
Era final do dia 09 de dezembro de 1965, antes das 17h00, quando uma bola de fogo despontou no céu. Ela foi vista pela primeira vez no Canadá e depois por milhares de pessoas em Michigan e Ohio, nos Estados Unidos. No norte de Ohio, próximo a Cleveland, ela fez uma curva e foi na direção sudeste, até a Pensilvânia. Às 16h47 o objeto caiu a sudeste de Pittsburg, próximo à pequena cidade de Kecksburg. Durante a sua passagem, deixou milhares de testemunhas atordoadas e vários destroços despencaram desde Elyria, Ohio. Perto de Lapeer, Michigan, choveram pedaços de metal.
As linhas telefônicas da delegacia local e dos jornais ficaram congestionadas. Pessoas queriam relatar o evento. Pouco depois das 18h30, Frances Kalp ligou para a estação de rádio WHJB, em Greensburg, Pensilvânia, para falar com o diretor de notícias John Murphy, que estava no meio do jornal noturno, mas a entrevistou ao vivo. Frances lhe disse que o objeto ou a bola de fogo tinha caído numa floresta perto da sua casa. Seus filhos quiseram ir ver onde estaria o objeto. Ela permitiu, mas depois voltou atrás, buscou as crianças e ligou para a rádio. Kalp alcançou seus filhos quando eles estavam a cerca de 500 m do local do acidente. Havia muita fumaça vindo das árvores e um objeto virado de lado jazia no solo. Tinha a forma de uma estrela de quatro pontas. Murphy agradeceu o telefonema e depois entrou em contato com a Tropa A da polícia da Pensilvânia, dando-lhes a informação.
Em questão de minutos, a polícia estadual tentou falar com Frances, mas seu telefone estava ocupado. A telefonista derrubou a linha e disse-lhe que tinha uma ligação de emergência da polícia. Frances concordou em encontrar com os agentes perto de Kecksburg e levá-los ao local do acidente. Enquanto ela dirigia, o Centro de Emergência da cidade foi ativado e bombeiros voluntários procuraram os sinais de fumaça. Mas ela não foi a única pessoa que viu o objeto no céu. Bob Blystone Júnior, com 15 anos de idade na época, viu o que descreveria como um rastro alaranjado, à baixa altitude. Mary Keto também observou uma bola de fogo expelindo uma fumaça azul, logo acima da copa das árvores. Blystone disse que viu o objeto redondo mover-se lentamente sobre a vegetação, como se quisesse encontrar um lugar para pousar.
John Murphy, sentindo que essa seria uma boa história, dirigiu-se até a área de Kecksburg. Depois dois carros de polícia e Frances apareceram. Murphy viu o responsável pelos bombeiros da cidade na companhia de um investigador estadual entrar na floresta com um contador Geiger e lanternas. Ele então entrevistou Frances e seus filhos pessoalmente. Os dois homens que entraram na pequena floresta, Carl Metz e Paul Shipco, retornaram 15 minutos depois. Murphy enviou um fotógrafo para falar com o chefe dos bombeiros, que de pronto respondeu: “Você terá que falar com meu advogado”. Metz e Shipco seguiram até seu carro. Murphy correu atrás deles e perguntou a Metz: “Você encontrou alguma coisa lá?” Segundo Murphy, ele olhou com intriga e respondeu: “Não tenho certeza”. Murphy insistiu: “Bom, deixe-me perguntar de outra forma: depois que o senhor fizer seu relatório para o capitão Joseph Dussia, do Departamento de Polícia da Pensilvânia, acha que poderá me dizer algo mais?” Metz esquivou-se de novo: “É melhor você perguntar isso aos militares”.
Durante o seu programa de rádio, Murphy comentou que era a primeira vez que falava do Exército na cidade. E isso era algo muito incomum. Agora estava confuso. Não sabia o que estava acontecendo atrás das árvores, se tudo não passou de um engano ou se ele deveria ir a fundo na história. Tinha se convencido a investigar sozinho o caso, mas pensando melhor resolveu ligar para a polícia estadual, em Greensburg. Comunicando-se com o capitão Dussia, perguntou-lhe se poderia ir ao local do acidente novamente. Dussia respondeu dizendo que era melhor se encontrarem no departamento. Os membros do 662º Esquadrão de Radar estariam lá. Murphy dirigiu-se então para o departamento da Tropa A, em Greensburg. Logo ao chegar, viu que não estavam presentes somente homens do Exército como também dois oficiais da Força Aérea Norte-Americana (USAF), sendo um deles tenente. Ele disse a Murphy que não sabia muita coisa, pois era somente um militar.
