Considerado um verdadeiro Fox Mulder do Ministério de Defesa britânico (MoD), tem sido durante vários anos o máximo responsável pelo Projeto UFO do governo inglês, uma iniciativa que tinha como objetivo pesquisar os avistamentos de objetos desconhecidos e tudo o que for relacionado com os UFOs. Nick Pope considerava-se um cético, mas sua experiência na investigação ufológica o fez mudar de atitude frente ao fenômeno. Depois da recente desclassificação dos “arquivos X ufológicos” britânicos, converteu-se em um habitual freqüentador dos meios de comunicação em escala mundial e tem participado em numerosos congressos internacionais sobre Ufologia e Exopolítica, sendo hoje uma referência na temática. A revista Más Allá entrevistou-lhe em sua edição 254. Confira!
Que papel desempenhava no MoD antes de pesquisar UFOs? Tenho estado vinculado ao MoD desde 1985. Trabalhava em uma divisão chamada Secretariat Air Staff [Secretariado Pessoal do Ar]. Estive ali no período prévio à primeira guerra do Golfo, durante a própria guerra e depois do conflito. Por um breve período de tempo, encarreguei-me de preparar o material-chave para as reuniões diárias dos ministros e os chefes de serviço. Meu trabalho consistia em recopilar informação sobre as operações da Royal Air Force (RAF) e selecionar as mais relevantes para os superiores: detalhes de algumas baixas e perdas, objetivos atacados ou avaliação dos dados das batalhas, entre outras coisas. Era interessante e tinha um ritmo de trabalho muito alto. E como surgiu a possibilidade de dirigir o Projeto UFO? Por aqueles tempos a política do MoD era remanejar o pessoal a cada dois ou 3 anos, fosse por motivos de promoção ou por translado. Assim, todos ganhávamos experiência em uma ampla gama de trabalhos e cargos: política, intervenções, pessoal, finanças etc. Perguntaram-me se após concluir meu trabalho no Centro de Operações Conjuntas se queria me ocupar do Projeto UFO, que tinha sido atribuído a outra seção da Secretariat Air Staff. E eu aceitei, porque, de certo modo, foram eles que vieram me buscar.
O processo de abertura
Por que o Governo britânico tem decidido desclassificar os arquivos ufológicos? Esta decisão foi tomada por três razões, relacionadas entre si. Em primeiro lugar, o MoD tinha recebido mais solicitações do Freedom of Information Act [Lei de Liberdade de Informação, FOIA], que de qualquer outro tema, e despachá-las caso a caso resultava cada vez mais complicado. Por isso, se pensou que desclassificando todos os documentos sobre UFOs, aqueles que fizessem futuras solicitações sobre este tema, poderiam ser remetidos ao The National Archives [Arquivos Nacionais, TNA]. Em segundo lugar, o governo francês havia liberado seus arquivos em 2007, e isto marcou um precedente que o Executivo britânico não podia ignorar. Finalmente, o MoD tinha a esperança de que a abertura refletisse para opinião pública e nos meios de comunicação o compromisso do governo com a liberdade de informação.
Tem havido transparência no processo de desclassificação? Sim, ainda que com algumas exceções. Determinados documentos têm sido retidos, de acordo com as exceções que dita a FOIA, para assegurar que a informação classificada e os dados pessoais não sejam revelados. Nomes, direções e outros detalhes pessoais relativos às testemunhas e aos oficiais devem eliminar-se para cumprir com a FOIA e com a Lei de Proteção de Dados. Outras exceções cobrem categorias, tais como a defesa e a segurança nacional: limita-se a informação referida aos sistemas militares de radar, a fornecida ao Reino Unido confidencialmente por países aliados, a que resulta comercialmente sensível e aqueles documentos que podem revelar dados importantes sobre os serviços de inteligência ou seus métodos.
Como era o trabalho cotidiano no Projeto UFO? A cada dia era diferente. Algumas vezes, pesquisava informações sobre avistamentos recém ocorridos. Ademais, tinha acesso aos arquivos ufológicos anteriores, alguns dos quais têm sido classificados como altamente secretos. Isto possibilitou que empreendesse vários projetos de investigação com determinadas linhas diretrizes. Em outras ocasiões, dedicava-me a redigir rascunhos para os ministros de Defesa respondendo as questões propostas pelos membros do Parlamento ou pelos meios de comunicação.
