Aqueles que pesquisam Ufologia há algum tempo e o fazem de forma séria entendem que o Fenômeno UFO abrange muito mais do que apenas naves espaciais: ele envolve uma inteligência superior, sobre a qual nada sabemos. Há milhares de artigos falando sobre a aparência dos seres extraterrestres e de suas espaçonaves, mas nada se encontra quando se questiona a inteligência que age por trás deles. Esse assunto, que é também filosófico e sociológico, normalmente passa longe da maioria dos trabalhos ufológicos e são raros os pesquisadores que se arriscam a explorá-lo, talvez porque seja lento e exija muito raciocínio e conhecimento teórico. De qualquer forma, como todo bom ufólogo sabe, a Ufologia demanda conhecimentos científicos que vão da geologia à psicologia, da física à sociologia, embora em muitos casos os que temos apenas deem pistas e não respostas.
O entrevistado desta edição conhece como poucos o espectro do estudo ufológico e é um dos mais respeitados pesquisadores do assunto em todo o mundo. Embora seja visto por alguns com certa desconfiança por suas posições contrárias a algumas das pedras fundamentais da Ufologia, ele é importante o suficiente para ter sua relevância reconhecida por Steven Spielberg, e merecido um personagem criado em sua homenagem. O diretor apreciou tanto seu trabalho que deu a ele o personagem Lacombe, o cientista francês interpretado por François Truffaut em seu filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau [1977].
Nosso entrevistado também é investigador em inovações de risco desde 1987, no Vale do Silício, e já participou de mais de 60 novos empreendimentos. Ele vê no fenômeno ufológico um “sistema de controle” da evolução terrestre, que operaria sobre o inconsciente coletivo da nossa espécie, de acordo com uma visão holística que se expressa por meio de fenômenos folclóricos ou contemporâneos, indo além do ser humano comum. Essa percepção do autor se afirma especialmente na sua trilogia Dimensions [Dimensões, Contemporary Books, 1988], Confrontations [Confrontos, Ballantine Books, 1990] e Revelations [Revelações, Ballantine Books, 1991].
Currículo respeitável
Estamos falando de Jacques Vallée, nascido francês e desde os anos 60 radicado na Califórnia, considerado dono de uma das mentes mais privilegiadasda Ufologia Mundial. Ele recebeu seu título de bacharel em matemática pela Universidade de Sorbonne, de Paris, fez mestrado em astrofísica na Universidade de Lille e começou sua vida profissional como astrônomo do Observatório de Paris, em 1961. Em 1962, deixou a França para praticar astronomia na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, onde ajudou a desenvolver o primeiro mapa computadorizado de Marte para a Agência Espacial Norte-Americana (NASA). A partir daí, sua carreira se agigantou.
Em seguida, Vallée estudou na Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, onde obteve um doutorado em informática e foi colega de J. Allen Hynek. O agora franco-americano foi o investigador principal de um grande projeto da Fundação Nacional de Ciências em rede de computadores, que resultou no primeiro sistema de conferência da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada, rede operacional pioneira de computadores à base de comutação de pacotes de informações para uso militar, antecessora da internet. Ele também atuou no comitê consultivo nacional do Colégio de Engenharia da Universidade de Michigan.
Jacques Vallée conhece muito sobre inteligência artificial e isso o levou a entrar no Projeto Livro Azul em seus primórdios — o programa do governo norte-americano para estudo de UFOs, conduzido pela Força Aérea entre 1952 e 1970. Cada vez mais interessado por UFOs, ele propôs, em 1966, um sistema de classificação de observações ufológicas, seguido por um segundo sistema, em 1990.Criou com Hynek, que viria a ser seu mentor, o conceito do “colégio invisível”, que logo se materializou na entidade ao Center for UFO Studies (Centro para Estudos de UFOs, CUFOS), um grupo de especialistas do mundo inteiro que se questionava sobre discos voadores, sem necessariamente acreditar que eram reais.
