A literatura ufológica registra, em suas quase sete décadas de existência, que algumas grandes operações militares foram provocadas por eventos ufológicos. Porém, o que sabemos sobre elas chegou à Ufologia Mundial porque de alguma forma a imprensa ficou sabendo e noticiou ou porque alguém que participou delas vazou alguma informação. Normalmente, os informantes são militares aposentados que decidiram não haver mais perigo em contarem aquilo que sabiam. No entanto, há poucos dados concretos sobre as operações feitas, como, por exemplo, fotos e relatórios — e conta-se muito mais com depoimentos do que com evidências físicas das investigações.
Aqui no Brasil, no entanto, encontramos uma exceção à regra. A Operação Prato, como já amplamente publicada pela Revista UFO, foi a maior operação militar oficialmente reconhecida cujo objetivo era investigar e documentar eventos ufológicos que estavam acontecendo em estados do Norte e Nordeste brasileiros. Em nenhum outro país houve qualquer ação militar semelhante, seja pela natureza da operação, seja pelos resultados atingidos ou mesmo pelo volume de informações resultantes de tal empreendimento. Estima-se que existam aproximadamente 2.000 páginas de relatórios resultantes da missão, além de mais de 500 fotografias e 16 horas de filmagens obtidas durante as vigílias realizadas pelos militares nas áreas de incidência do fenômeno que ficou conhecido como chupa-chupa. Hoje estão disponíveis aproximadamente 500 páginas de relatórios liberados ou vazados, além de algumas dezenas de fotografias.
A análise deste material, comparada com as declarações daqueles que se envolveram com a Operação Prato ou com a pesquisa do chupa-chupa em suas diferentes fases, nos permite entender melhor algumas características do fenômeno. Por vários anos considerou-se que o chupa-chupa tivesse começado em abril de 1977, no Maranhão, por ocasião do Caso Ilha do Caranguejo [Veja edição UFO 122, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], e se encerrado em março de 1978 ao norte de Belém, no Pará, quando os ataques aparentemente pararam. Hoje, sabemos que tais casos ocorriam há mais tempo do que se imaginava, atingindo também outros estados do Norte e Nordeste, e que houve ainda casos esporádicos em países vizinhos.
O começo do fenômeno
Segundo o ufólogo Vitório Peret, consultor da Revista UFO, que conviveu com os dois principais integrantes da Operação Prato, o coronel Uyrangê Hollanda e o sargento Flávio de Freitas Costa, a Força Aérea Norte-Americana (USAF) havia detectado, já no começo de 1977, uma intensa atividade ufológica na região litorânea dos estados do Ceará e Maranhão. O ufólogo americano Bob Pratt, em seu livro Perigo Alienígena no Brasil [Código LIV-014 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br], apresenta alguns casos ocorridos naquelas regiões, entre março e julho de 1977.
O primeiro deles trata-se do citado Caso Ilha do Caranguejo, acontecido em 25 de abril de 1977. Naquela data, os irmãos José Sousa, Apolinário Sousa, Firmino Sousa e o primo Aureliano Bispo Álves saíram de barco de São Luís, no Maranhão, para referida ilha, situada 25 km ao sul da Baía de São Marcos, onde planejavam cortar árvores para vender como mastros para navios. Eles se recolheram por volta das 20h00, pois planejavam acordar logo que a maré subisse para retornar a São Luís, o que deveria acontecer por volta de 00h00. Perto de 05h00, Apolinário acordou ouvindo os gemidos de dor de Aureliano e Firmino. Ao verificar seu irmão, José Sousa, o encontrou morto em uma rede. Com muita dificuldade, Apolinário consegue chegar a São Luis horas depois. A morte de José Sousa permanece um mistério, bem como a causa dos ferimentos verificados em Aureliano e Firmino. Não havia sinais de acidentes ou mesmo de raios que poderiam, hipoteticamente, ter atingido aqueles homens. Em depoimentos posteriores, Firmino declarou ter visto “uma luz, como um fogo, iluminando a embarcação”, nas suas palavras.