O importante aqui é que já verificar a presença de três militares em Greensburg – do Exército e da USAF. Os céticos afirmariam mais tarde que somente três militares estavam presentes ao local, mas Murphy deixaria claro que eram mais de três. Antes de falar com os oficiais, ele dirigiu-se ao capitão Dussia e perguntou-lhe se poderia dar uma declaração sem que fosse gravada. Dussia respondeu: “A polícia do Estado da Pensilvânia fez uma busca na floresta. Estamos convencidos de que não houve nada lá”. Enquanto ligava para a estação de rádio para dar as últimas notícias, Metz entrou no departamento e disse que ia acompanhar os militares. Murphy pediu para ir junto. Tanto Metz quanto Dussia autorizaram.
Antes, porém, correu na direção do grupo que tinha acabado de chegar da busca, e embora tivessem declarado oficialmente que não haviam encontrado nada, os policiais contaram-lhe que uma luz azul pulsante foi vista dentro da floresta. Chegando ao local do incidente, Murphy perguntou a Metz se ele ia entrar na floresta. A resposta foi afirmativa. Para sua surpresa, Metz disse que somente ele não poderia entrar. O que tinha acontecido? Minutos atrás, Murphy havia sido autorizado a acompanhá-los e agora se negava? Essa foi a última vez que Metz viu os militares e que um civil chegou perto do local do incidente. Isso significa que no trecho entre Greensburg e Kecksburg Metz recebeu novas instruções. Elas podem ter sido dadas pelo capitão Dussia ou diretamente pelos militares. De qualquer forma, o resultado foi o mesmo, ou seja, Murphy estava proibido de participar da busca na floresta.
Não era um bólido — Com o rádio e a televisão divulgando que alguma coisa tinha pousado entre as árvores, as poucas e precárias estradas que levavam até o local ficaram rapidamente engarrafadas. Algumas poucas pessoas conseguiram se aproximar um pouco mais da área e viram a polícia fazendo um cordão de isolamento. Estavam sendo realizadas reportagens ao vivo. Muitos levantavam a possibilidade de ter sido um UFO que caiu na floresta. Assim como Murphy, nenhum repórter teve acesso ao local. Contudo, outros civis conseguiram. Stan Gordon, da Pennsylvania Association for the Study of the Unexplained [Associação para o Estudo do Inexplicável da Pensilvânia, PASU], entrevistou
um bombeiro voluntário, Jim Romansky, que acompanhou os militares em toda a operação. Na verdade, segundo Gordon, Romansky foi ao lugar onde o objeto, que não era um meteoro, tinha tocado pela primeira vez o solo.
Romansky aproximou-se e viu que o objeto tinha uma forma arredondada, com cerca de 3 m de diâmetro e possuía uma faixa dourada com algo escrito nela. Esta escrita se parecia com a egípcia. O mais importante, no entanto, é que havia um entalhe no objeto, mas nada de soldas ou costuras. Porém, esse homem não foi a única testemunha que Gordon localizou. Em setembro de 1988, estava trabalhando no caso com mais dois colegas da PASU, John Micklow e George Lutz, quando descobriram Bill Bulebush, que tinha chegado tão próximo do objeto quanto Romansky. Bulebush contou aos investigadores que estava arrumando seu carro e olhou para o céu a tempo de avistar um objeto fazendo várias curvas em forma de S antes de desaparecer entre as árvores. Então ele se dirigiu até o local pela hoje chamada “Rua do Meteoro”. Numa determinada parte do trajeto, olhou para a floresta e viu luzes a distância. Quando chegou ao lugar determinado, parou seu carro e desceu uma ladeira. Árvores estavam caídas e a 6 m encontrou um objeto parcialmente enterrado.
Já estava escuro e Bulebush ligou sua lanterna para examinar melhor o objeto. Como a primeira testemunha, ele disse que o objeto era redondo, tinha uma faixa dourada e 3 m de comprimento e, no máximo, 2 m de diâmetro. A cor era alaranjada, mas ele também viu faíscas azuis saindo do objeto. Antes de ir embora, Bulebush observou luzes surgirem de diferentes direções, que poderiam ser dos militares, da polícia ou de alguma outra testemunha. Existem ainda outros que viram o objeto antes da chegada dos militares. Bill Weaver entrou numa rua de terra e encontrou algumas pessoas em pé perto de um pasto, examinando as árvores. Ele também enxergou o objeto brilhante, mas não se aproximou. Permaneceu no local tempo suficiente para notar quatro homens vestidos com roupas brancas, como as dos astronautas, carregando uma grande caixa branca para dentro da floresta. Foi-lhe ordenado deixar a área por um homem trajando terno e gravata, após ameaçá-lo. Romansky falou que as pessoas vestidas de terno começaram a coordenar as operações e a expulsar os bombeiros do local. Um deles chegou a dizer que aquela era uma área restrita e proibida aos civis.
