
Muitos questionamentos ainda persistem sobre quando e como foi o início dos contatos ufológicos. Pesquisadores questionam até hoje as referências e informações sobre isso, especialmente o avistamento de Kenneth Arnold, ocorrido em 24 de junho de 1947, que teria visto enfileirados nove objetos que sulcavam o ar como “pratinhos lançados na água” – o que teria originado o termo discos voadores, cunhado pelos jornalistas da época. Especialistas acreditam que tal avistamento fosse na realidade relativo ao vôo da Flying Wing [Asas voadoras] da corporação Northrop, derivados da Horten nazista, ao longo da costa do Pacífico, da Califórnia ao Estado de Washington, até os confins do Monte Rainier. Há registros que mostram os nove protótipos e toda a esquadrilha no solo, sobre a pista californiana de Muroc Air Field. Alguns revelam que havia razão para tal afirmação. Para efeito de comparação, o desenho dos objetos avistados por Arnold, feito por ele mesmo, mostra uma forma de meia lua, muito afilada, tendo no centro uma cabine para o piloto – na prática, a mesma silhueta da asa voadora da Northrop, derivada da Horten alemã, feita entre 1946 e 1947.
Tudo claro e resolvido? Sim e não. Sim, porque a comparação é lícita e até muito evidente. Não, pois outras pessoas tanto nos Estados Unidos quanto na Espanha haviam denunciado tal semelhança que, sozinha, evidentemente, não basta para concluir que aquilo que se parece seja mesmo aquilo que se pensa ser. E então, quem tem razão? Hoje, provavelmente, temos condições de dizer, visto que parte daquilo que se sabe foi publicado pela revista norte-americana Fate, dedicada como poucas a impor na mídia a forma dos objetos avistados por Kenneth Arnold – que depois escreveu um livro a quatro mãos, juntamente com o diretor da revista, Ray Palmer, intitulado The Coming of the Saucers [A Chegada dos Discos]. Então, temos que nos perguntar de que maneira a capa da revista foi realizada. Agora temos a resposta. A própria Fate inspirou-se claramente nas fotografias publicadas, 15 dias depois do “primeiro” avistamento de Arnold, pelo jornal The Arizona Republic e efetuadas nos céus de Phoenix, Arizona, pela testemunha ocasional William A. Rhodes: duas imagens que deixaram no filme o rastro da existência de um UFO.
Ícone a ser venerado — Nela havia uma aeronave semicircular, no centro da qual elevava-se um pequeno ponto. Seria um furo circular na estrutura? Uma cabine? Isso era bem diferente, então, daquilo que fora avistado por Arnold. E foi assim que os UFOs fotografados por Rhodes tornaram-se também os de Arnold, sendo imposta na primeira e definitiva versão a “meia-lua”. Pode-se questionar a alta velocidade calculada por Arnold para seus UFOs – cerca de três vezes mais do que as asas voadoras –, cálculo feito com base nas dimensões aparentes e em função da distância dos objetos, que podem estar certos ou errados. Não há evidentemente muito a ser dito, a não ser o fato de que Arnold tinha então avistado não UFOs, mas sim, paradoxalmente, as nove “asas voadoras” da Northrop – uma das quais foi usada depois para algumas cenas do filme de ficção científica de George Pal, A Guerra dos Mundos [1953], em que lança a bomba atômica contra os marcianos invasores – o que, nesse caso, não muda absolutamente nada. De fato, os UFOs já haviam sido observados bem antes de 1947, em todos os lugares. Quem estuda o problema, sabe e sempre soube disso. E, assim, talvez jamais tenha considerado Kenneth Arnold um ícone a ser venerado. Até porque o avistamento do primeiro UFO verdadeiro não é dele nesse caso e sim de toda a humanidade, que desde sempre observou, tanto ontem como hoje, esses misteriosos intrusos nos céus de todo o mundo.