Nos próximos dias, a Agência Espacial Norte-Americana (NASA) pretende lançar a primeira sonda cujo objetivo é se estabelecer ao redor de Mercúrio, o mais interior dos planetas do Sistema Solar. O astro é lembrado desde tempos imemoriais por suas apressadas aparições no céu, sempre no início da noite (na direção do poente, a oeste) ou no fim da madrugada (de novo acompanhando o Sol, agora a leste). Por estar sempre nessa incansável perseguição à estrela, ganhou o nome do deus mensageiro romano. Não que sua rápida identificação no céu tenha ajudado a realmente conhecê-lo melhor. Até hoje, Mercúrio permanece como um dos planetas menos estudados pelos cientistas.
Desde o início da era espacial, apenas uma sonda visitou o astro: a americana Mariner-10, de 1974. E, mesmo assim, tudo que ela fez foi realizar três rápidos sobrevôos no planeta – não se fixou em órbita para uma olhada mais atenta. Hoje, apenas 45% da superfície do planeta foi mapeada. O resto, ninguém nem tem idéia de como é. E observações feitas com telescópios terrestres também não ajudam muito: o astro é muito pequeno, com seus 4.878 km de diâmetro, e está longe demais para entregar seus segredos à distância. Em dimensões e aparência, o planeta lembra muito a Lua, com um cenário acinzentado e cheio de crateras. Mas, do lado de dentro, a história é outra: enquanto o satélite da Terra é pouco denso e não possui um (significativo) núcleo composto por ferro, Mercúrio tem um senhor núcleo, que responde por 65% da massa do planeta e é duas vezes maior que o da Terra, em proporção.
A viagem até lá não será fácil. Na região em que Mercúrio orbita, o Sol é 11 vezes mais brilhante do que nas redondezas terrestres, e o resultado disso não é nada amigável. No solo do planeta, que nem sequer tem atmosfera para reter o calor, chega a fazer 450 graus. Para agüentar o tranco, a sonda, batizada de Messenger (o nome é apenas uma sigla inspirada, para Mercury Surface, Space Environment, Geochemistry, and Ranging), terá um escudo de cerâmica que ficará o tempo todo voltado para o Sol, a fim de evitar que seus instrumentos sejam queimados. A idéia é passar um ano inteiro realizando uma missão orbital ao redor de Mercúrio. Mas isso só deve acontecer a partir de 2011. Antes, o trabalho vai estar concentrado em chegar ao planeta.
Partindo nos próximos dias, a Messenger fará um sobrevôo da Terra em 2005, outros dois de Vênus em 2006 e 2007, e mais três de Mercúrio, dois em 2008 e um 2009, antes de se colocar definitivamente em órbita ao redor dele. As diversas passagens servem para dar velocidade e rumo adequados à nave, usando a gravidade dos planetas como estilingues para impulsionar o veículo até seu destino, o que permitirá dispor a Messenger adequadamente em torno de Mercúrio. Uma vez lá, os cientistas pretendem colocar fim a vários mistérios que hoje os intrigam a respeito do astro mais próximo do Sol.
“Por quase 30 anos tivemos perguntas que não podiam ser respondidas até que a tecnologia e os projetos de missões alcançassem o desejo de voltar a Mercúrio”, disse, em nota à imprensa, Sean Solomon, pesquisador da Instituição Carnegie de Washington e cientista-chefe da Messenger, missão preparada pelo Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins para a NASA. “Agora nós estamos prontos”, prosseguiu. “As respostas a essas perguntas não só vão nos dizer mais sobre Mercúrio, mas iluminar processos que afetam todos os planetas terrestres (que possuem superfície rochosa).”