O segundo caso apresentado por Bob Pratt aconteceu na região de Cordeiros, no Ceará, com Alfredo Marques Soares, que em uma noite de julho de 1977 voltava para casa quando avistou um objeto luminoso de cor amarelada que emitiu um facho de luz, atingindo Soares na perna direita. Assustado, o homem agarrou-se a uma cerca, resistindo à força da luz que o puxava. Pouco tempo depois, o artefato recolheu o facho de luz e afastou-se até desaparecer. Em decorrência do contato, o homem sentiu semiparalisia, queimaduras no local atingido pela luz, dores estomacais, diarreia, dores nas costas e em todo o lado esquerdo do corpo — e até o fim da vida teve problemas decorrentes do incidente.
A região da cidade de Pinheiro, no Maranhão, também foi um dos locais de grande incidência do Fenômeno UFO entre abril e julho de 1977. A atividade na região era tão intensa que se estima que 70% da população da cidade tenham sido testemunhas ou vítimas de ataques disparados por naves alienígenas. A grande maioria dos casos caracterizava-se pela observação de um objeto voador luminoso de cor amarela, extremamente silencioso e que em algumas ocasiões aproximava-se das pessoas paralisando-as para em seguida realizar algum tipo de ação considerada nociva às testemunhas. Havia a nítida impressão de que tais objetos extraíam sangue das vítimas, resultando daí o nome popular dado ao fenômeno, chupa-chupa.
A intensidade dos acontecimentos aliada à grande quantidade de vítimas com sequelas fisiológicas e queimaduras deixou a população assustada e chamou a atenção da imprensa, que passou a noticiar os fatos. O então prefeito da cidade, Manoel Paiva, enviou telegrama à Força Aérea Brasileira (FAB) solicitando providências para conter o pânico que se instalava na região — embora ele não tenha recebido qualquer resposta, sabe-se hoje que a Força Aérea já acompanhava as ocorrências pela mídia, possivelmente já planejando a ação militar que mais tarde seria conhecida como Operação Prato.
A grande maioria dos casos registrados caracterizava-se pela observação de um objeto luminoso de cor amarela, silencioso e que em algumas ocasiões aproximava-se das pessoas paralisando-as para, em seguida, realizar algo nociva &agrav
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Outro caso apresentado por Bob Pratt é o de José Benedito Bogéa, que também morava nos arredores de Pinheiro. Na madrugada de 10 de julho de 1977, ele deixou sua casa por volta de 01h00 para pegar um ônibus. Antes de chegar ao local onde esperaria pela condução, foi surpreendido por um objeto voador luminoso que surgiu repentinamente sobre ele. Bogéa foi atingido por um facho de luz, desmaiando em seguida. Ao acordar, descobriu que estava em um ambiente estranho, onde havia “pequenos seres com os quais permaneceu por algumas horas”, conforme disse. Em dado momento, ele perdeu novamente a consciência e percebeu que se encontrava próximo ao Porto de Itaqui, em São Luís. Pouco tempo depois, a testemunha começou a sentir uma terrível dor no lado direito do corpo, o que dificultou sua locomoção por muitas semanas. Entretanto, Bogéa sentiu-se privilegiado pelos acontecimentos, pois até a data do contato ele sofria de fortes e constantes dores de cabeça, além de um problema de visão, que após o contato desapareceram.
Além de Pinheiro, foram registrados casos impressionantes nas cidades maranhenses de São Vicente Ferrer, Bequimão, Penalva e São Bento, que foram noticiados pela imprensa e consequentemente chegaram ao conhecimento dos militares do Comando Aéreo Regional (COMAR I), em Belém. Nos arquivos já liberados, podemos encontrar algumas reportagens de jornais da época sobre fatos ocorridos nas citadas localidades. Alguns dos repórteres que fizeram a cobertura dos fatos também tiveram experiências interessantes. Um deles foi o cinegrafista Cinaldo Oliveira, que na época trabalhava para um canal de televisão de São Luís. Diz ele: “Cerca de 90% das pessoas com quem conversamos tinham visto UFOs. Muitos pescadores chegaram a ser queimados. Certa noite, filmamos uma coisa estranha passando no céu com um movimento ondulado. Parecia um satélite, mas variava muito em forma e tamanho. Foi aumentando e, de repente, desapareceu. Vinha da Ilha do Caranguejo, na Baía de São Marcos, e seguia até Anajatuba, depois para São Bento e Pinheiro. Parecia uma estrela, mas enquanto aumentava de tamanho, mudava de cor para amarelo, azul e vermelho.