Mitologia humana
O pesquisador tem uma interpretação fascinante sobreo Fenômeno UFO. Para ele, o fenômeno “é como um caleidoscópio com três níveis distintos: um puramente físico e tecnológico, um nível sociológico e, por fim, um nível pessoal, subliminar, que ‘joga’ com as nuances sutis da psiquê humana. O primeiro desses aspectos parece indicar claramente uma origem extraterrestre. Já o segundo, se ficarmos apenas na sua dimensão social, estaríamos no campo da mitologia humana e da antropologia. E o terceiro aspecto é o mais preocupante, pois sugere indícios de uma manipulação mais sombria, de origem terrestre”.
A visão de Vallée sobre os contatos com extraterrestres vai além de “apenas” o encontro ou o impacto deles na vida da testemunha. Em sua opinião, a experiência de ter um encontro pessoal com um UFO é uma provação física e mental medonha — tem efeitos traumáticos que vão muito além do que o consciente da pessoa recorda. “A partir daí desenvolvem-se novos tipos de comportamento e de crenças. São enormes as consequências sociais, políticas e religiosas se forem consideradas não nos dias ou semanas que se seguem ao encontro, mas no período de uma geração”, diz o entrevistado.
O Fenômeno UFO é como um caleidoscópio com três níveis: um puramente físico e tecnológico, um nível sociológico e, por fim, um nível pessoal e subliminar, que ‘joga’ com as nuances sutis da psiquê humana. Este aspecto é o mais preocupante.
Ao longo de seu caminho como pesquisador de Ufologia, Jacques Vallée acabou criando alguns atritos com aqueles que não admitem questionamentos ao fenômeno. Em suas palavras, “eu tive que discutir com vários crentes em UFOs, pois não estou pronto para pular para qualquer conclusão que seja necessariamente extraterrestre.Nós não somos suficientemente espertos para saber o que eles são. Eu certamente lembro o suficiente de meu treinamento como astrônomo para lhe dizer que o universo é grande o bastante para ter outras formas de vida que não as nossas, mas até momento não podemos provar isso de forma objetiva”.
E seus problemas com parte da comunidade ufológica não param por aí. Ele também se antagonizou com uma porção de pessoas por pensar que o modo como são manuseadas as abduções é incorreto — não apenas errado cientificamente, mas também moral e eticamente. “Tenho pedido às pessoas que não se deixem hipnotizar. Penso que um monte de gente nos talk shows está criando falsos abduzidos sob hipnose. Eles estão hipnotizando todo mundo que tenha tido alguma experiência estranha e dizendo que foram levados por ETs. Estão fazendo isto com boas intenções, mas não têm ideia do que estão criando. No meu modo de pensar, isto é antiético”.
Satélites retrógrados
Como o senhor começou a se interessar por Ufologia?
Foi querendo fazer astronomia, mas arruinei uma carreira perfeita na área porque fiquei interessado em computadores. Isso foi na França, nos tempos iniciais dos cursos de computação das universidades de lá. Meu primeiro trabalho foi no Observatório de Paris, monitorando satélites — comecei seguindo objetos que descobri que não eram satélites e então decidi prestar atenção neles, mesmo não estando no escopo dos satélites normais. Uma noite tivemos 11 pontos de dados de um destes artefatos. Ele era muito brilhante e tinha trajetória irregular, retrógrada. Naquela época não tínhamos ainda um foguete poderoso o suficiente para lançar satélites retrógrados.
O que é um satélite retrógrado?
É aquele que vai em sentido contrário à rotação terrestre, quando obviamente senecessita compensar a gravidade do planeta dirigindo-se na outra direção. É preciso alcançar a velocidade de escape na direção oposta à rotação da Terra e isso requer muito mais energia do que um lançamento feito na mesma direção de sua rotação.
Obrigado. E o que houve depois desse interessante episódio?
O responsável pelo projeto, meu chefe, confiscou a fita com os registros e a apagou na manhã seguinte. E foi justamente isso que me deixou interessado. Na hora eu pensei: “É por isso que os cientistas não se interessam pelos UFOs, pois os astrônomos nunca reportam nada não usual nos céus por não terem as provas”. Efetivamente, eu estava na mesma posição em que muitos cientistas estão hoje em dia.Você confia em seus colegas e por não ver nenhum relatório de testemunhas técnicas com credibilidade, assume que aquilo não é nada. E lá estava eu com um relatório técnico — não sabia o que tinha sido aquilo, se era ou não um disco voador, pois, afinal, ele não pousou próximo ao observatório — e, em vez de olharmos para os dados e preservá-los, nós os destruímos.