Após o fato, a Rua do Meteoro virou uma atração turística. Dezenas de carros estacionavam ao longo de sua margem para que as pessoas tentassem ver alguma coisa. Aqueles que conseguiram se aproximar avistaram um caminhão do Exército. Horas depois, ele partiu em alta velocidade. O caminhão levava alguma coisa coberta por uma lona e era escoltado por carros militares. Outra testemunha, John Hays, com 10 anos de idade, à época, disse ter visto o objeto cair nas árvores. Sua casa localizava-se nas proximidades da floresta. Segundo John, os militares entraram nela e ordenaram que seus pais mandassem as crianças para a cama, mas Hays inventou que precisava ir beber água e passava toda hora pela sala. Começaram a surgir rumores de que o objeto era de origem extraterrestre. No dia seguinte, os jornais estampavam nas suas primeiras páginas a história da bola de fogo que causou tantos problemas no leste dos Estados Unidos. Fotos de dois garotos segurando pedaços de rochas foram também publicadas. Havia informações de que eram pedaços do meteoro. De Michigan vieram fotografias de policiais mostrando peças metálicas parecidas com alumínio.
Lanny Tolly, então delegado de Lapeer, Michigan, encontrou um punhado de uma substância metálica nas árvores onde as pessoas disseram que um objeto havia caído. Análises revelaram que aquilo era alumínio de uso doméstico, porém dourado e com alguns centímetros de espessura. Os arquivos do Projeto Blue Book indicam que alguém ligou para a USAF para que o material fosse recolhido. No dia 28 de dezembro de 1965, Eric T. Jonchkhiere, responsável da USAF para Tecnologia e Subsistemas na Base Aérea de Wright-Patterson, escreveu para o xerife de Lapeer, A. Parks, informando que o material encontrado era parte de um radar. Conforme a carta: “Esse material é jogado por aviões para confundir sistemas de radar em missões de treinamento”. Tais tipos de radares podem viajar por quilômetros, dependendo da força e direção do vento. A USAF também deixou claro que queriam que todos achassem que foi uma grande coincidência, que partes do radar começaram a chover logo no momento em que a bola de fogo passava sobre a cidade de Lapeer. Essa parecia ser uma explicação bem razoável. Certamente ninguém se atentou ao fato de que os eventos envolvendo a bola de fogo e o radar aconteceram no mesmo dia e na mesma hora.
Próximo à Elyria, cidade localizada 6 km a oeste de Cleveland, Ohio, os bombeiros foram chamados para apagar os incêndios causados pelos restos de uma bola de fogo. A senhora Ralph Richards viu um objeto incandescente, do tamanho de uma bola de vôlei, cair entre algumas árvores. Os bombeiros que responderam ao chamado informaram que foram poucos e pequenos os focos de incêndio e que nada foi encontrado. Noutra ocorrência, em Livonia, Michigan, dois garotos descobriram o que eles pensavam ser pedaços de um meteoro. Larry Jones e Brian Parent, ambos com 11 anos, também viram o objeto cruzar o céu. Naquele dia, eles foram procurar o objeto e encontraram um pedaço de pedra queimado. Como Parent vestia luvas, pôde pegar várias amostras. Os dois garotos foram fotografados pelo jornal local segurando os objetos.
Os arquivos do Projeto Blue Book [1969] também mostravam uma foto do objeto encontrado. Num dos memorandos que acompanhava a foto, lia-se: “Um fotógrafo de Royal Oak, Michigan, conseguiu fotografar o objeto… Ele também disse ao doutor [Nome ocultado por sigilo] que uma busca foi feita na tentativa de resgatar o objeto”. Os arquivos do projeto não diziam, entretanto, o que aconteceu com o fotógrafo ou se a foto foi analisada. Contudo, a fotografia em referência parece ter sido tirada por Richard P. Champine e publicada somente dois meses depois, em fevereiro de 1966, na revista Sky & Telescope. Isso confirma os relatos das testemunhas sobre a passagem de um objeto. Devido à associação com a bola de fogo, isto é, ar ionizado causado pela passagem do objeto, acredita-se que esta seja a razão de as pessoas terem tido a impressão de que ele pousou ou ficou sobrevoando a área. A evidência mostrada na fotografia e no testemunho das pessoas não é inconsistente com a bola de fogo.
