Conforme o Webster\’s International Dictionary, “pesquisa é uma indagação minuciosa ou exame crítico e exaustivo na procura de fatos e princípios – uma diligente busca para averiguar algo. A pesquisa não é apenas procurar a verdade. É também encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos.”
Sob a ótica dessa definição, praticamente inexiste no Brasil o que se convencionou chamar de pesquisa ufológica – tão comentada e alardeada por grupos ufológicos do nosso país. Com raras exceções, os ufólogos brasileiros apenas realizam uma das fases do que seria uma pesquisa: o levantamento de dados através de contatos diretos com os ufoenvolvidos (testemunhas). E essa coleta de informes é apenas um dos procedimentos dessa fase.
Etapas Desprezadas – Normalmente, as outras etapas da mesma são desprezadas nessa fase: a pesquisa documental e bibliográfica, por exemplo. É de se notar que a pesquisa de campo tenha a finalidade de conseguir informações e/ou conhecimentos referentes a um problema, para o qual se busca uma resposta ou hipótese que se deseja comprovar. Ou também, descobrir novos fenômenos ou as interligações entre eles. Essa pesquisa não se destina apenas a colher dados – ela procura conseguir um determinado resultado, através de uma série de procedimentos. Essa falha estrutural na pesquisa ufológica no Brasil, portanto, provoca um atraso no desenvolvimento das outras fases da procura científica.
O acervo casuístico nacional é um dos maiores do mundo, porém falta-lhe o tratamento adequado por parte de pesquisadores com formação apropriada para tanto. Junte-se à essa deficiência de pessoal a carência de aparelhagem específica para a consecução de análises dos dados materiais colhidos e teremos um quadro quase alarmante… Neste contexto, ainda se insere o fator tempo, para delimitar o valor de uma pesquisa. A conceituação temporal em curto, médio e longo prazo se reflete, sem dúvida, na valorização dos dados colhidos. Uma pesquisa realizada logo após o acontecido, quando o contatado lembra-se perfeitamente de todos os detalhes ou o UFO deixou marcas de sua passagem, pode conduzir a um maior sucesso. Em contraposição a esse aspecto de brevidade, se o ufólogo só entrevista o ufoenvolvido alguns dias, meses ou anos depois do evento, corre o perigo de perder dados seguros sobre o acontecimento – pois tanto o contatado esquece aspectos importantes, como os resquícios materiais existentes no meio ambiente, pela ação do UFO, deterioraram-se. Destarte, é necessário que os pesquisadores façam, de imediato, entrevistas com os ufoenvolvidos, logo após tomar ciência dos fatos ufológicos.
A pesquisa ufológica de campo, em tais situações, reveste-se de capital importância, pois é o vínculo entre a prática e a teoria ufológica. Sem ela, a Ufologia seria inoperante, pela falta de informações e relatos sobre avistamentos, aterrissagens e outros fatos ufológicos – e essa inação geraria perdas irrecuperáveis para a elucidação do milenar e sempre presente Fenômeno UFO. É inconcebível, por exemplo, um ufólogo de gabinete, cercado de centenas de livros, relatórios e fotos de UFOs. A negação da casuística é uma aberração à pesquisa, sob todos os aspectos.
Formação Ufológica – A matéria-prima da Ufologia, sem qualquer sombra de dúvida, são os casos conseguidos nas fontes originais e pelos abnegados ufólogos. Ressalta-se que qualquer tipo de encontro ufológico (de zero a quinto grau) é importante e merecedor, portanto, do devido tratamento pelos pesquisadores. Todos os ufólogos brasileiros enfrentam uma longa série de dificuldades tanto na área humana como no aspecto material.
Sem uma formação específica para lidar com a Ufologia, o ufólogo tem que conseguir sua autoeducação e instrução através de uma série de erros e acertos, aos “trancos e barrancos”. É assim que se diploma na “Universidade Ufológica”, e geralmente traz consigo visões deturpadas dos métodos de pesquisas científicas. Nesse contexto, algumas vezes julga-se dono da verdade. No seu afã de autorrealização, cada ufólogo procura mostrar à sociedade que ele é o melhor – e procura menosprezar outros ufólogos, concorrentes ou não, já que outra infeliz característica da falta de recursos para a Ufologia é o surgimento de uma tendência individualista no pesquisador. Nesse universo de amadorismo populam diferentes tipos de ufólogos que se confrontam constantemente, tudo em detrimento da Ufologia, lamentavelmente.
Milhares de Casos – Como toda ciência, a Ufologia tem seu objeto de estudo: os UFOs. Porém, mesmo com milhares de casos relatados, analisados e pesquisados, a natureza dos UFOs permanece, ainda hoje, um grande e insondável enigma, mostrando apenas grãos de areia de uma grande praia. Nessa lide em busca da verdade ufológica, existem variados percalços obstruindo o labor incessante e profícuo de desconhecidos pesquisadores em todos os rincões desse imenso Brasil. Por falta de apreciação e divulgação, a maior parte desse trabalho fica relegado em pastas A-Z. Esse desprezo à casuística regional por parte da imprensa, que dá mais ênfase e apoio aos eventos estrangeiros ou na periferia do eixo Rio-São Paulo, é altamente prejudicial ao conjunto da Ufologia Brasileira, pois esquece-se das outras regiões brasileiras onde há mananciais de avistamentos e aterrissagens. Face a tanto desincentivo, muitos ufólogos desistem de suas pesquisas quase sempre dispendiosas – e vão dedicar-se a outras atividades. Os que resistem a esta desestimulação enfrentam toda espécie de desafios, dificuldades, incompreensão e falta de apoio material, por parte da comunidade e dos órgãos públicos.
Desde o I° Congresso Internacional de Ufologia (CIUFO), realizado em Brasília, em 1979, a Ufologia no Brasil começou a entrar em crise interna, com a proliferação de “corpos estranhos” à problemática ufológica nos seus aspectos conceituais e metodológicos, tais como sua área de pesquisa e divulgação. Com o respaldo de nomes já famosos no setor, alguns misticóides começaram a deturpar a já mal vista Ufologia com teorias mirabolantes e absurdas, sem nenhum suporte científico e prático – simplesmente com o desejo de imporem suas idéias insensatas aos desavisados, curiosos e influenciáveis, além dos buscadores da salvação através de meios insólitos. De lá prá cá temos presenciado o surgimento de fraudes escandalosas na Ufologia, de mentiras ridículas e especulações absurdas – tudo isto burlando o objetivo do trabalho daqueles ufólogos sérios e dedicados, sejam eles científicos ou de orientação mística (a verdadeira, não confundir com misticóide). Nesse clima de misticismo exagerado, o objetivo da
Ufologia diluiu-se incontrolavelmente, gerando nefastas conseqüências que hoje se observam em nosso meio, ainda que muito a contragosto, mas com reflexos negativos para todos. Contrapondo-se a esse desvio, a ala tradicional da Ufologia, tida popularmente como científica, realiza um trabalho sério e honesto, com respaldo no método científico. Mesmo assim, seu trabalho é insistentemente confundido com a verdadeira desordem que o misticoidismo deslavado provoca no setor.