Atualmente, em paralelo ao vertiginoso crescimento da quantidade de aparecimentos, aterrissagens e seqüestros por UFOs, um número cada vez maior de pessoas, pertencentes em sua maioria às classes média e alta da sociedade, vem atribuindo a si a capacidade de comunicar- se telepaticamente com extraterrestres benévolos. Há ainda aquelas que se limitam a fazer apenas o que se convencionou chamar de canalização, ou seja, atuar como uma espécie de condutor entre duas pontas de uma mensagem.
A moda disseminou-se com tanta força que hoje existem centenas de “porta-vozes mentais de ETs” espalhados pelo mundo. Em torno de alguns deles são formados grupos que chegam a congregar milhares de fiéis seguidores. Tais modalidades de contatação, todavia, não passam de uma re edição, com roupagem moderna, das comunicações mediúnicas às quais passaram a recorrer os espíritas a partir de meados do Século XIX. Preferimos optar, então, por examinar dois casos em especial – um antigo e um novo -, em razão de suas nuanças, passíveis de avaliações históricas mais abrangentes.
O primeiro diz respeito à contatada Bárbara Borges Menezes, notabilizada por atuar como “transmissora” e “receptora” de mensagens marcianas em Manaus, Amazonas. Bárbara nasceu em Salvador (BA) no dia 25 de julho de 1957, e chegou a Manaus em 1976. E funcionária pública estadual, casada e mãe de três filhos. Suas comunicações com o ser do espaço foram transcritas em duas obras: Missão Terra: preparando o ponto base (partes I e II), em co-autoria com o amigo e confidente Mário Sérgio Baêta Córdova, o qual participou de todas as sessões de contatação, orientando e registrando as conversas.
Córdova nasceu em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 30 de julho de 1960. Em razão das transferências periódicas de seu pai, oficial do Exército, morou em outras cidades do país antes de chegar a Manaus, também em 1976, onde casou-Se dez anos de pois. Graduou-se em Direito pela Universidade do Amazonas em 1989. Atualmente é advogado do corpo jurídico de uma empresa federal.
DESENVOLVIMENTO DOS CONTATOS – A divulgação dos contatos foi intensificada na noite de lançamento da primeira parte do livro, em 15 de outubro de 1992, em Manaus, prestigiada por um público que, inclusive, assistiu a uma sessão de conversas telepáticas. A presença de Mário em programas de entrevistas de TVs locais e em eventos culturais, a veiculação de matérias sobre a obra e as muitas cartas, telefonemas e contatos pessoais recebidos demonstraram o interesse que “a missão dos extraterrestres na Terra” vem despertando nas pessoas.
Na primeira parte, Mário explicita as origens e o desenvolvimento dos contatos: “Conheço a sensitiva Bárbara há vários anos, e desde o início da nossa juventude procuramos estudar e compreender os fenômenos paranormais e tudo o que com eles se relaciona. Entre os assuntos, sempre houve ênfase para os relativos a vi das em outros planetas”. Algo surpreendente aconteceria, então, em 20 de maio de 1978, após conversarem sobre certas observações ufológicas comentadas na época.
“Antes de dormir, Bárbara sentou-se à mesa em seu quarto. Com caneta e papel nas mãos, e sem motivo aparente, desejou escrever um texto, como se fosse uma carta dirigida a seres extraterrenos”. À medida que redigia, sentia “uma grande sonolência”, que foi intensificando-se. Ao sair do estado de vigília, minutos depois, Bárbara ficou surpresa ao deparar-se com outro texto escrito por suas mãos durante o lapso de tempo entre o adormecer e o despertar. Mário observou que era uma redação rápida, semelhante a uma receita médica, ilegível, que exigia muito esforço para ser lida. Nada parecida com a caligrafia de Bárbara.
No dia seguinte, iniciou a “tradução” dos escritos. Com um pouco de esforço – e boa dose de paciência -, foi atribuindo sentido às palavras ali registradas. No final, obteve um texto simples, mas sugestivo, em que lia-se uma assinatura: “Lay”. Mário não teve dúvidas de que se tratava de uma espécie de mensagem transmitida deliberadamente e captada através da sensibilidade de Bárbara. Só não sabia ainda quem era o interlocutor.