Floresta isolada pelas autoridades — A Guarda Costeira em Windsor, Ontário, no Canadá, relatou que o objeto tinha explodido sobre Detroit. Pilotos que estavam sobre a área viram um flash e sentiram ondas de choque no corpo, que pode ser associado a um bólido. O jornal Boston Record American relatou: “Exército e polícia isolam floresta por causa de sonda não identificada”. Um porta-voz informou que um grupo do 662º Esquadrão de Radar não sabia ainda do que se tratava o objeto. Outros jornais divulgaram somente que uma bola de fogo havia sido vista por milhares de pessoas. O doutor Willian P. Bidelman, astrônomo da Universidade de Michigan, foi citado em dezenas de jornais devido ao seu relato: “Foi sem dúvida uma bola de fogo”.
Bidelman, que não testemunhou o evento, foi apoiado por outro astrônomo que também não foi testemunha ocular do caso. Em Nova York, doutor Fred C. Hess, astrônomo associado do Planetário Hayden, afirmou veementemente que se tratava de um meteoro que explodiu, expelindo fragmentos. Já o doutor Nicolas Wagman, astrônomo do Observatório de Allegheny, na colina de Riverview Park, em Pittsburg, Pensilvânia, comentou que o objeto não era parte da chuva de meteoros geminídeos, “…porque esses meteoros não são tão brilhantes. Isso não significa que ele não seja um meteoro, mas somente que não está associado especificamente à chuva de meteoros que ocorreu naquele período”. E a USAF, por sua vez, finalizou afirmando que aquilo não era uma aeronave ou um míssil. Para ela, significava que o que quer que fosse, tinha que ser, forçadamente, um meteoro. Nenhuma outra explicação era mais razoável. Um das testemunhas disse que o objeto, quando caía, estava em chamas. Embora tenha tido pouca fumaça, as chamas eram de um brilho alaranjado, amarelado e possuíam um branco incomum.
Ivan T. Sanderson, naturalista interessado em Ufologia, escreveu num artigo publicado pelo National Investigations Committee on Aerial Phenomena [Comitê Nacional de Investigação de Fenômenos Aéreos, NICAP), que pediu mais informações sobre o episódio a alguns delegados e à agência de notícias norte-americana Associated Press. Ele calculou a velocidade do objeto como sendo um pouco maior do que 1,65 km/h, devagar demais até mesmo para o mais lento dos meteoros. Os militares, entretanto, encontraram uma resposta que funcionava muito bem. A explicação oficial exposta nos arquivos do Projeto Blue Book era de que se tratava de um meteoro. Numa dezena de memorandos do caso, os investigadores do projeto repetiram várias vezes que os policias tinham feito uma busca mas não encontraram nenhum vestígio do objeto. Parte da confirmação de que a polícia estadual falhou na busca foi dada pelo doutor Robert Murray e dois de seus alunos interessados no Fenômeno UFO. Quando eles ouviram as notícias pelo rádio, deixaram o seu colégio em Ohio, por volta das 22h00, em direção de Kecksburg, Pensilvânia. Quando chegaram, às 04h00 da manhã, não havia mais nada para ver. Nenhum militar na área, nenhum bombeiro voluntário, nenhuma pessoa ou evidência de que algo tinha caído ali. Mas havia pistas de que alguma coisa estava acontecendo por detrás das cortinas. Mesmo que o relato das testemunhas sobre a presença dos militares fosse desconsiderado e que um caminhão que havia partido dali, em alta velocidade, fosse ignorado, algum tipo de evento ainda poderia ser identificado.
Não há dúvidas de que alguma coisa de origem não terrestre caiu na cidade de Kecksburg, Pensilvânia. Assim como aconteceu antes em Roswell, no Novo México. A questão, no entanto, é: o que foi aquilo? Evidências sugerem que se tratou de uma espaçonave cósmica
— John Murphy, jornalista
“Definitivamente tem algo ali” — A mensagem original do teletipo dos serviços de informações comprova isso. A busca, segundo os documentos, foi feita depois que sete moradores de Kecksburg relataram um objeto flamejante colidindo com o solo. “Definitivamente tem algo ali”, disse um membro da patrulha que, segundo documentos, viu uma luz parcialmente encoberta pelas árvores. Mas o relato mais interessante veio do tenente Steven Paquette, que disse ter recebido ordens para participar da operação de busca mesmo estando lotado em New Hampshire, Massachusetts. Não existe evidências de que Paquette tenha ido à Pensilvânia, e não parecia sensato que um oficial fosse deslocado de tão longe, a não ser que faça parte de uma unidade especial ou tenha algum tipo de treinamento para casos assim. Esse parece ser um exemplo.
