Como temos visto recentemente, em especial nas últimas edições da Revista UFO, a Ufologia Brasileira vive um momento sem precedentes. Pela primeira vez na história de nosso país documentos confidenciais sobre avistamentos sólidos e confirmados de UFOs estão sendo liberados pelo Governo e se integram ao Arquivo Nacional, em Brasília, onde todo cidadão pode consultá-los à vontade – assim como no Portal UFO. Estas conquistas são devidas aos integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e à sua campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, que teve seu primeiro reconhecimento em maio de 2005, com uma visita ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta). Pouca gente sabe, mas tal ato foi amparado por um abaixo-assinado com mais de 70 mil assinaturas e uma série de etapas anteriores.
Há poucos meses tivemos a liberação de diversos documentos de grande significado, uns tratando da Operação Prato [Veja edição UFO 155], outros do Sistema de Investigação de Objetos não Identificados (Sioani) [Veja edição UFO 158]. Nas últimas liberações governamentais, a CBU recebeu as pastas dos anos 70 e 80. Nesta investida, os conselheiros especiais da UFO Roberto A. Beck e Fernando A. Ramalho obtiveram do Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (Cendoc) cerca de 1.500 páginas contendo avistamentos e ocorrências ufológicas. A quantidade de dados é enorme, demandará muito tempo e trabalho ininterrupto para ser analisada, catalogada e digitalizada de acordo com sua devida importância. Entre o que há de mais significativo na última liberação está uma das ocorrências clássicas da Ufologia Brasileira, o Caso Vasp Vôo 169, ocorrido na madrugada do dia 08 de fevereiro de 1982, quando a tripulação e os passageiros de um Boeing 727 que partira de Fortaleza (CE) com destino a São Paulo, com escala em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, foram acompanhados por um UFO durante praticamente todo o seu trajeto. O avião decolou às 02h00 da manhã com tempo bom, e aproximadamente uma hora depois, quando se encontrava perto da cidade de Petrolina (PE), foi avistado à esquerda da aeronave um ponto de luz que dava a impressão de ser outro vôo nas proximidades.
Deslocamento em fração de segundos
Como de hábito, o piloto – no caso o comandante Gerson Maciel de Britto –, passou a monitorar sua rota, pois o local onde estava era uma confluência de diversas aerovias, inclusive oriundas do exterior. Porém, constatou-se que o objeto permanecia eqüidistante do Boeing, seguindo uma rota paralela. Depois de algum tempo de observação, Britto notou que a luz começou a mudar de cor, inicialmente para o vermelho e depois para o laranja e o azul. Ele então entrou em contato com o centro de controle de tráfego aéreo de Recife, que informou não haver nenhuma aeronave na região. Em virtude deste detalhe, maior atenção foi dispensada ao artefato, pois agora havia certeza que não se tratava de qualquer outro vôo convencional. Após alguns minutos, chegou-se ao que parecia ser o ápice do avistamento: o UFO começou a fazer movimentos bruscos, indo de 80 a 160 km na frente do avião em fração de segundos, depois retornando. Hora se afastava, perdendo a aparência globular, hora se aproximava muito rápido, mantendo este comportamento por muito tempo.
Quando o Vôo 169 chegou à jurisdição de Brasília, Britto entrou em contato com o Cindacta, que informou não haver nada nas telas de seus radares. Foi então que o comandante pediu ao centro de controle para entrar em contato com outros aviões nas proximidades e indagar se alguma tripulação estava vendo aquela luz. O piloto de um avião da companhia Aerolíneas Argentinas confirmou o avistamento, sem saber do que se tratava. Já o comandante de um jato da Transbrasil, que ia de Brasília para o Rio de Janeiro, ouviu a primeira transmissão do Vôo 169 e confirmou que estava observando tudo que o comandante Britto relatou. O UFO acompanhou a aeronave da Vasp até a proximidade do Rio de Janeiro, quando ficou por trás de uma formação de nuvens no local. O caso, clássico e sem precedentes na Ufologia Mundial, está agora definitivamente conhecido em detalhes através da documentação liberada pelo Governo [Veja artigo nesta edição].