O cinegrafista continuou suas declarações, explicando que, no dia seguinte, a uns três quilômetros de onde tinham estado, conversaram com um homem com queimaduras nas costas. Ele lhes disse que fora na noite anterior, quando a luz apagou e acendeu novamente, bem acima dele, que ele tinha sofrido as queimaduras. “Não sei quantos pescadores se queimaram, mas entrevistamos uns 10. Não eram queimaduras sérias, mas os homens tinham tanto medo que não queriam mais sair para trabalhar. Conversamos com algumas pessoas em uma fazenda que tem um edifício onde todos os trabalhadores moram e dormem. Este sujeito em questão correu o máximo que pôde até o prédio, e a luz ficou voando em volta da construção por uns 20 minutos”.
Fases do fenômeno
Daniel Rebisso Giese, um dos mais destacados pesquisadores do chupa-chupa e ex-presidente do Centro de Investigação e Pesquisa Exobiológica (CIPEX), dividiu o fenômeno em duas fases: a inicial, também conhecida como Fase Gurupi, e a segunda, ocorrida na Baía do Sol, no litoral fluvial do Pará. Com a evolução do fenômeno, as coisas ficaram mais calmas no Maranhão e o foco das ocorrências passou a ser o norte do Pará. A chamada Fase Gurupi encerrou-se no final de julho de 1977, com a diminuição dos casos na região da Baixada Maranhense, onde eram quase diários. Do outro lado do rio, já em território paraense, os casos, que já vinham ocorrendo havia algum tempo, aumentaram em frequência, repetindo-se a situação de medo e assombro verificada no Maranhão — a diferença foi que os casos se tornaram ainda mais impressionantes, o que obrigou a Aeronáutica a intervir.
As ocorrências se concentraram em uma área de 300 km2, envolvendo 30 pequenos municípios e vários pequenos vilarejos. As cidades com maior destaque dentro dessa fase do fenômeno foram Colares, Vigia de Nazaré, Santo Antônio do Tauá, Viseu, São José do Pintá, Augusto Correa, Bragança, Santo Antonio do Umbituba, Capanema e a capital do estado, Belém, onde houve alguns casos esporádicos. Uma das cidades mais atingidas foi Vigia, situada na região do Salgado, a nordeste de Belém. Várias pessoas foram vítimas do fenômeno logo no início de seu surgimento. Os relatos eram idênticos aos verificados na região do Gurupi — pessoas avistavam uma estranha luz ao longe que, segundos depois, já estava muito próxima. Em seguida eram paralisadas por uma luz emitida pelos “aparelhos” — como o chupa-chupa também era designado, além de “luz vampira” — sentindo-se imediatamente fracas e com fortes dores. Ao mesmo tempo, um fino feixe de luz era emitido pelo objeto em direção às vitimas, produzindo uma ferida por meio da qual seu sangue era extraído.
Com o aumento dos casos na região, a população começou a ficar com muito medo, evitando sair à noite e provocando pânico e um princípio de histeria coletiva. Alguns religiosos acreditavam que o fim do mundo estava próximo e procissões foram realizadas na tentativa de se obter algum conforto espiritual. Como nada disso resolveu as pessoas começaram a se reunir em grandes grupos, em locais considerados protegidos, onde passavam a noite rezando. A situação chegou a tal ponto que todos os moradores do município se ajuntavam em três casas da comunidade para efetuar as orações. Não tardou para que algumas pessoas abandonassem tudo o que tinham e se mudassem da região. Tal situação levou o então prefeito da cidade de Vigia, José Ildone Favacho Soeiro, a enviar ofício à Aeronáutica relatando os fatos e pedindo providências.