Outras pessoas relataram ter visto a presença de militares na área. Stan Gordon entrevistou uma família que teve sua casa invadida por homens do Exército, armados e usando luvas. Essa mesma família também revelou que viu um caminhão perto do local do acidente e alguma coisa dentro dele. Isso confirma a história contada por outras testemunhas que foram ao lugar. Os arquivos do Projeto Blue Book confirmam o envolvimento de militares. De acordo com a pessoa que escreveu o relatório, o major Livers, do Departamento de Defesa Aérea, ele recebeu relatos vindos de Ohio, Indiana, Michigan e da Pensilvânia. Livers chamou o major Hector Quintanilla, comandante do citado projeto, para dar assistência e ajudá-lo. Ele foi à base encontrar Livers. Outro telefonema foi feito para o Sistema de Radar de Oakdale, na Pensilvânia. Um grupo de três homens foi despachado para Acme, Kecksburg, para investigar e recolher um objeto que iniciou um incêndio.
Em outros relatórios do projeto, enfatizam que o “tenente Cashman informou que a busca terminou às 02h00. Eles foram ajudados pela polícia estadual. Não encontraram nada. Não planejam outra operação de busca. A imprensa parou de ligar à 01h00”. Tudo isso significa que as pessoas que disseram ter visto homens do Exército estavam certas. Embora no Blue Book conste que apenas três militares do Sistema de Radar de Oakdale estiveram nas investigações, existem aparentemente outros envolvidos, de diferentes estados. Por exemplo, Paquette foi requisitado de Massachusetts. Aqueles três homens são um dos aspectos mais interessantes do caso.
Agentes altamente qualificados — No meio dos anos 60 e durante os anos 80, o governo norte-americano operou um programa secreto chamado Moon Dust [Poeira Lunar], conforme já mencionado em capítulos anteriores. Este projeto, segundo documentos conseguidos através da Lei de Liberdade de Informação (FOIA), por Clifford Stone, pesquisador de Roswell, e Robert Todd, da Pensilvânia, era usado em casos envolvendo a pesquisa de objetos espaciais não americanos ou objetos de origem desconhecida [Veja o documentário em DVD Acidente em Roswell, código DVD-006 da coleção V
ideoteca UFO, no Portal UFO: ufo.com.br]. Segundo o documento oficial da Força Aérea Norte-Americana (USAF), datado de 03 de novembro de 1961, os grupos do Moon Dust eram compostos por três homens cada. Um deles, conhecedor de informática e, outro, de operações. Todos altamente qualificados. O documento também revelava o seguinte:
“O emprego da capacidade do grupo de inteligência da AFCIN é utilizada na investigação de objetos voadores não identificados (AFR 200-2) e para suporte do Sistema de Comando da Força Aérea (AFSC), Divisão de Tecnologia Estrangeira (FTD) e do Projeto Moon Dust e Blue Fly. Esses três projetos envolvem o emprego potencial de pessoas altamente qualificadas para uma rápida reação, a fim de descobrir ou explorar objetos voadores não identificados ou veículos soviéticos e do bloco, além de sistemas de armas ou componentes de tais equipamentos”.
Outro documento, embora feito quatro anos depois do incidente em Kecksburg, diz: “Os grupos de pesquisa estão diminuindo. Somente vinte e um grupos de inteligência estão registrados e desses aproximadamente a metade estão disponíveis para o departamento de PCS [Mudança permanente de localização] para os próximos doze meses. Não há previsão para novos pessoais qualificados”. Isso significa que existiam somente sete grupos qualificados na USAF. Eles podem ter sido todos colocados em uma base nos Estados Unidos ou espalhados pelo país e pelo mundo. De qualquer forma, não existem muitos, eis aí o porquê de Paquette ter sido alertado em Massachusetts. Ele pode ter sido membro do Projeto Moon Dust. A conclusão óbvia é de que o projeto foi ativado no evento de Kecksburg. Isso indica que os militares, com seus sofisticados radares, acreditavam que alguma coisa tinha caído naquela área, e como não há indícios ao sul dela, é racional pensar que o objeto, ou o que quer que fosse, terminou a sua jornada lá. Apesar de os documentos recuperados por Todd, através da FOIA, sugerirem que os Projetos Moon Dust e Blue Fly não existem mais, é possível que eles tenham somente mudado seu nome e possam ainda estar ativados.
Por uma carta enviada pela USAF, Todd ficou sabendo que: “O nome Projeto Moon Dust oficialmente não existe mais. Ele teve seu nome mudado para um que não pode ser revelado”. A controvérsia em torno dos acontecimentos em Kecksburg não foi limitada ao papel dos militares ou ao que tinha caído na floresta. A cidade dividiu-se entre aqueles que acreditavam que a história do objeto fosse uma farsa e aqueles que tinham visto algo misterioso. Robert Young, um pesquisador local, passou anos estudando os eventos e acredita na versão oficial: que o objeto visto no céu era um bólido, e que nada foi encontrado no solo. Ele tem dito repetidamente que o caso de Kecksburg – isto é, um acidente com um disco voador – parece que nunca aconteceu. Em 1991, escreveu que as únicas testemunhas do acidente com o UFO foram duas crianças de oito anos de idade que estavam entre as milhares de pessoas no Canadá que viram o bólido explodindo.
