Justamente por causa de sua tonalidade avermelhada, conferida pela superfície rica em óxido de ferro, os antigos romanos associaram a cor reinante do vizinho planeta Marte ao sangue derramado nos campos de batalha, batizando-o com o nome do belicoso deus da guerra, Ares, filho de Júpiter e Juno. Vulgarmente apelidado de O Pequeno Maléfico, arquetipicamente Marte encarna as características de um guerreiro ou de um soldado, emanando força e impulso energético criativo para a exacerbação do lado mais sombrio, instintivo e agressivo do ser humano.
Devido à sua distância média do Sol, de 228 milhões de km, parte da comunidade científica sempre tendeu a atribuir a Marte formas de vida primitivas e até civilizações tecnológicas superdesenvolvidas, nunca deixando de perscrutá-la e sondá-la na esperança de encontrar as tão almejadas provas da existência de vida extraterrestre. O vizinho executa sua revolução sideral em 687 dias e sua proximidade da Terra pode variar de “escassos” 56 milhões de km a uma distância máxima de 99 milhões. Talvez por causa disso as famosas criaturinhas verdes, convenientemente batizadas de marcianos, há muito se incorporaram ao imaginário popular, povoando os sonhos e as fantasias de autores de ficção científica e de contatados. Mas o que há, enfim, de verdade sobre a existência de uma raça de seres em Marte?
Primeiras observações e teorias — O italiano Galileu Galilei, filósofo e matemático da corte, criador do método experimental na astronomia e responsável por inúmeros avanços nos campos da física e da ótica, parece ter sido o primeiro a dirigir uma luneta para Marte, em 1610 – apenas dois anos depois de ter desmontado e aperfeiçoado o invento do holandês Hans Lippershey. Outros também o estudaram, mas só em 1659, a partir das observações do físico, astrônomo e matemático holandês Christian Huygens de Zuylichen é que se registrou uma primeira imagem do planeta com detalhes mais precisos. Zuylichen foi autor de Cosmothéoros [Publicado postumamente em 1698], primeira obra a ensinar astronomia planetária e especular acerca das condições nas quais os habitantes dos diferentes planetas viveriam.
Em seguida, o astrônomo francês Jean Dominique Cassini, professor de astronomia da Universidade de Bolonha, Itália, e primeiro diretor do Observatório de Paris, iniciou em 1666 uma série de observações que levaram à determinação da rotação de Marte. Mas foi no século 18, quando se desenvolveu o método científico, que Voltaire – pseudônimo literário do pensador francês François Marie Arouet – levou sua curiosidade para além da Terra, na direção de Marte. Grande reformador, Voltaire balançou as instituições religiosas, monárquicas e aristocráticas da época, que sofreram uma completa reformulação. Espírito inquieto e ativo, tido como um dos grandes inspiradores da Revolução Francesa, Voltaire é a figura que melhor espelha o século das luzes, marcado pela ascensão da burguesia e preponderância do espírito anti-clerical.
Voltaire se ocupou da equação da gravitação do astrônomo, matemático e filósofo inglês Isaac Newton, e coube a ele, em 1734, com suas Lettres Anglaises, e mais tarde, em 1738, com seus Eléments de Philosophie de Newton, apresentar suas idéias revolucionárias aos franceses. Em carta endereçada ao escritor francês Bernard Le Bovier Fontenelle, autor de Conversações sobre a Pluralidade dos Mundos [1686], Voltaire faz alusão a um fenômeno de obscurecimento do Sol verificado no dia de Pentecostes. Em sua obra Micrômegas, ao falar de um suposto habitante de Sírius, que em viagem a Saturno teria no caminho visitado o planeta Marte e notado que ao seu redor giravam dois satélites, Voltaire demonstrou conhecer profundamente as obras de um dos fundadores da moderna astronomia, o alemão Johannes Kepler, que muito antes havia previsto que Marte possuía dois satélites – como seriam descobertos, em 1877, pelo astrônomo norte-americano Asaph Hall, do Observatório Naval Norte-Americano.
Contatos mediúnicos — A literatura sobre o vizinho planeta avermelhado começou há mais de 120 anos. Em 1880, Henry A. Gaston publicou em São Francisco, Estados Unidos, a obra O Planeta Marte Revelado: Sete Dias nos Mundos Espirituais. Por meios alegadamente psíquicos, no mesmo ano o casal Smead também lançou Comunicações com Seres do Planeta Marte: A Linguagem e o Alfabeto Marciano. Nos anos de 1884 e 1885 a sensitiva Kathérine Elyse Müller – mais conhecida como Héléne Smith – psicografou o conteúdo das 446 páginas da obra que o professor Théodore Flourney editou, em 1900, com o título Da Índia a Marte. Por sua vez, O Planeta Marte e Seus Habitantes, de Eros Urides, foi publicado em 1920. E em 1943 uma mulher reúne em Cartas de Christopher os relatos das excursões a Marte e à estrela Sírius feitas no plano astral por seu filho, um jovem britânico morto na Segunda Guerra Mundial.
