O entrevistado dessa edição da Revista UFO é um pioneiro da Ufologia Argentina e o primeiro ufólogo civil a participar da Comisión de Investigación de Fenómenos Aeroespaciales (CIFA), a entidade oficial da Força Aérea da Argentina (FAA) para o estudo do Fenômeno UFO. Ele foi um dos conferencistas do V Fórum Mundial de Ufologia (II UFOZ 2013), realizado pela Revista UFO em novembro do ano passado em Foz do Iguaçu, quando expôs de forma brilhante suas investigações sobre encontros entre pilotos e UFOs em seu país. Carlos Daniel Ferguson é ufólogo desde 1976, quando teve um avistamento ufológico incrível. “Eu era um ignorante no assunto até que tive um contato. Aquilo mudou a minha postura e despertou o meu interesse pela Ufologia”, diz hoje este que é um dos mais respeitados pesquisadores da nação vizinha.
Primeiro ufólogo na comissão
O fato em questão ocorreu em Buenos Aires, em janeiro de 1976, por volta das 16h30. “Estávamos em um bairro onde só havia casas baixas. Eu e mais algumas pessoas vimos um objeto discoide a 30 m do chão. Começamos a chamar os vizinhos para verem aquilo também e muitos observaram. Ele tinha o tamanho de um carro e foi incrível”. Ferguson disse ainda que o artefato não tinha turbinas e que depois de 10 minutos acelerou na direção do espaço e sumiu. A partir dali, iniciou uma busca pessoal por respostas para aquilo, processo durante o qual fundou grupos de pesquisas, organizou 10 congressos ufológicos e fez mais de 200 palestras por toda a Argentina. Foi entrevistado mais de 600 vezes por emissoras de rádio, televisão e jornais, e afirma ter percorrido mais de 77 mil km em suas investigações.
Ferguson é autor do livro Encuentros entre Pilotos y OVNIs en Argentina [Encontros entre Pilotos e OVNIs na Argentina, Editorial Dunken, 2013], obra que contém todos os seus arquivos de pesquisas de casos de contato entre os pilotos argentinos e UFOs, e também mais de 300 episódios internacionais. O ufólogo ainda tem mais quatro livros a serem publicados: El Fenómeno Aterrizaje en Argentina, Diccionario Argentino de Ovnilogia, Historia del Fenómeno OVNI en Mar del Plata e Argumentos Pro y Contra los OVNIs. Mas não sabe como conseguirá levá-los ao público. “Hoje falta em meu país editores de livros sobre qualquer tema, imagine então para publicação de livros ufológicos, um campo tão estigmatizado”, desabafa.
O ufólogo radicado em Buenos Aires é desde 1991 coordenador geral da Rede Argentina de Ovnilogia (RAO) e diretor da Comisión Investigadora de OVNIs Marplatense, entidade pela qual realizou mais de 120 vigílias e investigações. Recentemente foi convidado e aceitou fazer parte do Conselho Editorial da Revista UFO como consultor. “Foi uma grande honra ter sido nomeado consultor desta publicação e farei o melhor que puder para ajudá-la e aos amigos brasileiros”. Durante um período, Ferguson ficou afastado da Ufologia, dizendo ter perdido o interesse pelo Fenômeno UFO e que não tinha mais recursos e nem entusiasmo. Mas seu regresso deu-se em grande estilo quando foi convidado a ser o primeiro ufólogo civil a participar da Comisión de Investigación de Fenómenos Aeroespaciales (CIFA), que foi criada em maio de 2011.
O estabelecimento dessa comissão teve grande impacto em todo o mundo. O Uruguai, por exemplo, que já possuía desde 1979 a Comisión Receptadora y Investigadora de Denuncias de Objectos Voladores No Identificados (Cridovni), também ligada à Força Aérea do país, foi a primeira entidade a lhe dar apoio, seguida pelo Comité de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA), do Chile. O trabalho dos ufólogos civis na comissão oficial Argentina vai além de receber relatos de avistamentos de “fenômenos aeroespaciais” não identificados, como o nome sugere. “Temos reuniões regulares com representantes da Força Aérea para tratar dos relatos, estudá-los e estabelecer um procedimento de investigação”. Ferguson acrescenta que talvez o ponto mais importante da criação da CIFA tenha sido constatar a necessidade de se criar um sistema de classificação de cada relato recebido. “Estamos trabalhando nisso”.
