O progresso é uma lei natural que atinge os globos e as humanidades. Evoluindo de mundo em mundo, o espírito se depura de suas imperfeições, ganhando em moralidade e perdendo em materialidade. Não mais a limitação imposta por um corpo grosseiro e pesado, chumbado ao solo planetário pela incontornável gravidade, mas a liberdade e leveza de uma criatura consciente de sua origem e destinação. À proporção que a vida se desmaterializa, menos obrigatórias se tornam as exigências do corpo físico. A sensação de passagem do tempo se dilui, pois o ser assume a consciência da eternidade da sua existência. Com uma visão mais interiorizada, as coisas de fora gradativamente deixam de constituir um ponto de referência para a medida temporal.
Da mesma forma, as distâncias se encurtam. As limitações de percurso de outrora, escravas dos espaços intransponíveis entre os orbes deixam de existir, pois bastará um esforço de vontade, uma projeção do pensamento, para deslocar um corpo sem peso de um extremo a outro no universo. Uma ciência encantada pelos mistérios do cosmos, caminhando lado a lado com uma moralidade aprimorada, projetará o ser humano a limites jamais sonhados. Finalmente, os problemas da finitude da vida e das distâncias incomensuráveis estarão solucionados. Será mesmo?
Podemos procurar à vontade, mas a busca será infecunda. Em momento algum a literatura espírita baseada nos princípios da codificação kardequiana faz uso de termos remotamente semelhantes a “objetos voadores não identificados”, “discos voadores”, “naves alienígenas” ou “veículos espaciais”. Tampouco faz menção a qualquer tipo de deslocamento entre os mundos, que não sejam aqueles proporcionados pelo mérito evolutivo ou pelas migrações em massa de espíritos em degredo compulsório. Inútil, também, buscar referências às abduções e aos implantes alienígenas.
Peças ainda por encaixar
Um vasto campo repleto de elementos inexplicáveis apresenta-se diante de nós. Ele se mostra como um enorme quebra-cabeça, abarrotado de peças ainda por encaixar. Parte da dificuldade decorre do fato que o céu apresenta uma enorme variedade de fenômenos e objetos peculiares e que um leigo, em toda sua vida, provavelmente só irá se deparar com alguns poucos. Dizia-se: “Galileu é um louco. Se a Terra é redonda e gira, como podemos caminhar de cabeça para baixo? E o que dizer dos mares? A água não se derramaria?” Igualmente não se admite a viagem pelo cosmos, pois as distâncias são inacessíveis à nossa compreensão, ainda limitada ao princípio da combustão dos foguetes. Consequentemente, é impossível que alguém vindo de outra estrela já tenha nos alcançado, no passado ou mesmo nos dias atuais — é evidente que, negando a causa, neguem o efeito. Porém, o que pode ser uma opinião contra um fenômeno objetiva e conscientemente observado e reprodutível à exaustão?
Muitas lacunas ainda existem e a Ufologia exercida com seriedade não tem a pretensão de dizer a última palavra. Não obstante, pouca coisa pode se contrapor como causa desta enorme casuística — nenhum poder acadêmico poderá impedir a vulgarização dos fatos que qualquer pessoa pode constatar, tampouco impedir as consequências deles decorrentes. Somos forçados a admitir, também, que nenhum outro evento ficou mais exposto à fraude, à ridicularização, à mistificação religiosa, ao sensacionalismo e à investigação amadora do que o Fenômeno UFO. “A maior perturbação mental é acreditar em algo simplesmente porque a pessoa deseja que seja assim”, afirmou Louis Pasteur, cientista francês do século XIX.
Temos dificuldade para compreender e elucidar os milhares de depoimentos e avistamentos. Não é confortável ignorar as fotografias e filmagens coletadas ao longo de décadas, ainda que sejam, em sua esmagadora maioria, de péssima qualidade. É uma atitude arbitrária desqualificar testemunhas isentas. Por fim, trata-se de uma arrogante estupidez virar as costas para as evidências físicas deixadas em nossos corpos, radares e plantações. Um suspiro de frustração toma de assalto todos que se debruçam sobre tão apaixonante assunto. Dispomos de imagens espetaculares do nosso mundo e do espaço que nos envolve, mas quando conseguimos um flagrante ufológico, buscamos a alta tecnologia para aprimorar a imagem sofrível ou desmascarar a fraude. Dispomos de material geológico de outros mundos, mas nem um mísero parafuso de uma nave alienígena acidentada. O fenômeno é, invariavelmente, furtivo e fugidio, jamais tendo autorizado seu detalhamento.