A Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil ainda é uma incógnita para muitos ufólogos, mas também é um objetivo sendo esforçadamente atingido por um dos mais ativos ufólogos do país, Rafael Cury, que garante que a entidade chegará ao fim de 92 totalmente edificada.
Em 1983, durante o 2° Congresso Internacional de Ufologia, em Brasília, os mais de 30 ufólogos lá reunidos (de todo o Brasil e de outros 12 países) acataram uma excelente proposta levada para aquele foro pela delegação argentina e fundaram a Associação Mundial dos Ufólogos (AMU), que teria sede central provisória em Rosário (Argentina) e diretorias setorizadas em vários países – inclusive o Brasil. O lançamento foi tão aplaudido que motivou os ufólogos brasileiros a fazerem mais ou menos o mesmo, ou seja: fundar uma associação que reúna os nossos pesquisadores sobre uma mesma sigla, embora permanecessem os grupos em estado original. Dessa idéia, surgiu a Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil (ANUB), também aplaudida e motivando imensas expectativas na Comunidade Ufológica Nacional. Seu primeiro presidente, empossado justamente na fundação, foi o ufólogo paulista Jaime Lauda, então ativo pesquisador na época. Depois de várias reuniões em São Paulo, sempre com a ANUB crescendo, Jaime passou a diretoria para o jornalista-ufólogo Adilson Machado. Nesse estágio, a ANUB já tinha algum reconhecimento público, mas uma nova mudança, alguns meses depois, fez com que o especialista em fotos ufológicas Claudeir Covo assumisse a presidência. Até então, este foi a melhor fase da entidade. Mas não duraria muito.
Por vários meses, Claudeir acumulou atividades demais e foi forçado a passar a diretoria da ANUB para o editor de UFO, A. J. Gevaerd, em Campo Grande. É bom lembrar que, nos últimos meses, a entidade estagnou-se e nada de novo produziu, já que os diretores não tinham tempo de sobra em suas atividades profissionais, igualmente, em nenhum momento houve eleição para transferir-se a diretoria da ANUB como se fez, também por falta de recursos e por impossibilidade de seus associados se reunirem com mais freqüência, já que este é um país enorme. Gevaerd ficou alguns meses à frente da entidade mas viu que era impossível dirigí-la de Campo Grande, devido à distância do resto do país, e, num congresso em Curitiba, passou-a ao ufólogo Rafael Cury, que prometeu mudanças e “fazer a coisa andar mais rápido”, em suas palavras. Já fazem quase 4 anos que a diretoria da ANUB está em Curitiba e Rafael jamais se descuidou da entidade. Mas, mesmo assim, os ufólogos brasileiros querem, saber: o que está sendo feito da ANUB e quais são os planos de Rafael para o futuro? Os mais bem informados lembram, ainda, que a idéia dos argentinos fracassou muito pouco tempo depois, e a AMU não existe mais desde 1985. Por isso, temem que o mesmo tenha ocorrido (ou possa vir a acontecer) com a nossa ANUB.
Projeto em andamento – Assim, recentemente, quando Rafael Cury esteve em Campo Grande visitando a sede de UFO, aproveitamos para solicitar que nos concedesse uma entrevista. Nela, ao longo de um proveitoso intercâmbio, Rafael nos posicionou sobre qual é a verdadeira situação da ANUB hoje e quais são os planos para o futuro, a nível imediato e a longo prazo. Mais ainda, nos colocou a par de ótimas novidades aguardadas para breve, não só na ANUB, mas também com relação à sua publicação, a Realismo Fantástico, que muitos de nossos leitores assinaram e acham que já fechou no número 2. “A revista não vai parar nunca, nem se a crise aumentar mais do que já está; mas estamos indo com cautela para não comprometermos todo o projeto de implantação da revista”, disse-nos Rafael. A revista UFO e o Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV) sempre apoiaram e continuarão apoiando a ANUB, esperando ver nela uma entidade que realmente congregue e represente de fato, senão todos, pelo menos a maioria dos ufólogos nacionais. Vejamos a entrevista de Rafael:
Rafael, o que todo mundo quer saber, e as pessoas até ligam para cá (para o CBPDV) perguntando, é qual é a verdadeira situação da ANUB hoje? Nós temos um grande projeto em andamento para 1992, onde procuraremos manter contatos com todos os grupos ufológicos brasileiros, além dos pesquisadores independentes que trabalham sozinhos. O objetivo desse contato inicial é a convocação imediata para novas eleições da ANUB, e o ano de 1992 vai ser muito importante para Ufologia. Assim, vamos colocar esse projeto em andamento e já consideramos a Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil uma entidade realmente importante para a Ufologia Brasileira, principalmente no sentido de poder-se manter contatos com as comunidades científica, política e governamental brasileiras, o que seria praticamente impossível de ser feito a partir de grupos isolados.
