A busca por exoplanetas tem sido há anos o ramo mais prolífico da astronomia. Até agora a Enciclopédia de Planetas Extrassolares registra 854 desses mundos confirmados, e o telescópio espacial Kepler da NASA, lançado em março de 2009, já localizou mais de 2300 candidatos.
O Kepler necessita flagrar três trânsitos, a passagem de um planeta diante de sua estrela, do ponto de vista do telescópio, a fim de detectar um mundo. A questão é que, quanto mais distante da estrela, mais tempo o orbe necessita para completar uma órbita, mas conforme os meses e anos passam, o instrumento irá confirmar mais descobertas. Dezenas desses candidatos, por sinal, se encontram na região habitável de seus sóis, e a equipe da NASA estima que pelo menos 80 por cento dos candidatos serão confirmados.
Isso significa que estão na distância certa para possuir temperaturas superficiais que permitem a existência de água líquida, pré requisito básico para a vida conforme conhecemos. Busca-se vida extraterrestre similar a nossa devido ao fato de a água, o carbono e seus compostos e outros elementos serem abundantes no universo.
Os astrônomos estão otimistas para o novo ano. Abel Mendez, que comanda o Laboratório de Habitabilidade Planetária na Universidade de Porto Rico, em Arecibo, diz: “Estou confiante que o primeiro gêmeo da Terra será encontrado em 2013”. Ele mantém atualizado o Catálogo de Exoplanetas Habitáveis, que lista nove mundos confirmados que podem abrigar vida alienígena.
A primeira descoberta confirmada de um planeta extrassolar ocorreu em 1995, e nos primeiros anos, devido a tecnologia e métodos incipientes, somente gigantes gasosos orbitando muito próximo de suas estrelas [chamados de Júpiteres quentes], eram localizados. Eram os mais fáceis de encontrar, mas o refino das técnicas permitiu encontrar mundos mais distantes e mais parecidos com a Terra.
Os planetas do Catálogo de Mendez caem todos na classe de super-Terras, orbes maiores que o nosso mas menores que Netuno. Mundos menores já foram descobertos, como Alpha Centauri Bb, mas orbitam perto demais de suas estrelas, sendo demasiado quentes para ser habitáveis. Contudo, é questão de tempo, de acordo com os astrônomos, para que a primeira Terra alienígena seja descoberta.
De acordo com Geoff Marcy, que descobriu 70 dos primeiros 100 exoplanetas e há tempos vem cobrando mais recursos para os telescópios caçadores de planetas, em terra e no espaço: “O primeiro planeta com tamanho, órbita e fluxo de energia estelar que é adequado para a vida é provável ser descoberto em 2013”. Marcy aposta que o Kepler poderá ser o instrumento protagonista deste momento histórico.
Mas Mendez lembra outro instrumento, o espectrógrafo HARPS [Buscador de Planetas por velocidade Radial de Alta Precisão], instalado no telescópio ESO de La Silla, no Chile. Além de ser um dos mais prolíficos na caça a planetas alienígenas, auxilou na descoberta de vários mundos habitáveis, medindo minúsculas variações de movimento estelar causado pela gravidade desses orbes.
“O HARPS é capaz de localizar os mais próximos e interessantes gêmeos da Terra”, diz Mendez. Ele lembra que muitos dos planetas do Kepler estão muito distantes, e complementa: “Uma combinação de sua sensibilidade com observações por um longo período está agora compensando”.
Outro astrônomo, Mikko Tuomi da Universidade de Hertfordshire na Inglaterra, lembra: “Na nossa galáxia, a Via Láctea, podemos estimar o número de estrelas em 200 bilhões, com pelo menos 50 bilhões de planetas, se não mais. Assimundo que somente um em cada 10000 sejam similares a Terra, isso nos deixa com 5000000 de mundos potencialmente habitáveis”. Tuomi e sua equipe já localizaram diversos planetas, incluindo Tau Ceti f, o exoplaneta habitável mais próximo de nosso sistema solar.
Quando essa descoberta acontecer, seu efeito será profundo na cultura terrestre, como Geoff Marcy explica: “Nós humanos olhamos para o céu noturno da mesma forma que fazemos diante do oceano. Saberemos que o oceano cósmico possui ilhas e continentes aos bilhões, capazes de sustentar tanto vida primitiva quanto civilizações inteiras”.
Após essa espantosa afirmação, Marcy complementa: “A humanidade concentrará seus esforços nas estrelas mais próximas, como Alpha Centauri. Os pequenos passos para a humanidade serão passos gigantescos para nossa espécie. Enviar sondas robóticas para as estrelas mais próximas será a maior aventura que nós, Homo sapiens, já tentamos. Essa realização colossal irá requerer a cooperação e contribuição de todas as maiores nações do mundo. Fazendo isso, daremos nossos primeiros passos no oceano cósmico e ampliaremos nosso senso comunitário de propósito nesta praia terrestre”.
Saiba mais:
Livro: Dossiê Cometa