
Dois meses depois do suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, o Brasil era novamente abalado por rumorosa notícia, desta vez com o primeiro pronunciamento público da história em que um governo reconhecia oficialmente a existência dos UFOs. O acontecimento foi divulgado em primeira-mão pelo repórter João Martins, na edição de 27 de novembro daquele ano da extinta revista O Cruzeiro. Logo depois, em outubro, oficiais aviadores, sargentos, soldados e civis observaram estranhos corpos circulares de cor prateada sobre a Base Aérea de Canoas, no Rio Grande do Sul. No dia 26, o comando da base, então 5ª Zona Aérea, hoje 5º Comando Aéreo Regional (COMAR V), liberou à imprensa um relatório detalhado a respeito, incluindo avistamentos em vários outros pontos do estado. Estava confirmada uma onda ufológica.
A base solicitava aos cidadãos em geral que, caso observassem algo similar, comunicassem ao comando por escrito, detalhando as características do objeto, o local, hora, tipo de observação, se a olho nu ou por meio de instrumentos etc. O coronel Julio Hardman, então comandante da instalação militar, proibiu que seus subordinados prestassem declarações diretas. Pouco antes disso, em 16 de outubro, o brigadeiro Gervásio Duncan, chefe do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, limitando-se a ler os cinco dos 16 relatórios enviados pela 5ª Zona. Duncan reconheceu que os testemunhos eram irrefutáveis e o repórter João Martins acusou a Força Aérea de esconder outros 11 relatórios similares. O brigadeiro alegou simplesmente que deixara de ler aqueles casos porque repetiam os cinco primeiros. Havia ainda rumores de que a FAB obtivera pelo menos duas fotografias dos tais objetos.
Cautela quanto à segurança do país
De qualquer modo, mesmo sem tal confirmação, Martins disse que as autoridades militares têm o direito e o dever de serem cautelosas acerca do que consideravam importante ou vital para a defesa ou segurança do país. “Os chamados discos voadores até agora não mostraram representar perigo ou ameaça, mas ninguém pode dizer que já desvendou completamente o mistério que os cerca, nem que os tem sob controle. É, portanto, compreensível que as altas patentes julguem melhor e mais prudente conservar em segredo os detalhes que acharem convenientes”. Posteriormente, Martins visitou a base e foi recebido por Hardman, e atestou que ele e seus subalternos encaravam seriamente o problema.
A Europa, principalmente a França e a Itália, andava desde setembro de 1954 às voltas com uma onda que incluía casos de aterrissagem de UFOs e desembarque de tripulantes, que, embora esquivos e fugidios, tentavam estabelecer contatos com humanos. Refletindo-se no Brasil, o cenário atingiu especialmente o Rio Grande do Sul. O primeiro objeto foi visto às 21h40 da noite de 12 de outubro pelo comandante da guarnição do Corpo de Bombeiros de Pelotas, tenente Adil Quites, pela sua família e por soldados.
Na mesma noite, o tenente-aviador José Alexandre Moreira Pena e os tenentes Saliba e Dipp, que realizavam vôos de treinamento, viram um objeto luminoso avermelhado. Instantes depois, sobre a Base Aérea de Porto Alegre, hoje de Canoas, surgiram mais dois objetos. Através de binóculos os militares discerniram seu formato, semelhante a um prato. Na parte superior havia uma cúpula arredondada encimada por uma esfera, e na inferior uma saliência curva com três esferas giratórias. Na noite do dia 24, na Praia de Torres, observadores reportaram o aparecimento de artefatos luminosos novamente em forma de pratos. No dia 25, um disco foi visto sobre Osório e, no dia seguinte, objetos circulares de cor acinzentada surgiram durante a noite em várias outras localidades do Rio Grande do Sul.