Levado por intuição, Má rio sugeriu à Barbara reunirem-se todos os sábados dali por diante, no mesmo horário – 21h00 – e local onde se produziu o fenômeno inicial: seu quarto. Bárbara concordou imediatamente. Daí, os contatos, uma seqüência de 16 transmissões, no período de 20 de maio a 22 de setembro de 1978, foram reproduzidos na íntegra no livro. Daqueles encontros fizeram parte Mário, na época com 18 anos, Maristela, uma de suas irmãs que também interessava-se pela paranormalidade, com 17 anos, e Bárbara, com 21.
Esse grupo de jovens não sabia com certeza do que se tratava as mensagens. Só algum tempo depois é que puderam aferir conclusões. Na primeira transmissão, eis o que disse Lay: “Nós somos gente criada pelo mesmo Deus, pensamos igual a vocês e estamos aqui não para aterrorizar os homens da Terra, mas para alertá-los quanto ao mal que estão fazendo sem perceber. Mal este que é gera do pela ignorância dos materialistas que vivem envolvi dos em clima de guerra, de poluição mental, que, enfim, não pensam o suficiente para analisar as coisas que fazem e nem mesmo por que existem”.
VIDA EM MARTE – 17 de junho de 1978, na quinta trans missão, Lay fez vários comentários sobre a vida em Marte: “Nossa vida é simples e não há discussões entre nós. Nossas roupagens são diferentes das de vocês. Os teci dos que usamos, a maneira de os fazer, também. Temos máquinas em que são colocadas matérias de origem do nosso solo para serem transformadas em algo que não é como tecido, mas algo parecido”. E completou com uma égide teológica: “Jesus não abandona os seus; Deus está sempre presente em to das às partes, em todos os lugares imagináveis ou inimagináveis”.
No geral, as mensagens da primeira fase versaram sobre a vida em Marte, os aparelhos que utilizam e seus modos de vida, sua constituição física e os trabalhos que executam, o estado de evolução, a vida nas comunidades marcianas, a forma de governo, fontes de energia e uso da telepatia. Mário asseverou, porém, que os diálogos foram obtidos em circunstâncias desfavoráveis para eles e as dificuldades chegaram a tal ponto que provocaram a parada total dos encontros no início do quarto trimestre de 1978, reativados somente em meados de 1989, ou seja, quase 11 anos mais tarde. Nos anos anteriores ao reinício dos contatos, não tiveram nem mesmo a oportunidade de se verem.
O começo da vida profissional, o ingresso à faculdade e os compromissos pessoais e familiares contribuíram para o afastamento dos membros do grupo. Quando finalmente se reencontraram – com exceção de Maristela que mudou-se de Manaus em 1981 – já eram adultos. Mário eslava casado e com uma filha, B&aacu
te;rbara idem. Ao ensejo, a contatada confessou a Mário que há algum tempo vinha sentindo intuições com relação a “eles” e, em decorrência, decidiram reativar as reuniões, desta vez em local diferente dos primeiros contatos. Mas mantiveram o costume de fixarem previamente os dias e horários, como nas primeiras vezes.
No dia 16 de agosto, Bárbara recebeu a primeira comunicações da segunda fase de contatos – 19 ao todo — que iria até 27 de dezembro. Ao contrário do que ocorreu durante as primeiras transmissões, em que Bárbara apenas recebia e transcrevia para o papel, agora ela as captava e verbalizava, enquanto Mário gravava as mensagens em fita cassete. Ademais, os contatos da primeira fase eram quase sempre monólogos, e esses eram na forma de diálogos diretos, com perguntas e respostas.
DESEQUILÍBRIO DA VIDA – Deve-se assinalar ainda que outros interlocutores, além de Lay, manifestaram-se. De Marte, Volana, Reman, Selan, Olin, lanny, Jon, Érytron. De Saturno, Kheysan e de Cytrion, Merron. Confrontando as transmissões, Mário concluiu que não havia qualquer choque entre as informações presentes e as passadas, enfatizando apenas que as recentes ganhavam em profundidade e conteúdo. Entre os assuntos descritos na segunda parte da obra (lançada em 1993, também em Manaus), estavam o desequilíbrio da vida na Terra, os diferentes tipos de naves utilizadas e experiências em outras dimensões.
Com relação ao teor das mensagens, muitas vezes primárias e incongruentes com o estágio evolutivo de seres que se supõem extremamente avançados e, mais compatíveis com o estado mental dos próprios contatados, Mário tentou justificar a questão dizendo que “a descodificação da transmissão para a nossa linguagem passa por um processo em que eles buscam a nossa lógica, a fim de transmitirem de acordo com o nosso padrão de conhecimentos, o nosso raciocínio lógico, para que sejam bem compreendidos”.
