Trata-se de uma nova, uma explosão nuclear irrompendo do cadáver pálido de uma estrela morta há tempos
Seu nome é T Coronae Borealis, também chamada de T CrB. Para mundos próximos, uma nova pode causar o apocalipse. Mas, para nós, que estamos a cerca de 3.000 anos-luz dela, “(…) é um cataclismo divertido e emocionante”, relata Bradley Schaefer, astrofísico da Universidade Estadual da Louisiana, Estados Unidos.
A TCrB é uma das mais 400 novas conhecidas na Via Láctea. Elas resultam de pareamento explosivo entre um tipo normal de estrela. Por exemplo, um “forno” de sequência principal, como nosso Sol, ou uma gigante vermelha elefantina – e uma anã branca, núcleo estelar fumegante deixado para trás após o desaparecimento de uma estrela.
As anãs brancas, apesar de pequenas, são tão densas que sua intensa atração gravitacional rouba matéria rica em hidrogênio de estrela regular próxima. Volátil, ela cai na superfície da anã branca e começa a se acumular após um tempo, comprimindo as camadas inferiores e aumentando sua temperatura. Por vezes, tal matéria “(…) ultrapassa a temperatura de combustão do hidrogênio”, informa Schaefer. Ele inflama e aumenta ainda a temperatura do material agregado.
Após certo ponto, uma reação nuclear descontrolada começa, e desencadeia uma explosão apocalíptica. “Essas novas são, basicamente, bombas de hidrogênio”, continuou o astrofísico. Diferente das supernovas, que destroem permanentemente uma estrela e elimina com tudo suas camadas exteriores, as novas “trabalham” da seguinte forma: depois que suas brasas nucleares diminuem, o ciclo se reinicia, com a anã branca se “empanturrando” novamente rumo à outra explosão.
A T CrB surge quando uma anã branca se desprende de certa quantidade de camadas externas de uma estrela gigante vermelha com cerca de 74 vezes o tamanho do Sol. A última vez que essa nova explodiu foi em 1946. Sua erupção foi observada pelos astrônomos em 1866, e há relatos que ela foi avistada ainda antes: em 1787 e 1217 . Boa parte das novas possui ciclos explosivos que perduram milênios. Só que a T CrB consome cada vez mais vorazmente o combustível estelar de sua gigante vermelha, sendo mais incansável que outras novas.
Observações anteriores mostram que ela entra em erupção uma vez a cada 80 anos, tornando-a uma nova recorrente, surgindo pelo menos uma vez a cada século. Elas também mostraram que a nova brilha e convulsiona de forma particularmente errática nos anos antecedentes a uma erupção. Dessa vez, as coisas não parecem ser diferentes. Sua atividade na última década indica que ela está se preparando para uma explosão iminente, o que deve acontecer a qualquer momento até setembro.
Quando estiver visível, a T CrB aparecerá na constelação Corona Borealis, que faz fronteira com Hércules e Bootes. Ao “(…) explodir, será tão brilhante quanto a Estrela do Norte, sendo visível por alguns dias”, explicou Bill Cooke, chefe do Escritório de Ambientes Meteoroides do Marshall Space Flight Center da NASA em Huntsville, Alabama. Ele acrescentou ainda que a nova estrela será visível a olho nu. “É uma ocorrência única na vida. Com que frequência as pessoas podem dizer que viram uma estrela explodir?”, continuou Cook.