Polêmico e até hoje ainda não aceito por muitos pesquisadores, o incidente ocorrido poucos dias antes do famoso avistamento de Kenneth Arnold nunca foi desmentido por seus protagonistas, a despeito do despistamento da Força Aérea Norte-Americana (USAF), de ameaças à testemunha principal e até da morte prematura de pesquisadores envolvidos. O ano de 1947 marcou o início do que convencionamos chamar na Ufologia de Era Moderna dos Discos Voadores. No dia 24 de junho do referido ano, o piloto comercial Kenneth Arnold avistou 9 aparelhos em forma de pires – ou saucer, em inglês – a cerca de 3.000 m de altura nas proximidades do Monte Rainier, estado de Washington, noroeste dos EUA.
Os artefatos voavam em formação e oscilavam simultaneamente, dando a impressão de estarem ligados. Embora pensasse a princípio que se tratava de uma esquadrilha de aviões, Arnold logo descartou a possibilidade, observando que a velocidade dos objetos era muito superior à dos aviões convencionais da época. Subitamente, as velozes naves passaram ao lado das encostas da montanha e o piloto notou que elas não possuíam cauda nem asas. Na verdade, eram arredondadas e se pareciam com frigideiras ou pires invertidos. Sua superfície refletia a luz do Sol, como se os objetos fossem feitos de metal polido. Arnold calculou a velocidade dos objetos em no mínimo 2.000 km/h, e eles voavam numa formação diagonal de cerca de 8 km. Do ponto onde estava, cerca de 40 km da formação, ele estimou que cada “pires” ou disco devia ter uma envergadura de 800 m. Chegando em terra o piloto relatou sua aventura e a notícia rapidamente se espalhou. A expressão inglesa flying saucer – pires voador –, traduzida em vários idiomas e transformada na língua portuguesa em disco voador, entrava na história para nunca mais sair.
Poucos dias depois do relato de Kenneth Arnold, começou a ser veiculada na imprensa uma história aparentemente fantástica, que ficou conhecida como O Caso das Ilhas Maurício – defendido por alguns, detratado por muitos. Dentre os vários livros sobre discos voadores surgidos na década de 1950, um dos mais bem citados e considerados sérios pelos pesquisadores aborda o caso à luz da autenticidade. Trata-se de Flying Saucers From the Moon [Discos Voadores da Lua, Owen Publications, 1954], de Harold T. Wilkins, publicado originalmente na Inglaterra e posteriormente nos Estados Unidos, onde recebeu o título de Flying Saucers on the Attack [Discos Voadores Atacam, British Book Centre, 1955]. Esta foi, no entanto, apenas uma das várias obras que abordaram o incidente ocorrido naquela área do Oceano Índico.
No dia 21 de junho de 1947 – três dias antes da observação feita por Kenneth Arnold –, Harold Dahl, comandante de um pequeno barco guarda-costas, acompanhado do filho e de mais dois membros da tripulação viram seis estranhos objetos pairando sobre o mar agitado, a cerca de 600 m de altura. A embarcação estava próxima a Tacoma, no estado de Washington. A princípio, as testemunhas julgaram tratarem-se de balões, mas então os observaram melhor e notaram que tinham forma de anel.
UFO solta material no mar — Os UFOs começaram a se mover em torno uns dos outros, até que um desceu e ficou bem rente à água, onde soltou uma substância que parecia metal derretido. Até então, Dahl e os tripulantes observavam os demais objetos também diminuírem de altura e se aproximarem do primeiro artefato, permanecendo, contudo em um nível mais alto do que os outros UFOs. Dahl teve a impressão de que o primeiro objeto diminuiu de altura por estar com algum tipo de problema.
Cada um dos objetos em forma de anel parecia ter 7 m de diâmetro e aparentava ser feito de metal – pois refletia a luz do Sol –, e todos tinham grandes janelas laterais. Enquanto o UFO que quase tocava a água despejava uma substância no mar, um dos outros cinco objetos baixou um pouco mais e se aproximou do primeiro. Temendo que o material pastoso atingisse o barco, o comandante manobrou para se abrigar entre alguns rochedos, mas não foi rápido o suficiente, pois a substância atingiu o braço de seu filho de 15 anos. Além disso, o material, que parecia de fato metal em fusão, acabou matando um cão que se encontrava a bordo. Finalmente, os discos sumiram em direção ao mar, e Dahl pôde colher partes do metal que se solidificara, espalhando-se sobre a água e a praia.
