Ainda que os veículos aéreos desenvolvidos pela humanidade sejam afetados por fenômenos não identificados desde o início da aviação, foi apenas nas primeiras décadas do século XX, durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que os chamados foo-fighters ganharam notoriedade e indicaram que havia algo a mais no céu além de nossos aparelhos voadores. Eram estranhas manifestações luminosas que acompanhavam tanto os aviões aliados quanto os inimigos enquanto sobrevoavam os céus da Europa e do Pacífico, sem atacar as aeronaves. Desde então, são inúmeras as ocorrências de artefatos voadores de origem desconhecida que interagem com veículos aéreos terrestres, transformando-se em fonte de preocupação para autoridades civis e militares que gerenciam o setor aéreo em todos os países [Veja edições UFO 164 e 168, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br].
Por se tratar de algo que foge completamente ao nosso controle, a ação de outras espécies cósmicas em seus veículos voadores em nossa atmosfera se torna um grande risco para o tráfego aéreo mundial, sendo, portanto, assunto de segurança nacional. São luzes e objetos que, uma vez detectados por radares e outros instrumentos, simplesmente não respondem a contatos por rádio, seus pilotos não se identificam e muitas vezes parecem nem se preocupar com uma possível reação bélica por parte dos governos das nações cujos espaços aéreos violam.
Tecnologia não terrestre
Por suas características, estes artefatos — que conhecemos como UFOs — representam um campo novo de investigação aeronáutica, que deve constar na pauta de todas as forças aéreas no planeta. O Chile não é exceção quando se trata de manifestações extraterrestres, mas um destaque nesta área por apresentar uma ativíssima casuística ufológica, que levou à criação, em 1997, de uma entidade oficial de pesquisas do tema, o Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos [Centro de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos, CEFAA], dentro da estrutura da Direção Geral de Aeronáutica Civil chilena. O país também se destaca por ter um militar que, com apoio oficial de seus superiores, fala aberta e cientificamente da questão. Ele é Rodrigo Bravo Garrido, entrevistado especial desta edição e homem que estarreceu o continente ao fazer afirmações de grosso calibre.
Bravo tem autorização formal das Forças Armadas chilenas para discutir casos em que formas desconhecidas de tecnologia não terrestre interferiram com operações aéreas — sejam elas a bordo de aviões, comandadas por pessoal em aeroportos ou observadas por controladores de tráfego aéreo. Piloto e capitão do Exército do país vizinho, o militar pertence ao destacamento de aviadores da instituição e desenvolve oficialmente um meticuloso trabalho de registro e análise de casos ufológicos, que começou por volta de 2000, quando um incidente no seu país, envolvendo uma aeronave Cessna 550 Citation II, fez com que as autoridades militares investissem mais no assunto. Com isso, determinaram que a tese de graduação de Bravo como piloto fosse sobre fenômenos não identificados e sua implicação para a segurança das operações aeronáuticas no Chile.
Indicado pela Revista UFO, Rodrigo Bravo Garrido foi um dos militares sul-americanos que levaram suas investigações à Conferência de Imprensa de Washington, realizada em 12 de novembro de 2007 pela Coalition for Freedom of Information (Coalizão para Liberdade de Informação, CSI), quando falou publicamente sobre suas pesquisas [Veja edição UFO 137, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Ameaça de grande gravidade
O ponto mais alto de seu envolvimento com a questão ufológica deu-se em fevereiro de 2007, durante a 10ª Jornada Chilena de Ufologia de Viña Del Mar, oportunidade em que fez afirmações surpreendentes perante mais de 1.200 pessoas que estavam na platéia. “Não há mais como ignorar a situação: os UFOs representam uma ameaça real e de grande gravidade. Estamos lidando com um fenômeno complexo, cujas características não podem ser explicadas em termos naturais, terrestres”, declarou.
Comedido em público, é nos bastidores que Bravo se torna mais contundente. “Estamos sendo observados por inteligências superiores que, por alguma razão, se interessam muito por nossas atividades. Mas sua manifestação pode colocar em risco a aviação”, declarou ao editor A. J. Gevaerd, presente no evento de Viña. Sua afirmação foi publicada na edição UFO 132. Em 2010, em parceria com o paleontólogo Juan Castillo Cornejo, publicou o livro Ufologia Aeronautica: Un Nuevo Concepto em el Estudio de los OVNIs [Ufologia Aeronáutica: Um Novo Conceito no Estudo dos UFOs, Chile Libros, 2010], cujo lançamento contou com a presença de vários oficiais das Forças Armadas chilenas. Sua abordagem da presença alienígena na Terra é estritamente científica, baseada em dados coletados nas fontes, e em momento algum busca dar explicação para os casos que não possam ser corroborados por informações objetivas. Vamos conhecê-lo melhor a partir de agora.
Episódios ufológicos tendo como testemunhas pilotos comerciais e militares, controladores de tráfego aéreo, engenheiros e técnicos aeronáuticos oferecem ferramentas eficazes para decifrarmos a natureza do Fenômeno UFO.
Para começar, como você entrou na vida militar? Desde muito pequeno sempre quis ser militar, ainda que em minha família não existam precedentes — com exceção de meu bisavô, que foi oficial há mais de 100 anos, combateu em duas guerras e tem uma bela história. No entanto, muitos de meus parentes foram carabineiros [Policiais no Chile], com os quais convivi desde menino e que estimularam, naquela época, meu interesse por esta vida. Ingressei na Escola Militar em 1993 e não parei mais. Optei pelo Exército e hoje sou capitão, piloto e especialista em telecomunicações.
O que você decidiu ser primeiro, piloto ou especialista em telecomunicações? Primeiro me empenhei nas telecomunicações, tornando-me perito. Na hora de entrar na Escola Militar, o cadete escolhe uma área na qual desempenhará suas funções, e entre infantaria, cavalaria blindada, artilharia etc, eu escolhi telecomunicações. Com patente de subtenente, comecei trabalhando com o tema em um regimento do Exército em 2000. Daí, em outubro do ano seguinte, cursei aviação e me tornei também piloto militar do Exército, função que exerço desde então.