No Brasil, o médium Hercílio Maes psicografou, em 1949, alegadamente inspirado pelo espírito de Ramatís, o livro A Vida no Planeta Marte, que acabou sendo recentemente republicado pela Editora do Conhecimento. A obra é descrita pelo autor espiritual como “uma contribuição essencial para entender as causas da entropia moral que infecta a sociedade pós-industrial”. Ramatís explica que os marcianos não apresentam os mesmos conceitos dos terráqueos, pois, apesar de possuírem idêntica forma física, vibram num plano mais energético do que material. Seu mundo se situaria num campo vibratório adequado ao seu corpo físico, ou seja, menos material que o nosso. A propósito, como aponta a escritora Elsie Dubugras, o pensador Neuf dizia que, “se viajarmos a Marte ou a qualquer outro planeta, é provável que os consideremos inteiramente desérticos e sem vida. Não é impossível, todavia, que neles existam, num outro plano vibratório, mundos organizados e muito mais adiantados que o nosso, imperceptíveis aos nossos sentidos”.
A dupla formada por Ramatís e Maes atuou em simbiose por duas décadas, produzindo uma dúzia de concorridas obras, entre elas Fisiologia da Alma, Sobrevivência do Espírito e A Vida Além da Sepultura. Por outro lado, a popularidade dos livros de Camille Flamarion também foi, em grande parte, responsável pelo entusiasmo com que muitos curiosos se entregaram às especulações em torno da vida em Marte. Baseando-se nos escritos do astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, ardoroso defensor da artificialidade dos “canais marcianos” e principal propagador dessa moda que de tempos em tempos é ressuscitada, Flamarion discorreu pormenorizadamente sobre a habitabilidade do Planeta Vermelho em Astronomie Populaire, de 1879.
A moda dos “canais” — Os primeiros astrônomos a enxergarem os
famosos “canais marcianos” foram Beer e Mädler. Entre 1830 e 1841, os cientistas desenharam o primeiro mapa moderno de Marte, reunindo cartograficamente os informes até então disponíveis a respeito, bem como determinando o tempo de rotação do planeta. Os canais estão destacados no mapa de 1832. Em 1864, o reverendo inglês Dawes traçou esboços gráficos de tais estranhas formações na superfície de Marte, que também julgava ter observado. A moda dos canais explodiu durante a oposição do planeta em 1877, que foi favorável à sua observação. Foi o astrônomo norte-americano Hall quem localizou os dois satélites de Marte, conforme haviam sido profeticamente anunciados por Voltaire em Micrômegas e pelo escritor inglês Jonathan Swift em Viagens de Gulliver [1720].
Em Milão, Schiaparelli focalizou o hemisfério meridional do planeta e conseguiu determinar a direção exata de seu eixo polar e a posição de sua calota gelada. Batizou os sulcos nas regiões continentais de Marte de canali – palavra que, embora semelhante, não corresponde ao termo português canal. Schiaparelli, então com olhos voltados para o hemisfério norte do Planeta Vermelho, anunciou em 1880 que estaria havendo “germinação” de canais, pois julgava que alguns deles teriam se duplicado. Anos depois, Perrotin e Thollon tentaram confirmar os achados de Schiaparelli elaborando desenhos em que se retratavam mais de 25 canais – oito dos quais germinados. Astrônomos da Bélgica, Inglaterra e EUA voltariam a observar os supostos canais na oposição de 06 de março de 1886, apesar das condições serem menos favoráveis nessa ocasião. Todos foram unânimes ao constatar que os canais nunca terminavam abruptamente nem desembocavam em regiões desérticas, mas obedeciam a um ordenamento lógico e funcional. Os astrônomos europeus já tinham idéia formada da configuração global de Marte em 1892. Em fevereiro do ano seguinte, Schiaparelli, já cego e aposentado, admitiu que os canais não poderiam ser obra de seres racionais, mas provavelmente fraturas naturais relacionadas à evolução geológica do planeta. O desmentido tardio do cientista não retificou o equívoco inicial.
Viçosas florestas marcianas — A idéia de que Marte era ou havia sido habitado por uma raça inteligente incorporou-se definitivamente ao inconsciente coletivo, e os frutos dessa fecunda polêmica não demoraram a ser colhidos. Em 1894, o astrônomo norte-americano Percival Lowell, graduado em Harvard, trocou a carreira diplomática no Oriente por montar o seu próprio observatório, em Flagstaff, no Arizona, quase inteiramente dedicado aos estudos em torno de Marte. Suas obras Mars and Its Canals [Marte e seus Canais, 1895] e Mars as the Abode of Life [Marte Como Domicílio de Vida, 1906] foram bastante discutidas pela comunidade científica. Para Lowell, a evolução dos seres biológicos em cada orbe obedece às circunstâncias decorrentes da posição astronômica e da massa planetária do astro. Assim, para ele, Vênus estaria na fase geológica correspondente ao período carbonífero do nosso passado. A Terra estaria em estágio de maior adiantamento, ao passo que Marte já teria esgotado seus recursos. Segundo o astrônomo, da civilização marciana tudo o que restava eram os canais, imensos aquedutos margeados de hemisfério a hemisfério por “florestas ciliares”. “Os canais são, sem dúvida, autênticas obras de engenharia de um povo agonizante”, afirmou Lowell, que levou suas crenças desvairadas para o túmulo – apesar de ter calculado com precisão as perturbações dos planetas Urano e Netuno, e previsto a posição favorável de Plutão, detectado visualmente por Clyde Tombaugh apenas em 1930.