Como atuavam quando recebiam um aviso de avistamento? A metodologia de uma investigação era bastante regular. Em primeiro lugar, entrevistávamos as testemunhas para obter a maior informação possível sobre o caso: data, hora e localização do avistamento, descrição do objeto, sua velocidade e altura etc. Depois, tentávamos relacionar o acontecimento com alguma atividade aérea da zona, como vôos civis, exercícios militares ou lançamentos de balões sonda. Contrastávamos os dados com os do Real Observatório de Greenwich, para saber se algum fenômeno astronômico, como a queda de um meteorito, podia explicar o caso. Também comprovávamos se algum radar tinha detectado um objeto estranho e, se dispúnhamos de uma fotografia ou um vídeo, passávamos a vários especialistas do MoD, que se encarregavam de ampliar e analisar as imagens. Assim mesmo, trabalhávamos em colaboração com o pessoal do Sistema de Alerta Temporário de Mísseis Balísticos da RAF de Fylingdales, que dispõe de um radar especial. Por último, em questões técnicas e científicas, colaborávamos estreitamente com o pessoal dos serviços de inteligência de Defesa, departamento sobre o qual não posso entrar em detalhes.
Passavam os avisos de avistamentos por algum filtro ou chegavam diretamente a seu departamento? Também dependia do caso. Alguns relatórios chegavam diretamente, no entanto, quando as testemunhas informavam dos avistamentos à polícia ou às bases aéreas militares, tínhamos um sistema em que esses relatórios eram reenviados ao MoD.
Que tipo de documentos utilizavam para a investigação? Dependia de cada caso, na maioria das investigações fazia-se por telefone, pelo que não tinha que redigir demasiados documentos, só uma ou duas páginas sobre cada avistamento. Mas em outras ocasiões, tinha que fazer relatórios mais detalhados e lhes fornecer a outros oficiais do MoD.
Como atuavam ante os incidentes que careciam de uma explicação racional? Muitos dos documentos que se fizeram públicos até agora não têm uma valoração concreta, não se indica se o caso foi catalogado como um incidente explicável, inexplicável ou com dados insuficientes, pelo que não posso contestar esta pergunta. A política do MoD tem sido sempre lhe restar importância ao Fenômeno UFO, mas sem o encobrir. N&
oacute;s fomos cautelosos na hora de colocar por escrito algumas declarações, sobre aqueles avistamentos aos quais não se podia dar uma explicação racional. Fazer em várias ocasiões, como por exemplo, no incidente de Cosford (sul de Reino Unido) de 1993. De alguma forma, um caso ufológico incompleto é como um crime não resolvido em um arquivo de polícia: guarda-se o relatório e não ocorrerá nada, a não ser que apareçam novos dados.
Plena liberdade
Tinha acesso a todo tipo de documentos ou havia relatórios restringidos também para você? Sempre tive acesso às ferramentas que precisei para desenvolver meu trabalho, dos quais consistiam, principalmente, em contatar os especialistas encarregados de interpretar as fitas de radar, analisar as fotografias etc.
Nunca o MoD lhe impediu ou negou algo na hora de realizar seu trabalho? Foi um trabalho interessante e esgotador, mas nunca senti que pusessem obstáculos em meu caminho. Em certas ocasiões, alguns de meus superiores pensaram que devia parar de pesquisar, quando não conseguia encontrar uma explicação após um dia ou dois, mas não acho que tivesse nada estranho quando me davam ordens desse tipo.
Acha que o MoD ocultou alguma vez de você informações que só alguns privilegiados poderiam acessar? Não acho que isto tivesse sido possível. E mais, além de estar autorizado a concordar com qualquer tipo de informação, tinha a obrigação de conhecer à fundo cada solicitação, não houve necessidade de que ninguém me ocultasse nada.
Nem sequer sobre o suposto contato com extraterrestres? O MoD não tem provas de que houve contato com extraterrestres, e não se trata de uma informação que tenha motivos para encobrir.
A Coroa britânica e os UFOs
Que opinião tem sobre a desclassificação em outros países? Acha que poderiam ocultar algo sobre o contato com extraterrestres? Sou consciente de que outros países também têm ou tiveram iniciativas similares ao Projeto UFO do Reino Unido. Também conheço esse material, mas nunca tivemos indícios de que algum país oculte provas definitivas de uma visita extraterrestre. Não posso lançar tais hipóteses porque não tenho evidências definitivas que a possam apoiar.
Polícia e Exército, por exemplo, facilitaram seu trabalho? Todos atuaram com transparência e sempre cooperaram comigo, nunca senti que pusessem obstáculos em meu caminho.
