Nos próximos 17 anos, o Programa Espacial Brasileiro, graças a parcerias internacionais – principalmente com a Rússia -, vai desenvolver uma “família” de foguetes capazes de lançar na órbita da Terra satélites até 30 vezes maiores – e com mais recursos – que os enviados atualmente. Os novos Veículos Lançadores de Satélites (VLS) serão enviados ao espaço a partir de 2009, até o lançamento final, em 2022, do Ípsilon, responsável pelo transporte do poderoso satélite SGB, que atua em diversas áreas de telecomunicações e segurança, podendo chegar a quatro toneladas de peso. Antes do lançamento do primeiro VLS desta nova linhagem, chamado Alfa, a Agência Espacial Brasileira (AEB) enviará ao espaço, em 2007, o VLS 1 Upgrade, uma versão modernizada do antigo VLS. O governo brasileiro vai investir US$ 700 milhões no desenvolvimento e lançamento da “família”, formada pelos VLS Alfa, Beta, Gama, Delta e Ípsilon. Um dos principais recursos que permitirão a emissão de satélites cada vez mais complexos é a substituição de motores movidos por combustíveis sólidos por outros que usam combustível líquido.
Esta diferença diminuirá o peso dos VLS vazios, permitindo aumentar a carga que carregam.As pesquisas desenvolvidas pelos russos permitirão, no caso do VLS 1 Upgrade, que dois dos quatro motores já utilizem a propulsão líquida. O combustível líquido permite, além do aumento do peso da carga, o alcance a pontos mais distantes na órbita da Terra e também diminui as chances de falhas no momento do lançamento. O lançamento de 2007 já utilizará a propulsão líquida. Enquanto o Alfa terá capacidade chegar a até 750 quilômetros da Terra, o Delta e o Gama atingirão mil quilômetros de distância. Enquanto o primeiro satélite levado pelo Alfa, chamado Equars, pesa 135 quilos, o CBERS, transportado pelo Delta, chega a 2 toneladas e o SGB alcança o dobro deste peso.
O cronograma e os detalhes da família de VLS fazem parte da retomada do programa espacial brasileiro, depois do grave acidente com o VLS, em agosto de 2003, na base de Alcântara (MA), que provocou a morte de 21 engenheiros e técnicos. “Estamos entrando em um clube do qual fazem parte poucos países. E vamos lembrar que se trata de um mercado de US$ 30 bilhões por ano”, disse o presidente da Agência Espacial Brasileira, Sérgio Gaudenzi, na semana passada, em Moscou, onde assinou três acordos de cooperação com a Agência Espacial Russa, Roskosmos.
Além da família de VLS, outro ponto do programa espacial brasileiro é a recuperação e transformação da base de Alcântara em centro espacial, com pontos de lançamento que podem ser alugados pelo governo brasileiro para os países lançadores de foguetes. Há um cálculo da AEB segundo o qual o Brasil poderá receber até US$ 100 milhões anuais com a cessão dos “sítios de lançamento”, aproveitando a posição privilegiada da base de Alcântara. O plano da agência é de construção de cinco sítios que permitirão até 12 lançamentos anuais. O primeiro contrato de utilização da base de Alcântara foi firmado com a Ucrânia e há negociações com a Rússia e os Estados Unidos.