O mistério aumentou quando o programa Unsolved Mysteries [Mistérios sem Solução] foi ao ar com uma reportagem sobre os acontecimentos em Kecksburg. Os problemas começaram em 1990, quando as equipes de TV chegaram a uma pequena cidade para começar as filmagens. Segundo um artigo de David Templeton no jornal Pittsburg Press, na Pensilvânia, chamado Uninvited [Não convidado]: “O programa que detalhou com exatidão o relato das testemunhas mexeu com opiniões políticas, colocando quem acredita contra os que são céticos. Houve a divisão entre parentes, vizinhos e líderes comunitários”. Robert Bitner, que testemunhou algumas atividades militares, está convencido, conforme o artigo, que alguma coisa aconteceu. Seu cunhado, Carl Porch, não fala com ele desde que as equipes de filmagem chegaram, já que ele foi um dos que tentaram impedir que o programa fosse apresentado. Porch insiste em que tudo não passou de uma farsa.
Charles Hilland tem a mesma opinião de Porch. Para ele, nada aconteceu. Ele foi um dos que também tentaram impedir as filmagens com uma petição. Na verdade, os 48 moradores que assinaram a petição, que viviam muito perto da área da queda, queriam que todos desacreditassem o caso porque as suas propriedades eram sempre danificadas, sujas ou invadidas por curiosos. Deveríamos notar que os homens que pediram a não-realização do programa não foram testemunhas diretas do evento. Eles conversaram com amigos ou parentes, mas não estiveram fisicamente no local na data do acidente. Existem realmente rumores de que o objeto que caiu em Kecksburg foi uma sonda soviética chamada Kosmos 96. A Divisão de Tecnologia Estrangeira da Base Aérea de Wright-Patterson negou que houvesse algum relatório sobre isso. A embaixada soviética informou que o objeto não era parte da sonda russa e Stan Gordon, do Comando Espacial Norte-Americano, disse que a Kosmos 96 entrou na atmosfera terrestre 30 horas depois dos eventos em Kecksburg. Embora seja verdade que os membros do Moon Dust seriam alertados para o resgate da aeronave se ela fosse construída na ex-União Soviética, não há evidências de que o que caiu fosse um aparato soviético. As provas disponíveis indicam que a Kosmos 96 acidentou-se no Canadá.
James Oberg escreveu na revista Omni a respeito de uma reavaliação sobre a explicação condizente com o Kosmos 96. Para ele, o que entrou na órbita terrestre antes da sonda foi lixo espacial, provavelmente um estágio do foguete que levou a Kosmos 96 para o espaço. “A sonda mesmo pode ter ido na direção de Kecksburg”, comentou. Outros relatos sugerem que uma falha no lançamento de um foguete da Base Aérea de Vandenberg, na Califórnia, pode ter sido a responsável por toda a confusão. Porém, mais uma vez não existem evidências disso.
Rastro ionizado de cor azul — A trajetória do objeto indica outra coisa. Retornamos então à especulação sobre
um bólido. O astrônomo Frank Drake disse que os relatos das testemunhas sobre esses corpos celestes normalmente são inconclusivos. Para ele, as pessoas tendem a errar no cálculo da distância das bolas de fogo, que podem estar a dezenas de milhas de distância. Quando um meteoro desaparece no horizonte, algumas testemunhas acreditam que isso aconteceu bem perto delas. Quando Young fez a sua análise do caso, levantou várias histórias de bolas de fogo que assustaram muitas testemunhas. Seguindo-as, não seria razoável acreditar que o que aconteceu em Kecksburg não foi parte de um evento natural? Mas e quanto às buscas e interesse da polícia estadual, do departamento de bombeiros e dos militares? Eles estavam interessados em alguma coisa que caiu nas árvores próximas à cidade de Kecksburg. Existe outra alternativa para explicar o fenômeno. A Northrop Aircraft começou seus testes de choques eletrostáticos no meio da década de 60. Queria carregar o ar envolto em uma aeronave com carga positiva e o avião em si com carga negativa. Suas experiências mostraram que se poderia reduzir ou eliminar o som da aeronave, além de fazer também o avião se deslocar no ar como um cometa. Em outras palavras, uma aeronave incandescente que deixa um rastro ionizado de cor azul.