A Ufologia na Argentina
Por estar ligada ao Governo Argentino, ainda se levantam sérias dúvidas quanto à efetiva participação de civis na entidade oficial. Alguns segmentos de ufólogos do país dizem que os civis nada mandam e que são apenas peças decorativas na CIFA, o que é veementemente rebatido por outros segmentos. A alegação mais forte é de que os civis não teriam total acesso a casos ufológicos aeronáuticos, por exemplo, considerados os mais graves. Nesse ponto, Ferguson afirma que, se existe uma comissão oficial, seu dever é investigar o Fenômeno UFO e dar uma reposta à sociedade. Isso englobaria até casos considerados graves — um deles é a suposta queda de um UFO em 1995, na província de Salta, que ele descreve. O entrevistado foi um dos que se empenhou em desvendar o mistério. “Esse caso é muito complexo. Temos mais de 100 testemunhas e um piloto que foi impedido de investigar o que havia acontecido”.
Como está a Ufologia na Argentina hoje?
A resposta pode se dar de várias maneiras. A Argentina hoje conta com uma centena de pessoas que estudam Ufologia. Mas o maior problema que enfrentamos é o tamanho do país e a falta de pesquisadores no interior. Normalmente nos são relatados apenas os casos dos locais onde temos ufólogos, que chegam ao nosso conhecimento por meio de três vias: a imprensa local, a polícia e o relato direto de testemunhas, o que pode levar anos. Por outro lado, existe uma divisão na Ufologia Argentina que, no meu entender, não é positiva. Não estou falando somente de questões pessoais, mas também de ideias arcaicas. Uma delas seria, por exemplo, a de que uma investigação só é válida se for feita no campo e diretamente com as testemunhas. Isso mais atrapalha do que ajuda. Sim, é claro. Na verdade, todas as áreas da investigação são importantes: a entrevista da testemunha, a coleta de evidências, o exame do fenômeno por meio de filmagens e até o trabalho em frente ao computador. Veja meu exemplo, para você ter ideia: eu investiguei todos os casos de aterrissagens de UFOs na Argentina — que espero publicar em meu próximo livro —, um total 1.470 acontecimentos desde 1947. Para aplicar um sistema de classificação deste acervo de ocorrências, como o chamado Teste de Certeza, criado pelo professor espanhol José Francisco Ballester-Olmos y Anguís, tive que revisar meus dados mais de 85 mil vezes. Imagine se eu tivesse que estar em campo todas essas vezes? E como ir a campo investigar algo que aconteceu em 1948? Isso sem mencionar que Jacques Vallée já tinha reiterado a necessidade da elaboração de estudos estatísticos sistemáticos que nos permitissem chegar a um panorama global da questão ufológica. Eu era um ignorante no assunto até que tive um contato. Aquilo mudou a minha postura e despertou o meu interesse pela Ufologia. Estávamos em um bairro onde só havia casas baixas. Eu e mais algumas pessoas vimos um objeto discoide a 30 m do chão.
A adoção de um sistema de classificação único de casos ufológicos já foi tentado?
Há alguns anos, em um dos congressos da Red Argentina de Ovnilogía (RAO), em Mar Del Plata, propomos uma pequena avaliação de como os ufólogos aplicavam os questionários nos estudos dos casos. As conclusões não foram muito positivas. Do total dos relatórios que eles preencheram com testemunhas de acontecimentos ufológicos, mais de 70% não tinham informações sobre as condições climáticas no momento do avistamento ou sobre a duração do evento. Ora, esses dois dados são fundamentais para podermos encarar minimamente o estudo de algo observado. Assim, é de se esperar que no futuro exista mais capacitação dos pesquisadores, mas também mais colaboração entre eles. Temos colegas habilitados e bem preparados, mas ainda não fizemos um esforço verdadeiro de trabalho em conjunto. Se há fracassos na Ufologia Argentina, não foi por causa de terceiros, mas sim por causa de nossos próprios defeitos.
Sistema de qualificação
Já que falamos sobre a comissão oficial da Força Aérea Argentina (FAA), como ela funciona de fato?
A Força Aérea é a responsável por informar os procedimentos de trabalho nos casos que temos à frente, e nós damos o suporte em sua investigação. Eu fui convocado para trabalhar na Comisión de Investigación de Fenómenos Aeroespaciales (CIFA) e depois outras quatro pessoas se juntaram a mim com a ideia de criarmos um escritório onde as testemunhas de avistamentos pudessem relatá-los. Temos reuniões regulares das quais participam representantes da Força Aérea, tais como operadores de radar, especialistas em imagens etc. O nosso desafio é estabelecer um sistema de qualificação de cada relato que recebemos, e para isso sugerimos dois elementos: o citado Teste de Certeza, criado pelo espanhol Anguís, e o Teste de Estranheza e Credibilidade, criado pelo doutor J. Allen Hynek. Ambos se aplicam em todos os relatos.
O trabalho em conjunto entre a Força Aérea e os ufólogos é a melhor maneira de entender o Fenômeno UFO?
Creio ser importante que todos os governos tomem consciência do tema. O estado conta com recursos logísticos que os ufólogos não possuem, enquanto nós temos a paixão e podemos ir a campo recolher os relatos de testemunhas para estudá-los junto aos órgãos governamentais competentes. É por isso que esse trabalho é tão importante — um completa o outro.
