Há alguns assuntos que acompanham nossa civilização desde que os primeiros humanos se reuniram em volta de uma fogueira e que, justamente por serem tão antigos, deveriam ser estudados e explorados em profundidade. Porém, acabam sendo deixados de lado por aqueles que mais deveriam interessar-se por eles. Refiro-me aos jornalistas, religiosos e expoentes de nossa cultura, ou seja, aos formadores de opinião. E quando falo em estudos profundos, refiro-me a algo que vá além da mitologia e do folclore, ainda que fosse para prová-los inexistentes. Este artigo será centralizado na Ufologia e irá tomá-la como exemplo para expressar situações e raciocínios que, sem dúvida, seriam igualmente aplicáveis ao tarô, à parapsicologia, astrologia ou controle mental. Não importa por qual desses assuntos você seja aficionado, o fato é que não se pode ignorar que o embate dos céticos racionalistas recai sobre todos por igual e que a defesa de um, em detrimento dos demais, está condenada ao fracasso.
Insisto nesse ponto porque o considero importante — bem além das discussões sobre as raízes e os destinos que os bem e mal intencionados estudiosos deram a essas paraciências. Preocupa observar como muitos ufólogos se irritam quando algum jornalista desinformado lhes pergunta sobre os signos do zodíaco, assim como alguns espiritualistas tarimbados franzem o cenho quando lhes dirigem perguntas relacionadas a extraterrestres. É óbvio, natural e respeitável que os apaixonados por cada um desses assuntos busquem focar sua atenção em considerações que não saiam dos temas que dominam. A mistura que a imprensa faz de todas estas áreas é inadmissível. A questão aqui não está na Ufologia ou em saber se ela é mais “científica” que a parapsicologia, mas no fato de que, respeitado o espaço intelectual de cada um, todos estamos unidos por uma luta e uma missão comum: contribuir com um grão de areia na mudança dos modelos dos pensamentos coletivos, neste momento histórico que enfrentamos as duas concepções de realidade.
Negando sem conhecer
Certamente, alguns detratores argumentarão que ninguém teme a Ufologia — pelo contrário, eles se encontram saudavelmente engajados em uma tarefa de esclarecimento e conscientização da população. Essas pessoas são aquelas que argumentam que os ataques que dirigem ao Fenômeno UFO e à sua pesquisa são apenas para provar o engano e a fraude, quando suspeitam que paranoia está por trás da Ufologia, impulsionando-a. E, no entanto, é o movimento chamado “racionalista”, que está tentando enfrentar a Ufologia, têm outras motivações que não as científicas. Adversários intelectuais argumentam que uma vez que nós, os ufólogos, não cumprimos as disposições e condições próprias da pesquisa científica, nossas afirmações navegam em um mar de confusão e falsas interpretações. Tendo isso em mente, vamos explorar esse aspecto, assumindo que a Ufologia realmente não siga os procedimentos básicos da ciência, sem levar em conta o contra-argumento que diz que a ciência não é, afinal, o suprassumo do conhecimento humano.
Nossa questão aqui não é diminuir a importância do conhecimento ou dos métodos científicos, mas abrir uma discussão sobre o posicionamento da ciência em relação à Ufologia. Com isso em mente, vamos supor, por um momento, que humildemente aceitamos que os termos da exigência intelectual dos cientistas são aqueles que devem prevalecer e que devemos condicionar nossa busca por respostas em função deles — mas se isso é assim, a primeira responsabilidade pela falta de provas genuínas é dos próprios cientistas. Como é possível que a comunidade científica não tenha prestado à Ufologia uma atenção séria e que não tenha dedicado esforços para estudo do Fenômeno UFO, quando enormes quantidades de trabalho e dinheiro foram dedicadas a questões que nem de longe têm a consideração que os discos voadores alcançaram nas últimas décadas? Parece haver subsídios para quase qualquer coisa, menos para a Ufologia.
Seria de se esperar que a reação dos cientistas em relação ao assunto fosse de avidez, de furiosa curiosidade e de grande ansiedade para obter respostas quanto à persistente e abundante fenomenologia ufológica, especialmente quando indivíduos altamente confiáveis, pilotos comerciais e militares, oficiais das forças armadas, engenheiros, técnicos, agentes de governo relatam observações de UFOs. Mas, sabemos todos, não é isso que acontece. É de perguntar onde foi parar a tão famosa curiosidade científica sobre a qual tanto nos falaram em nossa época de estudantes. Mais ainda, onde está a obrigação científica sobre a qual Erwin Schroedinger, pai da moderna mecânica quântica, escreveu: “Um cientista deve ser curioso e ter desejos vivos de encontrar respostas?”