Vênus e Marte visíveis no céu
Neste material, entre outros fatos, o que fica patente é o uso da expressão cunhada pelos militares para denominar um avistamento ufológico, tráfego hotel ou tráfego H. Este é o codinome empregado pelas forças militares brasileiras para designar especialmente casos de objetos voadores não identificados próximos de vôos comerciais. Entre os documentos agora liberados, o envelope número 10 do Cendoc, com registros relativos ao ano de 1988, traz diversas ocorrências. Este material é um dos inúmeros itens que o Portal UFO disponibiliza para todos os interessados.
Um de tais avistamentos, porém da década anterior, ocorreu em 27 de maio de 1977, quando o piloto de um vôo comercial observou nas proximidades de sua rota um objeto nas cores vermelha e branca, em altitude inferior e a que exercia. Os documentos liberados dão conta de que houve interferência na freqüência de comunicação VHF da aeronave, sendo que os operadores do Cindacta, em Brasília, nada notaram de anormal. Mas uma anotação numa das páginas do relatório governamental informa que “os planetas Vênus e Marte estavam visíveis no céu, sendo o primeiro grande e brilhante e, Marte, pequeno e vermelho”. Nesta pasta há várias cópias de mapas estelares extraídos do livro Atlas Celeste [Editora Vozes, 1970], do doutor Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, mostrando o céu num determinado horário. A existência das cartas no relatório mostra a preocupação dos militares em entender os avistamentos e distingui-los dos demais corpos celestes – ainda que seja pouco provável que um piloto experiente cometa tal erro de interpretação.
Embora os planetas estivessem em conjunção naquela data, com distância angular de cerca de apenas um grau, e os objetos observados aparentemente não tenham sido detectados pelo radar, não é razoável que tenha sido esta a explicação do avistamento. Isso é reforçado pelo relato registrado dos tripulantes no mesmo documento: “O objeto se aproximava da gente com luzes branca e verde muito intensas, parecendo um farol. O de cima era maior e o de baixo, menor, deslocava-se em relação ao de cima”. Este, definitivamente, não é um movimento compatível com o de corpos celestes. Em 29 de maio de 1977 tivemos outro caso de tráfego hotel relatado por pilotos, e desta vez uma aeronave da FAB tentou aproxima&
ccedil;ão do artefato, sem sucesso.
Massa disforme e nebulosa
Ainda de acordo com a documentação oficial hoje à disposição dos ufólogos brasileiros no Arquivo Nacional, em 23 de agosto de 1978 mais um caso foi registrado. Agora, a aeronave de prefixo QD-460 reportou tráfego hotel na posição nove horas. Em seguida, os radares de Brasília captaram no local um “alvo” se deslocando com velocidade entre cerca de 250 e 1.500 km/h. Pouco depois, outro avião, desta vez de prefixo PT-KPB, registrou o aparelho na posição dez horas, um pouco acima. Num trecho do documento, os tripulantes dizem: “Olha, estamos identificando um objeto evidentemente não coerente com os conhecidos. É uma massa disforme e nebulosa, como se fosse uma auréola nos acompanhando”. A transcrição da comunicação dos pilotos também é acompanhada por cartas celestes em dois horários distintos.
Já em 08 de setembro de 1978, o comandante do avião PT-JKQ relatou outro avistamento ufológico que acabou nos relatórios oficiais da Aeronáutica, denotando a sistemática militar de acompanhamento e registro de ocorrências deste tipo. Após a decolagem de Belo Horizonte, os tripulantes da aeronave visualizaram o que parecia ser outro avião na posição três horas. “O objeto passou à nossa frente com uma luz muito intensa, permanecendo fixo na posição uma hora”. E assim os casos se sucedem na papelada oficial, como o de outro acontecimento inusitado, uma perseguição da aeronave de prefixo PT-SBJ por um objeto não identificado, em 06 de dezembro de 1978. A aparelho foi acompanhado desde a decolagem, pelo lado direito, por um UFO que alternava aceleração e desaceleração em questão de segundos.
Não apenas luzes no céu
Um dado repetido nos relatórios oficiais registra a freqüência com que UFOs efetuam mudanças de cores em perseguição a aeronaves, como o episódio relatado pelo piloto do avião de prefixo QD-555, em novembro de 1979, quando estava próximo de Belo Horizonte: “O objeto mudava de cor, de vermelho para alaranjado e branco. Houve também mudança de altitude”. Pelos estudos de Paul Hill, físico que trabalhou para a NASA, a cor dos UFOs estaria relacionada com a potência e funcionamento de seus meios de propulsão. A cor vermelha indicaria baixa potência e o branco-azulado, alta. Hill não se interessava pelo tema até ter avistado um objeto se movimentando no céu em alta velocidade. Com base em sua observação, calculou o deslocamento e viu que era maior do que o de qualquer avião conhecido, civil ou militar. Em função disso, batizou o artefato de objeto voador não convencional [Em inglês, unconventional flying object], termo que preferia ao habitual objeto voador não identificado. Hill escreveu um livro com esse título, abordando diversos assuntos, entre eles a propulsão das naves.