Uma variante da interpretação de Lowell foi adotada em 1909 por Eugene Antoniadi. “Fui arrebatado pela observação das paisagens de Marte com seus maciços de árvores e erva fresca. Eram verdes em 11 de outubro, mas em 08 de novembro já eram pardas”, afirmou Antoniadi. Em meados do século 20, Earl Slipher ainda acreditava que os canais seriam monumentos do passado, relíquias de uma civilização extinta. Em 1957, W. A. Webbe alegava que o padrão estatístico dos diversos entroncamentos dos canais não se comparava a nenhuma rede natural conhecida na Terra, o que só poderia ter resultado da ação de seres inteligentes.
Já o geofísico norueguês Wasintynsky procurou conciliar “canalistas” e “anticanalistas”, pois viu no passado geológico da Terra vestígios de formações semelhantes às da superfície marciana. O segmento de cientistas contrários a Schiaparelli e Lowell também contou com vários destaques. O primeiro a discordar dele foi J. Joly, da Irlanda, que em 1897 lembrou a possibilidade de Marte ter sido bombardeado por asteróides, os quais teriam provocado a abertura de linhas de fratura na crosta. Em 1954, a teoria de Joly foi reabilitada por Tombaugh.
Metrópoles marcianas — Tomando como certa a existência de seres inteligentes em Marte, Desiderius Papp, em seu livro Was Lebt Auf Den Sternen?, de 1931, encara seriamente as teorias de Lowell de que haveria ali metrópoles densamente habitadas. Os títulos dos capítulos exprimem o caráter crédulo do livro: Os Astros Estão Habitados, A Terra como Planeta Habitado, Mundos Tropicais no Sistema Solar, Seres Extraterrenos na Terra, Seres Vivos na Lua, Os Habitantes de Marte e Seu Mundo, Habitantes de Satélites e Planetas Gigantes, Intercâmbio Intelectual com os Habitantes de Outros Mundos etc. Isso em 1931! Papp não poupou fantasias que já recheavam obras populares de ficção científica, povoando alguns planetas com “cristais vivos” e “plantas racionais”.
No primeiro capítulo, Papp argumenta que, apesar dos melhores telescópios não mostrarem edifícios monumentais em Marte, haveria um conjunto significativo de provas diretas de sua existência, apoiadas nos resultados da análise espec
tral da luz. Ao afirmar isso, o autor mostrou desconhecer que mais de 90% dos elementos que compõem o corpo humano e os demais organismos – incluindo o próprio planeta que habitamos – estariam sujeitos às mesmas forças e leis em qualquer parte do Cosmos. Ao contrário, levando-se em conta que coisas idênticas conduzem aos mesmos efeitos, Papp concluiu que esses elementos determinaram resultados iguais aos verificados aqui. Influenciado pela doutrina espiritualista, Papp alega que seria um disparate pretender que Deus, ao projetar em outra parte do Cosmos o mesmo plano de construção que seguiu no Sistema Solar, deixaria tumbas errantes em vez de planetas repletos de vida. “A arrogância em presumir que o nosso minúsculo planeta é o único ponto do universo em cuja superfície palpita o coração dos vivos, derroga-se e desmente-se completamente ante os severos ditames da espectroscopia”, disse. Para ele, tais como o homem, plantas e animais são produtos vivos da Terra, carregando em suas constituições a marca inequívoca da grande fábrica que é a natureza terráquea.
“Assim também nossos irmãos cósmicos trazem o selo das respectivas naturezas planetárias. As mil e uma formas de vida conhecidas no globo terrestre, tão bem adaptadas na Terra, estão como a chave para a fechadura. Conhecida uma das partes, poder-se-á tirar conclusão clara sobre a outra” . Papp foi um ardoroso defensor da tese de que as leis que governam a origem e o desenvolvimento dos seres vivos em nosso planeta não se restringem a Terra, senão à natureza mesma da vida.
Astrobiologia contemporânea — Não tardou a surgir a obra Life on Other Worlds [Vida em Outros Mundos, 1940], do astrônomo britânico Harold Spencer Jones. Suas idéias centrais fizeram parte do relatório do ano anterior da Smithsonian Institution, considerado por Otto Struve, do Observatório Leuschner, pertencente à Universidade da Califórnia, como a primeira manifestação moderna realmente científica da astrobiologia contemporânea. Citando Fontenelle, Jones reconhece que a questão da existência da vida em outros orbes permanece viva na consciência dos astrônomos, à espera de uma solução. Propõe a hipótese de que em qualquer parte do espaço, onde se achem reunidas condições propícias para a manutenção de vida, esta há de surgir inevitavelmente. Considera certa a presença de vegetação em Marte, para ele o único planeta com condições favoráveis no Sistema Solar, fora a Terra. Refratário a boa parte das teorias da época, Patrick Moore, em seu livro The Planet Vênus [O Planeta Vênus, 1955], concluiu que em nosso sistema estelar apenas Marte e Vênus poderiam abrigar alguma forma de vida.
