Uma expedição de pesquisadores russos afirma ter encontrado evidências de que uma nave alienígena tenha algo a ver com uma gigantesca explosão na Sibéria, em 1908. Peritos em asteróides e cometas há muito dizem que a grande explosão foi causada por uma rocha vinda do espaço. Essa nova polêmica envolvendo ETs é “uma armação idiota”, disse um cientista. E este especialista tem uma longa história. Esta última revelação foi publicada por canais de notícias e causou um reboliço na internet. Segundo a agência de notícias France Presse, os cientistas dizem ter encontrado “um artefato extraterrestre” que explica “um dos maiores mistérios científicos do século XX”, uma catástrofe que devastou cerca de 1.300 km2 na floresta da Sibéria, na região chamada de Tunguska.
Vários outros relatos falam sobre um “aparelho técnico” e “um grande bloco de metal”. Diz-se que os pesquisadores colheram amostras para análises em laboratório. A maioria dos cientistas acredita que a grande devastação na Sibéria tenha sido causada por um grande meteorito que, em vez de atingir a superfície, explodiu antes de chegar ao solo.
Planos para descobrir provas
A equipe russa de pesquisas é chamada de Fundação Fenômeno Espacial de Tunguska e é dirigida por Yuri Labvin. No final de julho, ele disse que uma expedição ao local buscaria provas do envolvimento alienígena. “Pretendemos encontrar provas de que não foi um meteorito chocando-se contra a Terra, mas sim um UFO,” disse Labvin, segundo o jornal russo Pravda, em 29 de julho. “Receio que se trate de uma grande farsa”, disse Benny Peiser, pesquisador do Liverpool John Moores University, na Inglaterra. “A equipe russa estupidamente faz afirmações antes de chegar à Sibéria, de que a principal intenção da expedição é encontrar vestígios de uma \’espaçonave alienígena\’, e pronto! Uma semana depois, é o que dizem ter encontrado”.
Peiser estuda eventos catastróficos e processos científicos relacionados, além de fazer a cobertura da imprensa. Ele dirige um boletim eletrônico, o CCNet, que está entre os mais abrangentes sobre o assunto. “É um comentário infeliz no estado atual das coisas, onde qualquer suposição é aceita entre os jornalistas \’científicos\’ que recebem estas notícias sem a menor desconfiança”, declarou Peiser à SPACE.com.
Velho mistério
Peritos em asteróides não têm todas as respostas sobre o que aconteceu em Tunguska. Há poucas testemunhas naquela região remota e a explosão não deixou cratera alguma. Mas os indícios disponíveis, combinados com a tecnologia moderna dos computadores e o conhecimento geral sobre corpos celestes, deixa poucas dúvidas aos cientistas sobre o que realmente aconteceu. O autor Roy Gallant passou dez anos investigando o evento para seu livro, Meteorite Hunter: The Search for Siberian Meteorite Craters, McGraw-Hill, 2002. Em interview com SPACE.com quando o livro foi publicado, Gallant disse que os cientistas estavam reunindo “vários indícios que sustentariam a idéia de que o objeto explodido era o núcleo de um cometa. Esta é a opinião geral da maioria dos investigadores russos, embora alguns digam que não podem afastar a hipótese de um asteróide rochoso”.
Peiser diz haver um “consenso geral” entre os estudiosos do mundo todo de que de fato tratava-se de um cometa ou asteróide em explosão. “Não é surpresa o fato de que a explosão não tenha deixado intacto nenhum vestígio do objeto”, diz Peiser. “Porém, pesquisadores afirmam ter evidências de grandes níveis de partículas de poeira cósmica na Groenlândia datados de 1908 que relacionam com o ocorrido em Tunguska no mesmo ano”.
Especulação antiga
As especulações sobre alienígenas e Tunguska datam de longo tempo. E há uma razão: Nenhum outro visitante do espaço, natural ou não, teve um impacto tão bem documentado na história moderna. A explosão em 30 de junho de 1908 foi equivalente a 20 milhões de toneladas de TNT. “Testemunhas a 30 ou 50 quilômetros do local disseram ter sentido um calor repentino que atravessava várias camadas de roupa”, escreveu Jim Oberg em UFOs & Outer Space Mysteries, Donning Press, 1984. “A explosão foi registrada como um terremoto por várias estações meteorológicas da Sibéria”. Na Europa, a noite não escureceu. As pessoas disseram que podiam ler o jornal com a luz da misteriosa explosão, relata Oberg. Operadores de telescópios nos EUA relataram condições degradadas no céu durante meses. Não foi encontrada cratera alguma, e seguiram-se muitas especulações.
Ficção Científica
Surpreso com a semelhança entre Tunguska e Hiroshima décadas mais tarde, um escritor de ficção científica conhecido como Kazantsev escreveu uma história onde a explosão de Tunguska era a de uma usina de energia nuclear por uma espaçonave vinda de Marte, afirma Oberg. Alguns cientistas russos assumiram esta hipótese e disseram ter encontrado várias evidências – jamais confirmadas – para uma explicação alienígena civilizada. Oberg escreveu em 1984 que mesmo assim, como evidência criada para uma causa natural, uma porção de “histórias sobre alienígenas parecem ter crescido muito e tomado a atenção das pessoas”. Ele disse que a cada ano algum jornalista insuspeito acaba caindo nessas afirmações e escreve sobre elas, abrindo novamente a questão ao público. Quanto a isso, pouca coisa mudou desde 1984.
O astrônomo Philip Plait, autor do livro desmistificador Bad Astronomy, Wiley & Sons, 2002, concorda com Peiser sobre a opinião dos pesquisadores russos que encontrar evidências de ETs prejudica a causa. “Eles não estão entrando em uma expedição científica, isto é, uma investigação imparcial para ver o que houve”, disse Plait em um e-mail. “Eles vão tentar provar suas idéias pré-concebidas. Isso não é ciência, é uma religião. E quase certamente significa que eles querem ignorar ou destruir os indícios de que foi um cometa ou o impacto de uma rocha, ao mesmo tempo em que ressaltam qualquer evidência que sustente sua teoria”.
Provas
Seja lá o que se acredite, Plait lembra que o importante são as provas. “Não estou dizendo que eles não vão encontrar uma nave espacial. Estou dizendo que isso é extremamente improvável, e eles estão pré-dispostos a fazer tais afirmações, o que significa que precisamos ser muito céticos, mais ainda do que o de costume para casos assim. Se eles conseguirem provas suficientes, então os cientistas serão obrigados a investigar, é claro. Mas considerando tudo o que li, as evidências deles mesmo para supor uma causa não natural são muito fracas”. Plait pensou até sobre quais provas seriam necessárias.
Um punhado de destroç
;os ajudaria, mas não se fosse um material qualquer. “Seria necessário uma proporção incomum de isótopos, por exemplo, ou provas claras de uma viagem espacial de longa duração”, disse ele. “Mesmo assim eles precisam tomar cuidado, destroços espaciais feitos pelo homem caem do céu o tempo todo”. Plait, uma pessoa naturalmente cética, quer esperar para ver. “Vamos ver o que eles nos trazem. No final, o que conta não é o que eles afirmam, mas o que eles podem sustentar com provas concretas. O ônus da prova é claro, e recai sobre eles”.
Texto traduzido por Eduardo Rado, da Equipe UFO.