Produzido em 1979 pela Academia de Ciências da URSS e pelo Instituto de Estudos Cósmicos, o texto Discos Voadores e Extraterrestres na Cortina de Ferro é o primeiro relatório russo sobre Ufologia, ainda que denominando os UFOs como “fenômenos atmosféricos anômalos”. O trabalho é um dos mais significativos documentos em nível científico sobre a casuística ufológica na antiga União Soviética. Essa extensa pesquisa foi feita em Moscou por cientistas soviéticos que se basearam na observação e contatos ufológicos de vários graus. A metodologia usada pode ser considerada como altamente confiável — e até rígida — devido aos padrões de precisão na análise dos dados obtidos, posteriormente compilados em tabelas, gráficos e relatórios. A obra é uma análise estatística das informações apresentadas em 256 relatórios de observações de UFOs na ex-URSS.
Estas observações eram identificadas pelos ufólogos clandestinos do continente como meros fenômenos que, por se processarem no céu, eram chamados de atmosféricos e, por serem esquisitos, alcunhados de anômalos. Tal expressão era usada como forma de despistar a censura do governo soviético em relação à Ufologia, assunto pouco aceito num país que passou por terrível fase marcada pelo autoritarismo. O que restou então aos cientistas interessados pelo Fenômeno UFO foi encontrar formas mais sutis de fazerem suas pesquisas, daí a razão pela qual palavras como UFO ou disco voador raramente aparecerem nos relatórios feitos naquela época.
O resultado do trabalho foi surpreendente: o esforço dos pesquisadores I. Petrovskaya, L. Gindilis e D. Menkov leve repercussão internacional e foi traduzido para vários idiomas. O texto teve tanta ressonância no Ocidente, especialmente na França, Estados Unidos e Brasil, onde foi traduzido e publicado, quanto na própria União Soviética, onde contribuiu para mostrar a posição oficial da Academia de Ciências a respeito do Fenômeno UFO. Segundo os autores, o principal objetivo da divulgação do documento em outros países era estabelecer parâmetros de técnicas científicas na pesquisa ufológica mundial, tentando padronizar ao máximo os métodos de investigação empregados pela Ufologia. Em 1981, 2 anos após publicar o documento, o próprio Dr. Gindilis constituiu uma nova entidade ufológica, desta vez denominada Seção para Estudo dos Fenômenos Atmosféricos Anômalos, dentro da Comissão de Radioastronomia da Academia de Ciências da URSS.
Uma seção análoga surgiu no Instituto para Estudo do Magnetismo Terrestre, da Ionosfera e da Difusão das Ondas de Rádio, da mesma academia. Esta nova seção, embora com outra denominação, também passou a tratar dos chamados fenômenos atmosféricos anômalos — termo que, na extinta União Soviética, era cada vez mais sinônimo de nave extraterrestre em visita ao nosso mundo. Outra preocupação da pesquisa foi mostrar ao mundo ocidental que do outro lado da Cortina de Ferro também existiam fenômenos insólitos e, aparentemente, inexplicáveis. Metodologicamente, dados importantes foram revelados pelo trio da Academia, contribuindo para que outros pesquisadores utilizassem métodos mais sérios na preparação de seus trabalhos. Um exemplo é a classificação das pessoas que descrevem as ocorrências ufológicas aos investigadores ou órgãos governamentais.
PARA SE TER CERTEZA SE UM FENÔMENO É UFOLÓGICO, É NECESSÁRIO QUE SE ELIMINEM TODAS AS OUTRAS HIPÓTESES EM CONTRÁRIO
As estatísticas levantadas demonstraram que 86% das pessoas que relatam casos de contato não são testemunhas diretas. Poucas vezes — em torno de 10% — o depoimento é passado por escrito pelo próprio observador, e somente em 3% dos casos não é possível detectar se o depoimento foi feito ou não pela testemunha ocular. De acordo com os organizadores da pesquisa (que pode ser obtida em versão em Português) [Editor: veja encarte das páginas centrais, edição n° 3 da Coleção Biblioteca UFO], para se ter certeza se um fenômeno aéreo é de ordem ufológica ou não é necessário que antes se eliminem todas as outras hipóteses em contrário. E foi isso o que eles fizeram. Antes de organizar os casos quantitativamente, investigaram se não havia a possibilidade de os fenômenos narrados serem meros acontecimentos meteorológicos ou experiências nucleares e espaciais. Para eles, todo cuidado é pouco quando se trata de ciência. Ainda mais quando o assunto é Ufologia…
Qualquer falha na captação das informações sobre determinado caso ufológico a ser pesquisado poderia comprometer a veracidade dos dados coletados. Por esse motivo, um dos pontos evidenciados pelos autores é o estudo das circunstâncias das observações. Numa ocorrência ufológica devem ser consideradas as condições do tempo e do céu, além do tipo de luz, som e outras manifestações emitidas pelo objeto voador. E importante, também, estudar o comportamento das testemunhas, abduzidos e contatados, fazendo uma aprofundada análise psicológica de cada pessoa envolvida com o fenômeno. “Enfim, é preciso que se descubra o limite existente entre a fantasia e a realidade. E nisto consiste uma pesquisa séria”, declararam os autores do trabalho.
Discos Voadores e Extraterrestres na Cortina de Ferro apresenta uma minuciosa classificação de todos os detalhes que dizem respeito a um contato ufológico — seja ele de que grau for. Suas variáveis abrangem a classificação dos fenômenos no espaço e no tempo, registrando as datas, os tipos de aparição, os tipos de objetos, até seus formatos e materiais constitutivos. Fatores como a duração das aparições, estatísticas dos tipos de objetos e extraterrestres, dimensões angulares dos UFOs, velocidade, trajetória, aceleração, características de luminescência, entre outros, são também cuidadosamente estudados. Este conjunto de relatórios, gráficos e tabelas que formam o trabalho são de esmerada qualidade científica. O tema UFOs na União Soviética é algo que ainda não foi totalmente revelado ou esclarecido pelas autoridades que detiveram, durante tantos anos de ditadura, informações preciosas e comprometedoras para o Estado.