Hynek e o medo do desconhecido
Onde estão os cientistas curiosos e ansiosos por encontrar respostas às perguntas daquelas pessoas confiáveis e responsáveis que afirmam ter observado UFOs? J. Allen Hynek, astrônomo já falecido e verdadeiro pioneiro da Ufologia Norte-Americana, era um cético em seus primeiros tempos de estudo sobre o assunto, mas mudou seu posicionamento quando descobriu que a Força Aérea Norte-Americana (USAF) encobria o Fenômeno UFO — e, pior ainda, usando-o no processo. Assim explicava o que ele chamava de indiferença por parte dos cientistas quanto aos discos voadores: “Pessoalmente, entendo que existem duas profundas razões para justificar a apatia sobre o Fenômeno UFO. As duas são propriedades da mente humana, demonstradas ao longo dos anos em inúmeras oportunidades”.
Sobre essas razões, Hynek explicou a primeira delas da seguinte forma: “Suponhamos nossa presente compreensão do mundo como sendo um dos degraus de uma escada. Quando nos chega algo novo, que implica em um salto de um ou dois degraus, não existe dificuldade alguma para aceitarmos essa transição. Mas quando recebemos um novo conhecimento que implica em um salto de muitos degraus, acima do nosso nível atual de compreensão, a mente se rebela a essa transição”. Para ele, o salto para o degrau superior é muito grande e seria como solicitar aos melhores cérebros da época de Galileu que considerassem seriamente a existência da energia nuclear.
eriam ter atenção
Quanto às evidências, Hynek declarou que não havia falta delas, mas “uma carência de um tipo de evidência que nossa presente posição na escala do conhecimento e nosso atual sistema de crenças científicas demandam”. O cientista referia-se a provas sólidas, como pedaços de uma nave espacial, uma aterrissagem pública e notória nos jardins da Casa Branca ou local correspondente em importância em outro lugar do mundo. “Sem isso, o Fenômeno UFO é descartado como algo inadmissível no campo atual da ciência”, explicou Hynek. “Mas, onde ficam os milhares de incríveis relatos elaborados por pessoas inteiramente confiáveis? Onde está a curiosidade científica sobre a razão da existência de tais relatos, e, mais ainda, sua incrível persistência ao longo das décadas?”, indagou. O segundo motivo, de acordo com o pioneiro, explicaria a apatia da ciência em relação ao assunto se encontra no temor do desconhecido. “Nossa mente se sente confortável e a salvo no mais baixo degrau da citada escada. Existe temor ao desconhecido, profundamente enraizado na mente humana. Então, não nos incomodam em nossa atual e confortável posição intelectual; não nos incitam a pensar em coisas ou fatos aterrorizantes”.
Já o grande estudioso de abduções alienígenas Budd Hopkins, também já falecido, autor de Intrusos [Record, 1996], comparou a resistência a aceitação da fenomenologia ufológica à de muitos cidadãos alemães e de outros países em aceitar a realidade de Auschtwitz e do Holocausto — ambos os fatos, embora em diferentes níveis, desafiam a realidade comumente aceita e dão origem a um incrível bloqueio mental. “O poder da mente humana de fechar suas portas ao não desejado, ao desconhecido, ao temor do que é demasiado estranho, foi verificado ao longo da história, especialmente no terreno da ciência e se patenteia, atualmente, na resistência em considerar seriamente a existência do Fenômeno UFO”, diz Hopkins. Por outro lado, um crescente número de cientistas — embora ainda muito pequeno — está seguindo a premissa de Shroedinger, tornando-se cada vez mais curioso a respeito do Fenômeno UFO.
Por trás de todo cientista continua havendo um ser humano com a mesquinhez de sempre e também podemos afirmar que muitos detratores o são em função de atitudes preconceituosas, já que refutam o assunto sem jamais tê-lo estudado a fundo. Logo, teríamos que buscar uma explicação para isso, pois, afinal, poucos refutadores estudaram o assunto, ainda que fosse para negá-lo, como era o caso de Phillip Klass, ou do autodeclarado ex-ufólogo argentino Alejandro Agostinelli. Penso que, além de toda discussão teórica, quando alguém deseja negar algo, é como quando se deseja afirmá-lo: os fatos e os testemunhos não são vistos com objetividade e sempre se pode encontrar um cabelo na sopa, se procurarmos com cuidado. Assim, o refutador sempre encontrará outra explicação, enquanto que o crente sempre encontrará sua evidência.
Religião e Ufologia
Depois, temos os outros resistentes à realidade ufológica, aqueles que crescem à sombra das igrejas e salas clericais. Os padres, pastores e ministros dos mais diversos credos estão descobrindo que suas religiões não lhes haviam preparado para responder às grandes perguntas do homem contemporâneo, entre elas aquelas relativas a outras inteligências cósmicas, que facilmente poderia sem considerados “nossos irmãos cósmicos”. Há um grande desconforto diante da noção de que suas respostas e doutrinas salvacionistas, tão pacientemente inculcadas às massas através dos séculos, podem desintegrar-se diante da simples presunção de que outros povos podem se redimir por outros caminhos estelares desconhecidos.