O senhor sabe por que ele destruiu a gravação do incidente?
Justamente por medo do ridículo. Naquela época, todos os dados de satélites estavam concentrados nos Estados Unidos e ele pensou que os norte-americanos iriam rir de nós se lhes enviássemos aqueles dados. E estávamos trocando informações com instituições internacionais. Meu chefe não queria que o Observatório de Paris parecesse tolo por reportar algo que não conseguia identificar nos céus. Isso aconteceu em 1961. Depois eu descobri que outros observatórios fizeram exatamente a mesma observação e que os norte-americanos, monitorando outras estações, tinham fotografado a mesma coisa e também não conseguiram identificá-la. Era um objeto de primeira magnitude, tão brilhante quanto a estrela Sírius. Ele não reapareceu nas semanas seguintes.
Seria um registro muito importante, se tivesse sobrevivido à destruição…
Para mim, o fato de destruirmos o registro foi mais importante do que o que nós vimos. E reabriu a questão fundamental: o que os cientistas estão observando e não estão falando a respeito? Então eu comecei a juntar uma pequena rede deles, que ainda permanece ativa, e descobrir que havia uma porção de dados que nunca foram publicados — as melhores informações nunca são publicadas. Eu penso que uma boa parte dos mal-entendidos a respeito dos UFOs entre os cientistas é devido ao fato de que eles nunca têm acesso aos melhores dados.
E por que tais melhores dados nunca são publicados?
Eu falo com um monte de gente de companhias técnicas, nas quais os executivos conhecem meus interesses, e tenho um monte de relatórios com o selo de confidencialidade recebidos de pessoas de áreas de ciências, e todos me dizem que têm visto “coisas” que não sabem o que são. Há alguns anos, um vice-presidente da IBM me puxou de lado após uma conferência e disse: “Você é o mesmo Jacques Vallée interessado em UFOs?” E aí ele descreveu um encontro clássico perfeito com um disco voadorque ele e a sua família tiveram no estado de Nova York. Também conheci o presidente de uma companhia no Vale do Silício que me contou suas experiências — ele tinha sido um graduado oficial da Marinha no comando de um grande navio e tivera três casos ufológicos, dois deles quando em serviço em uma posição muito importante e uma vez quando era piloto de testes. Ele nunca reportou nenhum dos encontros, mesmo quando ele era piloto.
Não devemos nos surpreender depois que a humanidade começou uma nova fase de exploração sistemática do espaço. Mas é sobre o Fenômeno UFO que seria necessário perguntar, já que ele mostra ser diverso, adaptável e imprevisível.
E como o senhor reagiu?
Eu perguntei: “Você não era obrigado a reportar tal incidente a seus superiores?” Ele me respondeu: “Talvez eu fosse, mas se eles tivessem a mínima dúvida do que você está vendo lá em cima, seria considerado louco e eles não o deixariam se aproximar de um avião experimental nunca mais”. E continuou: “Se você é um piloto, o que quer é voar e não ficar os próximos meses preenchendo formulários para um bando de psiquiatras”. Qualquer piloto lhe dirá a mesma coisa. E esses são os casos nos quais estou interessado — episódios que não foram reportados pela imprensa, que não foram distorcidos. Quando tenho tempo, eu sigo um desses acontecimentos com meus próprios recursos, basicamente por curiosidade e sem ideias preconcebidas.
Como o senhor vê a Ufologia e a atividade dos ufólogos nos próximos 20 anos? O que permanecerá igual e o que mudará?
Não devemos nos surpreender assistindo a um ressurgimento de eventos depois que a humanidade começou uma nova fase de exploração sistemática do espaço. Mas é sobre o próprio fenômeno que seria necessário perguntar, já que ele mostra ser diverso, adaptável e imprevisível. As inteligências por trás dele também demonstraram que estão fundamentalmente interessadas em nossos progressos tecnológicos e protótipos.
Qual o pensador, intelectual ou pesquisador que o senhor mais admira e por quais razões?