Normalmente, os militares são pragmáticos e céticos quanto a fenômenos sobrenaturais e transcendentais. Como você começou a pesquisar o Fenômeno UFO neste ambiente? Tudo começou por volta de 2000, quando meus superiores me pediram que eu desenvolvesse, como tema de minha tese de graduação como piloto, um trabalho sobre casos ufológicos. Depois de um ano de pesquisas, terminei e apresentei minha tese à banca examinadora, recebendo o título de piloto militar. Ela acabou intitulada Introdução ao Fenômeno UFO e Considerações para a Segurança Aérea. Durante este estudo, aproximei-me do Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos [Centro de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos, CEFAA], uma entidade oficial da Direção Geral de Aeronáutica Civil, e recebi o apoio de Gustavo Rodríguez e do general Ricardo Bermúdez, dirigentes do órgão e a quem sou muito grato por seu respaldo e cooperação. Além deles, recebi muita colaboração de Luis Carlos Sánchez Perry e de Rodrigo Fuenzalida [Correspondente internacional da Revista UFO]. O dia 30 de maio de 2002 foi uma data especial para mim, porque, como resultado de um convite que o CEFAA encaminhou ao Exército, pude fazer uma exposição aberta de minha tese, com grande participação da Comunidade Ufológica Chilena. A apresentação foi histórica, pois era a primeira vez que um militar ativo fazia referência a um assunto tão polêmico e expunha casos reais de UFOs envolvendo aeronaves civis e militares.
Qual foi sua reação e de seus colegas quando lhe atribuíram o tema da tese? Você chegou a pensar que se tratava de um assunto de pouca importância ou coisa parecida? No início estranhei a ordem, devido ao contexto do tema, mas logo me dei conta da seriedade da questão ufológica, especialmente quando me chegou às mãos um caso de 27 de março de 2000. Nele, a tripulação de um avião Cessna 550 Citation II envolveu-se em uma observação muito interessante, que foi considerada como “incidente de vôo”. Isso obrigou meus comandantes, preocupados com o fato, a investigarem em profundidade o assunto e a tomarem medidas com respeito à segurança aeroespacial.
Já foi testemunha de algum fato ufológico? Não, nunca tive experiências com UFOs e sempre vi o fenômeno sob uma perspectiva um tanto cética. Mas, com o passar do tempo, e estudando casos importantes, me dei conta de que o Fenômeno UFO é indiscutivelmente real, porém ainda com muitas perguntas sem respostas definitivas.
Perfeito. Como os objetos voadores não identificados são tratados nos meios militares chilenos? Com cautela e transparência. O Exército e o restante das instituições de Defesa do Chile não têm uma postura oficial em relação ao Fenômeno UFO — e nem devem ter, já que este é um tópico controverso, enigmático e ainda não tem aval da ciência. Mas é uma realidade que causa preocupação, da qual constam diversos casos que se tornaram oficiais graças à existência e atuação do CEFAA, o único organismo aeronáutico oficial do país a realizar estudos e análises de manifestações ufológicas.
Quando você diz que o Exército não tem uma postura oficial quanto ao Fenômeno UFO, está se referindo a como o órgão trata da questão perante o público? Exato. As instituições militares chilenas não têm uma posição formal quanto ao tema e não há porque tê-la, pelo simples fato de que a Ufologia não é uma disciplina científica. Muitas pessoas vinculadas ao assunto se incomodam com esta afirmação, mas basta a qualquer um ver a definição de ciência para entender porque eu a faço — ciência é o conhecimento correto das coisas por seus princípios e causas. Se nos aprofundamos nos conceitos básicos que vêm com essa definição, nos damos conta de que a Ufologia não tem uma base doutrinária, quer dizer, carece de dogmas, um conjunto de opiniões de uma escola filosófica, que seriam pontos fundamentais para sua caracterização como ciência.
Você acha que este é o principal motivo de a ciência ainda se esquivar do tema? Como um fenômeno tão irregular em todos os sentidos, e simultaneamente tão complexo de ser analisado pela diversidade de suas manifestações, creio que ainda seja difícil defini-lo para o mundo científico, salvo por uma conexão com a chamada Teoria Fundamentada em Dados [Grounded Theory]. Depois da aplicação deste conceito, acho que poderíamos iniciar as primeiras aproximações entre o assunto e a ciência. Entretanto, penso que mais para frente será sensato que as instituições militares tenham uma posição oficial frente ao Fenômeno UFO. É uma questão de tempo, apenas.
Certo. E qual é a orientação que se dá agora, enquanto a mudança de postura não ocorre, aos militares que se envolvem em casos de avistamento de UFOs a bordo de aviões ou até mesmo em bases militares? Como em grande parte dos casos ufológicos, os relatos refletem um problema de segurança no ambiente aeronáutico, incluindo o militar. Assim, a posição oficial assumida é simples: os envolvidos devem informar o ocorrido às suas instituições, mas de maneira a contribuir para a prevenção de acidentes de vôo. Este é o enfoque que se dá à questão, no momento.
Esta atitude das Forças Armadas chilenas soa como um diálogo aberto e uma busca de entendimento do fenômeno, não deixando espaço para a mistificação da questão perante a população. É isso? Sim. Em meu país o tema ufológico e, em especial, sua vinculação com a Aeronáutica se transformou em uma importante preocupação, o que obrigou diversas autoridades militares e outras relacionadas à aviação a formarem um comitê e grupos multidisciplinares para o estudo dos UFOs e sua implicação para a segurança aérea. No caso pontual do CEFAA, seu objetivo é desenvolver a pesquisa de ocorrências anômalas nos céus, e para isso a entidade dispõe de um grupo qualificado de profissionais em várias áreas, com conhecimentos científicos abundantes, para tentar esclarecer e diferenciar os tipos de fenômenos envolvidos em uma observação. O organismo nasceu em 1997 e desde então as diferentes instituições da Defesa chilena têm mantido uma posição de transparência em relação à liberação de informações oficiais sobre os UFOs. Esta postura é fundamental para os propósitos do Centro e, além disso, confere ao país uma posição de referência mundial. Ou seja, no Chile não há o que ocultar. O exemplo mais claro disso é que a Aviação do Exército chileno [No país, o Exército tem seu próprio destacamento de aviação] já revelou à nação, até hoje, oito relatórios oficiais de incidentes ufológicos com aeronaves militares.
