‘‘Minha atenção foi atraída por algo voando em alta velocidade e sem fazer barulho\’\’. O relato do funcionário público Roberto di Sena, de 58 anos, faz lembrar as incontáveis e quase sempre desacreditadas histórias sobre disco voador. O que era, de fato, ele não sabe. Mas garante que registrou a cena e exibe uma fotografia como prova do que viu. A imagem mostra um objeto redondo e acinzentado, reletindo a luz do sol, sobrevoando o céu, aparentemente a apenas poucos metros das casas mais próximas. É notadamente algo parecido com o que se convencionou chamar de disco voador.Sena conta que o fato inusitado aconteceu na manhã do dia 25 de novembro, entre 9h30 e 10h, numa área próxima ao estádio ‘‘Frasqueirão\’\’, na Rota do Sol, em Ponta Negra. ‘‘Entre a minha residência e o estádio existe um terreno baldio que estava exalando um mau cheiro horrível. Pensei tratar-se de um animal morto. Então peguei a máquina fotográfica no intuito de fotografar o que quer que fosse para denunciar à saúde pública\’\’, relata ele, esclarecendo o que o motivou a sair de casa com uma máquina.
Foi nesse momento que Roberto di Sena diz ter percebido o objeto ‘‘estranho\’\’ no ar. ‘‘O ato de fotografar foi intuitivo\’\’, recorda. E detalha como aconteceu em seguida: ‘‘Levantei a máquina direcionando-a para o alto, mais ou menos na trajetória de vôo, sem procurar nenhum enquadramento no visor, e fotografei indistintivamente por diversas vezes na esperança de conseguir algo.\’\’ Segundo ele, o objeto se deslocava horizontalmente, indo na direção do Morro do Careca, na praia de Ponta Negra. Ao chegar em casa, Sena percebeu que durante todo o episódio havia deixado o dedo presionando o botão do clique. ‘‘Tinha fotos dos meus pés, das pernas, do chão e do céu, pois na procura de encontrar visualmente a aeronave esqueci de tirar o dedo do botão que aciona a máquina\’.\’ A primeira foto, segundo ele, foi a que registrou o objeto. ‘‘Mas só percebi do que se tratava quando dei um zoom (aproximação). Como as outras fotos não continham nada de interessante, ele deletou todas.
A fotografia foi submetida a uma análise do setor de design do Diário de Natal. Segundo o editor de artes, Jaime Azevedo, o ângulo de incidência de luz no objeto é coerente com o que se observa em outros elementos da foto, como as casas e os postes. ‘‘O brilho especular (aquele que reflete uma luz) do objeto também é similar ao observado em outros componentes reflexivos da foto, com a mesma característica de captação pelo sensor da câmera. E a granulação da imagem na área do objeto segue o mesmo padrão do resto da foto\’\’, analisa.
Para Azevedo, o que poderia pesar contra a foto é uma ligeira borda de pixels (pontos que formam as imagens eletrônicas) visível principalmente na parte inferior do objeto. ‘‘Ela tanto pode indicar que a imagem foi recortada e inserida posteriormente no céu, como pode ter sido causada pelo tipo de compactação utilizada no arquivo\’\’, esclarece. Apesar disso, a reportagem do Diário de Natal verificou que a fotografia está arquivada na câmera digital de Roberto di Sena.
Órgãos militares desconhecem objeto. Como, geralmente, os objetos voadores não identificados vistos por leigos tratam-se na verdade de equipamentos de pesquisa ou de treinamentos militares, o Diário de Natal comunicou o fato a autoridades para verificar se houve lançamentos no local, dia e horário em que a fotografia foi registrada. Todos os órgãos descartaram essa possibilidade. No Centro de Lançamento Barreira do Inferno, cuja área de atuação é vizinha ao local do fato, a oficial de comunicação social, Carla Ionara, informou que não houve nenhum lançamento de balão meteorológico ou qualquer outro equipamento no dia do fato. A informação, segundo ela, foi confirmada pelo comandante da Barreira do Inferno, coronel-aviador Antônio Henrique Ghizzi, que não quis comentar sobre a fotografia.
O engenheiro responsável pela seção técnica do Centro Regional do Nordeste do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Marcos Aurélio Ferreira dos Santos, também garantiu que o instituto não fez lançamentos no local e data em questão. ‘‘Não se trata de balões lançados pelo INPE\’\’, assegurou. Segundo ele, normalmente os lançamentos do INPE são realizados no laboratório localizado em Barra de Maxaranguape, portanto, longe do local. Sobre a foto, ele disse que não há como confirmar do que se trata.O comandante da Base Aérea de Natal (Bant), coronel-aviador Luiz Fernando de Aguiar, informou por meio da assessoria de comunicação que a Bant não tem atividade na área em que foi feita a fotografia. Informada sobre o caso através da Bant, o Centro de Comunicação da Aeronáutica, em Brasília, informou que não tem notícias sobre objeto não identificado em Natal e que não existe dentro da Aeronáutica um órgão que identifique tais objetos através de fotos.
Uma outra possibilidade seria a Marinha, que também realiza lançamentos de balões meteorológicos. Mas, de acordo com a oficial de comunicação do 3º Distrito Naval, Ana Paula da Silva, o navio oceanográfico Antares, que executa esse tipo de atividade quando passa pela águas de Natal, não estava na área na data em questão.