Você acredita que o governo é totalmente transparente e compartilharia com os ufólogos civis um caso em que um UFO tivesse derrubado um avião, por exemplo?
Depende do que entendemos por governo, pois ele é constituído de muitas áreas e muitas pessoas. Se falássemos, por exemplo, do Comitê Condon, o programa da Universidade do Colorado para pesquisar UFOs nos anos 60 [Era um grupo financiado pela Força Aérea Norte-Americana (USAF) para estudar avistamentos ufológicos de maneira a negá-los perante a opinião pública, sob a direção do físico Edward Condon], certamente isso não ocorreria. Mas acredito que, se uma comissão é criada para um fim, ele tem que ser cumprido. É isso que esperamos da CIFA.
E se for uma questão de segurança nacional, ainda assim você crê que o governo divulgaria?
A Comisión de Investigación de Fenómenos Aeroespaciales (CIFA) criada na Argentina publicou suas diretrizes e objetivos quando foi estabelecida e comunicada ao público, e a divulgação de todos os fatos que forem de seu conhecimento é um de seus preceitos. Portanto, nós temos que divulgar tudo.
Como o Governo Argentino lida com a questão ufológica atualmente?
Não temos dados que mostrem a opinião de nossas autoridades, porque a palavra governo é muito ampla, como já disse. Por isso é difícil medir ou classificar isso. O que podemos afirmar, no entanto — e que deixa claro o interesse do Governo Argentino pelo assunto —, é que em 26 de maio de 2011 nasceu uma comissão oficial dentro da Força Aérea Argentina (FAA) para tratar da problemática ufológica. Ela conta hoje comigo e mais quatro pesquisadores civis, Angel Díaz, Alberto Brunetti, Jorge Dewey e Carlos Iurchuk [Consultor da Revista UFO], e tem ainda como assessora a investigadora Andrea Simondini [Correspondente internacional da publicação no país].
Vamos falar agora de um caso importante da Ufologia Argentina. O que ocorreu na Província de Salta, em 1995?
Esse é um caso muito complexo e até hoje surgem novas evidências a respeito. Já temos mais de 100 testemunhas que ouviram enormes explosões relacionadas à queda de um objeto na cidade de Joaquin González, naquela província. Uma delas, Antonio Galvagno, tentou se aproximar do local, mas foi pressionado a não fazê-lo. No dia 17 de agosto daquele ano, ele e sua esposa estavam almoçando quando, por volta das 13h47, escutaram duas grandes explosões. Poucos segundos depois, o chão começou a tremer. As pessoas saíram correndo para a rua achando que era um terremoto e viram uma enorme coluna de fumaça subindo no céu. Galvagno era piloto civil de fumegação de lavouras e seu avião se encontrava na pista. Como era tudo muito perto, ele foi até lá e decolou a aeronave para ver do que se tratava aquilo. Pouco tempo depois ele encontrou o lugar da queda, a Serra Colorada, que tem mais de um milhão hectares, muito difícil de ser verificada em sua totalidade.
UFO derrubado por mísseis?
Ele relatou que a fumaça era diferente da habitual, não foi?
Sim, segundo Galvagno, ela parecia uma nuvem de cinzas com partículas metalizadas. Ele voou por quase três horas sem encontrar nada. Mas, como havia vento na área, a nuvem foi rapidamente dissipada, o que tornou mais difícil ver o exato local da queda. Até hoje não se sabe o que foi que caiu ali. Alguns dizem que foi um meteorito, outros que foi um UFO derrubado por mísseis…
Além de Salta, a Argentina conta com outros casos de possíveis quedas de UFOs. Pode falar delas?
Sim, temos também a queda de um corpo voador em 03 de outubro de 1980. Segundo as testemunhas, era um objeto metálico em forma de prato. O suposto UFO foi visto por centenas de pessoas nas zonas de Pilahué, Mencué e Cerro Mirador, em Rio Negro. Duas das principais testemunhas foram Julio Herrera, que afirmou que o artefato era discoide e girava sobre o próprio eixo, e Omar Bucas, que disse que o objeto fez uma parábola inteligente, movimentos não realizáveis por um meteorito. A notícia foi transmitida pela agência estatal de notícias Telam, a principal da Argentina. O capitão da aeronáutica Carlos Lima, da Comissão Nacional de Atividades Espaciais, que dirigia um grupo de estudos ufológicos na época, confirmou o resgate de destroços no local da queda e que havia três marcas cinzas no chão.
O histórico de quedas de UFOs no planeta mostra que elas não são raras. Sendo tão avançados tecnologicamente, por que os discos voadores caem?