Os documentos oficiais liberados pelo Governo, graças à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, descrevem também perseguições de aeronaves comerciais de grande porte. Uma situação registrada nas pastas hoje disponíveis no Arquivo Nacional envolve outro avião da extinta companhia área paulista Vasp, de número 229. O Boeing partiu de Goiânia com destino a Campinas, em 19 de fevereiro de 1980, e o piloto logo reportou a existência de tráfego hotel na posição quatro horas, algo como uma lâmpada incandescente. Aparentemente, o artefato acompanhava a aeronave e mantinha posição no nível 290. O objeto apresentava alteração de cores do branco para vermelho e verde, e depois desapareceu completamente. Quando melhor observado, notou-se que tinha formato de um charuto. Entre os relatos liberados pelo Cendoc existem diversos avistamentos de UFOs feitos também a partir do solo. O mais interessante é que não se tratam apenas da observação de luzes distantes, mas sim de objetos com detalhes estruturais claros. Tal é um caso ocorrido em dezembro de 1971 na cidade de Guaratinguetá (SP). Era por volta de 22h00 quando se avistou um aparelho discóide em baixa altitude sobre as casas. “Era possível avistar janelas como as de um avião”, disse a principal testemunha do episódio. Em 04 de fevereiro de 1970, às 18h50, também foi observada a explosão de um UFO, conforme consta da documentação, desta vez na cidade de Vicente Dutra (RS). O artefato foi visto oito segundos antes do estouro, tinha cerca de 50 cm, apresentava brilho intenso e soltava fumaça. A população local ficou em pânico e várias explicações foram aventadas, entre elas a possibilidade de se tratar de um satélite artificial, mas nada foi confirmado, exceto que a FAB, zelosa, cuidou do caso.
Curioso também é um acontecimento de 1975 que consta do envelope ou pasta 06 da documentação da década de 70, liberada em maio deste ano [Veja edição UFO 155]. Trata-se do relato de uma senhora de 66 anos, também residente no Rio Grande do Sul, agora em Pelotas, que alega ter tido uma estranha experiência que chamou a atenção dos militares. Segundo ela, em uma manhã de outubro de 1973, encontrava-se sozinha em casa quando ouviu ruídos no interior da residência, como se alguém estivesse caminhando. Apesar do medo que sentiu, foi averiguar o local, mas não encontrou mais o intruso. Depois do ocorrido, apareceu na porta da casa um “rapaz estranho, como um estudante, muito parecido com um japonês por ter os olhos repuxados para o lado”, disse. Tinha cerca de um metro e meio de altura, corpo bastante franzino e usava uma blusa de cor cinza-azulada, com desenhos curiosos para a testemunha, além de um cinto com fivela desconhecida. A senhora perguntou o que ele desejava e o forasteiro respondeu que um pouco antes estivera dentro da casa à procura de uma rede que o filho dela sabia fazer.
Contou que não era da Terra, mas sim de outro planeta muito distante, e que seu objetivo era aprender como se fabricava a referida rede, que seria usada em cestos através dos quais descem de sua nave até o solo. Nesse instante, a senhora, acreditando se tratar de um farsante que queria lhe fazer de boba, disse que era melhor ele ir embora. Diante disso, para provar que falava a verdade, o ser apontou para cima e disse para a mulher observar como eles desciam da nave, que não estava visível. Então a testemunha viu que vinha de cima em direção ao solo um cesto enorme suspenso por uma corda, porém vazio.