Moore rejeitou as fantasias dos ficcionistas, que descreveram os marcianos como comedores de rochas dotados de tentáculos, assim como acreditavam que os jovianos [De Júpiter] e os saturnianos [De Saturno] respirassem gás metano. Moore acreditava que todas a formas de vida no universo são similares às encontradas na Terra. Para ele, seres vivos baseados no carbono só existiriam sob condições ambientais adequadas, devendo haver, minimamente, uma temperatura razoavelmente estável e uma atmosfera respirável para que sobrevivessem.
Há ainda nessa seqüência histórica de fatos sobre Marte o surgimento de idéias que relacionam esfinges, pirâmides e monumentos no solo do planeta vizinho, onde uma curiosa característica seria a de devorar sondas terrestres. Foi nesse clima que as primeiras 18 fotografias do relevo marciano foram obtidas, em julho de 1965, pela sonda Mariner 4, seguida pelas Mariner 6, 7 e 9, até 1971, e pelas Viking 1 e Viking 2, em 1976 – todas norte-americanas. A ex-URSS mandara ao planeta, em 1973, a sonda Mars 5. Mas os dados coletados não forneceram nenhum indício de vida inteligente – pelo menos foi isso que a NASA afirmou na época e continua garantindo hoje. Contudo, pesquisadores independentes discordam dos achados da NASA e alegam ter encontrado em uma das fotos enviadas pela Viking 1 a escultura de um gigantesco rosto humano de 1,5 km de comprimento por 600 m de largura, próxima a quatro pirâmides alinhadas com espantosa simetria na chamada Planície Cydonia – é a chamada Esfinge Marciana.
Os cientistas da agência espacial norte-americana apressaram-se em descartar qualquer origem inteligente ou artificial para aquele objeto, explicando a singular imagem como um acaso resultante da geomorfologia do planeta e da combinação de luz e sombras. Convencidos de que a NASA acobertava provas da existência de civilizações extraterrenas em Marte, os cientistas se uniram a ufólogos e prosseguiram examinando as mais de 55 mil fotos resultantes das duas missões Vikings, de quase três décadas atrás.
Produto de ventos e areia — Já na década de 1980, o norte-americano Raymond Boisvert e o austríaco Walter Hain, vasculhando tais fotos, encontraram outras estranhas configurações no solo marciano, ressuscitando o interesse do público nos mistérios que rondam o planeta. Em 1985, mais de 30 cientistas da Universidade da Califórnia ousaram discordar abertamente da NASA quanto aos seus resultados, que dava como certa a inexistência de vida em Marte. Um deles era C. West Churchman, para quem era difícil acreditar que toda a simetria das pirâmides e da escultura pudesse ser apenas o produto de ventos e areia. “Se houvesse somente linhas que formassem um rosto, eu não estaria tão convencido. Mas o fato de as pirâmides estarem alinhadas de certa forma com o rosto me obriga a crer em alguma coisa mais”, disse Churchman.
Outro cientista que abraçou fervorosamente a crença de que as Vikings tinham revelado algo extraordinário em Marte foi Mark Carlotto, dono de uma empresa de computação em Boston, Massachusetts. Ampliando e melhorando a resolução das imagens da NASA, Carlotto descobriu uma nova escultura em Marte, na qual chegou até a identificar dentes desenhados na rocha – que batizou de Satã devido às suas feições demoníacas. Os astrônomos tiveram dificuldades para contestar suas bem embasadas conclusões, fazendo-o em artigo publicado na revista inglesa New Scientist. Carlotto, dono de grande reputação, defendeu suas posições na revista Applied Optics, argumentando que “a impressão ocasionada pelas figuras faciais não é um fenômeno transitório, mas parte da topografia subjacente do planeta”. Mesmo assim, cientistas do Museu Americano do Ar e do Espaço invalidaram suas técnicas, classificando-as como não-científicas.
A crença numa hipotética civilização marciana, que er
guera esfinges e pirâmides ciclópicas, não arrefeceu nem mesmo quando, no início de abril de 1998, a sonda norte-americana Mars Surveyor enviou fotos da região mostrando desta vez apenas prosaicos montes de areia. Os ufólogos voltaram ao ataque e alegaram que os monumentos continuavam ali, mas momentaneamente encobertos pelas típicas tempestades de areia que costumam assolar aquela área do planeta.
Desaparecimentos misteriosos — Outra coisa muito curiosa sobre a exploração marciana – e que serve de combustível para polêmicas – é que, das mais de 20 missões a Marte desde 1960, a maioria sofreu pane nas comunicações e desapareceu sem deixar rastro algum. O projeto soviético Phobos foi um dos que terminaram assim abruptamente, deixando um enigma que, de todos, soou o mais intrigante. Em 27 de março de 1989, a sonda Phobos 2 fotografou uma sombra alongada de cerca de 20 km de comprimento sobre a superfície de Marte, segundos antes de perder o contato com a Terra. A informação foi confirmada pelo telejornal soviético Vriemia, na noite de 30 de março. A imagem foi captada com igual nitidez pelas câmeras convencionais e pelas de raios infravermelhos. Algo semelhante havia sido registrado pela mesma sonda na semana anterior, com a diferença de que era ainda mais longo, com cerca de 30 km. A especulação de que se tratava da cauda de um foguete foi descartada pelos próprios membros da comissão espacial da ex-URSS.