Este é um mistério para o qual desconheço a resposta. São derrubados por aviões? Ainda mais por aviões argentinos? Não creio! Acho que tais naves tiveram alguma falha mecânica e caíram. Afinal, nada, mesmo algo muito avançado, é 100% perfeito.
Creio ser importante que todos os governos tomem consciência do tema. O estado conta com recursos logísticos que os ufólogos não possuem, enquanto nós temos a paixão e podemos ir a campo recolher os relatos de testemunhas para estudá-los.
E sobre os tripulantes desses objetos. Qual é a sua teoria sobre a origem dos extraterrestres? São de outro planeta?
O citado doutor Hynek, em sua definição clássica sobre o Fenômeno UFO, finaliza afirmando “que ele permanece sem identificação”. A sua é uma pergunta que até hoje ninguém conseguiu responder satisfatoriamente. Se tivéssemos a resposta, grande parte do mistério teria sido desvendado. De qualquer forma, baseado nesses meus 38 anos de investigação dos UFOs, tenho a minha teoria preferida, que é a chamada Programação de Reforço, criada por Jacques Vallée. Creio que a fenomenologia ufológica não pode ser explicada somente pelo lado espacial. Vallée fala de um mundo paralelo que se encontra 10 minutos à nossa frente e que os UFOs viriam de outras dimensões, através do espaço-tempo, o multiverso. Através de reprogramações seletivas, o fenômeno desenvolveria uma atividade periódica e imprevista, com efeitos físicos e sociais. Neste contexto, um contato direto traria o risco da perda do experimento em andamento. Essa ideia se mostra viável por meio da estatística que temos à mão, onde se constata que o contato com os UFOs é limitado para gerar o menor impacto possível. Seja como for, o certo é que todos nós estamos investigando para responder à pergunta chave: qual é a origem dos extraterrestres?
Se existe mesmo um mundo paralelo 10 minutos à nossa frente, nós já saberíamos o que iria acontecer. Onde entra o livre arbítrio aqui?
O que expus na minha palestra no V Fórum Mundial de Ufologia (II UFOZ 2013), ocorrido em Foz do Iguaçu no ano passado, é uma definição das coisas dada por Jacques Vallée. Estes 10 minutos não devem ser vistos apenas como uma questão temporal — o antes e o depois. Não é um domínio do tempo, é algo muito mais complexo.
Mas você tem uma opinião. Qual é?
Como disse, saber a resposta seria desvendar o mistério. Mas estou aberto a duas possibilidades: que os UFOs venham de mundos paralelos ou de outros planetas. Mas em ambos os casos temos problemas com estas teorias. Para começar, não sabemos muito sobre outras dimensões e a física quântica ainda está sendo construída. E quanto à origem extraterrestre, as distâncias estelares são enormes, o que impede qualquer tipo de viagem entre planetas habitados.
Se nos basearmos nos milhares de casos de contatos imediatos já registrados, podemos dizer que estamos sendo visitados por mais de uma civilização?
Se eu soubesse isso, já teria ganhado o Prêmio Nobel! O que temos são estatísticas que nos mostram que algo está presente em nosso meio, e nosso trabalho como investigadores é esclarecer tudo isso.
E quanto ao testemunho de centenas de pessoas sobre contatos com seres de variadas formas e tipos? Isso não seria uma prova irrefutável para respondermos à pergunta acima?
Sim, é um aspecto da questão. Mas ter centenas ou milhares de casos não é necessariamente uma prova irrefutável. O que falta são centenas de casos bem investigados e qualificados, que só a ciência poderia explicar, mesmo sem encontrar a resposta. Já diziam Vallée e Hynek anos atrás que “é importante contar com excelentes relatos, mas isso só não basta, pois temos que realizar uma investigação condizente deles”.
UFOs e aeronaves
Certo. Vamos falar agora de um assunto sobre o qual você é especialista. No seu livro Encuentros entre Pilotos y OVNIs na Argentina [Encontros entre Pilotos e OVNIs na Argentina, Editorial Dunken, 2013] você relata diversos casos ufológicos aeronáuticos ocorridos no seu país e algumas centenas no resto mundo. Com tanto material investigado, como é a relação entre os pilotos e os UFOs?
Os casos envolvendo simultaneamente pilotos e discos voadores representam, no meu entender, um dos aspectos mais importantes da problemática ufológica — eles seriam a prova de que ocorre nos céus exatamente o mesmo que relatam fazendeiros, caminhoneiros, donas de casa, médicos e policiais.
Mas o avistamento de um objeto no céu feito por um piloto, um profissional altamente capacitado, dá ainda mais credibilidade ao fenômeno, não concorda?