Durante a permanência dos UFOs na área, o comandante do barco conseguira tirar quatro fotos deles, as quais entregou depois ao seu superior, o senhor Fred L. Chrisman, junto com os pedaços de metal. Além disso, levou o menino a um hospital para receber os curativos necessários. Vendo, talvez, uma oportunidade de obter lucro com o ocorrido, Dahl e Chrisman resolveram vender a história a uma revista de Chicago. As fotos, uma vez reveladas, porém, não mostravam nitidez, e se chegou a especular que as chapas tinham sido expostas à radiação. A revista, dando um certo crédito ao relato de Dahl, contratou um especialista para investigar o local: ninguém menos que Kenneth Arnold, que dias depois do referido incidente ocorrido nas Ilhas Maurício avistaria nove objetos discóides voando em formação.
Voltando um pouco atrás, antes do contato entre Chrisman e a revista, logo no dia seguinte à aventura de Dahl, um homem desconhecido, vestindo terno e chapéu pretos o procurou em casa dizendo que queria tratar de negócios. Dahl não estranhou, pois era comum ele receber visitas de estranhos para negociar compra e venda de madeira. O homem disse a Dahl onde estava hospedado e os dois combinaram de seguir para lá imediatamente. Dahl foi em seu próprio carro, seguindo o Buick preto do visitante. Os dois chegaram ao hotel e o homem o convidou para ir até o bar, onde pediu um café. Pouco depois, Dahl se assustou quando o estranho começou a lhe relatar tudo o que tinha acontecido no dia anterior, inclusive o detalhe do metal derretido lançado pelo disco voador na água e do acidente com o garoto. Antes de dar por encerrado a conversa, o desconhecido disse que Dahl tinha testemunhado algo por acaso, um fenômeno que não poderia ser revelado, e que, para o bem de Dahl e de sua família, seria melhor não divulgar o ocorrido. A julgar pela seqüência dos fatos, nem Dahl nem Chrisman levaram a sério a ameaça. Ou se levaram, o interesse em apresentar o caso à revista foi maior.
Fenômeno inusitado — O fato é que algum tempo depois, Kenneth Arnold chegou a Tacoma para entrevistar Chrisman. O chefe de Dahl revelou que dois dias após a experiência deste, ele próprio, Chrisman, foi de lancha às Ilhas Maurício, onde encontrou boa quantidade de metal solidificado sobre
a areia. Enquanto colhia parte desse material, contou Chrisman, um objeto diferente do que tinha sido descrito por Dahl saiu de uma nuvem e pôs-se a voar em círculos sobre o local. O UFO tinha de formato cilíndrico, tinha janelas e também parecia feito de metal, e logo se afastou. Julgando-se incapaz de cuidar de um caso do qual não tinha conhecimento suficiente, Arnold telefonou para um conhecido seu, oficial do serviço de inteligência [Termo que significa espionagem, em inglês] da Base Aérea de Hamilton e passou-lhe a missão. No dia 31 de julho a base enviou à Tacoma dois militares para investigar o caso: o tenente Brown e o capitão Dawson.
Após conversarem com Kenneth Arnold, Dahl e Chrisman, os dois oficiais disseram que tinham ordens para retornar logo após conseguirem amostras do material encontrado na ilha. Uma vez de posse dessas amostras, os dois, junto com Arnold, embalaram o material e regressaram ao aeroporto local. Antes do embarque dos dois oficiais, o jornal The Tacoma Times os informou que um indivíduo que não se identificara tinha telefonado para a redação do jornal revelando detalhes de todos os elementos da conferência realizada entre os dois barqueiros, Arnold e os militares. O jornal, naturalmente, queria a confirmação das autoridades. A conversa ocorrera a portas fechadas nas dependências do hotel onde os oficiais estavam hospedados.