As duas sondas da malograda missão a Marte partiram da Terra em julho de 1988. A Phobos 1 no dia 7 e a Phobos 2, no dia 12. Carregavam os mesmos equipamentos, exceto um aparelho de medição de raios-x emitidos pelo Sol, exclusivo da primeira. Com isso, esperava-se que o projeto tivesse continuidade caso se perdesse contato com uma delas. A Phobos 1 desapareceu apenas um mês após seu lançamento, sem enviar praticamente nenhum dado. Antes de entrar na órbita de Marte, em 29 de janeiro de 1989, a Phobos 2 cumpriu ao menos duas etapas da pesquisa: análise do vento solar e mapeamento parcial da superfície marciana. Os soviéticos só haviam acumulado fracassos em matéria de exploração do Planeta Vermelho. Das sete sondas da série Mars, enviadas entre 1960 e 1973, apenas uma foi bem-sucedida, ao passo que as duas norte-americanas Viking constituíram sucessos espetaculares.
No artigo The Strange Case of Phobos 2 [O Estranho Caso da Phobos 2], o autor cético norte-americano James Oberg insinua que a misteriosa sombra seria meramente uma das luas de Marte. Semelhante conclusão apresentou Alexey Kuzmin, chefe do centro de análise fotográfica do programa espacial Phobos. Para ambos, no que foram seguidos por outros estudiosos, era razoável imaginar que aquela seria a sombra da própria lua Phobos. A sombra de Phobos – satélite natural de Marte, que emprestou seu nome ao projeto de exploração do planeta pelos soviéticos – é alongada e bastante similar à misteriosa imagem transmitida pela sonda Phobos 2. Conforme o cientista da missão Aleksandr Selivanov, “como todas essas sombras estão precisamente alinhadas com a órbita da sonda, não há dúvidas de que não são objetos próximos de Marte, e que correspondem à sombra do satélite Phobos”. Ainda que essa seja a explicação, continuamos sem saber precisamente quais as causas do fracasso da Phobos 2.
Conspiração contra a verdade — O físico e cientista espacial carioca Cláudio Oliveira Egalon, um dos poucos brasileiros a trabalhar na NASA e a ter voado e feito experimentos num avião KC-135, que simula a ausência de gravidade, afirmou que em relação às sondas que perderam contato a caminho de Marte, não faz sentido ver nesse fato uma conspiração para esconder a verdade. “Cito o caso de um ex-astronauta da NASA que atribui a si poderes mentais. Hoje ele atua com um grupo de pessoas que dizem ter os mesmos poderes. Por ocasião da perda de contato com a Mars Observer, esse grupo disse que tentaria reativá-la dirigindo uma energia mental à sonda. Na verdade, o fracasso se deve simplesmente ao fato de estarmos lidando com uma tecnologia nova em um ambiente pouco conhecido e de alto risco”, afirmou Egalon.
Mas a NASA também teve perdas de sondas em Marte. Uma delas foi a Mars Observer, que deixou de enviar sinais em 21 de agosto de 1993, três dias antes que entrasse na órbita do planeta. Lançada em setembro de 1992, a Observer deveria marcar a retomada da exploração de Marte pelos norte-americanos, 17 anos depois das Vikings. Realizaria um levantamento completo da topografia e da baixa atmosfera marciana. Enquanto a NASA tentava retomar contato com a sonda, denunciava-se uma conspiração para encobrir os indícios da descoberta de uma supercivilização naquele planeta. Richard Hoagland, ex-funcionário da NASA que passou a diretor do grupo Mars Mission [Missão Marte], integrado por vários cientistas egressos do programa espacial, apontava as fotos tiradas pelas Vikings na região de Cydonia como provas incontestes de vida inteligente marciana. Calculava que a altura do rosto na Esfinge Marciana era comparável a das finadas torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York.
Segundo Stanley McDaniel, da Sonoma State University, a NASA sonegava informações para cumprir com as diretivas oficiais estabelecidas na década de 1960, determinadas num relatório da Brookings Institution que recomendava que toda eventual descoberta em torno da vida extraterrestre fosse mantida em sigilo para evitar distúrbios políticos e pânico generalizado. David Webb, ex-membro da comissão espacial norte-americana, disse que a NASA simplesmente ignorou seus pedidos para proceder a uma varredura em busca do que chamou de “complexos arquitetônicos” em Marte. Por que a negação? A Mars Observer estava equipada para fotografar objetos do tamanho de um caminhão em sua superfície, mas as fotos de melhor resolução nunca chegaram ao público. Por sua vez, o geólogo Michael Malin, um dos envolvidos na missão, lamentou “a constante intromissão de gente que não quer ver vida em Marte de forma alguma”.