Operação Prato
Mas foi a vila de Colares, na área norte da ilha homônima, que acabou se tornando o foco principal das atenções pela quantidade de relatos na região, por sua posição estratégica e porque ali existia uma unidade de saúde que realizava atendimentos para os outros municípios da região — e foi precisamente em Colares que os militares estabeleceram a base principal da missão, que mais tarde seria conhecida como Operação Prato. Uma equipe militar precursora foi formada sob as ordens do sargento Flávio de Freitas Costa. Os homens deveriam ir a Colares, contatar as autoridades municipais e avaliar a situação. Sem saber o que iriam encontrar durante a investigação, os militares fizeram uma base de operações na Praia do Humait&a
acute;, defronte ao Rio Amazonas, na esperança de registrar o aparecimento do fenômeno. A equipe montou baterias antiaéreas em pontos estratégicos e ficou à espera. Durante o dia, aproveitavam o tempo para entrevistarem vítimas e testemunhas e visitar os locais onde os casos haviam ocorrido.
Algumas dessas entrevistas foram, inclusive, gravadas em áudio e filmes. Após mapear as áreas de incidência do fenômeno, os militares se dividiram em duas equipes e se posicionaram em locais estratégicos para documentar as ocorrências. O que eles não sabiam na época, e que veio a ser descoberto apenas durante a abertura ufológica do Governo Brasileiro, graças à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, lançada pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) em 2004, por meio da Revista UFO, é que o famigerado Serviço Nacional de Informações (SNI) — órgão a serviço da Ditadura e hoje substituído pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) — já havia estado na área para fazer um levantamento de inteligência sobre os fatos, com a suspeita de que as luzes vistas eram embarcações e aeronaves comunistas vindas de Cuba.
Com o aumento dos casos, a população começou a ficar com muito medo, evitando sair à noite e provocando pânico e um princípio de histeria coletiva. Alguns religiosos acreditavam que o fim do mundo estava próximo e procissões foram realizadas
Mesmo assim, já nas primeiras noites de vigília em Colares, uma equipe do sargento Costa conseguiu fotografar um objeto luminoso que evoluía sobre a região. Os homens puderam até calcular sua altitude em torno de 3.000 m e a velocidade em torno de 30.000 km/h. O artefato era bem diferente de satélites e meteoritos, que também foram observados na ocasião. A segunda equipe do sargento Costa, situada em outro local, também avistou o aparelho. Tudo o que acontecia era anotado em relatórios rigorosos, indicando data, horário, local, nomes de testemunhas e descrição dos fatos. Quando havia registros fotográficos, eram geralmente anotados o nome do autor da fotografia e a descrição do equipamento utilizado, bem como as condições no momento do registro.
Em seu relatório inicial, já disponível publicamente não identificado no site da Revista UFO [Endereço: ufo.com.br/documentos], o sargento descreveu o quadro de pânico e a histeria que tomou conta da cidade. Ele criticou a atuação da imprensa, que divulgava os fatos de forma a aumentar o medo nas regiões atingidas. Também recomendou a proibição de venda de bebidas alcoólicas e fogos de artifício na ilha, que eram usados para espantar os tais objetos. Por fim, recomendou uma atuação mais incisiva das autoridades, pois havia risco de haver casos de suicídios em massa nas regiões atingidas.
Os militares tiveram muito trabalho durante sua permanência na região. Seja entrevistando vítimas e testemunhas, com atividades de orientação à população local por meio de palestras informativas, de vigílias e de deslocamentos até as áreas onde os casos tinham ocorrido. Por meio dos relatórios oficiais podemos ter uma clara noção da intensa atividade em que os integrantes da Operação Prato estiveram envolvidos. No período entre 20 de outubro e 31 de outubro de 1977, período inicial da missão militar, ainda sem a chefia do então capitão Uyrangê Hollanda, os casos de avistamento eram raros — a maioria das atividades concentrou-se em documentar o fenômeno e seus efeitos sobre a população. Na fase inicial, os casos de avistamentos registrados pelos oficiais envolviam luzes a distância que não podiam ser explicadas como fenômenos naturais, aeronaves convencionais, satélites ou corpos celestes. Geralmente, quando ocorriam estes eventos, no relatório era citada sua provável origem. Quando o fenômeno observado era de fato, e não identificado, ele era minuciosamente descrito no relatório e acompanhado de um croqui feito sobre o mapa da região, indicando sua trajetória, data, horário, coordenadas geográficas, posicionamento das
testemunhas e pontos de referência.