Entretanto, o informante parecia saber de todos os seus detalhes, dissera o Tacoma Times. A sala foi vasculhada, mas nenhum tipo de microfone oculto foi encontrado. Como a história tinha vazado? Não podemos negligenciar a hipótese de que o próprio Dahl ou Chrisman tivesse informado o jornal, na esperança de que este oferecesse uma quantia maior pela publicação da história, pouco se importando se a revista original por eles procurada estava bancando o trabalho de Arnold e perdendo tempo com eles. Mas o mistério ainda não tinha terminado. No dia seguinte, chegava a Tacoma a notícia de uma tragédia: o avião pilotado pelo tenente Brown e pelo capitão Dawson tinha sofrido um acidente pouco depois de decolar. Os dois militares estavam mortos. Uma comissão de investigação da Força Aérea Norte-Americana foi enviada ao local do acidente, e não encontrou nenhum sinal do metal oriundo das Ilhas Maurício a bordo do avião destruído.
Fragmentos colhidos — Posteriormente, a comissão de investigação divulgaria um comunicado que depunha contra a integridade tanto do caso narrado por Dahl e Chrisman quanto de seu próprio caráter, afirmando que os dois tinham admitido que os fragmentos colhidos nas ilhas eram apenas amostras rochosas e nada tinham a ver com os objetos aéreos observados. Eles teriam “acrescentado” o detalhe do material colhido para dar mais tempero à história.
Os dois patrulheiros obviamente negaram a veracidade de tal depoimento, insistindo em que o caso se passara exatamente como Dahl narrara desde o princípio, e que a divulgação falsa da Força Aérea era sórdida e vergonhosa. Posteriores investigações de Harold Wilkins, o autor mencionado no início desta matéria, revelariam que Dahl e Chrisman, junto com suas famílias, simplesmente desapareceram de Tacoma após desmentirem a versão da Força Aérea Norte-Americana. Vasculhando pessoalmente a cidade, ele teve a confirmação de que os dois haviam desaparecido, sem que ninguém soubesse explicar para onde teriam ido. Mas, independente do caráter dos dois barqueiros, da autenticidade de seu relato e da motivação deles em procurar a publicidade na imprensa, a polêmica do caso, queiramos ou não, constitui mais um misterioso capítulo na história das aparições dos objetos voadores não identificados. Um que não deixaria de figurar num bom compêndio de Ufologia.
MIBs na Antigüidade
Parece que as testemunhas de UFOs não foram as primeiras pessoas visitadas por misteriosos agentes desconhecidos vestidos de preto. Uma curiosa história é narrada em The Werewolf [O Lobisomem, 1933], de Montague Summers, que se assemelha muito aos relatos modernos a respeito dos homens de preto. Conta o autor que, “no dia 2 de julho, um jovem camponês na região sudoeste da França confessou ser um lobisomem e ter atacado e devorado uma criança”. O jovem dizia que estava cumprindo ordens do Senhor da Floresta, um homem grande e corpulento, vestido de preto e montado num cavalo da mesma cor, que fizera dele seu escravo. No livro, Summers atribui este e outros casos de visitas de homens de preto a agentes do diabo em serviço na terra para desviar a humanidade do caminho de Deus.
Outro caso interessante e mais próximo dos atuais contatos com os MIB: “Na vizinhança [Local omitido pelo autor] vivia uma jovem e muito inteligente donzela que, por três noites seguidas, pouco antes da meia-noite, recebeu a visita de um homem vestido de preto, que apareceu misteriosamente em seu dormitório. A entidade transmitiu uma mensagem à moça que a deixou muito assustada, e que até os dias de hoje não pode divulgar”. A jovem se chamava Mary Jones e era a líder religiosa de um grupo cristão revolucionário. Diziam os seguidores da moça que era quase sempre seguida por uma pequena luz brilhante, aonde quer que fosse. Quando o homem de preto apareceu a Mary pela terceira vez, uma dessas luzes que a acompanhavam projetou um raio branco em direção a ele, e o visitante desapareceu imediatamente.