A interiorização e a impregnação das famosas aparições marianas de Fátima, em 1917, no tecido mítico-cultural português são geralmente entendidas no contexto da tradição religiosa do catolicismo popular, abastecida por sedimentos arcaicos de cultos. Ao longo dos seus quase 90 anos de história, a difusão dos fenômenos de Fátima floresceu na sociedade portuguesa, sem discussões nem alternativas, e estabeleceu-se nos estreitos limites dicotômicos da aceitação ou da recusa. Como sabemos, sistemas de crença geram mecanismos de autodefesa, fortificando-se na impossibilidade de sua averiguação lógica e determinando o modo como percebemos e reconstruímos a “realidade”, de acordo com condições sensoriais e culturais e em moldes e limites que se vão reconhecendo e identificando.
Recentemente, acentuou-se a curiosidade e o interesse nas aparições marianas, por parte de investigadores de ciências físicas, humanas e sociais, causando uma reflexão em torno de questões decorrentes dos episódios de 1917. Essa convergência concreta e desapaixonada na abordagem de fenômenos reputados como extraordinários, na alçada do “miraculoso”, não pretende colidir com o objeto religioso e devocional conferido pelo sistema de crenças relativo aos eventos da Cova da Iria, do início do século passado. Seja como for, essa iniciativa em realizar novas pesquisas dos fatos, por parte da comunidade científica nacional e internacional, acabou por desmentir a alegada impossibilidade de se enquadrar e de analisar objetivamente os fenômenos deduzidos a partir dos testemunhos do que aconteceu em Fátima.
A investigação científica dos acontecimentos tem o objetivo de indagar sua natureza em profundidade, sem os limites definidos pelos eternos territórios próprios dos poderes religiosos. Sobretudo, tem importância significativa ao superar a clássica dicotomia entre crença e descrença, fé e razão, quando se desenham sinais renovadores de crenças religiosas. A investigação também não se intimidou com supostos conhecimentos elitistas, marcados por um “cientificismo positivista”, argumento sempre invocado a quem não interessa a exposição e confrontação de novos dados e perspectivas que a marcha do tempo torna viáveis. A integração de novas formas de realidade nas searas do conhecimento e da curiosidade humana, em sua vocação natural, vai desmentindo sucessivas impossibilidades. Tendo como ponto de partida uma análise não conformista dos fenômenos religiosos chamados marianos, proporcionada por obras históricas publicadas a partir da década de 80, e amparados por exames realistas dos acervos originais dos fatos, este autor e a historiadora Fina d’Armada lograram fazer e podem hoje apresentar uma releitura dos fatos de Fátima, tidos como religiosos.
Releitura de fatos religiosos
Fina já publicara, em 1980, a obra O Que se Passou em Fátima em 1917 [Livraria Bertrand], na qual questionava a natureza divina ou miraculosa dos fatos registrados pela igreja. E esse autor fizera o mesmo pouco depois, em 1982, publicando o livro Intervenção Extraterrestre em Fátima — As Aparições e o Fenómeno OVNI [Livraria Bertrand], também mostrando que outra explicação havia para os fatos registrados na Cova da Iria. É com a legitimidade desses antecedentes, entre outros, que partimos para uma releitura da fenomenologia das aparições marianas de Fátima.
Ao fazê-lo, gradualmente verificamos que nossas hipóteses e suposições iam ganhando fôlego e angariando companhias de peso das mais variadas origens, do ponto de vista da participação científica, com destaque para o continuado e produtivo diálogo a distância que desde cedo se estabeleceu com professor Auguste Meessen [Físico teórico da Universidade de Louvaine, Bélgica, e correspondente internacional da Revista UFO em seu país]. Este investigador, apesar de sua condição de católico indefectível, abraçou o notável sentimento de “não se sentir aprisionado num dogmatismo qualquer e crer que o nosso dever será sempre o de procurar a verdade”, para conduzir as investigações junto desse autor e de Fina.
Nossas fontes de informação são constituídas pelos interrogatórios originais dos três videntes de Fátima, além de depoimentos em primeira mão sobre os fatos, datados e selecionados em função da sua riqueza informativa. Com esta base documental — cerca de uma centena de testemunhos — constituímos um suporte informativo que apresenta um retrato representativo e historicamente verificável dos acontecimentos de 1917, naquele ermo lugar do interior de Portugal.