Sobre a finalidade da divulgação das mensagens, Mário admitiu que não seria apenas a de transmitir o conhecimento de outras vidas no universo: “Essas divulgações, que atendem a solicitações de nossos interlocutores, objetivam preparar as pessoas para os fatos que brevemente serão produzidos no mundo. A firmo, inclusive, que tais fatos já se iniciaram e não é preciso fazer muito esforço para concluir isso”. De qualquer maneira, não chegam a ser novidade, pois várias obras já publicadas dão conta deles. Nostradamus, por exemplo, falou em suas profecias sobre aconteci mentos que ocorrerão neste final de século e milênio.
Mário acrescenta: “Já para as pessoas que postulam as coisas pelo lado religioso, exemplificamos, também, citando os acontecimentos apocalípticos mencionados na Bíblia e os dos fins dos tempos relatados em outros tantos livros sagrados. Em lermos de vida moderna, há anos que se fala em uma Terceira Guerra Mundial”. Nessas mensagens são citados ainda, freqüentemente, os desastres ecológicos, os crimes contra a natureza, a desvalorização da vida humana, entre outras.
A repercussão de todos esses malefícios já começa a ser sentida no planeta. “Quantos de nós não temos aflorado em nossas mentes um sentimento inexplicável, uma sensação estranha de que algo está prestes a acontecer, sem que saibamos precisar o que seja?”, indagou. Já em julho de 1992, Mário reafirmou que os verdadeiros autores da obra são “seres amigos, engajados numa ajuda sem precedentes a todos os que querem e procuram o caminho da evolução como diretriz segura para o seu desenvolvimento pessoal e coletivo, material e espiritual”. E completou: “Que saibamos nós extrair resultados energéticos gratificantes de tudo a que estaremos lendo acesso a partir de agora”.
Os contatos de Bárbara remetem a um antigo caso, (ornado clássico no livro A mulher que fala com Marte, escrito em 1962 por Luiz Quirino, que o dedicou ao famoso parapsicólogo brasileiro Hernani Guimarães Andrade. A mulher, com o apelido de Dona Zoca, foi apontada como sendo dotada de extraordinários poderes de percepção extrassensorial. A obra condensa as notas taquigráficas tomadas por Quirino, de narrativas feitas por sua esposa, durante dois anos consecutivos, em ligação telepática com um habitante de Marte.
Esses contatos começaram casualmente, e em pouco tempo transformaram a vida do casal, Dona Zoca começou a testar suas inclinações paranormais em “captações de leitura pelo inconsciente”. Centenas de pessoas ficaram impressionadas diante da revelação de fatos apenas conhecidos na intimidade e de previsões que se cumpriram com a mais rigorosa exatidão. Profetizou fatos como o assassinato do líder africano Lumumba, a movimentação de tanques russos e norte-americanos em Berlim Ocidental, o vôo espacial de Gagarian e a rebelião anti-colonialista na Argélia.
As comunicações começaram em 03 de agosto de 1959, durante uma brincadeira com o copo andante – prática usual entre espíritas. A partir de então, o ser, chama do de Henrique, passou a fazer parte da família de Dona Zoca. Henrique esclareceu que aquele nome lhe havia sido transmitido inconscientemente pela contatada, pois na sala onde se encontravam existia um quadro, pintado e oferecido por um amigo, chamado Henrique. Por intermédio da entidade, Zoca foi levada telepaticamente a conhecer Marte, “a terra dos discos voadores” e todos os aspectos de sua civilização.
GRAU EVOLUTIVO – Ela descreve e comenta a organização social marciana, os costumes e o extraordinário grau evolutivo que atingiram, utilizando a energia mental. Eis o que Dona Zoca explicou acerca dos discos voadores: “Dois tubos colocados em círculo concêntrico são condutores de cargas elétricas. Um conduz carga positiva e outro negativa. Entre os dois existe um outro, por onde passa o combustível. Quando as cargas se cruzam, forma-se uma faísca que bombardeia os átomos do combustível”,
Ela explica ainda que esse tubo intermediário termina em dois prolongamentos que permitem a expulsão dos gases, promovendo a propulsão do aparelho. Para pôr em funcionamento o veículo, uma chave – espécie de garfo de dois dentes, de mais ou menos trinta centímetros de comprimento – deve ser encaixada nas paredes. Depois que o aparelho atinge certa altura e velocidade, não mais se escuta ruído dentro dele.