O que pensam, em geral, sobre os UFOs, dentro do MoD? Muita gente no MoD tem tido uma relação “não oficial” com esta matéria, pelo que os pontos de vista são variados, como ocorre em outras organizações. Há crentes, céticos, gente que não se define e pessoas que sequer passa o tema pela cabeça.
Compartilha-se com outros países as informações sobre os avistamentos? A maioria dos países dirige as investigações para os acontecimentos que se produzem em seu espaço aéreo e, não, em outros lugares. Durante minha etapa como pesquisador do fenômeno, houve só uns poucos casos em que trabalhamos em colaboração com outros países.
Nos meios de comunicação de seu país, especulou-se a respeito do interesse da Coroa Britânica no Fenômeno UFO. Mantinha informada do tema a Casa Real? Alguns membros da família real têm mostrado certo interesse pelo tema, mas trata-se de um assunto delicado e com ramos políticos, sobre o que não posso entrar em muitos detalhes.
Também se especulou a respeito do suposto interesse do governo britânico pelos círculos das colheitas [Crop Circles ou agroglifos]. Teve que pesquisar este fenômeno alguma vez? Ainda que tecnicamente, fiz quando já me encontrava fora de meu cargo. Sim, observei o fenômeno dos círculos das colheitas devido à vinculação que tem com os UFOs. O Exército do Ar e o MoD têm interesse por este misterioso fenômeno. Quando os círculos começaram a aparecer, se chegou a sugerir que eram provocados pelo fluxo de ar produzido pelas hélices dos helicópteros do Exército, que realizavam treinamentos a pouca altura. Isto não era verdadeiro, pelo que tivemos que responder às acusações e dar explicações.
De todas as experiências que vem acumulando ao longo destes anos, qual foi a mais desconcertante? O fato que mais interesse tem suscitado em mim, é a segurança aérea. Tanto o MoD como a Autoridade de Aviação Civil tem em seus arquivos vários casos de incidentes, nos quais os UFOs estiveram a ponto de chocar com aviões comerciais. Esta é uma das razões pelas quais me esforcei em pesquisar os avistamentos de forma científica. E também tenho lutado para que este tipo de acontecimento chegue à opinião pública, através dos meios de comunicação.
A polêmica com David Clarke
Em uma recente entrevista concedida a revista Más Allá, Joe McGonagle, assessor dos Arquivos Nacionais [The National Archives, TNA] durante o processo de desclassificação ufológica no Reino Unido, e colaborador de David Clarke, assegurou que seu trabalho no MoD não consistia em pesquisar, senão em avaliar, e que você nunca falava em pessoa com as testemunhas… Que opina destas declarações? Como muitos ufólogos, Joe McGonagle não entende o modo de trabalhar do MoD. Os arquivos que estão se fazendo públicos mostram que nós, sim, pesquisávamos os avistamentos. Mas McGonagle leva razão em um ponto: quando eu entrevistava às testemunhas, o fazia geralmente por telefone em vez de cara a cara.
McGonagle também afirma que quando Georgina Bruni e você escreveram a reportagem sobre o Flying Saucer Working Party (FSWP) [Um relatório que foi entregue a Winston Churchill] e disseram que essa informação era uma exclusiva mundial, isto não era verdadeiro, já que, segundo ele, o tema tinha sido dado a conhecer por David Clarke. Que pensa a respeito? Até onde eu sei, a jornalista de investigação Georgina Bruni foi a primeira pessoa que acedeu ao relatório FSWP e aos arquivos sobre Rendlesham Forest, apelando ao Código de Boas Práticas na Informação do Governo e à FOIA. Depois, alguns ufólogos que viram seu trabalho solicitaram também esses mesmos documentos.
Que pensa sobre o trabalho realizado por David Clake como investigador e agora como assessor de The National Archives? David Clake era membro da British UFO Research Association e tem contribuído ao TNA com seu ponto de vista em qualidade de ufólogo. Eu também tenho trabalhado com o TNA e lhes dei meu ponto de vista como oficial do governo e antigo responsável pelo Projeto UFO. Isto tem propiciado dois pontos de vista opostos. Clarke estava interessado nos UFOs porque era seu hobby, enquanto eu tenho pesquisado os avistamentos de forma oficial, para o governo. Tenho ajudado o TNA a eleger casos interessantes para os meios de comunicação e utilizado meus próprios contatos como jornalista para me assegurar de que a publicação dos documentos se faça com seriedade. Tenho escrito sobre este assunto para vários jornais e discutido sobre isso em programas de rádio e televisão de todo o mundo.