A partir de novembro de 1977, os casos testemunhados pelos militares aumentaram em quantidade e na qualidade das experiências. Nessa fase, já sob a chefia de Hollanda, ocorreram os mais impressionantes incidentes envolvendo a Operação Prato. O primeiro avistamento significativo do então capitão ocorreu em princípios de novembro de 1977. A equipe estava em vigília na Baía do Sol, a alguns quilômetros de Colares, em companhia de agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) — que ainda não se suspeitava que tinham investigado os fatos antes dos militares da Aeronáutica. Quando os homens se preparavam para deixar o local, surgiu um objeto voador em forma de disco que se posicionou acima do grupo por alguns instantes.
Os UFOs e os militares
A partir dessa ocorrência, os tripulantes das naves alienígenas pareceram demonstrar ter conhecimento das atividades dos militares — algumas vezes eles mudavam a posição de seus acampamentos e os objetos passavam a surgir próximo ou sobre os novos locais escolhidos. Isso se comprova a partir dos casos descritos nos documentos agora já disponíveis, em que são relatados os casos de avistamento dos próprios militares, com descrição de local, data, hora, trajetória, altura e distância dos objetos observados. Um dos relatos mais importantes envolvendo os membros da operação ocorreu às margens do Rio Guajará-Mirim na noite de 09 para 10 de dezembro de 1977. Os militares armaram um acampamento em um local onde um pescador havia observado um UFO e um tripulante saíra flutuando do mesmo. Em dado momento da vigília, surgiu um objeto luminoso de tamanho colossal, com aproximadamente 100 m de diâmetro.
O artefato tinha a forma de uma bola de futebol americano, mais para cilíndrico, e posicionou-se verticalmente próximo ao acampamento, na margem oposta do rio. Nos documentos liberados, temos este avistamento relatado de maneira sucinta, apenas com informações sobre o local e o objeto observado. Já nos depoimentos concedidos pelo coronel Uyrangê Hollanda à Revista UFO, com exclusividade [Vejas edições UFO 100 e 101, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], ele declara que do aparelho abriu-se uma escotilha por onde saiu, flutuando, um tripulante que permaneceu pairando à frente do grupo por alguns instantes, retornando em seguida ao aparelho. Mas por que tal fato não foi acrescentado ao relatório do
caso? Existem vários avistamentos registrados nos relatórios onde a presença de tripulantes é igualmente omitida, o que nos leva a questionar: existirão outros documentos, ainda secretos, focados apenas na presença de seres extraterrestres?
A partir dos relatórios podemos encontrar informações sobre a presença de uma equipe médica acompanhando os militares durante suas investigações e atendendo as vítimas do chupa-chupa — em alguns casos chefiada pela doutora Wellaide Cecim, mas havia também médicos militares. Isso foi confirmado por declarações do próprio Hollanda em sua entrevista à UFO. Porém, entre as páginas já liberadas pela campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, presentemente no Arquivo Nacional, em Brasília, não existem quaisquer relatórios médicos. Onde estarão eles? Nem os detalhes dos tratamentos dados à população por Wellaide, nem os prestados pelos médicos ligados à Aeronáutica, convidados pelos militares para ajudar nas investigações, constam da documentação liberada. Por quê?
Estudo estatístico
Com base nos documentos da Operação Prato já disponíveis foi possível realizar estudos estatísticos envolvendo os casos registrados por aquela missão militar. Todos os acontecimentos descritos nos relatórios foram inseridos em uma base de dados. Após essa compilação, cruzamos informações eliminando duplicidade de registros e identificando ambiguidades (alguns poucos casos foram citados nos documentos com dados divergentes entre um relatório e outro). Assim, chegamos a um total de 323 episódios registrados. Após essa etapa, fizemos estudos sobre algumas características do fenômeno, tais como frequência temporal dos casos, tanto do período de atuação da operação quanto de todos os dados presentes nos relatórios, horários das ocorrências, relação entre as fases lunares e os avistamentos, características dos objetos, local de contato quantificando os eventos por cidade ou vilarejo e tipo de testemunhas.