Suposto milagre
Por sua riqueza intrínseca, esta documentação foi alvo de uma investigação sistemática e minuciosa, comparada com as características de observações próximas de fenômenos aéreos não identificados — tais como o Fenômeno UFO — e com quadros sintomáticos de comunicação e contatos registrados no decurso dos últimos 50 anos. Uma das peças investigativas mais curiosas e intrigantes que temos em mãos é a descrição original de Lúcia, uma das pastorinhas que teve contato com o suposto milagre, quando, no documento Inquérito Paroquial, de 1917, fala de uma “senhora muito brilhante que trazia nas mãos uma bola luminosa e virava as costas aos videntes quando partia”. Uma bola luminosa? Suas características e efeitos, como se vê neste texto, são muito interessantes.
Um ser luminoso
Uma reavaliação das descrições dos fatos, dadas pelos videntes do suposto milagre, nos permite lançar hipóteses sobre o método de locomoção da tal senhora luminosa, seu aparecimento no topo da azinheira [Árvore de médio porte típica do norte de Portugal] e sua retirada do ambiente, após o contato. Sabemos pelos testemunhos que tais processos se deram através da manifestação gradual de um feixe luminoso e cônico, de forma retrátil e procedente do alto, originário de uma suposta nuvem dotada de um movimento peculiar — que se deslocava contra o vento — e que envolvia a figura feminina. Na literatura disponível, existem exemplos diversos de como esse tipo de feixe luminoso se manifesta próximo a UFOs, sendo por alguns autores designados de “luz só
;lida”. Entre os estudos consultados sobre tal curioso fenômeno estão os textos A Comparative Analysis of 62 Solid Light Beam Cases [Análise Comparativa de Casos de 62 Luzes Sólidas], de autoria de Jan Heering e publicado no periódico UFO Phenomena, em 1977; e Physiological and Radiation Effects from Intense Luminous Unidentified Objects [Efeitos Fisiológicos e Radioativos da Intensa Luminosidade de Objetos Não Identificados], de R. C. Niemtzov. Outro fator determinante para o sucesso da investigação foi a busca de um eventual padrão na distribuição das pessoas que testemunharam o chamado “Milagre do Sol”, uma parte específica dos fenômenos marianos de Fátima, ocorrido em 13 de outubro de 1917.
Pudemos conferir, tanto por localização direta quanto por extrapolação indireta, que a maioria das testemunhas se encontrava numa faixa com cerca de 70 m de largura na área da Cova da Iria, ligeiramente orientada no sentido norte-sul. Todas as pessoas que deram testemunhos dos fatos e que alegaram ter sentido efeitos físicos e fisiológicos durante a manifestação do tal Milagre do Sol — nos cerca de 10 minutos em que um objeto voador não identificado se aproximou da multidão — estavam contidas nesta área específica de terreno.
Durante a manifestação do fenômeno, as sensações descritas foram desde um calor súbito e intenso à secagem imediata e inexplicada das roupas das testemunhas e do solo — alagado pela chuva intensa —, e efeitos fisiológicos instantâneos, que muitos descreveram como “curas milagrosas”. Todas essas reações se deram imediatamente após a aparente descida do artefato luminoso sobre a multidão ali reunida. O triplo efeito descrito parece sugerir a hipótese de uma manifestação de grande amplitude energética, procedente de uma fonte externa às testemunhas e ligada ao tal objeto. Seus movimentos anômalos, que supostamente imitavam o Sol — daí sua denominação — foram simultâneos aos de efeitos físicos descritos. E ambos corroboram a natureza extraordinária dos fatos, em detrimento de diferentes modelos explicativos que advogam uma natureza alucinatória para os acontecimentos.
Comunicação telepática
Com estas premissas em mãos, estamos em condições de promover a necessária e objetiva reavaliação dos fatos, que permitem transcender a característica sociológica e antropológica da religiosidade popular na interpretação dos eventos da Cova de Iria. Entre os já aludidos elementos materiais documentados, é importante mencionar um conjunto de referências produzidas pelos pequenos videntes e simples testemunhas circunstanciais das aparições de Fátima, como a audição de um tipo de ruído emitido pelo fenômeno e descrito nos documentos da época como um “zumbido de abelha no interior de um cântaro que se produzia sempre que a senhora falava com os videntes, sem mover os lábios”. A capacidade da senhora luminosa de expressar-se e ser compreendida pelas testemunhas de sua aparição sobre a azinheira sem mover os lábios é algo quase sempre atribuído às comunicações entre humanos e tripulantes de UFOs, ocorridas de maneira telepática entre as partes.