O futuro da pesquisa ufológica no Mod
Por que decidiu deixar o MoD? Deixei-o em novembro de 2006, após 21 anos de serviço. Passei pelo Assessment and Development Centre (um exame), e poderia ter me apresentado para trabalhar em um posto no nível secundário de direção. No entanto, já tinha representado amplamente este cargo, pelo que decidi que era o momento apropriado para iniciar novos desafios fora do departamento.
Em que projeto está envolvido desde que deixou o MoD? Agora trabalho como jornalista freelance, escrevendo artigos para vários jornais nacionais e revistas. Também faço muita televisão, comentando temas relacionados ao inexplicado, teorias da conspiração, espaço, ciência, ficção e a defesa, entre outros. Ademais, sou relações públicas de companhias como Twentieth Century Fox.
Alguém desempenha agora o trabalho que você fazia? A seção na que eu trabalhei está agora muito ocupada atendendo as solicitações FOIA, tanto que o assunto tem tomado prioridade sobre a investigação que se levava a cabo quando eu estava ao comando do projeto. Atualmente, só se estudam uns poucos avistamentos, no amplo sentido da palavra, mas, na maioria dos casos, só se redige uma carta regular. Hoje, um incidente significativo, como um avistamento protagonizado por um piloto, não se pesquisa na medida que merece. Isto se deve à quantidade de trabalho que proporcionam as solicitações FOIA, que têm prioridade, porque se as demandas não são atendidas o MoD estaria violando a lei.
Como vê o futuro da investigação ufológica no MoD? Acho que, quando o MoD tiver feito pública a última partida de expedientes UFO, anunciará que deixará de pesquisar o fenômeno. Assim ocorreu nos Estados Unidos em 1969, quando a Força Aérea concluiu o Projeto Livro Azul. Determinados avistamentos isolados, que resultem relevantes, serão examinados quando se considere necessário, mas fora do palco do Projeto UFO.
Que outros mistérios, além dos UFOs, encontrou enquanto estava à frente do Projeto UFO? Durante o desenvolvimento do projeto, fui o destinatário de muitas informações referentes a pessoas que tinham tido experiências relacionadas com fenômenos estranhos: supostas abduções alienígenas, mutilacão de animais, círculos das colheitas, fantasmas em bases militares, gente que afirmava possuir poderes psíquicos e que pretendiam utilizar para ajudar às agências de inteligência, perguntas sobre como poderíamos destruir ou desviar cometas e asteróides para evitar uma colisão com a Terra etc. Certamente, em meu caminho cruzaram-se alguns casos estranhos. Não é que fosse o encarregado específico destes temas, simplesmente não tinha outro lugar para onde canalizá-los.
Que pensam no MoD com respeito aos aparecimentos de fantasmas em bases militares? O MoD tem uma posição neutra sobre isto e reconhece que os aparecimentos se produziram.
Quem é a mulher do hospital? O caso sobrenatural favorito de Pope
Durante seus anos como responsável pelo Projeto UFO do Ministério de Defesa Britânico (MoD), Nick Pope conheceu em primeira mão muitos outros casos que nada tinham a ver com os “não identificados”, mas sim com o mistério. Entre as histórias sobre fantasmas que chegaram a sua mesa, ele recorda especialmente uma que lhe deixou verdadeiramente impressionado. Seu protagonista era um oficial de polícia do MoD, que afirmava ter visto um fantasma durante uma noite de patrulha na igreja de San Lucas, no hospital Haslar da Marinha, em Gosport. Segundo relata Pope, “a testemunha viu uma mulher idosa caminhando para a igreja, mas quando regressou – não demorou nem um minuto -, a mulher tinha desaparecido. Não poderia ter ido a nenhum lugar. Uma hora depois, um forense do hospital lhe falou sobre o corpo que tinha estado trabalhando nas primeiras horas daquele dia, e a descrição era exata à da senhora que tinha visto o policial.”
Uma figura polêmica
Enquanto uns engrandecem seu trabalho como ufólogo, outros lhe criticam por não ter estudado os casos com a profundidade que mereciam, e há quem vai além, ao alegar que segue anônimo no MoD, para dar a conhecer à opinião pública tão somente aquilo que o governo quer que se saiba. Como ocorre sempre no mundo da Ufologia, Pope seguirá tendo admiradores e detratores, como suscitando hipóteses mais ou menos “conspiranóicas”, que só ele sabe se são ou não acertadas. Em qualquer caso, o mais significativo é que começou sendo um cético e, após pesquisar de forma oficial os UFOs e conhecer os segredos do MoD, pelo menos demonstra-se profundamente intrigado por um fenômeno sobre o qual ainda ficam muitas interrogações abertas.