Claro. Ter o relato de um piloto tem uma série de vantagens, pois eles têm alto nível de treinamento para realizar observações mais cuidadosas, anos de experiência de voo, que servem de ajuda para avaliar rapidamente situações inesperadas e ambíguas, além da possibilidade de manter contato direto com o pessoal de terra — como controladores de voo — para a confirmação da situação. E se não bastasse isso, aviões voam em altitudes e velocidades variadas, o que possibilita aos pilotos uma perspectiva diferente de algo observado. Para se ter uma ideia, o Dossiê Cometa [Publicado pela Biblioteca UFO com o código LIV-021. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br] menciona que existem no mundo mais de 500 casos aeronáuticos muito bem documentados, dos quais três fatores chaves chamam a atenção: eles acontecem geralmente em ótimas condições climáticas, têm uma duração maior do que 15 minutos e muitas observações são à curta distância da testemunha.
O seu livro trata de que tipos de avistamentos aeronáuticos, exatamente?
De casos variados, que totalizam 51 episódios em pleno voo. As constantes encontradas nestas ocorrências são coincidentes com as de outras regiões, como as formas dos UFOs, a duração das observações, velocidade em metros por segundo, tipos de manobras dos objetos etc. Deste conjunto de evidências se destacam três fatores: primeiro o formato não convencional e discoide dos artefatos, depois as velocidades que desenvolvem e, por fim, as manobras insólitas. Atualmente estou voltado para a questão da segurança aérea ante a presença de UFOs. É fundamental uma maior conscientização dos pilotos e do pessoal do setor aéreo quanto aos riscos de um encontro nos céus.
Você tem trânsito livre entre os pilotos argentinos? Eles relatam a você seus avistamentos ufológicos?
Os pilotos da Força Aérea podem fazer relatórios apenas internos de fatos que observam, mas os civis são mais desprendidos. Pessoalmente, conversei com muitos pilotos militares, mas nem sempre seus relatos são de encontros com UFOs. Também já recolhi dezenas de registros de avistamentos por pilotos civis na Argentina, mas tenho certeza de que há muito mais. Sempre podemos afirmar que este montante é apenas a ponta do iceberg. Acredito que há um temor ou algum prejuízo para os pilotos que falam abertamente dos seus encontros com esses objetos, e temos que transpor essa barreira para ajudar a divulgar os contatos.
Através de reprogramações seletivas, o Fenômeno UFO desenvolveria uma atividade periódica e imprevista, com efeitos físicos e sociais. Neste contexto, um contato direto traria o risco da perda do experimento em andamento.
Como nós, ufólogos, podemos ajudar para que os pilotos vejam como é importante que relatem seus casos?
Temos que fazer isso amplamente e cuidar para que haja consenso dos organismos oficiais para que os pilotos se sintam seguros em relatar seus contatos com UFOs. Um aporte interessante seria uma circular informativa para cada base militar ou aeroporto e aeródromo do país explicando estas situações, ou distribuir um livro ou revista para esses profissionais com informações do Fenômeno UFO na tentativa de encorajá-los. De qualquer forma, a palavra mágica é conscientização.
O que seria o Alerta Vermelho e qual era sua finalidade?
O Alerta Vermelho era uma iniciativa que tínhamos dentro da Red Argentina de Ovnilogia (RAO). Basicamente, era um sistema que contava com os meios necessários para que algum grupo participante da Rede pudesse chegar rapidamente ao local de um avistamento ufológico ou queda de um UFO. Mas, infelizmente, ele não vingou…
Barreiras internas
Por que não deu certo?
Os maiores problemas foram a rivalidade e os ciúmes entre os grupos ufológicos participantes da Rede. Quando o Alerta Vermelho tivesse fundos, qualquer um deles que quisesse poderia usar sua verba para investigar um caso e trazer os resultados para todos. O projeto começava com a criação de um fundo financeiro comum entre todos os interessados, para que, quando houvesse algum caso, esses recursos pudessem ser utilizados. O Alerta Vermelho foi pensado como uma alternativa para enfrentar situações em que os ufólogos sempre chegam tarde ao local de um evento ufológico ou têm dificuldade de acessar o lugar. Eu apresentei meu projeto aos membros da RAO e houve um acordo verbal em seu favor, mas na prática a coisa não se mostrou assim tão fácil. Alguns grupos se sentiram azarados por não serem sorteados para as investigações. Porém, o projeto é simples e espero poder concretizá-lo futuramente. Hoje é frequente escutar um ufólogo criticar as atitudes do governo ou dizer que há acobertamento do Fenômeno UFO, mas dentro da própria Ufologia Civil temos barreiras iguais.
Sabemos que a Argentina é rica em casos ufológicos. Quais são os que você considera mais importantes?
