Um consórcio formado por franceses e russos, e que conta com a participação brasileira, lançará em outubro um satélite com a missão de encontrar sinais de “vida inteligente” no espaço. Não é ficção científica, é realidade. Chamado de Corot, o satélite ficará xeretando planetas pequenos e rochosos, justamente aqueles que possuem maiores possibilidades de abrigar formas de vida similares às que são encontradas na Terra. Os americanos também estão apostando na busca de ETs. Um grupo independente de astrônomos da Planetary Society, vinculada ao respeitado Smithsonian Center, lançou um telescópio só para procurar pistas de alienígenas. A NASA está preparando uma sonda (batizada de Kepler) para competir com esses projetos, mas ela só entrará em operação daqui a três anos. Enquanto isso, o Corot terá o Universo à sua disposição. Embora não seja grande (mede quatro metros de comprimento por dois metros de largura, pesando 600 quilos), o satélite carrega consigo o telescópio mais moderno que a ciência já produziu, com capacidade de captar as menores variações de luz que vagalumeiam no cosmos – e que escapam das lentes e dos sensores dos equipamentos convencionais.
Além de identificar essas luzes, que podem ser planetas com vida, o telescópio conseguirá dimensioná-los e avaliar a sua distância em relação à estrela ao redor da qual eles orbitam.O Brasil desembolsou um milhão de euros [R$ 2,622 milhões] para participar desse projeto, que, no total, já consumiu astronômicos 70 milhões de euros [R$ 183,547 milhões]. Um grupo de especialistas brasileiros está desenvolvendo na França o software de controle do satélite. “Em linguagem simples e direta, estamos trabalhando com o supra-sumo da pesquisa”, diz o astrofísico Gustavo Porto de Mello, diretor do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para que possa ocorrer em outros pontos do Universo uma atividade biológica semelhante à humana, é necessária a presença de água, energia (calor e luz) e elementos químicos como carbono, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio. Até hoje, um dos indícios mais fortes de possibilidade de vida fora da Terra foi a descoberta de água em Encélado, uma das 33 luas já conhecidas de Saturno. Diversas outras evidências estão sendo avaliadas.
O planeta Júpiter possui uma lua chamada Europa, e nela existe uma placa gelada de coloração escura, mas ainda não se sabe se tal placa é composta por água. Na semana passada, pesquisadores americanos de Ohio localizaram um megaplaneta formado por materiais existentes na Terra – ele está orbitando na extremidade de um sistema solar muito similar ao nosso. Nem um urso polar, pelo menos na forma em que conhecemos os ursos, resistiria, porém, à temperatura de 200 graus Celsius negativos que faz nesse planeta. Os principais passos da empreitada do satélite Corot foram discutidos, também na semana passada, durante o I Workshop Brasileiro de Astrobiologia, realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Uma das conclusões é que, se nada desviar o satélite de sua rota e de sua missão, o século XXI poderá ser conhecido como aquele em que, definitivamente, descobrimos que não estamos sós no Universo.