Até pouco tempo atrás, tal analogia não teria outra utilidade se não a de servir de pitoresco detalhe, próprio do folclore da região da Serra de Aire, onde os fatos se deram. As descrições dos fatos, hoje bases para muitas contestações de sua interpretação religiosa, foram dadas através de testemunhos mais ou menos ingênuos, feitos por crentes que conviveram com os episódios ao redor da pequena azinheira. Só que o fenômeno do zumbido, repetido inúmeras vezes em observações próximas de UFOs e em cenários culturais distintos, poderia representar um indício razoável de que algo não convencional se passou em 1917. A audição de tal ruído poderia somar-se às sequelas colaterais de outra “fonte”, esta responsável pelas demais evidências físicas descobertas em Fátima. A primeira associação de fatos que nos surge é uma manifestação de radiação eletromagnética, no espectro das micro-ondas, cujos efeitos físicos e biológicos vêm sendo estabelecidos e aferidos desde a década de 50 por equipes científicas em laboratórios franceses, canadenses e norte-americanos.
Um fator determinante para o sucesso da investigação foi a busca de um padrão na distribuição das pessoas que testemunharam o chamado “Milagre do Sol”, uma parte específica dos fenômenos marianos de Fátima, ocorrido em 13 de outubro de 1917
Este indício — por muitos anos diluído nas expressões emocionais dos religiosos presentes em Fátima — é o ponto de partida para a elaboração de uma hipótese que justifica o triplo e simultâneo processo fenomenológico ocorrido no ápice do Milagre do Sol, e explica seus efeitos de calor intenso, secagem da roupa e do solo, além das reações fisiológicas. Essa relação fundamental de causa-efeito havia sido inicialmente aventada pelo físico nuclear norte-americano James McCampbell, que, sabendo de nossas investigações, reforçou a validade da hipótese nas suas deduções acerca dos efeitos produzidos por uma fonte eletromagnética (EM) daquela grandeza em seres vivos e no ambiente. McCampbell publicou seus estudos a respeito da reação a efeitos EM de UFOs em humanos na obra Ufology [Jaymac Company, 1973].
Vivências excepcionais
Ainda que sujeita a uma futura reavaliação, a hipótese da radiação EM ofereceria a possibilidade — fundamental no ponto de vista da escassez de hipóteses — de ter servido de “canal” de comunicação entre a tal senhora luminosa e a vidente Lúcia, tal como sustentam as experiências já referidas. De fato, desde McCampbell, experiências laboratoriais levaram a indícios não desprezíveis de que o modelo agora exposto é válido, se considerarmos como fato que as testemunhas de Fátima registraram sensações auditivas como o tal zumbido de abelhas. Entre os suportes adicionais a estas conclusões, estão ainda experiências conduzidas pelo Canadian Institute of Electrical and Electronic Engineers, particularmente pelos pesquisadores James C. Linn, Sergio Sales Cunha, Joseph Battocletti e Anthony Sances, na obtenção do que é conhecido por micro
wave auditive phenomenon ou MAP [Fenômenos auditivos relacionados a micro-ondas].
O conceito de MAP poderia, inclusive, ajudar-nos a discernir o tipo de comunicação envolvido nas aparições de 1917, além de outras vivências excepcionais de caráter não religioso, ambos os casos marcados por alterações de estado de consciência das testemunhas. Seja em sua matriz religiosa — como o exemplo de Fátima e outros ao redor do mundo — ou no âmbito laico, os experimentos de contato com entidades não terrestres são caracterizados pela recepção de algum tipo de mensagem por parte dos contatados, não raro considerados especiais ou “eleitos”, que acabam tornando-se recipientes e zeladores da mesma. O psiquiatra da Universidade de Harvard John Mack, falecido há poucos meses, estudou detidamente os casos não religiosos de contatismo do ponto de vista da psicoterapia, tendo publicado os resultados na obra Abduções [Educare Brasil, 1997]. Mais recentemente, o próprio Mack ampliou seu estudo e publicou novas conclusões em Passport to the Cosmos: Human Transformation and Alien Encounters [Passaporte para o Cosmos: Transformação Humana e Encontros Alienígenas, Crown Publishers, 1999].