O piloto leva nas mãos um dispositivo que tem uma forma curva. Uma das extremidades do objeto fica voltada para baixo, quase atingindo o ch&ati
lde;o. Peque nos botões dão ao disco o movimento que o piloto deseja. Na parte superior do lado de fora, existe uma placa redonda que aquece e gira, quando atravessa uma temperatura muito baixa. Segundo Dona Zoca, “…os discos voadores são fabricados com uma fibra leve existente em Marte, com propriedades especiais. As manchas observadas na superfície do planeta, consideradas pelos astrofísicos como liquens, são plantações dessa fibra.
“As casas não têm paredes externas e o céu é incessantemente cruzado por engenhos voadores, dando a Maméix, a grande cidade marciana, a impressão de uma verdadeira colméia em movimento”. Quando esta senhora foi a Maméix, notou que todos os habitantes eram parecidos, com grandes olhos redondos e nariz comprido e pontudo. Tanto as mulheres como os homens tinham cabelos compridos. Contudo, Dona Zoca advertiu que os seres haviam-lhe transmitido um aviso: “Se um objeto atingir a superfície deste planeta e causar destruição, Marte revidará ao ataque, acarretando conseqüências desastrosas para o nosso mundo!”. Nos diversos capítulos do livro, fala-se ainda das características e do desenvolvi mento do indivíduo marciano, das tentativas de ligação com a Terra, da história da civilização marciana, das defesas do planeia Marte, dos progressos da indústria e da medicina, da vida social e até das concepções religiosas daquela população.
SABEDORIA CÓSMICA – No entanto, para que possamos compreender por que Marte foi eleito o planeta preferido dos contatados, devemos recuar até o Século XIX, quando desenvolveu-se a vertente espiritualista que proclama o primado do espírito sobre a matéria, utilizando a concepção da existência de outros planetas habitados, para afirmar “a maior glória de Deus”. Segundo tal concepção, o universo foi criado por Deus – que se constituiria numa sabedoria cósmica – com um fim bem determinado, ou seja, servir para a existência de seres inteligentes convocados a conhecer o Criador e a glorificá-lo.
Em razão disso, todos os corpos celestes teriam de estar necessariamente povoados de seres vivos, já que um planeta desabitado não poderia perfazer seu destino cós mico. Este pensamento foi exposto nas obras do fundador da Sociedade Astronômica da França, Camille Flammarion (1842-1925), em seu livro A pluralidade dos mundos habitados, publicado em 1862.
Os livros de Flammarion foram muito populares e responsáveis em grande parte pelo entusiasmo com que mui tos curiosos se entregaram desde então às especulações em torno da vida em Marte. Em 1879, em seu livro Astronomie populaire, Flammarion discorreu pormenorizada mente quanto à habitabilidade do Planeta Vermelho, abeberando-se nos escritos do astrônomo italiano Schiaparelli que havia anunciado há pouco a descoberta dos polêmicos “canais” em Marte.
Parece-nos oportuno discorrer aqui sobre a origem da mitológica história dos aquedutos. Os primeiros astrônomos que pensaram tê-los visto foram Von Mälder e Von Beer, entre 1830 e 1832. Eles desenharam o primeiro mapa moderno de Marte, reunindo cartograficamente todos os informes até então disponíveis a respeito. No mapa de 1832 são discerníveis nitidamente os ditos canais. Em 1864, o reverendo Dawes, da Inglaterra, traçou esboços gráficos das vias que julgou ter observado.
Mas a moda desses duetos estourou mesmo em í 877, e coincidiu com a descoberta dos dois satélites de Marte por Asaph Hal, de Washington, profetizados por Swift, nas suas Viagens de Gulliver, e Voltaire no seu Micromegas. Em Milão, Itália, no Observatório Brera, Giovani Virgilio Schiaparelli, focalizando o hemisfério meridional do planeta, conseguiu determinar a direção exata do eixo polar e a posição da calota, anunciando também a existência de sulcos nas regiões continentais de Marte, os quais batizou de Canali, palavra italiana que, embora semelhante, não corresponde ao termo inglês canais e português canais.