Os UFOs representam uma ameaça real e de grande gravidade. Estamos lidando com um fenômeno complexo, cujas características não podem ser explicadas em termos naturais, terrestres. Estamos sendo observados por inteligências superiores que, por alguma razão, se interessam muito por nossas atividades. Mas sua manifestação pode colocar em risco a aviação.
Oito relatórios oficiais de casos ufológicos é uma quantidade considerável, mas certamente não é tudo o que está sendo mantido… Não, mas é uma séria demonstração de abertura ufológica, feita espontaneamente. Note que há diversos países que, ao contrário do Chile, se viram na obrigação de revelar seus arquivos, casos guardados por anos em porões secretos. Este é o caso dos Estados Unidos, do Canadá, Suécia, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha, Itália, Filipinas, França, Irlanda e Dinamarca, entre outros. Além disso, o Chile repetiu o procedimento de liberação de documentos por diversas vezes, como aconteceu no Brasil graças à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, lançada pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) através da Revista UFO. Isso reflete uma vontade dos militares chilenos de mostrar às pessoas a realidade sobre a Ufologia, fazendo-as ver que não pode mais ser tratada como um mistério ou enigma, mas como um fato — que às vezes se transforma em um problema, pois não sabemos a origem e os objetivos dos UFOs. Mesmo assim, já conhecemos os estragos que o fenômeno provoca na aviação, quando há interferências em vôos civis e militares.
Você pesquisou algum caso civil, ou seja, que não tenha envolvido militares? Não. Obviamente, no entanto, recebo informações, relatos, fotos etc de supostos UFOs vistos por civis, mas envio tudo isso a outros pesquisadores, já que não me dedico à pesquisa de fatos que não estejam ligados ao ambiente aeronáutico.
Você tinha interesse pessoal pelos UFOs antes de formular sua tese, a pedido de seus superiores? Um pouco. Na verdade, em 1997 elaborei um trabalho para um concurso literário militar no qual apresentei minhas primeiras investigações de efeitos eletromagnéticos associados às observações de UFOs. Naquela oportunidade, obtive o primeiro lugar no evento e comecei a perceber que era necessário aprofundar meus estudos deste assunto. Mas é preciso ser o mais objetivo possível quando se pesquisa o Fenômeno UFO, deixando para trás as idéias preconcebidas que possuímos. Somente assim poderemos fazer uma análise crítica dos dados, que nos permitirá avançar nessa matéria.
E de onde veio a idéia de escrever seu livro Ufologia Aeronautica: Un Nuevo Concepto em el Estúdio de los OVNIs [Ufologia Aeronáutica: Um Novo Conceito no Estudo dos UFOs, Chile Libros, 2010]? Depois da minha participação na Conferência de Imprensa de Washington, realizada em 12 de novembro de 2007 pela Coalition for Freedom of Information (Coalizão para Liberdade de Informação, CSI), comecei a reunir informações e casos ufológicos que estudei em minha tese e em pesquisas que fiz posteriormente. Foi então que, conversando com o paleontólogo Juan Castillo Cornejo, surgiu a idéia de publicar estes episódios em um livro, junto com uma análise da Ufologia em termos genéricos, porém sob uma perspectiva diferente. Por esta combinação de critérios, Ufologia Aeronautica acabou se tornando um ponto de vista diferente para compreender os fenômenos aéreos anômalos — que é como preferimos chamar os discos voadores.
Fale um pouco de como foi o lançamento de Ufologia Aeronautica, em Santiago. Ele ocorreu durante a 30º Feira Internacional do Livro na cidade, em 04 de novembro de 2010, tendo entre os presentes, para meu orgulho, personalidades militares e importantes ufólogos civis. Entre os do primeiro grupo estavam, por exemplo, os generais Antonio Yakcich e Ricardo Bermúdez, respectivamente comandante da Brigada de Aviação do Exército e atual diretor do CEFAA, assim como os coronéis Ricardo Medina Ahuile e Johann Aaberl Pacheco, respectivamente chefe do Estado-Maior da Brigada de Aviação do Exército e chefe do Departamento de Busca e Salvamento do mesmo órgão. Entre os ufólogos civis estava Gustavo Rodríguez, secretário do CEFAA e controlador de tráfego aéreo, o pioneiro chileno Patrício Díaz, o consultor da Revista UFO Patrício Montecinos e uma constelação de ufólogos do país.
É impressionante reunir tantas personalidades militares no lançamento de um livro sobre UFOs. Parabéns! E sobre a obra, o que pode nos falar? Ufologia Aeronautica contém 23 casos ufológicos significativos de todo o mundo, que foram escolhidos por mim e meu co-autor Cornejo e ilustram o quão frágil somos diante da tecnologia demonstrada pelos UFOs. O livro é um trabalho científico embasado em relatos feitos pelos profissionais envolvidos em tais ocorrências, que corrobora a realidade dos chamados discos voadores, já que essas testemunhas, tanto civis quanto militares, são altamente qualificadas para julgarem o que viram e diferenciarem de fenômenos naturais, astronômicos ou meteorológicos, como nuvens e outros normalmente confundidos com UFOs por testemunhas leigas. Por ser uma obra conjunta de dois autores com diferentes perspectivas e interesses no Fenômeno UFO, creio que Ufologia Aeronautica oferece uma valiosíssima análise de fatos relevantes sobre a presença alienígena na Terra, especialmente para as operações aéreas. Eu fiz a investigação aeronáutica das ocorrências, enquanto a avaliação científica foi realizada por Cornejo.