Você talvez tenha notado, lendo meu livro Forbidden Science [Ciência Proibida, Marlowe & Company, 1996], que encontrei em Aimée Michel [Psicólogo e filósofo francês, criador da teoria da ortotenia] uma grande fonte de inspiração, um espírito notável pela força de sua visão e pela profunda humanidade de seu intelecto. O fato de esse pensador ter sido ignorado e mesmo desprezado por certas mentes francesas não é uma honra para o nosso país. Por outro lado, o pequeno grupo que o conhecia teve um grande privilégio. Para Michel, os UFOs eram um mistério entre outros. Ele era um pensador verdadeiramente universal.
Contribuição científica
Em sua opinião, qual é, atualmente, a disciplina científica que seria a melhor para aproveitar os conhecimentos adquiridos pela Ufologia?
Penso em duas áreas cujas aplicações são essenciais: primeiro a informática, com o data mining [Coletas de dados], e a medicina, que nunca foi seriamente convocada para estudar os efeitos de longo prazo das testemunhas de contatos próximos. Além dessas, sem dúvida, a física deve intervir observando os UFOs como um “teorema da existência”, para compreender sua realidade física em um sentido mais amplo.
O senhor crê que a consciência humana e os UFOs estão relacionados? Qual seria o papel dela nas manifestações dos UFOs?
Durante muito tempo temos visto os UFOs como naves espaciais clássicas, conforme o modelo da ficção científica dos anos 40 e 50. Essa interpretação resiste ao tempo, principalmente na França, onde os recentes avanços da parapsicologia são pouco conhecidos e se consideram os efeitos físicos descritos pelas testemunhas como casos de debilidade mental ou sequelas eletromagnéticas secundárias e acidentais. Entretanto, à medida que conseguimos melhor documentação, descobrimos que os aspectos físicos do fenômeno são tão discutíveis quanto seus efeitos psíquicos — tudo acontece como se a fenomenologia ufológica tomasse o controle de uma área, incluindo as percepções das testemunhas. Essa é a constatação que havia desencorajado Aimée Michel.
Em sua opinião e segundo sua experiência, os governos — em especial o dos Estados Unidos — ainda escondem do público informações sobre os UFOs?
Essa pergunta tem dois níveis de respostas: primeiro, os governos em geral — e não somente o dos Estados Unidos —, guardam para si as informações que julgam ser as mais sensíveis, em particular aquelas que vêm dos militares. Tudo parece mostrar que depois de 1947 essa política foi implantada no interesse da população e com a esperança de descobrir rapidamente avanços tecnológicos. Em segundo lugar, a questão mais difícil é saber se esses avanços tecnológicos têm ocorrido. Em minha opinião, o fenômeno tem resistido a todas as análises, secretas ou não. A questão da abertura dos arquivos vai surgir novamente. Não é simples compreender o Fenômeno UFO, assim como não é simples desmontar um Mig ou fazer uma cópia secreta de uma nave espacial.
Quais conselhos o senhor daria à comunidade ufológica?
Não acho que teria conselhos pessoais a dar. Mas, se poderia dar um, acho que é evidente que não faremos verdadeiros progressos em um clima de disputas entre pesquisadores. Assim, seria bom evitar acusações paranoicas uns contra os outros, ou dos ufólogos contra os governos, que desencorajam a adesão de verdadeiros estudiosos. O fenômeno é acessível localmente, então a possibilidade de estudos de campo e de troca rápida de informações é uma grande probabilidade de avanço. Isto seria mais útil do que ruminar sobre segredos inacessíveis dentro das gavetas dos governos.
Quais são seus arrependimentos em sua trajetória na Ufologia?
Por vezes me pergunto se as coisas teriam tomado um rumo diferente se eu tivesse acompanhado J. Allen Hynek a Detroit durante o caso ufológico que ele taxou como sendo “gás do pântano”, causando a ira da imprensa. Aquela era a maior oportunidade de expor a questão sobre a realidade do fenômeno diante do grande público norte-americano e a comunidade científica. Juntos, e com os conselhos de Bill Powers, pudemos depois apresentar uma visão séria e urgente do problema, que tinha sido compreendida pelos meios de comunicação. Mas, se eu olhar para trás, está claro para mim que profissionalmente perdi meu tempo quando voltei para a França, no final de 1967. Deveria me arrepender? Não, pois eu não poderia ter escrito o livro Passport to Magonia [1969] em outra cidade que não fosse Paris. E ainda não teria vivido o Movimento de Maio de 1968 no local exato [Maio de 1968 foi uma agitação que surgiu na França na forma de greves e manifestações de rua que incluíram todas as classes da população. Para alguns, é considerado como o maior movimento de massas do século XX].