Não gratuitamente, o termo religião alude a encontrar a si mesmo em Deus, mas as igrejas são órgãos concentradores de poder — toda estrutura religiosa ou pseudorreligiosa necessita de bens, recursos materiais, apoio político e cresce de maneira inversamente proporcional à massa de informação e ao bom uso que fazem do raciocínio de seus paroquianos. Enquanto os honestos crentes e muitos representantes das igrejas entendem, com o coração aberto, que outros seres vindos dos céus apenas reforçarão suas convicções na Criação, o mesmo não se aplica a seus líderes. Esses, historicamente mais interessados em reforçar não suas convicções, mas seu poder geopolítico, continuarão a criar confusão nas almas simples com ameaças, velas e anátemas.
O sarcasmo arrogante que nasceu da crença de ser proprietário de um reinado temporal os faz ver com displicência, quase com paciência paternal, os interessados e pesquisadores do Fenômeno UFO, até o momento em que esse interesse implique em começar a se fazer perguntas. Nessas ocasiões, o dedo acusador se levanta nos púlpitos, alertando sobre “o avanço dos pensamentos mágicos”, como se os rituais litúrgicos das igrejas fossem ricos de racionalismo. Isso sem falar no estabelecimento de perversas associações entre o odor de motor queimado relatado em alguns avistamentos de UFOs ao odor do enxofre das aparições demoníacas medievais…
A relevância do irrelevante
Também precisamos falar dos intelectuais, gente com mais ou menos sorte que perambula no mundo da cultura, como jornalistas, poetas, dramaturgos, cantores e os representantes das ciências humanísticas, como psicólogos e sociólogos. Essas pessoas torcem o nariz, com desgosto, diante da menção de “idiotices” — como as chamam — como os discos voadores, bem no momento em que se encontram envolvidos em discussões inúteis para a humanidade, como por exemplo, se algum pintor ou autor era surrealista ou conservador e a essência do nada em Sartre e Heidegger. Essas pessoas formam um segmento de respeitáveis apreciadores do saber que costumam ter uma orientação política definida, ativista e partidária. E já se sabe que certas ideologias, com erros e acertos, como qualquer outra, olham para esses temas como um ópio para as massas, um cisto na cultura contemporânea que a afasta dos temas revisionistas e sociais, muito urgentes.
Preocupa observar como os ufólogos se irritam quando algum jornalista desinformado lhes pergunta sobre os signos d
o zodíaco, assim como alguns espiritualistas tarimbados franzem o cenho quando lhes dirigem perguntas relacionadas a ETs
E, assim como na política de todos os dias, um fanático de direita não aceitaria falar da imaginação do poder e um militante de esquerda, doutrinariamente voltando sua face para as fábricas, campos e massas trabalhadoras, somente reconheceria, com vergonha, sua fascinação pelo universo. É considerado intelectual e fica bem em certos ambientes literários ridicularizar a Ufologia. O que acontece nas sombras e que as pessoas parecem não perceber é que a Ufologia funciona como um catalizador social, pois por intermédio dela acontecem as turbulências culturais que podem dar origem a uma nova ordem. Acredito que a atual situação do mundo é uma estrutura dissipativa cuja flutuação pode alcançar uma massa crítica que provoque um salto para um nível de organização mais elevado. O prêmio Nobel de química de 1977, Ilya Prigogine, dizia que as estruturas dissipativas são sistemas abertos que se mantém por uma dissipação contínua de energia. “Esta dissipação cria um reordenamento brusco para uma maior complexidade. Trocando em miúdos, isso significa que o sistema vai se esvaziando por esgotamento e, de uma hora para outra, há uma mudança brusca”, firmou Prigogine.
O grande medo
Como o inconsciente coletivo da humanidade é um sistema aberto, a velocidade de geração e absorção de informação que contempla a possibilidade de um universalismo, compensa a velocidade de entropia da cultura dominante — está por acontecer um salto quântico, e se isso é consequência de um processo natural do psiquismo humano ou se o mesmo é semeado a partir de fora, é algo que escapa ao alcance deste artigo. Muitos detalhes sugerem que haja uma ação externa como, por exemplo, o crescimento dos cultos e seitas ufológicas com seu rol de contatos e contatados. Uma proliferação similar, mas de corte fundamentalista, ocorreu há 170 anos, quando a sociedade civilizada estava em meio a outra mudança básica, saindo de uma ordem agrícola para outra, a industrial. É necessário refletir se o mais importante na Ufologia é mesmo trazer as provas de visitas extraterrestres.