Há diversos países que, ao contrário do Chile, se viram na obrigação de revelar seus arquivos, casos guardados por anos em porões secretos. Este é o caso dos Estados Unidos, do Canadá, Suécia, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha, Itália, Filipinas, França, Irlanda e Dinamarca, entre outros. No Chile a abertura de documentos foi repetida por diversas vezes, como aconteceu no Brasil graças à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já.
Por favor, apresente aos nossos leitores o seu parceiro e co-autor na obra. Perfeitamente. Com mais de 25 anos de trabalho em paleontologia, Juan Castillo Cornejo é curador do Museu Paleontológico Chileno e diretor do Grupo de Investigações Paleontológicas do Chile (Grinpach). Na área dos fenômenos anômalos, foi um dos fundadores do Centro de Investigação OVNI (CIO), participa ativamente de pesquisas de campo e realiza palestras em eventos sobre Ufologia. Atualmente, Cornejo é colaborador do CEFAA.
Como vocês se conheceram e de onde surgiu a idéia de lançarem Ufologia Aeronautica juntos? Foi durante um encontro ufológico ocorrido em Viña del Mar, do qual participamos como conferencistas. E como ambos éramos assessores do CEFAA, foi natural o intercâmbio de informações sobre casos ufológicos aéreos desde o princípio, quando surgiu a idéia de escrevermos o livro. Na publicação, a análise ufológica dos episódios feita por Cornejo mantém uma visão crítica conduzida sob uma perspectiva fortemente científica. Sua primeira parte é um resumo sobre os UFOs e as diferentes “escolas de pensamento” que existem hoje no meio ufológico, refletindo sobre o que há de verdadeiro a respeito do assunto e a necessidade urgente de se discutir, de forma científica e objetiva, a casuística ufológica. Nosso propósito é apresentar razões para que as autoridades da aviação mundial se dediquem com mais seriedade a este controverso tema.
Lendo a obra, observa-se que ela é um pouco dura quanto ao trabalho dos ufólogos e propõe restringir os estudos do Fenômeno UFO ao âmbito científico e aeronáutico. Isso não seria muito simplista, se considerarmos que ainda não se tem uma idéia sólida do que são estas naves e como compreender sua ação na Terra? Sim, mas as pessoas são livres para pensar como desejam e para estudar o que quiserem quanto a este assunto. No entanto, a Ufologia, como o termo implica — o estudo dos objetos voadores não identificados —, deve ter um embasamento em fatos mensuráveis, sólidos. Há décadas a comunidade científica tem receio e evita se referir ao assunto, porque os investigadores que estudam esses eventos não têm os conhecimentos necessários para interpretar a informação apurada. Sendo mais claro, os ufólogos são os responsáveis pela existência de um estereótipo para o fenômeno, principalmente porque propõem hipóteses subjetivas para explicar o enigma. É fácil observar isso vendo a grande diversidade de variáveis que apresentam para os UFOs, como a hipótese extraterrestre, as abduções, os contatos diretos com ETs etc, em contraste com as correntes mais ortodoxas. A Ufologia acabou inserida na sociedade como algo new age, gerando um importante atrativo para as massas — mas que, ao mesmo, tempo resultou em uma degeneração do real contexto da fenomenologia em questão, já que não existem provas categóricas e contundentes para sustentar tais afirmações como absolutas.
A quem esta crítica é dirigida? Ela não é dirigida a pessoas específicas e por isso não dou nomes. A crítica vai para as idéias mais extravagantes da Ufologia e os métodos empregados para sustentá-las, que são subjetivos. Enfim, as pessoas interessadas em Ufologia devem tirar suas próprias conclusões, sejam eles os leitores de nosso livro ou não. Este desvio conceitual impede o avanço concreto da matéria e é responsabilidade de ufólogos de todo o mundo, e sobre isso não há dúvida.
É por isso que você acha que se deve levar a Ufologia para um campo estritamente científico, como defende em seu livro? Sim, se quisermos obter o reconhecimento acadêmico. Por essa razão, a proposta de Ufologia Aeronautica é oferecer um estudo do Fenômeno UFO sustentado pelas evidências proporcionadas por dados concretos, que são aqueles relatados por pessoas do meio aeronáutico, como pilotos, controladores de tráfego aéreo, meteorologistas etc. Tais indivíduos, pelo conhecimento técnico e profissional que possuem, são testemunhas qualificadas e podem contribuir com o estudo da casuística ufológica com as evidências que adquiriram com o manuseio de sistemas eletrônicos de detecção, como instrumentos e radares, por exemplo. Assim poderemos, no futuro, reunir uma quantidade relevante de relatos que, ao serem processados, permitirão extrair dados sólidos que possam comprovar sem sombra de dúvidas a hipótese extraterrestre do fenômeno, gerando uma teoria que facilitará seu estudo epistemológico.
Como você pretende sugerir que este procedimento seja adotado? Os ufólogos que quiserem participar da investigação da casuística já registrada, desde que sob uma perspectiva crítica, estão convidados a fazê-lo. Uma amostra disso são as conferências que o CEFAA realiza todos os meses em Santiago e outras cidades chilenas, para as quais são convidados todos os grupos de investigação ufológica que desejarem ter seus pontos de vista e casos apurados expostos. Dessa maneira, são nossos objetivos gerar um debate e unificar critérios que norteiem futuras investigações.
Os ufólogos são os responsáveis pela existência de um estereótipo para o fenômeno, principalmente porque propõem hipóteses subjetivas para explicar o enigma. É fácil observar isso vendo a grande diversidade de variáveis que apresentam para os UFOs, como a hipótese extraterrestre, as abduções, os contatos diretos com ETs etc. A Ufologia acabou inserida na sociedade como algo new age, gerando um importante atrativo para as massas — mas que resultou em uma degeneração do real contexto da fenomenologia em questão.