São muitos. Por exemplo, como já disse, tenho um arquivo com mais de 1.470 casos de aterrissagens, eventos com UFOs a menos de 20 m de altitude, aparelhos com escotilhas, que apresentaram efeitos magnéticos e nos quais foi possível a visualização de humanoides. Levei mais de 30 anos para catalogar, classificar e qualificar esses casos. Mas, para satisfazer sua pergunta, eu poderia citar o Caso Yacanto, ocorrido em Córdoba, em 1960, ou o Caso Dique la Florida, de 1978, ou ainda o Caso Bariloche, de 1995. O episódio do Dique la Florida, por exemplo, foi relatado por organismos oficiais e contou com o envolvimento de delegacias de polícia.
Poderia nos contar um pouco mais sobre algum desses episódios?
Claro. Para mim o mais importante é o Caso Bariloche, de 31 de julho de 1995, que teve como testemunhas vários pilotos civis e militares. Tivemos 24 observadores em três níveis de altitude que viram uma aeronave desconhecida. O objeto aumentou a sua velocidade de 350 km/h para mais de 4.000 km/h em questão de segundos. Todos os pilotos declararam que jamais viram um avião capaz de tal façanha e que não existia nada na Terra que fosse capaz daquilo. Outro caso que eu considero formidável foi o ocorrido na Base Aeronaval de Punta Índio, em junho de 1965, quando foram detectados pelo radar “ecos” durante três semanas seguidas. Esses pontos ora estavam só, ora em formação. Devido à gravidade dos fatos, foi criada uma comissão de investigação composta pelo coronel Hugo Frontroth e integrantes da Marinha Argentina, como os capitães Omar Pagani e Constantino Núñez. Segundo Frontroth, foram realizados diversos testes no radar que confirmaram a presença desses artefatos. Em certas ocasiões, os UFOs estavam a 8.000 pés de altitude [2.700 m], quando um deles cruzou a tela do radar em segundos, ficou ao lado de um avião de passageiros e algum tempo depois desapareceu. Em outros momentos, o radar mostrava que eles estavam a incríveis 40 ou 50 mil pés de altitude [De 13.300 a 16.700 m].
Esses objetos estavam seguindo os aviões naquele instante?
Parece que sim, pois tivemos vários relatos desse tipo. Um avião do tipo Beechcraft C45, por exemplo, decolou de Buenos Aires e dois ecos apareceram no radar atrás dele. Quando chegaram à área de Magdalena, aceleraram e sumiram. Horas depois um avião monomotor foi seguido por outros aparelhos por mais de 30 minutos. O piloto entrou em desespero, pois tentava a todo custo se livrar da insólita companhia e não conseguia. Em uma manhã de junho, por volta das 07h20, os radares militares captaram três ecos não identificados em formação, um atrás do outro. Eles estavam a 10 km da torre de controle e teriam de 6 a 9 m de diâmetro. Por cerca de 15 minutos realizaram voos sobre o perímetro de uma base aérea. Contudo, esse não foi um episódio esporádico, pois na noite seguinte várias testemunhas, todas militares, observaram 6 ecos em formação V na tela do radar.
Interceptação
Como esta formação se comportava?
Ela estava a uma altitude de 15.000 pés [5.000 m] e velocidade de 5.000 km/h. O melhor, se é que pode ficar melhor, foi um contato visual que se teve com os artefatos. Após o monitoramento de um ponto estranho por mais de 20 minutos, um caça pilotado pelo tenente Frederico Machain foi despachado para interceptar o estranho objeto. O céu estava encoberto e, portanto, Machain fez um primeiro reconhecimento abaixo das nuvens, nada encontrando. Depois de 15 minutos, quando ultrapassou a linha das nuvens, conseguiu ver, a 200 m de seu avião, um aparelho brilhante com 12 m de diâmetro e uma forma elíptica. Quarenta segundos depois, o UFO disparou e sumiu. Tudo foi registrado pelos radares em terra.
Há também um interessante acontecimento em que foram encontradas supostas pegadas de seres alienígenas em seu país. O que nos diz deste caso?
Sim, é o Caso Dique La Florida, que ocorreu em 04 de fevereiro de 1978 na cidade homônima, em San Luis, com os pescadores Manuel Alvarez, Regino Perroni, Pedro Sosa e outras três testemunhas que estavam pescando na represa. Às 04h30 Perroni observou uma luz sobre uma elevação à distância de 25 m. Para sua surpresa, era um clássico disco voador com luzes brancas na parte superior e verdes e roxas na inferior. O objeto tinha 18 m de diâmetro e por meio de uma escadinha desceu uma figura humanoide com 1,9 m de altura. Ela vestia uma roupa que parecia ter escamas e usava um capacete. Para o desespero de Alvarez, Perroni e Sosa, o ser ficou a cerca de 10 m deles. Foi dessa distância que eles notaram a fisionomia do alienígena, que tinha rosto humano e cabelos ruivos e curtos.