Dois estudos independentes, publicados na prestigiosa revista Science, reforçaram a idéia de que Marte teria abrigado vida há bilhões de anos. Um deles foi realizado por pesquisadores do Instituto Tecnológico da Califórnia, o Caltech. O outro, por cientistas da Universidade de Wisconsin, da Universidade de Edimburgo (Escócia) e da própria NASA. Ambos apoiavam a hipótese de que os glóbulos de carbonato encontrados no meteorito ALH8401, recolhido em 1984 na Antártida, haviam se formado em temperaturas compatíveis com a existência de vida. Tal bólido foi um dos mais importantes achados para se apoiar a existência de vida fora da Terra, e sua origem foi determinada como sendo de Marte.
O mito chega ao terceiro mi
lênio — Em 06 de agosto de 1996, a NASA anunciou ter encontrado indícios de microrganismos no meteorito. Eram glóbulos de carbonato resultantes da ação de organismos vivos e microfósseis semelhantes às bactérias filamentosas terrestres. O anúncio, referendado em discurso feito pelo próprio presidente Bill Clinton, eletrizou o mundo mas não convenceu boa parte da comunidade científica. Os críticos alegaram que os glóbulos teriam se formado sob temperaturas muito elevadas, superiores a 650° C, nas quais a vida seria praticamente impossível. Outros alegaram mesmo que os glóbulos teriam se formado na Terra, descartando a origem marciana do meteorito. “Tudo que observamos é consistente com atividade biológica, mas ainda não podemos excluir a possibilidade de que processos inorgânicos tenham formado os glóbulos. Ainda não provamos que isso representa vida em Marte, mas conseguimos refutar a hipótese de que tais estruturas teriam se formado em temperaturas muito altas”, reagiu John Valley, um dos autores do estudo.
O meteorito teria se desprendido de Marte há cerca de 15 milhões de anos e caído na Terra há cerca de 13 mil anos. O método usado pelos pesquisadores, chamado microssonda, permitiu que analisassem minúsculas amostras retiradas de pontos com 25% do diâmetro de um fio de cabelo. A vantagem do método é que ele permite analisar profundamente os carbonatos e fazer as primeiras medidas in situ [no local] dos glóbulos. “Pela primeira vez pudemos ver o que analisamos”, disse Valley. Os resultados mostraram que os carbonatos se formaram em temperaturas abaixo de 100º C, propícias para o desenvolvimento de vida. Uma semana antes da publicação dos estudos, o Conselho Nacional de Investigação dos EUA pediu à NASA que amostras do solo marciano fossem postas em quarentena, com o objetivo de impedir a contaminação por organismos terrestres.
Bactérias quimiolitotróficas — Analisando as informações transmitidas pelas sondas enviadas a Marte, entre elas a Mars Pathfinder, da NASA, que pousou com sucesso no planeta em julho de 1997, o astrofísico brasileiro Oscar Toshiaki Matsuura postulou que, se por um lado é remota a chance de haver água líquida na superfície, pois a pressão e a temperatura são muito baixas para isso, por outro a água pode existir no estado sólido abaixo da superfície. “E como a temperatura aumenta com a profundidade, ela pode passar ao estado líquido a partir de uma certa profundidade. Ora, bactérias quimiolitotróficas se desenvolvem na Terra sem oxigênio e a grandes profundidades no mar. Alimentam-se de minerais contendo ferro ionizado, gás carbônico e água”. Matsuura é autor de Exploração do Universo e Busca de Vida Extraterrestre [Edusp, 1994].
As insistentes denúncias e acusações por parte dos ufólogos, de que a NASA estaria perpetrando uma gigantesca operação de conspiração e acobertamento em torno da existência de civilizações extintas – ou ativas, conforme garantem alguns – no Planeta Vermelho, estimularam os produtores de Hollywood a ressuscitarem os marcianos, tão recorrentes na década de 1950 para metaforizar a paranóia anticomunista da época. Tanto que levou à produção, em 2000, do filme Mission to Mars [Missão Marte], de Brian de Palma. O enredo do filme é conhecido: em 2020 a NASA organiza duas missões que tentarão colonizar o vizinho inóspito. A primeira equipe de quatro astronautas encontra lá algo misterioso e perde contato. A segunda parte para o planeta tentando descobrir o que acontecera e o que resta dele, após acidentes de percurso, acaba adentrando no interior da estrutura da colossal escultura da Esfinge Marciana. Essa equipe depara com os segredos de seres que os conduzem a uma jornada metafísica rumo à origem da humanidade. Apesar de piegas e decepcionante, esse e outros filmes lançados pouco antes vieram a demonstrar o quanto a crença de que Marte comporta vida ainda continuava forte, prenunciando que chegaria incólume ao século 21.
Assim é que, em 18 de março de 2004, poucos se surpreenderam quando a imprensa mundial noticiou que o veículo-robô Spirit, da NASA, fotografara um objeto estranho no céu de Marte. Os astrônomos, no entanto, trataram logo de esclarecer que o alegado UFO, longe de ser uma nave marciana ou de algum outro planeta monitorando ou espionando nossas missões, poderia ser o primeiro meteoro visto da superfície de outro planeta. Ou, o que era mais provável, uma sonda espacial terrestre enviada ao Planeta Vermelho há cerca de 30 anos, que ainda a estaria orbitando. “Pode ser que nunca saberemos, mas ainda estamos procurando por pistas”, disse Mark Lemmon, da Universidade do Texas.