Você pensou em incluir em seu livro alguma tentativa de explicar a natureza dos fenômenos ufológicos observados, ou foi sempre sua intenção adotar uma postura puramente informativa sobre eles? Nunca tivemos a intenção de explicar os UFOs. A linha de desenvolvimento da obra se baseia na apresentação dos dados obtidos em avistamentos ufológicos e na qualificação das testemunhas, que, repito, são sempre pessoas relacionadas com o meio aeronáutico. Não estamos em condições de sugerir a origem ou a causa dos fenômenos, embora haja informes nos quais as próprias testemunhas assinalam que os fatos observados manifestam um grau de inteligência. Mesmo assim, não se pode ir além dessa afirmação porque não existem informações suficientes para julgar [Veja detalhes no DVD Destino Terra, código DVD-024 da coleção Videoteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br].
Como você descreveu, estiveram presentes no lançamento da obra várias autoridades militares. Se o livro não se limitasse a uma análise científica dos casos ufológicos apresentados, você acha que o apoio de seus comandantes seria igual? Talvez. Veja, como já falei, que o Exército do Chile não tem uma posição oficial sobre o Fenômeno UFO, e então não teria porque sustentar seu apoio ao meu trabalho. Mas, no meu caso particular, sinto este respaldo e apoio, o que é muito importante. No entanto, creio que aos poucos está se desenvolvendo uma visão mais aberta da questão, e os militares estão cada vez mais dispostos a discutir o tema e a abrir seus arquivos. Uma demonstração disso é que o CEFAA possui vários relatórios de ocorrências ufológicas provenientes do órgão, o que representa uma conquista significativa e impensável há 10 anos. Este ponto é chave para entender a questão, porém, para conciliá-lo, se trabalha com informação concreta sobre os UFOs e sem interpretações subjetivas. Se não tivéssemos tomado este caminho, estaríamos longe de uma aproximação das instituições aeronáuticas e militares.
E por que você acha que a discriminação da Ufologia ocorre por parte das referidas instituições aeronáuticas e militares, afinal? Em geral, A Ufologia constitui um assunto muito complexo, pois o Fenômeno UFO é bastante irregular. Ela não tem bases sustentáveis e carece de doutrina e de princípios fundamentais, razões pelas quais não pode ser considerada um tema científico. A Ufologia é praticada por qualquer pessoa de maneira autodidata e seus especialistas podem ser mais bem descritos como aficcionados — eles defendem uma série de hipóteses que se afastam das linhas científicas clássicas. Como o Fenômeno UFO é algo real, desconhecido e desconcertante, a aeronáutica mundial teve que tratar do assunto, pois em alguns casos houve o registro de incidentes de vôo que puseram em perigo as operações aéreas. Ou seja, para a aeronáutica a questão é muito séria, de ordem prática, e não há espaço para dúvidas.
E como os órgãos aeronáuticos oficiais vêm se organizando para pesquisar o fenômeno? O trabalho tem sido muito sério e firme, e hoje existem várias organizações oficiais que investigam casos ufológicos aéreos. Temos o Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA) no Chile, a Oficina de Investigações de Fenômenos Aéreos Anômalos (OIFAA) no Peru, a Comissão Receptora e Investigadora de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (Cridovni) no Uruguai e o Grupo de Estudos e Informações sobre os Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados (GEIPAN) na França, entre outros. Isso demonstra o forte interesse e preocupação das autoridades aeronáuticas pelas ocorrências ufológicas.
Na edição UFO 169 entrevistamos o ufólogo espanhol Manuel Carballal, que disse que faltam “pensadores” e sobram investigadores na Ufologia. Você está de acordo com isso? Sim, mas com reservas, pois seria necessário definir o que seria um “pensador”. É importante ver que encontramos no meio muitos ufólogos que, por anos, têm abordado o assunto de maneira sensacionalista. Vários deles, quando obtêm uma filmagem ou fotografia, mesmo antes de um estudo exaustivo, vão aos meios de comunicação mostrar suas “evidências” de modo irresponsável. Outros apresentam qualquer coisa à população, inclusive o que chamam de extraterrestres! Sem comentários… Ora, primeiro é preciso se ter muita objetividade, o que falta a muitos estudiosos. Em segundo lugar, eles devem se abastecer de um ceticismo crítico razoável, pois se olharmos este fenômeno com uma visão subjetiva, o que teremos como resultado são somente idéias questionáveis. E, finalmente, deve-se exercitar sempre muito rigor na pesquisa dos casos.
Por favor, conte-nos um pouco sobre os episódios analisados em seu livro. Como são as ocorrências ufológicas apresentadas nele? Dos 23 casos mostrados na obra, 12 envolvem aeronaves militares e 9 abrangem aviões civis, comerciais e particulares. Há ainda no livro dois incidentes registrados através de comunicações por rádio entre torres de controle e pilotos, informando a presença de fenômenos aéreos não identificados em rota. Isso demonstra que, em todas as áreas da navegação aérea, a presença e interação com UFOs é assunto que preocupa os profissionais da aviação. Para melhor apresentar os casos no livro, fizemos uma adaptação da categorização dos tipos de contatos imediatos compilada nos anos 70 pelo doutor J. Allen Hynek, desenvolvendo uma nova classificação para os encontros de aeronaves com fenômenos aéreos desconhecidos, conforme a tipologia. Os 23 casos ufológicos apresentados em Ufologia Aeronautica se encaixam nessa nova classificação [Vide tabela no texto]. Por exemplo, em um encontro aéreo de primeiro tipo, o piloto, a tripulação e os passageiros, bem como pessoal de controle de tráfego aéreo (ATC), só vêem um objeto ou uma luz a distância relativa do avião, que provoca apenas curiosidade ou espanto, nada além disso. E em um de quinto tipo, um avião de combate se vê obrigado a ter um enfrentamento bélico com o objeto em questão.