O relato de um piloto tem uma série de vantagens, pois eles têm alto nível de treinamento para realizar observações mais cuidadosas e anos de experiência de voo, que servem de ajuda para avaliar rapidamente situações inesperadas e ambíguas.
O que fez o ser?
Ele deu alguns passos, virou-se e voltou para o UFO, que decolou de forma vertiginosa. Depois que os jornais publicaram a notícia, a delegacia de polícia de San Luis procurou os pescadores e os interrogou por horas. Tenho que dizer aqui que o trabalho de investigação do caso, que ficou a cargo do tenente-coronel de polícia Raúl Benjamín López, foi impecável. O trabalho contou com a ajuda do Instituto Municipal de Botânica e da Escola de Geologia e Minério da Faculdade de San Luis, e as testemunhas foram proibidas de deixar a cidade antes do fim das averiguações. Foi encontrada uma marca de forma oval no solo, com 1,5 m de diâmetro, além de pegadas de 30 cm. Segundo as análises, somente um objeto muito pesado poderia deixar tamanha marca no chão e as pegadas seriam de um bípede com pelo menos 1,8 m de altura. A polícia concluiu a investigação afirmando que, apesar de não poder identificar o que foi visto, aquilo foi real.
Há registros na Argentina de algum caso em que um avião tenha sido derrubado por um UFO ou tenha colidido com um, em qualquer época?
Temos alguns casos em que pilotos relataram problemas mecânicos nos aviões ao se depararem com UFOs, mas não conheço nenhum episódio em que tais artefatos tenham derrubado ou contribuído para a queda de um avião.
Risco na aproximação
Baseado em sua experiência no trabalho com pilotos argentinos, o que você acha que ocorreu com os pilotos Felix Moncla, Thomas Mantell e Frederick Valentich, todos falecidos ou desaparecidos em contatos com naves?
Se levarmos em conta a porcentagem de encontros sem mortes entre pilotos e UFOs, esses três casos são um número ínfimo, mas que chamam a atenção devido ao seu fim trágico. Creio que um UFO se aproximou demais dos aviões de Mantell e de Moncla. No caso deste último, acho que houve uma colisão entre sua aeronave e o disco voador. Por isso é que sempre quero deixar claro que a segurança aérea é a chave para o futuro da Ufologia. Temos que conscientizar os pilotos civis, militares e comerciais de que eles devem seguir determinadas condutas quando se depararem com o fenômeno.
Ainda tomando como exemplo esses três casos, você acredita que existam muito outros episódios de encontros entre UFOs e pilotos que resultaram em mortes, mas sendo mantidos em sigilo?
Eu acredito sim, pois nós só temos a ponta do iceberg. Sempre que vamos mais fundo, descobrimos mais coisas. E quando o assunto tem que ser tratado com os pilotos, é tudo ainda mais difícil, pois eles temem perder o emprego, serem ridicularizados pelos colegas e nunca mais poderem voar profissionalmente. É óbvio que, quanto mais eles falarem, mas informações teremos.
Sempre destacamos muito os relatos de pilotos militares, mas também temos casos testemunhados por membros da Marinha e do Exército. Você concorda que precisamos buscar mais ocorrências nos integrantes destas armas, além da Aeronáutica?
Creio que há muitos casos testemunhados por militares da Marinha e Exército. Por exemplo, na Argentina contamos com casos importantes da Marinha, como o primeiro episódio ufológico reconhecido oficialmente, o Caso Ilha Decepção, ocorrido em 03 de julho de 1965 — foi por meio da Marinha, assim como do Exército, que o caso veio à tona. Também não podemos esquecer da polícia. Nos povoados e cidades do interior do país, os relatos das testemunhas são feitos para duas fontes: a imprensa e a polícia. Recentemente, a colega pesquisadora Andrea Simondini [Correspondente internacional da Revista UFO na Argentina] conseguiu resgatar um importante arquivo da polícia de Buenos Aires sobre a teleportação de dois pilotos do rally Volta da América do Sul, ocorrido em setembro de 1978. Este é um caso espetacular e os documentos são reveladores.
Como foi esse caso?
Ele ocorreu por volta das 03h00 de 23 de setembro de 1978, próximo à Baía Blanca. Dois participantes do rally, o empresário chileno Carlos Ramírez e o argentino Mario Moya, de 37 e 20 anos respectivamente, estavam a uma velocidade de 140 km/h na Rota 9, que ligava Viedma a Baía Blanca, quando tudo ocorreu. A 30 km da cidade de Carmen de Patagones eles notaram que uma luz muito forte de cor amarela os seguia. Em segundos perderam o controle do carro e perceberam que estavam levitando a dois metros do chão. Mesmo sem hipnose Ramírez e Moya se lembraram de estar em um lugar cheio de pequenos seres que não se importavam com sua presença.