Uma vez o senhor disse a Aimée Michel o seguinte: “Você não vê que uma tecnologia que pode criar distorções locais de espaço poderia não se limitar apenas a produzir UFOs, mas todo o tipo de outros fenômenos, que pareceriam milagrosos?” E eu pergunto ao senhor: além de UFOs, o que poderia nos falar sobre os tais fenômenos milagrosos resultantes dessa supertecnologia que “eles” têm?
Esses fenômenos estão por toda a literatura sob inúmeras formas, como a de depoimentos sobre poltergeists, descritos no livro de Azour Tizané, Sur la Piste de l’Homme Inconnu [Na Trilha do Homem Desconhecido, Amiot Doumnt Editors, 1951], ou por exemplo, nas famosas deformações de metais feitas pela força do pensamento, relatadas por laboratórios soviéticos ou pelo Instituto de Pesquisa de Stanford, nos Estados Unidos, e também na França, pelo pesquisador metalúrgico Frank Crussard. Igualmente, o princípio da não localidade permite os fenômenos de radiestesia descritos pelo grande físico francês Yves Rocard em suas experiências na Escola Superior, como havia assinalado o relativista Oliver de Beauregard. É lamentável que se tenha ocultado sistematicamente esse campo de pesquisas por razões ideológicas — mas se era pouco explorado nos anos 70, agora é o centro das grandes questões físicas atuais.
Acho evidente que não faremos progressos em um clima de disputas entre pesquisadores. Assim, seria bom evitar acusações paranoicas uns contra os outros, ou dos ufólogos contra os governos, que desencorajam a adesão de estudiosos sérios.
As publicações feitas por pessoas que pertencem à corrente esotérica do hermetismo, como Aleister Crowley, Facius Cardan, John Dee e outros, que o senhor constantemente cita, influenciaram suas pesquisas a ponto de levá-lo à hipótese que chama de “sistema de controle”?
Certamente. Antes do desenvolvimento da ciência como nós a conhecemos, muitos pesquisadores sozinhos ou membros de pequenos grupos começaram a questionar as mesmas questões que nós. O pai de Facius Cardan era um grande matemático, John Dee era um estudioso que contribuiu para a ciência da navegação, os outros eram químicos, alquimistas ou astrólogos. Eles se perguntavam se existia um equilíbrio geral do mundo que daria um sentido à vida humana e aos fenômenos que nos rodeiam.
Mas o que, exatamente, é isso que o senhor chama de “sistema de controle” e o que tem a ver com seres extraterrestres?
O sistema de controle a que me refiro é algo subliminar ocorrendo em todos os níveis de nossa vida, que vem moldando a sociedade humana ao longo de milhares de anos, criando uma espécie de interface com a consciência da realidade. Sua relação com seres extraterrestres está em que me parece óbvio que uma inteligência alienígena pode direcionar sutilmente o curso do desenvolvimento humano em direção a algo desconhecido — isso pode ser mais poderoso do que imaginamos, porque é como se tais inteligências quisessem transformar a espécie humana em um projeto delas.
É possível que o citado sistema de controle regule os eventos, transformando-os radicalmente? Isso significaria que os UFOs seriam mais discretos e dariam lugar a um novo tipo de folclore, com as mesmas variáveis?
Se olharmos a história do fenômeno ao longo de vários séculos, o que podemos fazer agora graças às pesquisas de Chris Aubeck [Autor, em conjunto com Vallée, do livro Wonders in the Sky (Maravilhas no Céu, Tarcher Editors, 2010)] e seu ativo grupo na internet, é que se detectam constantes mudanças simultâneas na aparência da fenomenologia ufológica, suas evoluções e efeitos físicos. É possível perceber, também, alterações na aparência dele, que sugerem que está um pouco à frente das ideias tecnológicas da época. Os norte-americanos do século XIX viram os dirigíveis algumas décadas antes da construção de um veículo do tipo, por exemplo. Como isso é possível? Após a Segunda Guerra Mundial já apareciam os discos voadores com pequenas e absurdas antenas, como nas revistas em quadrinhos. Seria uma característica do sistema de controle ou simplesmente um efeito da predisposição de uma sociedade que projeta sua imaginação sobre a trama de um fenômeno misterioso, que permanece sem explicação? Estou inclinado sobre a última hipótese: um novo tipo de folclore com as mesmas variáveis.
