
A ideia que somos visitados por outros seres, assim como histórias de máquinas e naves vindas do espaço, estão presentes em toda as civilizações com suas tradições, mitos e religiões. Também são fartamente documentados ilustrações e desenhos que remontam às manifestações rupestres que expressam imagens de objetos voadores e de seres celestiais. Seria esse incrível material apenas resultado do campo fértil e imaginativo do ser humano em sua necessidade de buscar sentido ao que lhe acontece? Ou será isso tudo uma elaboração simbólica e mítica do que foi objetivamente vivido por essas inúmeras civilizações?
Além disso, esses fenômenos permanecem vivos e presentes no transcorrer da história. Nas diversas culturas existentes, encontramos relatos de avistamento de UFOs e abdução por seres extraterrestres. Por muito tempo a psicologia teve uma atitude resistente e muito negativa em relação a esses fenômenos — uma visão psicopatológica foi sempre a primeira opção dentro do campo psicológico e psiquiátrico. Entendido como alucinações dentro de contextos específicos ou como fruto de uma psicose, o assunto sempre ganhou status de algo anormal e, no mínimo, como um comportamento estranho para aqueles que se interessavam pelo assunto.
Talvez esse cenário ainda persista no âmbito de muitos profissionais e de uma parcela da pesquisa acadêmica. Mas também vemos muitas mudanças ocorrendo atualmente no mundo todo a respeito de como a psicologia está encarando e pesquisando o Fenômeno UFO e as abduções alienígenas. Esses acontecimentos estão catalogados atualmente como parte das experiências e fenômenos anômalos. O que vem a ser então esse termo? Anômalo deriva do grego anomalos, significando irregular, diferente, desigual, em contraste com homalos, que significa o mesmo ou comum. Do ponto de vista da psicologia, define-se uma experiência anômala como uma ocorrência incomum ou que, embora vivenciada por uma quantidade considerável da população, acredita-se que se desviem da experiência comum ou das explicações da realidade que são comumente aceitas.
Devemos diferenciar anômala de anormal, palavra que denota algum distúrbio. Levantamento de dados de amostras clínicas têm encontrado pouca relação entre as experiências anômalas e doenças mentais. São experiências que mesmo únicas e transitórias têm grande impacto sobre aqueles que vivenciaram, como promovendo mudanças de valores. James McClenon se refere como “eventos maravilhosos”, sugerindo que elas estimulariam o desenvolvimento de ideologias religiosas. Daniel Helminiak chamou de “experiências humanas excepcionais”, pelo potencial transformador na vida das pessoas — Jung chama de “experiência do numinoso”, referindo ao caráter emocional e significativo que transcende ao ego).
São muitas as questões que as experiências anômalas no colocam a respeito da natureza da realidade e da consciência humana, Por exemplo, qual é a relação entre nossa experiência consciente e o que nós chamamos de mundo físico? Como ocorrem as curas? Quais as fronteiras entre o sonho e a vigília? Há provas confiáveis de que os pensamentos afetam o mundo material ou que possam ser transmitidos por meios extrassensoriais? A consciência persiste depois da morte? O que as experiências místicas têm a nos dizer sobre a natureza da realidade?
Apesar do interesse da psicologia pelas experiências anômalas ser antiga — pois sua primeira investigação sistemática ocorreu a partir da fundação da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, em Londres, em 1882 —, seu estudo foi aos poucos marginalizado e relegado para uma condição secundária. Psicólogos clínicos e estudiosos da psicologia, como William James, F. W. Myers, o citado Jung e Theodore Flournoy, por exemplo, realizaram pesquisas e estudos diversos sobre as experiências anômalas. Mas a primeira tentativa moderna e sistemática para explicá-la está no livro The Psychology of Anomalous Experience [A Psicologia das Experiências Anômalas. Houghton Mifflin, 1974), lançado pelo psicólogo Graham Read por meio de uma perspectiva cognitivo-comportamental.
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