Muito embora seja verdade que Young tenha feito várias afirmações corretas e proposto muitos pontos positivos também caiu na mesma armadilha que outros. Ele é tão entusiasta na sua posição que ignora, em alguns casos, que as evidências não lhe dão apoio, ou desenha conclusões não garantidas por fatos estabelecidos. A verdade, desenvolvida por meio de documentação, é que Young não reviu todas as evidências. O programa de rádio revelou que existe mais do que a história de dois garotinhos de oito anos de idade. O testemunho gravado por Murphy mostrou que outros falavam sobre algo tangível na floresta horas depois da queda. O ufólogo Stan Gordon teve pouco envolvimento com a história. Foram os testemunhos das pessoas presentes no local e as contradições nas declarações da polícia estadual, dos militares e dos agentes que mantiveram vivo o caso.
Na sua pesquisa, Gordon conseguiu obter documentos do 662º Esquadrão de Radar, pela FOIA. Para sua surpresa, no dia 09 de dezembro não havia relatório militar de qualquer tipo de operação. Como é possível tantos equipamentos e pessoal serem ativados e não haver nada nos relatórios? O capitão Dussia declarou que nada foi encontrado e o que as pessoas viram sendo carregados foram equipamentos utilizados na busca. Portanto, Gordon estava certo quanto à utilização de equipamentos e no que diz respeito aos militares que estiveram presentes no local, e que a área das florestas foi examinada. Young, entretanto, discorda que seja de tanta importância o fato de que nos arquivos do esquadrão não haja nenhuma referência à operação no dia 09. “É muito difícil que uma unidade da Força Aérea registre qualquer besteirinha”. Mas Young está errado. Não era o registro de uma unidade, e sim do comando. E esse é o típico evento que deve ser registrado, devido à sua origem incomum. Esse é o propósito dos registros. Em outros relatórios encontrados nos arquivos nacionais, vê-se que os acontecimentos do dia 09 de dezembro foram armazenados.
O que estamos escrevendo aqui é um enigma. São bem fortes as evidências de que o objeto observado tenha sido um bólido. As características aqui exibidas são consistentes com essa possibilidade. As observações feitas por Ivan Sanderson, por exemplo, quando diz que o objeto fez uma curva, parecem ser o resultado de uma falsa suposição de que os destroços do objeto foram caindo pelo trajeto. Não existe evidência ligando o vôo do objeto (ou a queda dele) com os destroços em Lapeer, Michigan ou na Livonia. O padrão do objeto, descrito por uma testemunha, é uma linha reta, como um meteoro. O problema surge quando o final do caso de Kecksburg é equacionado. Young ignora o testemunho de pessoas que viram o objeto no solo, entre as árvores, citando-os apenas como “um garoto de 24 anos e uma materialização de novas testemunhas”. Young afirma que essas pessoas estão mentindo e rejeita aqueles que dizem que alguma coisa foi tirada da floresta. Para ser justo com Young, deve-se concordar que o testemunho de Jim Romansky é, de fato, bem questionável. Conforme publicado no jornal Tribune Review do dia 28 de julho de 1966, Jim foi condenado a passar seis anos na prisão por causa do assalto ao Banco Nacional de Mellon. Com certeza isso fere a credibilidade de Romansky.
Alguns dias depois dos acontecimentos, Murphy relatou no seu programa de rádio que tinha estado pessoalmente no local da queda e que outras testemunhas estavam com medo de dar seus depoimentos. Young, por outro lado, mostrou que algumas pessoas tinham interpretado mal certas informações quando deram seus depoimentos sobre o caso. Durante o programa de TV Sightings, Romansky disse que conforme documentos obtidos através da FOIA, 212 militares estiveram presentes em Kecksburg. Young mostrou que aquela informação poderia ter sido conseguida pela lei, sim, mas controla seus procedimentos para liberação de dados governamentais e não reflete o que está contido naqueles dados. E, embora os arquivos recuperados mostrem que o 662º Esquadrão de Radar tinha 212 pessoas relacionadas no dia 09 de dezembro, é duvidoso que todos eles tenham sido convocados para irem a Kecksburg. Existem provas de que três militares, nomeados no Projeto Moon Dust, foram ativados para o resgate [Veja o documentário em DVD Acidente em Roswell, código DVD-006 da coleção Videoteca UFO, no Portal UFO: ufo.com.br].
A teoria de Oberg sobre a reentrada do Kosmos 96 também é tão estranha quanto a de Young. Este reafirmou várias vezes que nada caiu na floresta. Oberg afirma que foi o Kosmos 96 e não uma nave extraterrestre. Para ele, a queda da sonda soviética exigiu a ativação do Projeto Moon Dust. Young também não acredita na presença de militares em Kecksburg. “Nenhum dos muitos artigos publicados em 1965 falaram de tropas armadas na cidade”, protesta. O programa norte-americano Unsolved Mysteries mostrou que o Exército, a Polícia Militar ou a Guarda Nacional estiveram no local da queda. Realmente nenhum jornal mencionou soldados armados, mas documentos conseguidos com a Lei de Liberdade de Informação mostram que os militares dos projetos Moon Dust e Blue Fly tinham homens armados.