Substâncias alucinógenas
Em um de seus livros notam-se suas reticências em relação a certas técnicas de meditação induzidas por meio da ingestão de substâncias. Uma nova corrente de ufólogos esteve na Amazônia e sugeriu a eficácia dos métodos utilizados pelos xamãs, consumindo a ayahuasca para atingir outros planos de realidade. Eles são chamados de “técnicos da consciência”. O que o senhor pensa sobre isso?
Em termos de pesquisa, essas explorações são úteis e valiosas, pois a ciência atual levanta a questão sobre a natureza da realidade tanto na visão da física como na fisiológica. Encontrei recentemente Terence McKenna, escritor e historiador norte-americano que se dedicou ao estudo de substâncias psicotrópicas usadas por xamãs, e conversamos sobre a convergência das nossas hipóteses sobre o citado “sistema de controle”, a que me referi. Minha linha de pesquisa pessoal passa por ajustes sistemáticos dos dados, com uma calibração das ferramentas de investigação, que não é possível quando são levadas por visões de drogas como a ayahuasca. Vivendo na Califórnia desde 1969, vi todas as experiências a partir desses métodos, que saem das selvas da América do Sul ou dos laboratórios farmacêuticos. Compreendo sua utilidade para forçar certas estruturas do cérebro a revelar sua função na construção da realidade, mas eu não vi nada que seja novo e confiável para o meu próprio trabalho.
O senhor sempre disse que há um componente bem terrestre no Fenômeno UFO. Gostaria de saber se tem feito, nestes últimos anos, novas descobertas sobre esse aspecto da questão.
Somos confrontados com esse feitio do fenômeno quando fazemos investigação de campo — é como se o fenômeno ufológico fosse capaz de manipular seu entorno, incluindo o ambiente humano, para ocultar sua verdadeira natureza. No meu ponto de vista, as estruturas de camuflagem utilizam elementos terrestres e não se tratam apenas de um encobrimento burocrático, como ingenuamente se acreditava durante longo tempo.
A física e a cosmologia deste início do século XXI estão em crise e procuram novos modelos para representar o universo, como os multiversos, os universos multidimensionais, as dobras de espaço-tempo etc. O senhor está atento a esse assunto e ele, de alguma maneira, alimenta sua reflexão sobre a origem dos UFOs?
Tenho acompanhado de perto esses trabalhos, primeiro em astrofísica, na Universidade do Texas, que tem um dos principais centros de pesquisa cosmológica, e depois no Instituto de Pesquisas de Stanford. O resultado está no meu livro Autres Dimensions [Outras Dimensões, Robert Laffont, 1999], uma vez que os UFOs nos oferecem, entre outras possibilidades, a oportunidade de se questionar sobre a estrutura do universo. Recentemente fiz uma conferência sobre física da informação em uma reunião em Bruxelas sobre os 60 próximos anos, um período que irá colocar esses trabalhos no centro das questões globais.
O senhor também tem realizado investigações nos últimos anos sobre criptozoologia, nos Estados Unidos. O que pode nos falar sobre isso?
Esse é um assunto que há muito tempo havia deixado de lado, primeiro porque não sou especializado em biologia ou zoologia, e segundo, sobretudo, porque o tema me parecia independente das observações que eu estudava. Mas me vi forçado a rever essa posição depois que vários testemunhos relacionaram o fenômeno criptozoológico com observações bem documentadas de UFOs. Em 2012 e 2013 fiz várias viagens pelo estado norte-americano de Utah com o professor Frank Salisbury, eminente biólogo que trabalhou na NASA com botânica em microgravidade. Nós percorremos a cadeia montanhosa do Condado de Uintah e mais tarde a bacia semidesértica que se estende de Vernal até Fort Duchesne, para encontrar testemunhas desses eventos, que eram fazendeiros, industriais e policiais.
