O Sol é a principal estrela do sistema solar. Sem ele, nossa presença na Terra seria absolutamente impossível. É por isso que os atrônomos se preocupam tanto com o seu futuro. Como toda estrela tem seu tempo de vida e permanência no universo, o Sol também tem seu ciclo e um dia morrerá. Por isso é tão importante estudá-lo.
O segundo Sol da música de Nando Reis, que realinharia as órbitas dos planetas, é uma realidade distante do estudo em astrofísca contemporâneo. Porém, segundos sóis não são apenas fruto da imaginação fértil dos compositores. Sim, eles existem e são conhecidos como “gêmeos” da nossa estrela maior.
Um estudo inédito descobriu o mais velho desses gêmeos do Sol. A estrela HIP 102152 fica na constelação de Capricórnio – para se ter ideia, se tivéssemos o poder de viajar na velocidade da luz, seriam necessários 250 anos para chegar até lá – e é a estrela mais semelhante ao Sol já encontrada, tanto em termos de massa como de composição química.
Bom, e o que esse irmão perdido do Sol tem a ver com a nossa rotina? Jorge Melendez, um dos cientistas envolvidos na pesquisa, explica que HIP 102152 é a gêmea do Sol mais velha já descoberta até hoje, tendo 8,2 bilhões de anos, enquanto aquela em torno da qual a Terra gira é uma jovem com idade de 4,6 bilhões. Por isso, podemos observar o que aconteceu durante a trajetória desta estrela para saber qual será o futuro do nosso Sol.
“O Sol segue a mesma trajetória evolutiva da HIP 102152”, disse o pesquisador durante uma coletiva de imprensa do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). O astrofísico peruano é coordenador do estudo internacional publicado no final de agosto no site da Astrophysical Journal Letters.
Para determinar a idade da estrela descoberta, os pesquisadores calcularam a quantidade de lítio dela. Ao longo de sua vida, o Sol vai transformando o lítio presente nele em outros elementos químicos. Ou seja, quanto menos lítio, mais velha a gêmea do Sol é.
A pesquisa envolve cientistas e instuições de vários países, dentre eles Estados Unidos, Austrália, Alemanha, Portugal e Inglaterra, além do Brasil. Em nosso País, há quatro pesquisadores da USP e dois da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) envolvidos no trabalho.
O que será do Sol?
Mas agora vamos ao que interessa. Qual será o destino do nosso Sol? Melendez explica que ainda é muito cedo para traçar um diagnóstico completo sobre esse futuro, mas já podemos afirmar que, com certeza, o Sol viverá por pelo menos mais quatro bilhões de anos. “Pela teoria de evolução estelar, sabemos que o Sol viverá no total uns 10 bilhões de anos, ou seja, já está na metade de sua vida. Pretendemos agora estudar em mais detalhes a HIP 102152 para levantar aspectos importantes na relação entre o Sol e a Terra, como o nível de atividade estelar”, diz o cientista.
O pesquisador explica que o Sol é uma estrela com um ciclo de atividades de 11 anos, sendo que em seu auge o número de explosões solares é maior. Agora, os cientistas querem entender melhor como funciona esse ciclo, espelhando-se nas atividades de HIP 102152.
Outros irmãos na família
Agora, os pesquisadores querem encontrar planetas gêmeos de Júpiter em torno de HIP 102152, mas Melendez diz que, para isso, ainda serão necessários muitos anos de observação. A equipe também pretende buscar um gêmeo da Terra. “Isso não é possível agora, mesmo com a instrumentação sofisticada que temos. No entanto, estão sendo desenvolvidos equipamentos que poderão fazer medidas precisas para detectarmos um gêmeo da Terra”, conclui o pesquisador.
(Reportagem: Fernanda Vilela, da Agência CiênciaWeb)