Quando Galileu Galilei descobriu Europa, ao lado dos outros três grandes satélites de Júpiter (Io, Calisto e Ganímedes), colocou as autoridades da época em xeque. O sistema geocêntrico já estava ruindo e a descoberta de corpos celestes que comprovadamente não orbitavam a Terra punha seu poder em ameaça. Por isso Galileu foi processado pela Inquisição e passou o restante de seus dias em prisão domiciliar. Já em nossa época, o primeiro vislumbre desses mundos veio com as extraordinárias expedições das Voyager 1 e 2, que obtiveram suas primeiras e impressionantes imagens próximas.
Europa imediatamente chamou a atenção dos cientistas por ser coberto por uma capa de gelo, sem crateras visíveis, o que mostrava uma superfície ativa e em constante renovação, além de fissuras de tonalidades avermelhadas. A missão Galileo, a primeira a orbitar Júpiter entre 07 de dezembro de 1995 e 11 de dezembro de 2003, analisou detidamente seus satélites, e realizou 12 passagens por Europa, mapeando cerca de 10 por cento de sua superfície. A missão comprovou que o pequeno mundo é, ao lado de Marte, o mais forte candidato a abrigar vida alienígena no Sistema Solar, possuindo um oceano de água líquida por baixo da capa congelada da superfície, e planos para investigar essa possibilidade têm sido traçados desde então. Neste último 26 de maio, a NASA deu um fundamental passo adiante, revelando os instrumentos que sua futura missão irá levar.
A nave, apelidada por algumas fontes de Europa Clipper, irá orbitar Júpiter e realizará cerca de 45 sobrevoos em Europa, a um custo de 2 bilhões de dólares. Ao longo de pelo menos dois anos e meio, deverá ser mapeado um total de 90% da superfície do mundo gelado. A NASA recebeu 33 propostas vindas de todo o mundo para os instrumentos da missão e selecionou nove. O sistema de imagens contará com duas câmeras, uma grande angular e outra de ângulo reduzido, com uma resolução de 50 metros. Alguns sobrevoos, aliás, serão a meros 25 km da superfície europana. Dois instrumentos, um magnetômetro e um instrumento de plasma e sondagem magnética, permitirão analisar a espessura da capa de gelo e a profundidade e salinidade do oceano.
PREPARANDO O TERRENO PARA FUTURAS MISSÕES EM BUSCA DE VIDA ALIENÍGENA
Um equipamento de imagens térmicas permitirá determinar onde em Europa podem existir locais onde plumas de vapor de água são ejetadas, gêiseres observados em 2012 pelo telescópio espacial Hubble, mas desde então não mais encontrados. Um espectrômetro de massa irá analisar essas amostras, além de pesquisar a composição da superfície, ajudando a determinar a natureza do material avermelhado das fissuras vistas nas fotos das missões anteriores. Os cientistas afirmam que isso pode indicar quais materiais existem no oceano subterrâneo de Europa. Um espectrômetro de massa e um analisador de poeira irão analisar pequenas partículas sólidas que sejam lançadas a partir da superfície da lua. Finalmente, um radar irá avaliar a crosta congelada, podendo localizar lagos mais próximos da superfície e locais onde a capa de gelo é mais fina.
John Grunsfeld, vice-administrador científico da NASA, afirmou: “Em Europa, o oceano pode ter existido por bilhões de anos. Estão todos muito empolgados”. A nave não irá ativamente procurar por vida em Europa, como explica Curt Niebur, cientista do programa para Europa da NASA: “Construir um detector de vida é muito difícil e a comunidade científica ainda não está certa em como fazê-lo. Mas é algo que despertou muito interesse devido a essa missão e é algo que será investigado a fundo no futuro próximo”. A nave, abastecida por painéis solares, orbitará Júpiter a fim de minimizar a exposição aos intensos campos de radiação do planeta, em meio aos quais se situa Europa, e irá preparar o terreno para missões muito mais ambiciosas, como um veículo de pouso e mesmo uma sonda de perfuração capaz de atingir o oceano subterrâneo. O sucesso da missão a Europa, a ser lançada após 2020, irá determinar como será feita a exploração dessa lua no futuro.
Descrição da missão no site da NASA
Anúncio da missão a Europa no site do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA
Confira um vídeo sobre a possibilidade de vida em Europa
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