Muito interessante e imagino que sua nova classificação também será bastante útil para o estudo dos casos aeronáuticos. Sim. E no caso dos encontros aéreos de terceiro, quarto e quinto tipos, podemos assinalar que tais ocorrências representam uma situação clara de risco operacional às aeronaves envolvidas, algo que traz conseqüências. Nelas podem ocorrer acidentes, desorientação espacial por parte da tripulação e até perda de referências instrumentais em vôos diurnos ou noturnos — fatores que podem ser acompanhados de desatenção e estresse da tripulação, causados em um acontecimento como esse. Percentualmente, do total de casos expostos, 61% se enquadram na categoria de risco operacional, aqueles nos quais foram produzidos eventos significativos que vão desde perda de comunicações da aeronave com o centro de controle e a inutilização ou bloqueio de equipamentos eletrônicos de referência, até o desvio das rotas aéreas previamente designadas para os aviões, as quase colisões e finalmente acidentes ou desaparecimento das aeronaves envolvidas.
Estas são situações graves, e sua estatística parece convincente até mesmo para o mais incrédulo dos pesquisadores… Realmente. E é importante frisar que, nos 23 casos ufológicos da amostra, a intervenção de fenômenos aéreos não identificados em aeronaves em vôo ocasionou variadas conseqüências, situações cuja avaliação é de suma importância quando se tenta realizar uma investigação mais profunda de tais acontecimentos, com vistas a incrementar a segurança de vôo. Estes casos não deixam dúvidas de que UFOs se encontram presentes nos céus de todo o planeta e, lamentavelmente, afetam o desenvolvimento normal das operações aerotransportadas.
Destes incidentes que colocaram as aeronaves em risco, houve algum em que foi possível observar uma atitude agressiva por parte dos UFOs? Não, nunca foi demonstrada qualquer atitude agressiva por parte deles. Nos 61% dos casos que destaquei, apesar de interferências diversas nos instrumentos de bordo e nas tripulações, não houve risco real. Mas, mesmo assim, tais interferências devem ser levadas em consideração, como qualquer pequeno detalhe que atinja a segurança de vôos. Por outro lado, entre os casos apresentados em nosso livro está um ocorrido no Irã, em 1976 [Veja edição UFO 143, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], e outro no Peru, em 1980, em que as tripulações das aeronaves envolvidas é que estiveram a ponto de atacar os UFOs — sendo neutralizadas por eles. No Irã, os controles e instrumentos dos caças F-4 enviados ao encalço do UFO foram bloqueados sem explicação lógica aparente. E no Peru, o comandante Oscar Santa Maria disparou 64 tiros contra um objeto que se encontrava próximo à Base Aérea La Joya, e mesmo assim foi impossível derrubá-lo. Estes dois casos demonstram uma ação bélica por parte das nossas aeronaves, que poderiam perfeitamente ter recebido uma resposta similar dos objetos intrusos, o que não ocorreu. Há um caso brasileiro de 1986, conhecido como A Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em que algo parecido é relatado, com a incursão de sete aviões de combate perseguindo 21 UFOs e a conclusão de que os próprios perseguidores se transformaram em perseguidos [Veja edição UFO 160, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Como o Fenômeno UFO é algo real, desconhecido e desconcertante, a aeronáutica mundial teve que tratar do assunto, pois em alguns casos houve o registro de incidentes de vôo que puseram em perigo as operações aéreas. Ou seja, para a aeronáutica a questão é muito séria, de ordem prática, e não há espaço para dúvida. O trabalho tem sido muito sério e firme, e hoje existem várias organizações oficiais que investigam casos ufológicos aéreos.
Em sua opinião, isso demonstra que há uma inteligência por trás dos UFOs? É possível arriscar dizer que são pacíficos? Sim, podemos afirmar que alguns dos UFOs observados demonstraram estar sob controle inteligente, e sob nenhuma circunstância tal inteligência se demonstrou bélica ou ofensiva — pelo menos quanto aos 23 casos contidos em nosso livro. Sei que existem incidentes em que se pode afirmar o contrário, como é o caso das ocorrências ufológicas que caracterizaram a onda chupa-chupa no Pará, concentrada na Ilha de Colares e que deu origem à Operação Prato, em 1977 [Veja edições UFO 114 a 117, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br]. Mas não se tem informação de que tais fatos tenham se repetido.
Das ocorrências que você investigou, qual foi a que mais risco apresentou para as operações aéreas envolvidas? São três fatos: um ocorrido em 1964 no Aeroporto El Dorado, na Colômbia, outro em 1988 no Aeroporto El Tepual, no Chile, e o último em 1995 no Aeroporto de Bariloche, na Argentina. Nos três casos existe uma similaridade em fatos que se deram na fase de aproximação de aeronaves para aterrissagem, chegando de vôos noturnos. No caso colombiano e argentino, elas tiveram que abortar o pouso e, no chileno, realizar uma manobra evasiva para não colidir com um objeto luminoso que voava em rota de colisão. Isso significa que, se as tripulações não tivessem realizado as manobras mencionadas em caráter de urgência e com muita precisão, poderíamos ter tido tragédias aéreas de grandes proporções.
Voltando a falar da nova categorização dos encontros aéreos que você desenvolveu, o que devemos entender por “enfrentamento bélico”, como está descrito nas circunstâncias do quinto tipo? Os casos do quinto tipo são aqueles em que a intenção por parte das aeronaves militares é identificar, interceptar e neutralizar o UFO — se não for possível identificá-lo —, já que se encontra em espaço aéreo controlado e próprio, infringindo normas internacionais de aviação e quebrando protocolos de segurança aérea. Pelas leis internacionais, quando não há uma identificação e a aeronave intrusa viola a segurança nacional, é necessário disparar e derrubá-la [No Brasil, esta é a chamada Lei do Abate, definida no artigo n º 303 do Código Brasileiro de Aeronáutica, instituído pela lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, e modificado pela lei nº 9.614, de 05 de março de 1998].