No final do contato, que durou cerca de cinco minutos, o visitante disse que eles têm fac
ilidade de freqüentar nosso meio sem serem notados. Por isso, tomam a forma humana e se vestem com roupas do mesmo tipo das que usamos. Disse ainda que voltaria em outra ocasião para estudar a fabricação da rede, e isso ocorreu cerca de um ano após o primeiro encontro. Caso parecido, e igualmente inusitado, consta dos arquivos dos extintos Centro de Investigações Parapsicológicas (CIP) e Reporte OVNI – anteriores ao Centro de Pesquisas Integradas Nemesis (CPIN), coordenado por este autor –, no qual uma senhora relata ter visto um enorme tubo de luz azul vindo do céu em direção ao solo, nas proximidades de sua casa. Na época, quando o episódio estava sendo investigado, a testemunha confirmou toda a história. Sua filha também viu o tubo.
Quedas de UFOs também
Nos documentos liberados pelo Governo também foram encontrados vários apontamentos de quedas de objetos não identificados, registrados pelos órgãos oficiais. Um destes ocorreu em outubro de 1981 na cidade de Morrinhos (GO). Um fazendeiro colhia bananas em uma roça quando viu um estranho aparelho com barulho semelhante ao de um avião a jato vindo rumo à sua fazenda. Ele e seus familiares viram o UFO fazendo uma rápida manobra, como se fosse um aparelho dirigido, e caindo bem no centro do lago. Após a queda, a água do local ferveu por cerca de cinco minutos, conforme relatado. Foi aventada a hipótese de o causador do fenômeno ser o reator de um satélite, e em função disso as autoridades de Morrinhos resolveram esgotar a represa para recuperar o aparelho. Mas qual não foi a surpresa de todos quando se constatou que tinha simplesmente desaparecido sem deixar sinais.
Mais um caso de queda está registrado no envelope ou pasta 04 da década de 80, precisamente de 1983, e ocorreu na cidade de Macaé (RJ). O objeto tinha a forma cilíndrica, com 50 cm de comprimento por 15 cm de diâmetro. Segundo a testemunha, foi ouvido um forte zumbido agudo no ar, seguido por estrondo. Ao encontrar o UFO dentro de sua casa, notou que emitia uma luz verde. Logo depois, o estranho objeto se incendiou com chamas que chegaram a 30 cm de altura. Várias hipóteses para explicar a situação foram contempladas pelos militares, entre elas também a de se tratar de parte de um satélite. Claro que, no caso de artefatos pequenos, hipóteses como esta nunca podem ser descartadas, dada à enorme quantidade de lixo espacial volta e meia reentrando na atmosfera – entre eles satélites desativados, em número estimado atualmente em 10 mil. Ufólogos da época defendiam a natureza extraterrestre do aparelho encontrado em Macaé, que pelo tamanho poderia ser uma das chamadas sondas ufológicas, cuja utilização é comum por parte dos extraterrestres, quando efetuam estudos diversos. Já no envelope ou pasta 11, de 1989, temos mais um caso em que as informações constantes sugerem que um objeto esférico caiu às 22h00 do dia 01 de setembro de 1985. Tinha 35 cm de diâmetro e pesava 13,58 kg, e até uma foto do mesmo anexada ao conteúdo. Mas, sem análises posteriores, não é possível constatar se o artefato em questão seria componente de satélite ou algo extraordinário.
Na última leva de documentos entregues pelo Governo à Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), dos anos 70 e 80, estão 23 envelopes com mais de 1.400 páginas digitalizadas e transformadas em formato PDF. São documentos oficiais – alvos de nosso interesse imediato –, mas também cartas, transcrições de contato ar-terra, recortes de jornais, artigos de revistas, relatórios de grupos ufológicos, trechos de apostilas, textos publicados em congressos e anotações diversas. As revistas constantes na documentação oficial não eram somente nacionais, mas também algumas publicadas no exterior. Uma surpresa foi encontrar em meio a este material, no envelope 06, diversos artigos da revista Ufologia Nacional & Internacional, precursora da UFO, que também aparece com textos seus em outros envelopes.
Sem dúvida, o que os ufólogos brasileiros agora têm em mãos é um material rico e contundente, que mostra parte da atividade ufológica em nosso planeta, especialmente em nosso país, observada e anotada por nossos militares. Mas ainda há muito material para ser examinado e catalogado, além do que está por vir em futuras liberações. A Comunidade Ufológica Brasileira agradece e aguarda ansiosamente os lotes de documentos que ainda serão liberados, embora saiba que se tratam apenas de uma ínfima parte do que existe registrado oficialmente – não podemos dizer nem que sejam da ponta do iceberg, pois pode ser ainda bem menos do que isso.