Ação enérgica e imediata — Concluindo o caso, temos que alguma coisa entrou na atmosfera terrestre por volta das 16h40 do dia 09 de dezembro de 1965. Alguns testemunhos e fotografias indicam que o objeto não passava de um bólido. Como é um fenômeno raro e era dia ainda, milhares de pessoas observaram-no, mas não puderam identificá-lo corretamente. Meteoros entram na nossa atmosfera diariamente. Poucos são grandes o suficiente para iluminar a noite e menos ainda tocam o solo antes de explodir. Os porta-vozes da USAF freqüentemente afirmam que os meteoros não aparecem nos radares. Com os mai
s modernos tipos de radares, hoje em dia eles podem detectar até chuvas de meteoros e tempestades [Veja edições UFO Especial 47 e 48].
Depois de duas horas do impacto, segundo algumas testemunhas, os militares chegaram com força suficiente para tomar de assalto o departamento de bombeiros. Trouxeram rádios, telefones e equipamentos. E fizeram incursões dentro da floresta, embora o departamento de polícia estadual tenha negado que alguma coisa tivesse sido encontrada. Dussia reafirmou no dia seguinte a mesma coisa. Após oito horas, por volta da 01h00, testemunhas relataram que um caminhão com uma lona foi visto saindo velozmente da área. Onze horas mais tarde, a presença militar já não era mais visível. Nesta hora Murray e seus alunos chegaram ao local. A cidade estava quieta e todos tinham ido para casa. Por fim, quase um dia depois nenhum militar foi mais visto no local, mas suas ordens ainda eram obedecidas. Frances e seus filhos estavam sendo bombardeados pela imprensa, mas os militares já tinham falado com ela. Mesmo que o Exército tivesse dito que o que se chocou com o solo foi um meteoro, um homem – possivelmente um militar – disse a Frances que foi uma das naves Gemini que havia caído.
John Murphy, diretor de notícias da rádio WHJB, e uma das testemunhas civis fizeram um programa com o depoimento de várias pessoas, inclusive Frances Pouco antes do programa ir ao ar, algumas testemunhas disseram que não queriam ter seus nomes revelados. Temiam uma represália por parte dos militares. Murphy foi forçado a mudar a sua programação. Além disso, um repórter do jornal de Templeton levou o caso mais a fundo quando em 1991 publicou uma reportagem que dizia que “as pessoas que participariam daquele programa foram coagidas pela polícia ou pelo Exército”. Murphy relatou, sim, que algumas testemunhas viram luzes que piscavam e soldados colocando um objeto dentro de um total de cimento. Bonnie Millslagle, esposa de Murphy em 1965 [Murphy morreu anos mais tarde vítima de um acidente automobilístico], disse que ele acreditava que o objeto não era um meteoro nem um aparelho terrestre. Na verdade, ela falou que seu marido tinha ido ao local do impacto com uma câmera antes de qualquer um.
Incidente esquecido — Depois de fotografar o objeto e fazer algumas anotações, saiu da área onde encontrou os militares. Seus filmes e suas anotações foram confiscados pela polícia ou militares. Estava claro para ela que Murphy viu alguma coisa naquela cratera que não devia ter visto. Nas semanas que se seguiram, Bonnie comentou que as atitudes do senhor Millslagle mudaram. No início, ele achava que era uma grande história que o governo estava tentando abafar. Depois, começou a desconversar o assunto. Por outro lado, Adam Lynch, que trabalhava na emissora KDKA TV em 1965, não viu nada, somente os militares e as pessoas envolvidas no acidente. Ele voltou para a redação da TV e disse que aquilo era simplesmente um meteoro. Em poucas semanas o incidente tinha sido esquecido. Vários jornais aceitaram as explicações da USAF.
Como muitos casos de quedas de UFOs, nada de concreto pode ser dito. É razoável aceitar a explicação dada pelos militares e o fato de que o responsável por toda aquela agitação tinha sido um bólido. Mas, para fazer isso, o relato das testemunhas apresentadas tem que ser descartado. Se não fosse pelo grande número de pessoas que afirmaram que alguma coisa colidiu com o solo – aqueles que testemunharam parte do resgate – e se não fosse a ativação de membros do Projeto Moon Dust, poder-se-ia dizer que este era mais um episódio normal. Entretanto, uma parte dele não tem explicação. Até que os fatos sejam conhecidos, o caso permanece em aberto.