Anjo de cabelo louro
Sobre as experiências canadenses descritas, é importante registrar que elas determinaram a reverberação de ruídos no interior do crânio dos sujeitos testados, a partir de curtas descargas de radiação de micro-ondas. O grau de percepção obtido em tais testes consistiu numa combinação de sons audíveis quando as cabeças dos sujeitos foram colocadas em linha reta com uma antena cônica, dentro de um compartimento apropriado e estático. Os estudos mostraram que os indivíduos que se submeteram ao processo ouviram um zumbido no interior de suas cabeças — especialmente quando expostos a uma radiação de micro-ondas entre 200 e 3.000 MHz e com uma potência média de 0,4 a 2 mW/cm2, para uma densidade de nível abaixo dos 300 mW/cm2. As frequências moduladas variaram entre 200 e 400 Hz. Como regra geral, os sons eram percebidos especialmente na parte occipital da cabeça dos sujeitos testados.
Sobre essa sensação auditiva, cabe lembrar o depoimento da quarta vidente de Fátima, Carolina Carreira, ignorada por muitos anos pelos registros oficiais dos fenômenos de 1917. A descoberta do testemunho de Carolina, armazenado nos arquivos originais depositados no Santuário de Fátima, foi uma das mais importantes etapas de nossas investigações. A quase desconhecida — mas significativa testemunha — descreveu-nos pessoalmente ter recebido uma espécie de “ordem” no interior de sua cabeça, quando observou um “anjo de cabelo louro” com pequena estatura nas imediações da azinheira, que acompanhava a descida da tal senhora luminosa. Essas ordens eram repetitivas em sua formulação à Carolina: “Vem cá e reza três Ave-Marias. Vem cá e reza três Ave-Marias”.
A este cada vez mais sugestivo quadro de referências são acrescidas ainda novas descobertas científicas, que nos foram pessoalmente transmitidas por Jean Pierre Petit, astrofísico do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), de Paris, e diretor adjunto do Centro de Cálculo da Universidade de Provénce. Petit nos descreveu experiências realizadas em 1979, em Toulouse, onde se confirmou a recepção por via não auditiva desse tipo de sensação, ao se expor um sujeito a uma emissão modulada de frequência EM. Assim, as situações descritas nos autorizam inevitáveis comparações: algo idêntico foi verificado no laboratório francês e na Cova da Iria, em Fátima, 1917. Ainda que não tratemos aqui da eventual intencionalidade ou autoria dos sinais emitidos, é lícito admitir uma natureza idêntica nos processos. Qualquer que seja o agente implícito em sua realização, é fácil reconhecer que as sensações auditivas dos videntes implicam na existência de uma fonte radiante ou “energética” nas imediações dos fatos, externa e não subjetiva, que de algum modo serviu de “canal” para um tipo de comunicação não verbal entre a entidade luminosa e Lúcia dos Santos. Estes são fatos, como também são os estágios experimentais atingidos na investigação científica na área do chamado controle da mente, amplamente descrito na literatura disponível — ainda que nem toda informação sobre a matéria tenha sido integralmente divulgada.
Experiências aparicionais
O pesquisador português Raul Berenguel elenca um histórico de pesquisas nesse âmbito, realizadas em ambiente militar e de defesa, tanto nos EUA quanto na extinta União Soviética. Como se vê, a discussão das hipóteses e modelos explicativos que possam confirmar as relações de causa/efeito de ordem física, aqui considerados, é potencializada pelo crescente reconhecimento do trabalho de cientistas em diversas novas áreas da exploração científica. O biólogo suíço Claude Rifat, considerando as modalidades de “experiências aparicionais”, sugere que devemos estar atentos ao papel que o locus coeruleus — importante região do cérebro dos mamíferos — desempenha na eclosão dessas situações ditas irreais. Rifat se refere ainda à hipótese de os raios X de uma fonte luminosa — como a tal senhora — interferirem no normal funcionamento daquela região cerebral. Daí surgem as alterações e diferentes leituras, além de possíveis imagens induzidas e adaptadas em função dos conteúdos culturais dos sujeitos, estimulando a obtenção de mensagens específicas entendidas pelos protagonistas desses singulares acontecimentos, que estilha&cc
edil;am a nossa subjetiva “normalidade”.
