Após 62 anos de mistério e teorias da conspiração, que oscilaram entre anomalias dimensionais, UFOs e até o Pé Grande, cientistas trazem uma possível solução para a tragédia que matou os nove expedicionários do Passo Dyatlov.
Em 1959, nove montanhistas russos morreram misteriosamente durante uma expedição nos montes Urais. As equipes de resgate que descobriram os corpos dos exploradores ficaram chocadas ao descobrir que, em algum momento entre 01 e 02 de fevereiro de 1959, a equipe teria tentado fugir de suas tendas e acabaram mortos, com seus corpos espalhados pela neve. Quatro dos corpos foram encontrados em um riacho, três tinham danos nos tecidos moles do rosto e, o mais preocupante: dois deles faltavam os olhos e a língua.
O corpo final ainda foi encontrado sem sobrancelhas. A tenda foi cortada por dentro, sugerindo que havia uma tentativa desesperada de fuga. Nunca houve uma explicação para o que aconteceu naquela noite fatídica, fazendo com que os teóricos da conspiração se mexessem. Teorias abundam há décadas sobre o que ocorreu, com internautas oferecendo explicações como um ataque de animal, uma criatura mítica ou paranormal, envolvimento militar russo, uma avalanche e até mesmo pânico induzido pelo frio.
Agora, os pesquisadores acreditam que podem ter a resposta. Um estudo publicado na revista Communications Earth & Environment afirma: “Algo inesperado aconteceu após a meia-noite, que fez com que os expedicionários cortassem a barraca repentinamente por dentro e fugissem em direção a uma floresta, a mais de um quilômetro da encosta, sem roupas adequadas, sob temperaturas extremamente baixas (abaixo de -25°C), e na presença de fortes ventos catabáticos induzidos pela passagem de uma frente fria ártica”.
O estudo, liderado pelo cientista mecânico de neve Johan Gaume, da Escola Politécnica Federal de Lausana (EPFL), na Suíça, e Alexander Puzrin, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), descobriram que a tempestade perfeita tinha pego os exploradores. Os pesquisadores acreditam que o ângulo da encosta em que a barraca foi colocada, juntamente com um buraco escavado na neve e os fortes ventos, acabaram causando uma avalanche.
Imagem mostra o posicionamento da barraca e como o corte na neve e os ventos fortes poderiam ter iniciado a tragédia que ceifou a vida dos nove expedicionários.
Fonte: Gaume/Puzrin
“O corte na encosta foi o que desencadeou tudo. E se não estivessem lá, os montanhistas poderiam ter sobrevivido”, disseram os pesquisadores. Purzin complementa: “Se eles não tivessem feito um corte na encosta, nada teria acontecido. Esse foi o gatilho inicial. Mas só isso não teria sido suficiente. O vento catabático provavelmente espalhou a neve e permitiu que uma carga extra se acumulasse lentamente. Em um determinado ponto, uma rachadura pode ter se formado e se propagado, fazendo com que a camada de neve se soltasse”.
Mas e quanto aos ferimentos brutais encontrados nos corpos dos expedicionários? Os modelos de computador dos pesquisadores demonstraram que um bloco de neve pesado de cinco metros de comprimento poderia, nesta situação única, quebrar facilmente as costelas e o crânio de pessoas dormindo em uma cama rígida, causando ferimentos graves.
Freddie Wilkinson, um alpinista profissional e guia que não está envolvido com a pesquisa, diz que é totalmente razoável que tais placas de gelo possam causar danos corporais graves. “Algumas placas podem ser bastante duras e é muito plausível que possam resultar em ferimentos de trauma contundente”, diz ele. Cientificamente, tais argumentos são convincentes. Mas será que a tragédia que atingiu a equipe foi realmente natural? Talvez jamais saibamos o que realmente aconteceu.