O estudo de frequência temporal destaca a evolução dos casos entre os meses de maior intensidade da onda. O mês de outubro de 1977 totalizou 60 ocorrências, com média diária de 1,9 caso. Os primeiros registros datam de 10 de outubro, atingindo um ápice no dia 22 daquele mês, com 9 casos. O mês de novembro foi o período com maior número de registros, 117, com média diária de 3,9 casos. O ápice da onda foi no dia 05 daquele mês, com 21 casos. Em dezembro de 1977 houve um declínio nos avistamentos, sendo registradas 47 ocorrências, com uma média de 1,5 caso por dia. A explicação para a queda é o período em si, coincidindo com o encerramento da operação e férias de integrantes da equipe, que estiveram ausentes de Colares no período de festas de final de ano.
Entre as características do fenômeno registrado, destaca-se na quase totalidade dos casos a cor amarelo-avermelhada dos objetos vistos a distância e a azulada quando vistos de perto. Quando distantes, as luzes eram intensas
Já o estudo sobre horários das ocorrências demonstra que, do total de 323 registros, 313 ocorreram à noite. Outros 8 casos se deram no período diurno e em outros dois eventos não havia indicações de horário. O estudo relacionando as ocorrências com as fases da Lua foi particularmente interessante. Usando os dados de data e horário de cada caso, os classificamos de acordo com cada fase lunar. No gráfico gerado, verifica-se que 36% dos casos ocorreram em noites de Lua cheia, contra apenas 15% na fase de Lua nova. Aproximadamente 21% dos episódios ocorreram na fase crescente, enquanto que outros 28% ocorreram na minguante. O ufólogo carioca Marco Antônio Petit, coeditor da Revista UFO, conduziu o mesmo tipo de estudo relacionado aos UFOs que aparecem continuamente na região da Serra da Beleza, no Rio de Janeiro. O curioso é que na região por ele investigada os fenômenos de avistamento concentram-se, em sua grande
maioria, nas fases nova ou as intermediárias, crescente e minguante.
Outro estudo desenvolvido durante esta investigação envolveu as localidades onde ocorreram os casos. Do total de registros, 45% se concentraram em Colares, ou seja, 142 eventos. Em segundo lugar aparece a localidade de Benevides, com 12% dos casos, ou 38 casos. Mosqueiro ficou em terceiro lugar com 10% dos casos, 33. Colares se destacou neste contexto por ter sido a base de operações durante a missão da Força Aérea Brasileira (FAB) — ocasionalmente, os militares tomavam conhecimento de fatos ocorridos em outras regiões ou se deslocavam para outros municípios, sondando a atividade ufológica na região, mas trabalhavam mais diretamente em Colares
Entre as características do fenômeno observado, destaca-se na quase totalidade dos casos a cor amarelo-avermelhada dos objetos quando vistos a distância e a cor azulada quando vistos de perto. Quando distantes, as luzes eram intensas, impedindo a observação da forma do aparelho. Ao passar para uma cor azulada já era possível, em alguns casos, observar a forma da nave. Os militares identificaram 9 formatos diferentes de objetos. Havia uma espécie de nave-mãe, com aproximadamente 100 m de diâmetro e em forma de bola de futebol americano, e outros objetos menores descritos como discos, cilindros, arraias, ovais, semicirculares etc. Nos casos em que houve ataques, os artefatos eram sempre descritos como cilíndricos e tripulados por dois seres de aspecto baixo, cabelos claros, olhos maiores do que o normal e usando algum tipo de uniforme inteiriço colado ao corpo, embora tal informação esteja omitida nos relatórios [Na vizinha Amazônia, os dois tripulantes eram relatados como um “casal de japoneses”, devido aos seus olhos oblíquos).
Enfim, o estudo dos relatórios da Operação Prato é indispensável para desvendar os mistérios envolvendo o chupa-chupa. Infelizmente, no entanto, apenas uma pequena parte de todo o arquivo da missão foi liberada e está disponível no Arquivo Nacional. Assim, ainda temos poucas respostas e muitas perguntas. O esclarecimento delas só ocorrerá com a ação direta dos ufólogos em diversas frentes, seja na investigação de campo nas áreas atingidas, seja na busca de depoimentos dos envolvidos com a operação ou mesmo pressionando as autoridades pela liberação do restante do material, trabalho que a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) vem fazendo incessantemente.