Antes dos anos 40 já existia uma abundante bibliografia a respeito do assunto e a popularização do estranho e do sobrenatural pegou uma carona com a disseminação do Fenômeno UFO. Isso aconteceu porque muita gente interessada em Ufologia, com o passar do tempo, ampliou o horizonte de seus interesses culturais, estudando também parapsicologia, as religiões orientais, os mistérios do passado, a yôga e o espiritualismo em geral. Os UFOs tiveram uma popularidade televisiva, que depois abriu as portas para outras disciplinas ditas da Nova Era. E se hoje em dia em certas comunidades soa mais estranho acreditar em anjos do que em discos voadores e seres extraterrestres, isso acontece simplesmente porque estes comungam melhor com a essência tecnocrática de nossos tempos e também porque adquiriram crédito popular por sua midiatização mais longa.
Revolução na cultura
Marilyn Ferguson, autora norte-americana de A Conspiração Aquariana [Record, 2000], escreveu: “Esteja ou não escrito nas estrelas, o certo é que parece estar se aproximando uma era diferente, e Aquário, a figura do aguador do antigo zodíaco, emblema da corrente que vem para apagar uma antiga sede, parece ser o símbolo adequado”. Trata-se da antiga sede do conhecimento, a sede de que nos digam a verdade. Por tudo isso, fazer Ufologia é mais do que coletar dados, fazer investigações de campo, publicar artigos, organizar conferências etc. Por isso é necessária a difusão de ideias e cada um sair dizendo o que se pensa, para mudar o paradigma.
O poder da mente humana de fechar suas portas ao não desejado, ao desconhecido, ao temor do que é estranho, foi verificado ao longo da história e se patenteia, atualmente, na resistência em considerar seriamente a existência do Fenômeno UFO
No começo do século XIX, Alexis de Tocqueville, escritor, pensador político e historiador francês, observou que os comportamentos culturais e as crenças não verbalizadas normalmente mudam muito antes de as pessoas admitirem que os tempos também mudaram — durante anos, inclusive gerações, as pessoas seguem proclamando palavras e ideias particulares que são abandonadas depois. “Como ninguém conspira contra essas velhas crenças, todos seguem exercendo sua influência e enfraquecem o ânimo inovador. Inclusive, muito tempo depois de haver perdido seu valor, um paradigma segue reclamando uma espécie de lealdade hipócrita”, disse Tocqueville.
Mas se temos o valor de comunicar aos outros nossas dúvidas e nosso abandono do antigo modo de pensar, se nos atrevemos a expor a incompletude, a frágil estrutura e as deficiências do velho paradigma, podemos conseguir desmantelá-lo — não necessitamos esperar que ele se desmorone sobre nós. Por isso se teme a Ufologia: porque ela é uma revolução. E por isso, quando se atacam os ufólogos, não o fazem criticando seus métodos, ou questionando seus trabalhos, e sim buscando destruir sua credibilidade como pessoa ou duvidando de sua sanidade mental. Tudo isso porque nossas ideias ameaçam velhas estruturas e são partidárias de uma nova e diferente cultura.
Argumentum ad hominem
Um dos principais instrumentos dos céticos ou ditos “racionalistas” para atacarem a fenomenologia ufológica é o chamado argumentum ad hominem, que em latim significa argumento contra a pessoa. Trata-se de uma falácia bem identificada, que ocorre quando alguém procura negar uma proposição com uma crítica não ao seu conteúdo, mas ao seu autor. Um argumentum ad hominem é uma forte arma retórica, apesar de não possuir bases lógicas.
A falácia se verifica quando se ignora o valor da mensagem sem que se examine seu conteúdo, mas se ataca o mensageiro. O argumento contra a pessoa é uma das condições mais fortemente caracterizadas pelo elemento da irrelevância, por concluir sobre o valor de uma proposição por meio da introdução, dentro do contexto da discussão, de um elemento que não tem importância para isso — que, neste caso, é um juízo sobre o autor da proposição.
Os céticos ou racionalistas, como preferem ser chamados, são grupos com uma condição social e psicológica própria. São pessoas que tendem a se atrair e a se completarem em suas crenças, mais ou menos como ocorre com religiosos que se agrupam em determinadas tendências evangélicas carismáticas, ou como alcoólatras ou drogados anônimos, que se autoajudam. Lá eles encontram conforto, consolo e apoio uns dos outros. E, claro, sendo assim, tanto mais c
éticos ou racionalistas serão aqueles que se fortalecem em seus dogmas, especialmente se amparados uns pelos outros. Chegam a ponto de ignorarem que hajam posições contrárias às deles, ou, pior ainda, de as desprezarem