O que os grupos brasileiros precisam fazer para ingressar na ANUB, assim como os pesquisadores autônomos que não pertencem a nenhum grupo? Quais são os requerimentos que precisam preencher para pertencerem a ANUB? Nós estamos criando em Curitiba, onde está funcionando a ANUB, um formulário para que essas pessoas possam preencher com todos os seus dados. Esses formulários preenchidos serão direcionados a um conselho diretor que será criado ainda em 1992. E, após uma avaliação e aprovação por esse conselho, as pessoas interessadas poderão participar da ANUB. Não será nada de muito rigoroso, mas vai ter que seguir algumas normas e requisitos, senão não será sério nunca.
Suponha que nós propuséssemos aos nossos associados o ingresso na ANUB, o que eles precisariam fazer para associar-se? Seria uma filiação através do CBPDV ou seria algo por conta própria? Como você prevê isso? Eu acredito que só pelo fato de pertencerem ao CBPDV, estas pessoas já passaram por uma espécie de crivo. Sendo associados, basta que entrem em contato particular conosco para que possam receber esse formulário e preenchê-lo, e a seguir participar da ANUB. Uma indicação disso, feita oficialmente por UFO, por exemplo, seria muito importante e interessante para aumentar os quadros da ANUB. O que nós precisamos é de gente de qualidade, e o CBPDV tem!
Está anotado: nos comprometemos a fazer esta indicação aos nossos associados, mas prepare-se para receber centenas de cartas e, pedidos… Mas agora que você lançou essa sua revista, a Realismo Fantástico, qual é o vínculo que a ANUB vai ter com ela e de que maneira a UFO também poderia integrar-se a esse processo ? Eu acredito que a divulgação da existência da ANUB, de suas atividades, reuniões, decisões e tudo mais, tanto em UFO quanto em Realismo Fantástico, será muito importante para deslanchar o processo inicial a que nos referimos. E deve ser meio rápido, além de incondicional, para dar c
erto ao ponto que precisamos que dê. Quero dizer que deve haver um engajamento real de cada uma dessas publicações.
A ANUB é realmente para a Ufologia Brasileira, principalmente porque poderemos mante contatos com as comunidades científica, política e governamental brasileiras, o que seria impossível de ser feito a parti de grupos isolados – Rafael Cury
Pode contar conosco! Mas o que você pretende fazer da Realismo Fantástico, uma publicação regular ou uma espécie de órgão de divulgação da ANUB, como a UFO, que é um órgão de divulgação do CBPDV? É mais ou menos isso: a Realismo Fantástico será uma revista regular, com variados tipos de assuntos, mas também com um espaço permanente para divulgação das atividades e informações referentes à ANUB. Isso tudo ainda vai depender do andamento das coisas e da aceitação da revista pelos leitores, já que não é exclusiva sobre Ufologia, mas trata mais de assuntos para-científicos, esotéricos etc.
Voltando à ANUB, muitas pessoas nos questionam, grupos ligam para cá e esse pessoal todo conversa conosco sempre com a indagação: “…olha, nós temos receio de que a ANUB pode se tornar uma entidade castradora”. E dizem isso com medo de que aqueles elementos que não se adaptem ao seu ponto de vista ufológico pessoal, por exemplo, sejam impedidos de ingressar. O grande problema é a quantidade de “Unhas de conduta” na Ufologia Brasileira, pelo que vemos. Assim, vamos supor que a ANUB tenha uma determinada tendência em sua direção, uma tendência científica, e numa outra eleição seja votada uma diretoria nova, com tendência mística. O que vai acontecer? Vai haver uma coletividade de linhas de pensamento e conduta ou você acha que pode haver conflitos entre os membros da associação? Eu acredito que essa questão tenha sido o fator básico para que a ANUB não tenha funcionado durante esse tempo todo. E eu vejo assim: nós devemos selecionar o aspecto místico sério do místico não-sério, antes de congregarmos todo mundo debaixo do mesmo teto. Existem ufólogos (ou vamos chamá-los como eles quiserem: sensitivos, contatados, sei lá…) que trabalham dentro de um aspecto místico sério, como o Luiz Gonzaga Scortecci de Paula, por exemplo, e outros não. Essas pessoas trabalham dentro de uma linha séria, são respeitadas a nível nacional, e esse ponto vai ser resolvido mesmo com as respostas que cada um der no formulário que vamos mandar. Eu não quero colocar a ANUB dentro de um padrão de opinião própria, particular, pois acho que todos devem dar sua parcela de contribuição, nesse e noutros pontos que serão apresentados no decorrer desse trabalho nosso. Mas teremos que ter critérios para barrar a entrada de indivíduos perniciosos à Ufologia – isso se eles quiserem ingressar na ANUB, o que eu duvido muito!