Na casuística ufológica chilena, não necessariamente entre os episódios que você investigou, houve alguma queda de UFO registrada? Não tenho qualquer informação de quedas de UFOs registradas no Chile, apenas ouço rumores. Aqueles casos que poderiam corresponder a quedas, como o Caso Paihuano — também conhecido como o “Caso Roswell Chileno” —, de outubro de 1998, já foram completamente descartados. Dizem os estudiosos que naquela ocasião, em plena luz do dia, testemunhas teriam visto um clarão no céu e três corpos romperem o silêncio sobre a pequena cidade — um deles teria batido na montanha Las Mollacas, dividindo-se em duas partes e resultando na idéia de que um UFO caíra em Paihuano. Na atualidade existem outras ocorrências sendo investigadas por ufólogos locais, mas até agora não temos qualquer prova concreta de que algum UFO tenha caído no Chile.
Você acredita que haja de fato uma inteligência operando os objetos não identificados que realizam as ações descritas em seu livro? Sim. Existem várias situações que falam por si mesmas e levam a concluir que há uma inteligência muito ativa por trás do Fenômeno UFO. Para mim, as principais referências neste sentido estão em casos ufológicos como o ocorrido em 1980 no Peru, envolvendo um caça russo Sukhoi 22, o de 1986 no Brasil, com vários caças F5-E e Mirage 2000, e o do Chile de 2000, em que houve uma perseguição a um Cessna 550 Citation II. Não se tem explicação sobre a origem dos artefatos observados, mas os próprios pilotos que testemunharam os fatos assinalaram que seus movimentos não eram casuais nem naturais, e sim intencionais! Quem estaria no comando de tais máquinas, fazendo suas manobras parecerem intencionais? Não sei, mas espero que possamos descobrir com o passar dos anos.
Nos fatos em que pôde ser verificada algum tipo de intenção por trás de ocorrências ufológicas, que características de comportamento os objetos apresentaram que poderíamos atribuir a entidades inteligentes? Existem duas condições que nos sugerem esta hipótese. A primeira é a própria intencionalidade dos movimentos dos UFOs, que são medidos, precisos, aparentemente planejados. Ao contrário de outros tipos de casos, é incomum recebermos relatórios de UFOs que tenham demonstrado movimentos aleatórios quando estavam próximos a aeronaves em vôo — do contrário, poderiam ser entendidos como fenômenos naturais ou eletromagnéticos que ainda desconhecemos. A segunda condição é o bloqueio dos sistemas de navegação e de detecção das aeronaves, que ocorre também de forma causada, não casual. Isso se viu no episódio iraniano já descrito, de 1976, na famosa Noite Oficial dos UFOs no Brasil, de 1986, e na onda belga de 1990. Não pode ter sido coincidência que na saída das aeronaves para interceptar os objetos nestes casos, seus equipamentos foram bloqueados e inutilizados.
Você acredita que a inteligência por trás dos UFOs pode ter algum interesse especial pelos arsenais terrestres, como defendem alguns estudiosos? Para responder a esta pergunta, tenho que sugerir afirmações que não estou em condições de fazer. Por exemplo, quando se pergunta sobre quem são “eles”, os tripulantes dos UFOs, supomos que sejam “não identificados”, mas o fato é que eles têm um grau de personificação e realizam com intenção suas manobras nos lugares onde são observados. Então, ainda que os chamemos de não identificados, por não sabermos ao certo o que são e de onde vêm, é claro que os tripulantes desses objetos sabem o que estão fazendo. Isso corresponde a dizer que, uma vez que façam tantas manobras próximas de locais onde estão instalados arsenais atômicos, sabem que este tipo de munição está ali.
Quando se mencionam eventos envolvendo UFOs próximos de bases militares, não podemos deixar de lembrar da conferência que ex-militares realizaram em 27 de setembro de 2010 no Clube Nacional de Imprensa, em Washington, em que afirmaram que “inteligências extraterrestres vigiam nossos arsenais atômicos”. Sim, é verdade. Esta foi uma reunião sem precedentes, na qual foram relatados inúmeros casos de UFOs sobrevoando, interferindo nos instrumentos e até desativando silos de mísseis atômicos nos Estados Unidos, descritos por testemunhas qualificadas [Veja edição UFO 171]. Em absolutamente todos os casos, os locais onde se produziram os avistamentos continham artefatos — bélicos ou não — movidos a energia nuclear, sugerindo que os “não identificados” observam de perto tais instalações e se interessam pelo trabalho e pela displicência com que se manipula este tipo de energia.
Esta conclusão não significa que os “não identificados” sejam inteligências extraterrestres? Podemos constatar, pelo menos, sua evidente intenção exploratória e de prevenção quanto ao que se faz nessas diversas usinas e bases nucleares. Mas poderíamos outorgar-lhes uma origem extraterrestre? Talvez, mas não estou de acordo em fazê-lo, porque ainda não há uma prova contundente neste sentido e só se pode fazer especulação. Creio que nos falta muita informação para podermos afirmar que os UFOs são extraterrestres. Talvez essa seja a hipótese mais próxima, mas ainda não podemos afirmar isso.
No caso de interferência e até de bloqueio em equipamentos de navegação aérea, por parte dos UFOs, isso não significaria que esses veículos utilizariam algum tipo de propulsão diferente da nossa, que causaria o efeito sem intenção? Essa poderia ser uma boa explicação se a situação se produzisse apenas nas proximidades dos fenômenos reportados. Porém, no caso da onda ufológica belga de 1990, foram bloqueados equipamentos que estavam a distâncias de até 300 km do epicentro das manifestações, em sistemas de bases aéreas que viriam a lançar caças para identificar os intrusos — numa tentativa óbvia de impedir seu lançamento. Isso ocorreu igualmente no Brasil, posterior à confirmação dos 21 objetos durante a Noite Oficial dos UFOs. Às 23h20 se produziu a primeira de duas interferências nos radares dos aeroportos de São Paulo, Rio de Janeiro e São José dos Campos, unidades pertencentes ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta). Falamos de várias centenas de quilômetros quadrados de área de bloqueio. É muita distância!