Nave espionando nossas missões — O que quer que fosse aquilo, o fato é que o Spirit teve a sorte de conseguir capturar a imagem do objeto, já que a missão precípua do robô era estudar as rochas e o solo do planeta. Apenas ocasionalmente a atenção do veículo era voltada para o céu, a fim de que estudasse a atmosfera marciana. E foi justamente em uma dessas raras ocasiões, quando o Spirit observava o céu com o filtro verde de sua câmera panorâmica, que o artefato foi registrado, deixando um risco ou traço na foto digital enviada pela sonda. Controladores da missão alegaram que o risco era, provavelmente, o objeto mais brilhante no céu naquele momento. Se o UFO não era um meteorito, então poderia perfeitamente ser uma das sete sondas espaciais que ainda orbitam o planeta, e não uma nave alienígena, como alguns precipitados ufólogos pretenderam sugerir.
Pelo movimento do objeto, os cientistas não acreditam que sejam as sondas russas Mars 2, 3 ou 5, nem a Phobos 2. Sequer as sondas norte-americanas Mariner 9 ou Viking 1 foram cogitadas. Restaria então a Viking 2, que perfaz uma órbita polar sobre o planeta e, portanto, corresponderia perfeitamente à orientação norte-sul do rastro detectado pelo Spirit. Além disso, somente as Vikings 1 e 2, que ainda estão em uma órbita de Marte, poderiam produzir um tipo de movimento tão rápido quanto o registrado pelo robô.
Se no passado, quando os únicos instrumentos de observação disponíveis eram os telescópios, a tendência era ver canais artificiais, vegetação, florestas, an
imais e até cidades e seres inteligentes em Marte, com o advento da exploração espacial por meio de sondas – que enviaram imagens bem mais nítidas e detalhadas da superfície, assim como dados nunca antes obtidos acerca de sua natureza e composição – não diminuiu a crença de que nosso vizinho tenha vida. Ao contrário do que se poderia supor, a tecnologia não conseguiu derrubar a esperança, firmemente arraigada no inconsciente coletivo humano, de que não estamos sós sequer no Sistema Solar.
Como se dessa certeza dependesse nossa própria sobrevivência enquanto espécie, a tendência da humanidade terrestre continua sendo a de ver no planeta vizinho monumentos artificiais e até UFOs, que atestariam que a avançada civilização que as construiu não estaria assim tão extinta. O que nos reserva o futuro, então, quando já estão sendo planejadas missões tripuladas a Marte? Só nos resta aguardar para saber. E enquanto isso não acontece, encerro este trabalho com as eloqüentes palavras do semiólogo francês Roland Barthes, que em seu livro Mitologias – uma reunião de textos antológicos escritos entre 1954 e 1956, dedicados à desconstrução dos mitos contemporâneos – fez questão de incluir uma análise acerca dos marcianos:
“O mistério dos discos voadores começou por ser bem terrestre. No início, supunha-se que vinham do desconhecido soviético, desse mundo tão privado de intenções claras quanto qualquer outro planeta. Essa forma do mito já continha, em germe, o seu desenvolvimento planetário. Se o disco se transformou tão facilmente de engenho soviético em engenho marciano, foi porque, de fato, a mitologia ocidental atribui ao mundo comunista a própria austeridade de um planeta. O fato de Marte ser implicitamente dotado de um determinismo histórico calcado sobre a Terra é o que há de mais significativo”.
Marte: interpretação científica de seus mistérios
No século 17, o astrônomo e matemático Johannes Kepler disse que “há mais cometas no céu do que peixes no mar”. Em 1990, um astrônomo da NASA comentou que “temos mais profissionais trabalhando em uma única lanchonete do que pesquisadores procurando asteróides no céu”. O mundialmente consagrado arqueólogo e autor escocês Graham Hancock é um dos que pretende mudar esse quadro. Em co-autoria com os também pesquisadores Robert Bauval e John Grigsby, Hancock lançou pela Editora Aleph [www.alephnet.com.br] a obra O Mistério de Marte: A Conexão Secreta Entre a Terra e o Planeta Vermelho, com o objetivo de atrair a atenção do público para as anomalias de Marte e a grave questão dos cataclismos planetários.
Hancock é um veterano na área e tem bagagem científica para mostrar que, num mundo onde o espiritualismo ganha força a cada dia, a análise da história do Planeta Vermelho pode nos levar a conhecer os segredos que envolvem nossos “deuses” e suas civilizações extintas. Ele, Bauval e Grigsby endossam a teoria de que nosso vizinho planetário já teve uma densa atmosfera e caudalosos oceanos, mas foram extintos com incrível violência por uma saraivada de pedras cósmicas há milhares de anos. Também apresentam uma análise atualizada, abrangente e equilibrada das evidências fotográficas relativas à existência de uma civilização em Marte no passado, muito similar a do antigo Egito, que teria sido destruída por um profundo impacto cósmico. A obra também destaca a maneira como a NASA manipulou a controvérsia que cerca as fotos obtidas pelas sondas que foram enviadas a Marte, incluindo a divulgação de declarações falsas.
