece ter sido desagradável, Travis revelou, em relação aos últimos, que teve “…a sensação de estar sendo resgatado”, e imagina que tal tipo de ser seja fruto de alguma criação genética entre humanos e extraterrestres.
Fogo no Céu é uma produção de 19 milhões de dólares feita nos estúdios da Paramount. Tudo começou em 1985, quando o roteirista Tracy Tormé — que já esteve envolvido com várias outras produções de Hollywood sobre temas ufológicos — encontrou Travis Walton em Snowflake e discutiu a abdução. O filme foi muito bem sucedido no que diz respeito à fidelidade aos fatos originais, como a reprodução das situações sociais, da família, dos lenhadores e da gente de Snowflake. Porém, não foi muito fiel ao reproduzir a cena do seqüestro de Walton no fim do filme. Os produtores da Paramount acharam que os pequenos humanóides de cabeça grande já haviam sido muitas vezes mostrados no cinema e que era hora de criar algo diferente para ser apresentado no filme.
UM FILME QUE MESCLA O MÍSTICO E O TERROR
Em vez de se ater às descrições dadas por centenas e talvez milhares de pessoas em muitos países, que entre outros citam aqueles humanóides, os produtores de Hollywood fizeram com que os ETs se parecessem muito mais com personagens de filmes de terror. Certas cenas são feitas bem ao estilo da trilogia Alien, cuja única salvação é a atriz Sigourney Weaver. Por outro lado, há que se reconhecer que o filme está bem realizado enquanto atuação (casting) e efeitos especiais criados pela Industrial Light & Magic. Travis, o abduzido, revelou em uma entrevista que as cenas dos alienígenas do filme não correspondiam ao seu testemunho original, enquanto a parte visual não deixava nada a desejar, transmitindo até seu estado psicológico de terror durante a experiência. “As pessoas deveriam sair do cinema sentindo a mesma emoção que eu senti ao viver tudo isso. mesmo que não represente deforma precisa o que ocorreu na realidade… essa sensação precisaria ser trabalhada, de um horror iminente, de uma falta total de poder, de violação ao ser tratado como um objeto”.
Mesmo tantos anos após a abdução, Travis continua a receber críticas infundadas. Um exemplo se deu quando o arqui-céptico ufológico Phillip Klass afirmou que Rogers e os outros lenhadores haviam criado a história da desaparição de Travis com o objetivo de ganhar tempo, devido a um contrato que Rogers teria com o Serviço Florestal dos EUA. Travis declarou que o funcionário encarregado pelo contrato, em 1975, com o qual Klass havia falado, lhe disse que “não havia nada no procedimento do contrato ou dos detalhes específicos que apoiava essa teoria”.
Mike Rogers também recebeu recentemente esta declaração, confirmando a mesma informação. Travis se referiu também a novos exames poligráficos a que Rogers e Allen Dalis foram submetidos e que não revelaram nenhuma mentira por parte dos colegas.
Estes fatos foram investigados por Jerry Black, do Center for UFO Studies (CUFOS). Black foi mudando de opinião à medida em que se familiarizava com a evidência das extensas declarações acumuladas no caso. Os detalhes dos exames, como resposta aos ataques de Klass ao filme Fogo no Céu, foram publicados no livro The Walton Experience, lançado em 1978. O assunto é evidentemente complexo e difícil de ser resumido em um mero artigo, já que inclui uma infinidade de detalhes na investigação e controvérsias que acompanharam o caso durante muito tempo. O importante é que até hoje, muitos ufólogos sérios e competentes ainda se dedicam a estudar o caso Walton com o objetivo de encontrar uma resposta concreta para tudo o que aconteceu.
Ficha Técnica
Fogo no Céu
Direção — Robert Lieberman
Produção — Joe Wizan e Todd Black
Co-produção — Tracy Tormé e Robert Strauss
Música — Mark Isham
Estúdio — Paramount Pictures
Ano — 1993 EUA
Duração — 109 min.
Elenco — D. B. Sweeney, James Garner, Robert Patrick, Craig Sheffer e Peter Berg
Resenha: Era uma tarde de novembro quando a vida de Travis Walton mudou. Não que ele não quisesse isso, Aliás, como ficou bem claro nas declarações que deu à polícia e para os jornais, preferia nem ter passado perto daquela floresta naquele dia. E, menos ainda, ter se deixado levar pela curiosidade de saber o que era aquela estranha luz no céu… O fato é que, no ano de 1975, Travis Walton desapareceu durante 5 dias. E poucos acreditam que ele esteve realmente onde disse que esteve. Este é um filme baseado em uma história real, mas a essa conclusão quem vai ter que chegar é o espectador.
Viagem sem volta
Um filme que conta uma história verídica na qual muitos não vão acreditar, precisa descrever bem o lado concreto dos fatos. Isso foi muito bem dirigido por Lieberman, que contou com a experiência do roteirista Tormé e o depoimento dos próprios protagonistas da história, ocorrida no interior do Arizona. A pacata comunidade de Snowflake, onde os princípios de ajuda mútua e religiosidade são partilhados entre todos, vê-se de repente palco da inusitada ocorrência de desaparecimento de Travis Walton (D. B. Sweeney), um cidadão alegre, amigo de todos, tendo testemunhas que afirmam tratar-se de uma abdução. O filme faz duas claras e sérias comparações: o trauma do abduzido versus o da testemunha (o amigo Mike); e a maldade dos extraterrestres versus a desumanidade dos terrenos, que se preocupam mais em procurar explicações aceitáveis do que buscar a verdade. O papel da polícia, incrédula e incriminadora, é o espelho do papel do governo que se fecha à realidade para não perder o controle da situação. Os extraterrestes são verdadeiramente ruins, criaturas que buscam humanos para material de experiências, para matar sem dó.
Travis é um caso único no cinema de auto-salvamento de um humano das garras de extraterrestres. Ele havia sido levado para não voltar, sendo acondicionado numa espécie de casulo ou cemitério. O filme não narra sua volta, que aliás não pôde ser bem explicada nem mesmo por Travis com sucessivas hipnoses regressivas – mas se ele não fugisse do casulo, morreria ali. A aparência dos extraterrestres é grotesca, o local é sujo, primitivo, deplorável, algo como um porão onde se joga o lixo. O robô usado para examiná-lo pertence a uma tecnologia contrastante com o resto do ambiente. Os macacões de ETs que Travis encontra, podem ser um sinal afirmativo das suspeitas de muitos de que eles são cinzas porque vêm vestidos com uma espécie de armadura uniformizada.
A capacidade e a coragem do abduzido, encontrando forças para fugir, é o misto do pânico e do último fôlego de sobrevivência. Adrenalina que lhe permitiu inclusive energia para se manter são na volta à Terra, retomando sua vida normal. Ao amigo Mike, o inusitado, o medo, a sensação de culpa, a falta de apoio da comunidade e a decepção com os humanos marcou mais que o tenebroso contato com os extraterrestres. Talvez porque deles seja aceitável esperar o mal, mas de nossos semelhantes esperamos, ainda, o bem. Fogo no Céu trata muito bem das relações humanas em vista de situações de risco e medo. Fora da Terra, as cenas são fantasiosas mas há que se considerar que se basearam nas lembranças do pobre abduzido — que, sabe-se, ficou desacordado quase todo o tempo dos cinco dias que passou fora do planeta.
Ana Cecília Kepczynski