Em A Theoretical Frame Working for the Problem on Non-Contact Between an Advanced Extraterrestrial Civilization and Mankind [Uma Hipótese Teórica de Trabalho sobre o Problema do Não Contato entre Avançadas Civilizações Extraterrestres e a Humanidade], publicado no periódico UFO Phenomena, em 1978, Rifat explica detalhadamente o funcionamento de sua teoria e dá exemplos dos mecanismos que envolvem o locus coeruleus, sugerindo que ele é o importante centro anatômico do cérebro que teria envolvimento direto com os aspectos mais bizarros do Fenômeno UFO. Noutras palavras, o cientista crê que o ser humano tem um ponto nevrálgico em sua anatomia que é especialmente sensível ao contato com UFOs, desempenhando vários papéis.
Do mesmo modo, é interessante observar o desenvolvimento de um novo mecanismo de análise desses fenômenos, inspirado nos recentes avanços das neurociências e que pretende abordar de um modo original as relações entre o cérebro humano e os efeitos de experiências de caráter religioso e transcendental. Com tais experimentos, a neuroteologia começa a se afirmar por dar valiosas contribuições ao entendimento de várias funções orgânicas que antes eram pouco compreendidas. À frente dessas novidades estão os trabalhos pioneiros do psiquiatra Eugene d’Aquili e do neurologista Andrew Newberg, investigadores da Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos. Suas análises têm se concentrado no comportamento das funções cerebrais e do fluxo sanguíneo do cérebro durante a prática de meditação de budistas tibetanos.
Círculos ingleses
Há ainda novos e consideráveis indícios que reforçam uma eventual pista em torno das interferências do efeito EM nos seres humanos, recentemente obtidos nos chamados círculos nas plantações ou círculos ingleses, por uma equipe chefiada pelo biofísico norte-americano, C. Levengood, do BLT Research Team. Investigando as zonas do interior dos agroglifos, foi possível observar em laboratório que as alterações fisiológicas dos vegetais — secagem, desidratação, atrofiamento etc — eram idênticas às produzidas por uma emissão de radiação eletromagnética de micro-ondas e que correspondem a diferentes níveis de absorção da citada radiação pelas plantas. Levengood publicou junto a Nancy Talbot, na revista Physiologia Plantarum, de 1999, o artigo Dispersion of Energies in Worldwide Crop Formations [Dispersão de Energias em Círculos de Plantações ao Redor do Mundo], no qual ambos fazem a apresentação de sua surpreendente descoberta — que se revela altamente significativa na interpretação dos fatos alusivos ao citado Milagre do Sol, de 13 de outubro de 1917.
Mas, infelizmente, nem tudo é acessível ou linear quando se trata de criar modelos e hipóteses de trabalho com base em depoimentos subjetivos, como os de forte apelo emocional prestados pelas testemunhas do fenômeno de Fátima. Ainda mais quando são deficientemente colhidos e muito imprecisos, afetados por um universo de constrangimentos como os que sofreram os depoentes naqueles tempos. Contudo, uma análise mínima dos fatos, com base em noções de coerência e objetividade, já apresenta interessantes resultados. O grande problema metodológico da investigação das aparições marianas de Fátima — entre outras — em meio a fenômenos evanescentes, incontroláveis e dificilmente reproduzíveis, é lograr determinar, com a melhor consistência possível, sua coerência interna, atestada por um razoável número de observações independentes. Em quadros complexos, como os do chamado “domínio do sobrenatural”, é muito importante considerar três variáveis: a confiabilidade das informações pessoais prestadas, o número de casos similares em registro documental e a análise científica dos efeitos físicos que estão em jogo.
A sequência dos aspectos físicos desses acontecimentos, eventualmente modeláveis por investigações futuras, não pode ser descartada ou minimizada. Do mesmo modo, a exploração dessas relações, ao nível da neurologia e linguística, poderá vir a revelar-se uma via aberta para a análise da formação das supostas mensagens captadas e transmitidas pelos chamados contatados, antigos e atuais, religiosos ou leigos, em diferentes espaços e tempos culturais. Destacam-se, em especial, as implicações da neuroteologia ou neurobiologia da religião na interpretação de fatos antes religiosos ou mesmo ufológicos, agora mais próximos de uma compreensão. O futuro dessas ciências nos promete estimulantes descobertas sobre aqueles fatos considerados atualmente como inexplicáveis, que estão à margem do conhecimento e dos sistemas de crenças humanos.