Conforme o especialista em planetas extrassolares Geoffrey Marcy, da Universidade Estadual de San Francisco, disse certa vez em protesto contra recentes decisões de pessoas a quem cabe decidir as políticas de estudo científico, tanto da Europa quanto dos Estados Unidos, “os astrônomos precisam deixar de ser meros catalogadores de exoplanetas e passar a verdadeiramente estudá-los”. Há alguns anos aconteceu um intenso debate em torno do projeto Localizador de Planetas Terrestres (TPF), da NASA, o qual consistiria de uma frota de telescópios espaciais trabalhando em conjunto, a fim de conseguirem imagens inéditas dos exoplanetas mais próximos. Contudo, tal projeto, bem como o Darwin europeu, foi abandonado.
Entretanto, os resultados que a missão Kepler apresentou, e que ainda devem render mais descobertas nos próximos anos, foram de tal forma impressionantes que a NASA investiu na construção de um novo telescópio espacial que também utilizará o método do trânsito para detecção de mundos no universo afora. O Satélite Explorador de Trânsitos Exoplanetários (TESS) deverá ser lançado em 2017 e irá vasculhar todo o céu, dedicando-se a estrelas próximas da Terra e caçando planetas alienígenas nesses sistemas. Para tanto, estará equipado com quatro instrumentos de ângulo aberto e detectores CCD, semelhantes aos utilizados em câmeras fotográficas digitais, com resolução total de 67 megapixels. O TESS poderá identificar desde gigantes gasosos a mundos com o tamanho da Terra, e deverá monitorar mais de 500.000 estrelas ao longo da missão planejada de dois anos.
Vendo mais longe
Um dos objetivos do TESS é encontrar alvos para serem futuramente estudados pelo telescópio espacial James Webb (JWST). Batizado em honra ao segundo administrador da Agência Espacial Norte-Americana, esse novo instrumento deverá ser o sucessor do extraordinário telescópio espacial Hubble, estando programado para lançamento em outubro de 2018. Otimizado para trabalhar na região infravermelha do espectro, é certo que não conseguirá fotografias tão belas quanto às do Hubble, porém poderá “enxergar” ainda mais longe que seu predecessor, colhendo muito mais informações. Composto por 18 segmentos hexagonais, seu espelho tem 6,5 m de diâmetro e é feito de berílio coberto com ouro, com uma área de 25 m2.
O James Webb ficará posicionado no chamado Ponto Lagrange L2, a cerca de 1,5 milhões de quilômetros da Terra. Em caso de dificuldades técnicas, em 2007 um anel de atracação foi adicionado ao projeto, possibilitando que a futura nave espacial norte-americana Orion possa visitá-lo, se reparos forem necessários. Seus objetivos primários são procurar e estudar a formação e evolução das primeiras estrelas e galáxias que surgiram no universo a distâncias sem precedentes — também deverá conseguir informações inéditas sobre como surgem sistemas planetários, e é imensa a expectativa de que possa estudar exoplanetas próximos, à procura de sinais de vida extraterrestre.
Existência de civilizações
Com o JWST, espera-se conseguir caracterizar as atmosferas de exoplanetas próximos, detectando gases tais como oxigênio e metano, que na Terra estão fortemente ligados à atividade biológica. E já se comenta no meio científico a possibilidade de detectar, em atmosferas de mundos além do Sistema Solar, gases tais como os clorofluorcarbonos (CLFC). Por não ocorrerem naturalmente, essa detecção representaria uma prova irrefutável da existência de uma civilização nos mundos em que ocorresse — especula-se que os alienígenas poderiam utilizar tais gases em um esforço para tornar habitáveis exoplanetas que não o seu próprio, ou então, assim como na Terra, estariam poluindo seu lar cósmico.
Existem outras possibilidades de a astronomia localizar civilizações extraterrestres. O mesmo Marcy conseguiu um financiamento da Templeton Foundation, organização filantrópica dedicada à investigação de grandes questões, para procurar nas informações do telescópio Kepler sinais de avançada engenharia estelar. Uma das possibilidades é detectar “Enxames de Dyson”, como são chamadas colossais estruturas colocadas em órbita de uma estrela por seres interessados em coletar o máximo de energia estelar possível. Essas estruturas foram propostas pelo astrofísico Freeman Dyson, em 1960. Marcy raciocina que um conjunto desses objetos faria a luz da estrela, desde nosso ponto de vista, piscar tal como um trânsito planetário. Cada trânsito de uma estrutura dessas seria evidentemente menor, porém se repetiria mais vezes visto que, para ser eficiente, o enxame seria composto por milhares ou milhões de unidades.
Instrumentos poderosos
Além dos telescópios espaciais, uma corrida está acontecendo a fim de construir imensos observatórios em terra capazes de esquadrinhar os céus a procura de outros mundos. O grupo mais bem sucedido tem sido o Observatório Europeu do Sul (ESO), um consórcio de 15 nações europeias formado em 1962. Seus instrumentos mais conhecidos são o Telescópio Muito Grande (VLT), situado em Cerro Paranal, uma montanha do Deserto do Atacama, no Chile, que possui quatro telescópios de 8,2 m cada, e o Observatório de La Silla, também no Chile, que dispõe em seu instrumento de 3,6 m de abertura do espectrógrafo caçador de planetas HARPS.
O ESO começou a construir no Cerro Amazonas, também no Atacama, o Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT). Seu monumental espelho de 39,3 m de abertura será formado por 798 segmentos hexagonais, cada um com 1,45 m de extensão. Ele terá a disposição um sistema ótico adaptativo capaz de compensar a distorção atmosférica, além de múltiplos instrumentos de análise. Seu principal objetivo é pesquisar a formação de sistemas planetários e detectar água e compostos orgânicos em discos protoplanetários e exoplanetas. Espera-se que o E-ELT seja finalizado em 2022 e passe a operar em 2024, quando será capaz até mesmo de obter imagens de planetas extrassolares.
Outro telescópio que deverá entrar em serviço em 2020 é o Telescópio Gigante Magalhães (GMT). Com sete segmentos de 8,4 m, seu espelho principal terá um diâmetro de 24,5 m, menor que o E-ELT, porém igualmente capaz de fazer o mesmo tipo de investigação. Suas imagens serão ainda melhores que as do telescópio espacial James Webb, e o GMT está sendo construído no Observatório Las Campanas, também no Deserto do Atacama, onde já existem os telescópios gêmeos Magellan. O consórcio responsável é a Instituição Carnegie para a Ciência (CIS), da qual fazem parte as Universidades de Chicago, Harvard, Arizona, Nacional Austral
iana e outras.