Em 1880, Schiaparelli, agora com os olhos voltados para o hemisfério norte do planeta, anuncia que estaria havendo “germinação”, ou seja, alguns dos canais de 1877 teriam se duplicado. Anos depois, Perrotin e Thollon, de Nice, França, pretenderam confirmar Schiaparelli, elaborando desenhos mostrando mais de vinte e cinco duetos, oito dos quais germinados. Na posição do planeta, em 06 de março de 1886, outros astrônomos da Bélgica, Inglaterra e Estados Unidos também observaram “canais”, apesar das condições desfavoráveis de observação. Todos foram unânimes ao constatarem que um canal nunca terminava abruptamente nem desembocava em região desértica.
Havia então o consenso de que compunham um ordenamento lógico e funcional. Em 1892, com o planeta apresentando condições favoráveis para observação, os astrônomos europeus possuíam já uma idéia formada da configuração global de Marte. E em fevereiro do ano seguinte, Schiaparelli, já cego e aposentado, descreveu essa topografia. Admitia que da natureza dos canais não se poderia atribuir-lhes a obra de seres racionais, apesar da aparência geométrica discernida, sendo mais provável que estivessem ligados geologicamente á evolução do planeta.
A partir de então, apesar da negativa, a idéia antropocêntrica de que Marte era, ou fora, habitado por uma raça inteligente e superior á da Terra passou a atiçar definitivamente o imaginário humano. Os frutos inicias desta fecunda polêmica não tardaram a florescer. Em 1894, um ano após a publicação do trabalho de Schiaparelli, o astrônomo norte-americano Percival Lowell (1855 1916), graduado em Harvard, trocou a carreira diplomática e montou seu próprio observatório, o Flagstaff, no Arizona, quase que inteiramente dedicado aos estudos do Planeta Vermelho.
MITOLOGIA DOS CANAIS – Os livros de Lowell, Mars, de 1895 e Mars as the abode of life, de 1906, foram bastante discutidos pela critica científica e em congressos astronômicos. A idéia central das proposições de Lowell era relativa mente simples. Para ele, em cada orbe, a evolução dos seres biológicos obedece às circunstâncias decorrentes da posição astronômica e da massa planetária do astro. Vênus estaria na fase geológica, correspondente ao período carbonífero do nosso passado. A Terra encontrar-se-ia em estágio maior de adiantamento, e Marte teria esgotado seus recursos.
Os “canais” só poderiam ser, assim, os restos de uma civilização extinta: imensos aquedutos subterrâneos usados para irrigação agrícola, com “florestas” ciliares ao longo dos seus percursos, de hemisfério a hemisfério. Sem dúvida, autenticas obras de engenharia de um povo em desespero, buscando sobreviver a qualquer custo. Ao morrer, Lowell ainda acreditava piamente nessa idéia. Mas Lowell não foi ingênuo. O matemático pesquisou as per tur
bações de Urano e Netuno e previu a posição favorável de um outro planeta, Plutão, detectado visualmente por Clyde Tombaugh, em 1930. Uma variante da interpretação de Lowell foi a hipótese, esposada em meados deste século por Earl Slipher, de que os canais seriam monumentos do passado, relíquias de uma civilização do passado.
SERES INTELIGENTES – Em 1957, W. A. Webbe acreditava ainda que o padrão estatístico dos diversos entronca mentos desses supostos canais não se compararia a nenhuma rede natural conhecida na Terra, o que só poderia resultar da ação de seres inteligentes. O setor contrário a Schiaparelli e Lowell, não obstante, também contou com vá rios partidários. O primeiro a discordar foi J. Joly, da Irlanda. No ano de 1897, este lembrou a possibilidade de Marte ter sido bombardeado por asteróides, os quais poderiam ter provocado a abertura de linhas de fratura na crosta.
Em 1954, a teoria de Joly foi reabilitada por Tombaugh. As sondas espaciais da Nasa viriam a confirmar o acerto desta hipótese nas décadas de 60 e 70. Destarte, foi a partir da idéia dos “canais” que vários cientistas propuseram tentativas de comunicação com os marcianos, culminando nos modernos projetos de contato por rádio com extraterrestres, iniciado por Frank Drake nos idos dos anos 60.
E a convicção de que Marte era povoado certamente contribuiu para a aceitação da encenação radiofônica de uma invasão de marcianos por Orson Welles, em 1938, como sendo um fato real. Valendo-se desse medo coletivo, em filmes de ficção subseqüentes, os produtores de Hollywood projetaram justamente no Planeta Vermelho os inimigos russos da Guerra Fria. Diretamente influenciados por to das essas crenças, muitos dos primeiros contatados na década de 50 acabaram apontando Marte como origem dos discos voadores e extraterrestres.