Enquanto se fala em abduções por tripulantes de discos voadores, o assunto afigura-se relativamente consolidado e a maioria dos pesquisadores parece aceitar as narrativas sem maiores críticas ou objeções. Se, entretanto, a testemunha fala em ter tido a oportunidade de entrar em contato amistoso ou amigável com um tripulante dos misteriosos aparelhos, geralmente os ufólogos mais ortodoxos recebem o caso com ceticismo e ressalva. Quando alguém tem a coragem de vir a público alegando ter viajado pelo espaço e mesmo conhecido outros mundos a convite de seres benevolentes, toda uma alavanca de ataques e censuras é desencadeada. Como uma pessoa poderia ter visitado cidades utópicas em Marte ou Vênus se os telescópios e as sondas espaciais há muito atestaram a inexistência de civilizações tecnológicas, ao menos na atualidade, nesses planetas, cujas condições de temperatura, atmosfera, pressão e gravidade são inteiramente desfavoráveis à vida tal qual a conhecemos na Terra? De sua parte, um espírita dificilmente aceitaria que alguém pretendesse atingir planos superiores em tão pouco tempo, e antes da morte, sem passar pelos sofrimentos e experiências inerentes aos processos kármicos e estágios evolucionários do plano terreno. E um católico ou protestante certamente não aprovaria e até atribuiria ao demônio o contato com seres não coadunados às leis de Deus e aos dogmas do pecado original e da redenção cristã.
Todas as questões que há séculos atormentam a humanidade, de repente, e com tanta facilidade podem ser respondidas por uma pessoa que, atribuindo a si qualidades especiais, posa de escolhida e ousa invadir o terreno das viagens interplanetárias antes que nossos foguetes e naves espaciais estejam preparados para tanto? Doida é a mínima definição que a testemunha de um evento ufológico teria que ouvir continuamente, a cada relato. E os próprios familiares passariam a encará-la como a “peça rara”, isolando-a e pensando seriamente em internação. Inicialmente convicta de que vivenciara algo real, a pessoa agirá naturalmente dessa forma, mesmo que psicólogos lhe digam que experimentara apenas uma alucinação. Depois de algum tempo, porém, é bastante provável que o próprio contatado seja obrigado a assumir que é um ser anormal ante a tamanha reação contra tudo o que antes lhe parecera real e verdadeiro. Sua própria autoconfiança vai desaparecendo gradativamente, até a lembrança ser recalcada e passar a misturar-se com sonhos.
Realidade — O que muitos pesquisadores se esquecem, todavia, é que as abduções surgiram no bojo dos primeiros contatados da década de 50 – tais como Adamski, Fry, Bethurum, Allinghan, entre outros – que, com suas histórias fantásticas, abriram o caminho para o transcurso de novas narrativas, não menos extraordinárias, adaptadas às novas realidades insurgentes. Assim, podemos dizer que os abduzidos de hoje serão considerados os contatados de amanhã. Os ufólogos do futuro, diante de renovados desafios e paradigmas, possivelmente irão encarar os abduzidos de hoje tal como nós enxergamos os contatados do passado: com extremo ceticismo. A ansiedade em encontrar a resolução de certos problemas antigos em acontecimentos recentes faz com que alimentemos a falsa presunção de que os valores de nossa época serão válidos amanhã, esquecendo que grande parte das concepções de ontem não encontram mais respaldo nos dias atuais.