Teletransportados por UFO
O que ocorreu então?
Um minuto depois, de acordo com suas recordações, já estavam de volta ao solo, mas na contramão da estrada. Eles viram o objeto para o qual foram levados, que media entre 6 e 7 m de diâmetro, se afastar. Em relação ao local que estavam antes do ocorrido e aquele em que se encontravam depois do fato, havia uma distância de pelo menos 73 km. Logo que chegaram ao final daquela etapa do rally, foram até a delegacia de Pedro Luro e o policial que recebeu o relato dos pilotos afirmou que eles eram sãos, apesar de estarem abalados. Outro fator que conta a favor deles foi que outro piloto também relatou ter visto o deslocamento de uma bola de luz e que seu carro sacudiu muito quando ela passou.
Esse caso é único do gênero no mundo?
Não, temos muitos similares. Só na Argentina contabilizo mais de 50 casos de teleportação desde 1947, mas eles são muito pouco conhecidos ou investigados.
Temos também muitos outros assuntos para tratar, entre os quais estão o chupacabras e as mutilações de animais. Como ambos já foram registrados na Argentina, você acha que eles estão realmente ligados ao Fenômeno UFO?
Também são grandes mistérios, mas não temos muitas informações sobre eles. Em 2002, ano com maior incidência de mutilações de animais na Argentina, em 30% dos casos houve o relato de avistamento de UFOs antes ou logo depois da morte dos bichos. Mas, mesmo assim, ninguém conseguiu até agora ligar uma coisa à outra. Quanto ao chupacabras, apesar de ser um tema muito sensacionalista, eu fico com a melhor declaração que já ouvi sobre ele. Segundo meu colega Angel Díaz, o chupacabras seria uma entidade “animaloide”. O que está claro para mim é que, pelo menos em uma pequena quantidade de casos, encontramos mutilações e a manifestação de entidades insólitas coincidentemente em meses ou dias de grande atividade ufológica.
Podemos dizer o mesmo sobre os famosos homens de preto?
Ah, esses seriam agentes do governo que visitavam as testemunhas de casos ufológicos logo no início do fenômeno, quando se criou uma atmosfera de mistério, terror e ameaças. Você sabe que, como a Ufologia tem muitos temas, há muitas certezas e verdades, mas em outras ocasiões, nem tanto. Essas últimas devem ser corroboradas por fontes confiáveis, caso contrário a Ufologia sofrerá um grande dano.
Ainda mais hoje em dia com o advento da tecnologia, quando é muito fácil falsificar uma foto ou o vídeo de um UFO. Como podemos ter uma Ufologia honesta e respeitada em meio a uma situação assim?
Todas as bases de uma Ufologia séria, racional e analítica deixaram pioneiros como Hynek e Vallée. Vivemos em uma realidade em que é tudo muito fácil de falsificar e de se espalhar nas redes sociais. Tenho ouvido com frequência jovens pesquisadores afirmando que uma filmagem é prova maior do que o testemunho de uma pessoa. Isso é um erro! A melhor imagem nunca substituirá o melhor depoimento. Temos que estudar os casos in loco, fazer investigação de campo mesmo. É necessário também que tenhamos um catálogo elaborado com todos os casos ufológicos relatados no país, mas com qualidade e permitindo serem comparados com outros do mundo todo. Isso nos deixará com pelo menos 5% dos casos como irrefutáveis. Enquanto o fenômeno não nos mostra mais, seja por meio de um contato definitivo ou parcial, as nossas ferramentas são essas.
Com mais de 77 mil quilômetros percorridos em suas investigações, 120 casos pesquisados e centenas de vigílias realizadas, como você vê a Ufologia daqui a 10 anos?
Espero que até lá todos os governos já tenham liberado seus arquivos secretos sobre os UFOs e que se possa de uma vez por todas realizar um estudo global sobre o fenômeno. Mas isso tudo dependerá muito dos esforços dos ufólogos. O que não podemos admitir é reduzir a Ufologia a simples imagens e pobres relatos.
Tenho ouvido com frequência jovens pesquisadores afirmando que uma filmagem é prova maior do que o testemunho de uma pessoa. Isso é um erro! A melhor imagem nunca substituirá o melhor depoimento. Isso é fato comprovado.
E quanto ao contato final com nossos visitantes extraterrestres, será que ele ocorrerá nos próximos 20 ou 30 anos?
Gostaria que fosse até antes, mas não temos como afirmar. É isso que me mais aflige na Ufologia — você não ter como saber quando algo vai acontecer. A cada dia, a cada momento, os UFOs e sua inteligência podem criar novas situações.
E uma última pergunta, feita pelos brasileiros: Lionel Messi é um extraterrestre?
Parece que sim [Risos]. O Brasil parece estar pronto para a Copa e, por isso, oxalá ele seja mesmo!
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