O foco de O Mistério de Marte se amplia e cobre os impactos que afetaram a Terra, a Lua e outros corpos agredidos no Sistema Solar. O leitor pode ficar espantado ao saber que nosso satélite natural ainda está vibrando por causa de um impacto ocorrido há centenas de anos. Um capítulo particularmente importante da obra, incorporando evidências apresentadas por diversos astrônomos de renome, diz respeito a um enxame de cometas, entre eles um gigante com cerca de 300 km de diâmetro, que entrou em uma órbita conflitante com a Terra há 50 mil anos. Ele teria se fragmentado, inundando sua trajetória com milhões de asteróides letais e aumentando bastante as chances de uma colisão com o planeta. É muito provável que já tenhamos sido atingidos por um fragmento nos últimos 20 mil anos.
Conferencista requisitado, jornalista e arqueólogo investigativo, Hancock é considerado um dos maiores conhecedores dos mistérios de Marte. Foi correspondente do The Economist no leste da África e tem viajado pelo mundo escrevendo livros e produzindo filmes sobre descobertas arqueológicas e suas conexões com o nosso passado remoto. Ele tem dois outros bestsellers: Digitais dos Deuses e Em Busca da Arca da Aliança. Seu site pessoal é www.grahamhancock.com. Robert Bauval é engenheiro civil e arqueólogo, co-autor do livro The Orion Mystery. E John Grigsby é pesquisador nas áreas de história, arqueologia e mitologia. O Mistério de Marte: A Conexão Secreta Entre a Terra e o Planeta Vermelho pretende responder muitas perguntas ainda perdidas e desencontradas, que nem a ciência, nem o movimento espírita ousam responder. Uma leitura certamente imperdível, uma busca pela verdade sem igual.
Marte: interpretação espiritualista de seus mistérios
Francisco Cândido Xavier e Hercílio Maes foram os dois únicos médiuns brasileiros a receber o aval da chamada Espiritualidade Superior para transmitir mensagens sobre a verdadeira natureza da suposta civilização marciana. Ambos são conhecidos personagens do movimento espírita em nosso país e canalizaram informações basicamente idênticas. Ramatís seria a principal fonte desses dados, um espírito evoluído que teria vivido em Marte. Algumas de suas transmissões mediúnicas têm conteúdo chocante para o ceticismo acadêmico. O ser informa que uma avançada civilização espiritual e materialmente estável habitaria o Planeta Vermelho e teria pleno conhecimento a nosso respeito. Tais seres nos visitariam há décadas, sendo responsáveis por boa parte dos UFOs observados até hoje.
Através do médium Hercílio Maes, Ramatís vai além. Na obra A Vida no Planeta Marte, ditada por ele ao seu canal, não se restringe a descrever como seria a civilização marciana. A obra transcende e transporta o leitor para o que seria o cotidiano de nossos vizinhos planetários, descrevendo suas cidades, meios de transporte e seu avançado sistema de governo. Maes fez das transmissões de Ramatís uma obra curiosíssima.
Através dela é possível divagar sobre como seria o dia-a-dia dos habitantes de Marte, seus costumes, educação, lazer, esportes e estrutura social. É evidente que tudo isso se choca com as certezas científicas que já se têm sobre o planeta – e mesmo com as especulações de cientistas menos ortodoxos. “A idéia de que há seres semelhantes a humanos em Marte é absurda”, diz Mark Carlotto, ex-funcionário da NASA que hoje luta para que a agência abra seus arquivos secretos sobre o assunto.
Ramatís nos descreve, através de Maes, a intimidade dos lares marcianos, chegando a detalhar como se vestem e alimentam, como se relacionam e vivem em família. Imaginar famílias marcianas pode ser um exagero gritante, mas não deixa de ser um desafiador exercício mental. É também um desafio elucubrar sobre as fontes de energia que mantém o planeta funcionando, caso haja mesmo uma civilização em sua superfície. No livro, Ramatís descreve como é gerada a energia que movimenta a vida marciana e discorre sobre o funcionamento e capacidade das naves espaciais e suas viagens interplanetárias. O espírito garante: “Marte é um grau sideral à vossa vanguarda e é, também, a vossa futura realidade espiritual”.
Quanto às imagens de um planeta árido e desértico fornecidas pelas sondas espaciais russas e norte-americanas, os seguidores de Ramatís lembram que, para uma avançada ciência, como seria a marciana, não constituiria dificuldade alguma manipular suas emissões. Um simples holograma poderia criar realidades virtuais insuspeitadas aos terrestres, para que se pudesse preservar a paz que reina em Marte, protegendo sua civilização da beligerância terrestre. A Vida no Planeta Marte, lançado originalmente em 1955 e relançado pela Editora do Conhecimento [www.edconhecimento.com.br] recentemente, influenciou gerações de ufólogos e de espíritas, e durante várias décadas produziu uma intersecção entre esses dois universos. Se na década de 50 e 60 se tinha uma idéia bem menos precisa de como seria Marte sob olhos científicos, hoje já conhecemos bastante sobre o planeta – o suficiente para que a obra de Ramatís cause mais polêmica ainda.