Agora vamos à uma pergunta de ordem mais pessoal: a quanto tempo você pesquisa Ufologia, especificamente em que área dela você se especializou e qual é o trabalho que está desenvolvendo agora ? No dia 8 de fevereiro que passou, completei exatos dez anos de pesquisas ufológicas, e o início da minha carreira, vamos dizer assim, foi estudando o Caso VASP, justamente ocorrido nesta data. Este caso, o Vôo 169 da VASP, despertou meu interesse pela Ufologia e desenvolvi, por um certo tempo, pesquisas da casuística ufológica a nível de investigação de campo, publicando vários casos que pesquisei nas extintas revistas Ufologia Nacional & Internacional (Editor, essa revista é uma das antecessoras de UFO). Mas, na verdade, me identifiquei mais não com a pesquisa ufológica em si, mas sim com o trabalho de divulgação do Fenômeno UFO (entre outras áreas paracientíficas). Nunca deixo de lado a pesquisa de campo, que julgo ser muito importante para Ufologia, mas me identifico muito com a pesquisa bibliográfica. Hoje, me identifico mais até com o aspecto futurístico da Ufologia, a tal Nova Era. Interesso-me em analisar como poderemos colocar a Ufologia num padrão de 3° Milênio, em que haverá a intervenção extraterrestre e a participação do homem em contato com seres do espaço. Essa é uma linha de atividades que estou desenvolvendo há alguns meses e pretendo continuar seguindo-a e divulgando-a.
Você, como uma pessoa pública da Ufologia, deve ter alguns comentários sobre pontos polêmicos da Ufologia. O que você acha do sigilo dado ao assunto pela Força Aérea, por exemplo? Nós tivemos uma boa movimentação anti-sigilo no último congresso realizado em Curitiba, em maio de 1991, onde optamos por tomar a iniciativa de contatar o Ministério da Aeronáutica, e estamos aguardando os resultados. Os leitores de UFO e demais amigos ligados à Ufologia devem lembrar-se que em maio de 1986 5 caças da Força Aérea Brasileira perseguiram objetos voadores não identificados na região de São José dos Campos e Rio de Janeiro. E esse é apenas um caso! Pois bem, na oportunidade, o ex-ministro da Aeronáutica, Octávio Moreira Lima, prometeu um relatório completo sobre esse incidente, mas já se passaram 6 anos e não conseguimos nenhuma linha desse relatório – e nem de centenas de outros acontecimentos do gênero! Então, o objetivo atual do Núcleo de Pesquisas Ufológicas e da ANUB é tentar, junto ao Ministério da Aeronáutica e ao novo ministro Sócrates Monteiro, a divulgação imediata desse relatório. Caso contrário, a ANUB irá iniciar uma ação judicial contra o Ministério, pois achamos que o povo brasileiro tem o direito de saber o que ocorreu naquela época e noutros incidentes envolvendo a nossa Aeronáutica.
Um outro ponto polêmico que UFO enfatizou em uma de suas últimas edições é o movimento do Sr. Trigueirinho. Qual é o seu posicionamento em relação a ele e a outros que fazem a mistificação da Ufologia? Eu endosso totalmente as matérias do Claudeir Covo, do Gevaerd e de Marco Antonio Petit, publicadas na UFO 16, principalmente pelo fato de que estes artigos expuseram exata e corajosamente quem é o Sr. Trigueirinho, e mostraram inequivocamente que seus fatos e fotos são fraudulentos; acho que isso já basta para desmoralizá-lo, como Gevaerd colocou em seu texto. Especialmente as fotos, que quando mostradas como fraudes praticamente invalidam o conteúdo de seus livros. Mas existem pessoas que ainda acham que o conteúdo é importante e que as fotos, mesmo falsas, não alteram em nada sua “essência”. Para mim, a partir do momento em que as fotos são fraudulentas os livros também o são. O problema é esse comércio em cima da fé do povo, manifestado até em várias religiões e que agora chega à Ufologia. Tenho desenvolvido, em Curitiba, um trabalho de combate a isso e às falsas religiões; por isso, acho essa iniciativa de UFO muito positiva: acabar
com a expansão desse personagem, e todos nós ufólogos temos que apoiar essa iniciativa.