Imagine que um dispositivo moderno, como o que você está usando para ler estas notícias, seja enviado 50.000 anos no passado e caia nas mãos de um neandertal. Sem nenhuma referência para entendê-lo, o antigo primo humano o veria como algo incompreensível, alienígena, talvez até mesmo como magia. Agora, volte ao presente e considere as afirmações de que os militares dos EUA podem ter em sua posse tecnologia extraterrestre recuperada de naves alienígenas acidentadas em nosso planeta. Se isso for verdade, os cientistas enfrentam um desafio monumental: decifrar e replicar tecnologias que podem estar séculos à frente da nossa compreensão.

Esse tipo de história circula desde o final da década de 1980, quando Bob Lazar, um físico que afirma ter trabalhado na Área 51, relatou ter visto uma nave alienígena que estava passando por engenharia reversa. Mais recentemente, denunciantes como David Grusch, ex-membro da Força-Tarefa de Fenômenos Aéreos Não Identificados (UAP) do Pentágono, juraram ao Congresso norte-americano que programas confidenciais dedicados especificamente à recuperação e engenharia reversa de tecnologia não humana existem e estão em operação há décadas. No entanto, essas alegações permanecem sem evidências concretas dos relatos e testemunhos.
A engenharia reversa é um processo comum nos setores de defesa e tecnologia, usado para replicar projetos avançados, seja em aeronaves secretas ou sistemas de mísseis. De acordo com Philip Voglewede, doutor em engenharia mecânica na Universidade Marquette, esse processo envolve trabalhar de trás para frente para entender os princípios de design e a funcionalidade de um objeto. “Uma equipe multidisciplinar de engenheiros analisaria materiais, circuitos, estrutura e gerenciamento de energia“, explicou ele em uma entrevista à revista Popular Mechanics.
Mas se estamos falando de tecnologia de origem alienígena, o desafio se torna imensurável. “É como tentar entender um software sem conseguir dividi-lo em seu código-fonte“, acrescenta Voglewede. “Os engenheiros devem primeiro deduzir a função do objeto e depois trabalhar de trás para frente para descobrir como ele é construído e como funciona.”

Barreiras intransponíveis
Robert J. Stango, um veterano da engenharia e ex-pesquisador do centro de pesquisa da United Technologies, explica que um primeiro passo crítico é desmontar o dispositivo peça por peça, analisando até mesmo sua composição molecular. No entanto, quando se trata de tecnologias avançadas ou desconhecidas, esse processo pode encontrar barreiras intransponíveis. “Se você não entender os fundamentos físicos de como as coisas funcionam, você simplesmente não conseguirá seguir em frente“, ele alerta.
Outro grande obstáculo é a natureza confidencial da pesquisa no campo militar. Tecnologias avançadas, como sistemas de fusão nuclear, são altamente protegidas, o que dificulta sua compreensão por setores acadêmicos ou privados. É possível replicar tecnologia extraterrestre?
Mesmo que um dispositivo não humano possa ser desmontado, isso não significa que ele possa ser replicado. Jasen Sappenfield, cofundador da Finite Engineering, uma empresa de pesquisa em tecnologia, observa que a falta de referências anteriores torna o processo ainda mais complicado. “Se o objeto estiver danificado ou incompleto, muitas suposições devem ser feitas sobre seu design e propósito“, ele enfatiza.
Por fim, Voglewede enfatiza que a parte mais desafiadora pode ser a distribuição de energia. “Se uma tecnologia alienígena usa fontes de energia que não entendemos — como as mentes dos membros de sua tripulação — podemos estar lidando com uma física que desafia nossa compreensão atual“, diz ele.
Apesar das dificuldades, cientistas e especialistas em engenharia concordam que a chave para qualquer tentativa de engenharia reversa, seja alienígena ou terrestre, está em um estudo completo da física. Sem essa base, o conhecimento permanece inatingível, e a possibilidade de decifrar a tecnologia extraterrestre permanece, por enquanto, um mistério insondável.