Há pesquisadores que afirmam que as evidências de que civilizações extraterrestres que nos visitam estariam além dos registros de radar e avistamentos por pessoal aeronáutico, mas também em marcas de pouso, amassamento e queima de vegetais, mutilações de animais etc. O que nos diz sobre isso? Posso começar esclarecendo, por exemplo, que as marcas de pouso, amassamento e queima de vegetais, além de outros efeitos, mesmo quando comprovadamente produzidos por UFOs, não são muitos no mundo. Talvez a mais importante evidência neste sentido seja o Caso Trans-en-Provence, da França, ocorrido em 1981 e debatido no famoso Relatório Sturrock e no Dossiê Cometa [Veja livro Dossiê Cometa, código LIV-021 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. O relatório do caso concluiu que existiram provas bioquímicas de que o terreno e os vegetais da área analisada, onde houve o pouso de um UFO, tinham aceleração irregular em seu crescimento e uma desidratação sem aparente explicação. De resto, não há evidências com uma contundência tão significativa. Por isso, a afirmação de que os UFOs pousam e deixam marcas também pode ser questionada, uma vez que os sinais podem ser atribuídos a qualquer outra coisa, e não necessariamente a naves de origem extraterrestre. Por isso, os registros de radar e avistamentos por pessoal aeronáutico continuam sendo a melhor evidência disponível.
Existem duas condições que nos sugerem inteligência por parte do fenômeno. A primeira é a intencionalidade dos movimentos dos UFOs, que são medidos, precisos, aparentemente planejados. Ao contrário de outros tipos de casos, é incomum recebermos relatórios de UFOs que tenham demonstrado movimentos aleatórios quando estavam próximos a aeronaves em vôo — do contrário, poderiam ser entendidos como fenômenos naturais ou eletromagnéticos que ainda desconhecemos. A segunda condição é o bloqueio dos sistemas de navegação e de detecção das aeronaves, que ocorre também de forma causada, não casual.
Em algumas ocasiões você disse que é improvável a associação entre UFOs e extraterrestres. Mudou de idéia ou a mantém? E neste caso, de onde viriam esses objetos não identificados? Não sei de onde eles vêm e a informação que temos até o momento não é precisa para afirmar que sejam extraterrestres. Como mencionou o astrônomo francês Jean Claude Ribes, na conferência de imprensa de Washington de novembro de 2007, “quando falamos de probabilidades para o Fenômeno UFO, a hipótese extraterrestre é a mais aceita. Porém, até hoje, é a menos comprovada”. Faço minha esta afirmação.
E sobre o famoso Triângulo das Bermudas, que envolve tantos casos aeronáuticos, qual é a sua opinião sobre este mistério? Já li sobre o Triângulo e me chamou muito a atenção o Caso Vôo 19, que registra o desaparecimento de cinco aviões TBM da Marinha dos Estados Unidos, em 05 de dezembro de 1945. Mas o curioso é que tal desaparecimento foi associado ao Fenômeno UFO apenas depois de 1947, isto é, posteriormente ao Caso Kenneth Arnold, de 24 de junho deste ano e que deu origem à Era Moderna dos Discos Voadores. Por essa razão, para mim o Caso Vôo 19 não tem relação com UFOs, mas com a febre que eles causavam na sociedade, que via explicação ufológica para todo e qualquer mistério.
Durante a Segunda Guerra Mundial ocorreram os chamados foo-fighters, estranhas manifestações luminosas que acompanhavam os aviões aliados e inimigos enquanto sobrevoavam os céus da Europa e do Pacífico, sem atacar as aeronaves. Como analisa este fenômeno? Para mim são muito interessantes porque o início das observações dos foo-fighters se dá em 14 de outubro de 1943, quando os pilotos do Grupamento 384 do Exército dos Estados Unidos, na missão de vôo 115, relataram ter visto sobre Schweinfurt, Alemanha, estranhas luzes que acompanharam os aviões — inclusive colidindo com alguns sem causar danos. Estes casos surpreendem porque naquela época ainda não estavam contaminados com a febre que o tema receberia nas décadas seguintes.
E sobre o Caso Roswell, o que você acha que aconteceu em 1947, no Novo México? Não sei ao certo. Existem casos emblemáticos da Ufologia, aos quais, com o passar dos anos, informações que escapam ao que verdadeiramente ocorreu vão sendo agregadas. A julgar pelo conceito de “sabedoria popular”, efetivamente aconteceu um fato muito importante em julho de 1947, no Novo México. Mas acredito que o que hoje sabemos a respeito seja algo completamente diferente do que na verdade houve [Veja detalhes no DVD Acidente em Roswell, código DVD-006 da coleção Videoteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br].
Quais serão suas próximas atividades de pesquisa ufológica? Já tem algo em mente? Primeiro, vou continuar com tudo o que está relacionado ao nosso livro, entre divulgação, entrevistas e participação em debates e programas de rádio e TV, como Cornejo e eu temos feito até agora. Mas também já estamos trabalhando em outros dois projetos, um deles chamado Ufologia Militar, em que fazemos a compilação de casos ocorridos em unidades militares de solo. São todos acontecimentos reais, tais como ocorre com os episódios aeronáuticos — e existe tanta informação sobre eles que é necessário levá-la ao conhecimento popular.
E o outro projeto que você disse que está desenvolvendo, qual será ele? Será algo que chamo de Anticiência, uma nova forma de abordar os fenômenos aéreos não identificados sob a Teoria Fundamentada em Dados [Grounded Theory], para tirá-lo da configuração hipotética em que se encontra. Este é um dos trabalhos que estou realizando atualmente como assessor do Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos [Centro de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos, CEFAA], com o