O que o senhor encontrou ao lado de Salisbury?
Em geral, descobrimos testemunhas que não foram citadas pela imprensa até então, e por isso era indispensável o trabalho de investigação de campo para encontrar aquelas pessoas e as escutar. As viagens me fizeram ver que a observação de criaturas anômalas, muitas vezes míticas e inacreditáveis — como, por exemplo, o pé grande — devia ser levada a sério. Como os leitores talvez saibam, observações similares têm sido registradas na França.
“Esquema de reforço”
Em seus livros o senhor propõe a hipótese de que as manifestações do Fenômeno UFO poderiam corresponder a um programa de aprendizagem destinado à humanidade. O que pode nos falar sobre isso?
Essa hipótese vem de compilações computadorizadas realizadas ao longo dos anos 60 e 70, levando a uma curva de frequência do fenômeno que lembra um programa de aprendizagem, que Frederic Skinner [Psicólogo norte-americano, pioneiro nos trabalhos de psicologia experimental] chamava isso de “esquema de reforço”. Segundo ele, tal programa leva a um aprendizado irreversível. Ele é dificilmente detectável, a menos que se recompile uma longa série de observações. Aliás, estudos militares, como o Projeto Livro Azul, da Força Aérea Norte-Americana (USAF), e análises acadêmicas, como as do professor Edward Condon, da Universidade do Colorado, sempre trataram os casos individualmente, sem perspectiva global, o que evidentemente mascara um programa desse tipo, se ele existir. A ideia muitas vezes banalizada nas declarações das agências governamentais, segundo as quais os UFOs não representam uma ameaça, nunca levou em conta a estrutura da evolução global do fenômeno. Para confirmar ou invalidar essa hipótese é preciso retomar os dados recentes e atualizar os casos antigos, para expandir o estudo por um período mais longo.
Em uma conferência em Montreal, no Canadá, o senhor citou obras de artes do passado nas quais figuram eventuais representações de UFOs. Falou especialmente de um quadro de Michelangelo representando um triângulo negro, que o pintor teria observado. Pode nos dar as referências dessa obra de Michelangelo?
A referência é o livro do cronista beneditino Benedetto Lushino, Vulnera Diligentis [Segundo livro, capítulo XXII], que escreve que Michelangelo vira um “sinal triangular” em uma noite tranquila — ele era luminoso e tinha três caudas, uma de cor prateada, a segunda vermelha e a terceira “inflamada e bifurcada”, em suas palavras.A observação se deu em Roma, em 1513. Michelangelo ficou tão impressionado a ponto de fazer uma pintura, que, infelizmente, não sobreviveu ao tempo.
Sendo específico em Ufologia, o Caso Cergy-Pontoise, que o senhor investigou, ficou famoso em 1979. Qual é a realidade escondida nesta complicada história?
Penso frequentemente nesse caso. Ele me afeta pessoalmente porque, diferentemente da maioria das investigações que um pesquisador é chamado a fazer, esse me leva a um campo muito familiar: como o suposto protagonista Franck Fontaine, eu também fui aluno da escola comunal do Parc-aux-Charrettes, em Pontoise.E assim como Fontaine e seus companheiros, que teriam sido envolvidos na alegada abdução, eu conheço bem a Planície de Cergy.E mais: Gérard Deforge, que teve Fontaine como aluno, é um amigo. Eu também encontrei Fontaine com as outras duas testemunhas em Pontoise, na casa de Marceau Sicaud, que havia estudado todo o dossiê do caso.
O ‘sistema de controle’ a que me refiro é algo subliminar ocorrendo em todos os níveis de nossa vida, que vem moldando a sociedade humana ao longo de milhares de anos, criando uma espécie de interface com a consciência da realidade.
Poderia descrever rapidamente o Caso Cergy-Pontoise para nossos leitores brasileiros?
Sim. O episódio aconteceu na cidade francesa de Cergy-Pontoise e teria envolvido a abdução de um homem de dentro de seu carro, no fim da madrugada de 26 de novembro de 1979, diante de colegas. O suposto abduzido reapareceu alguns dias depois em um campo próximo à cidade. Os investigadores encontraram diversas incoerências e inconsistências nos relatos dos observadores, terminando por abandonar o caso. As três testemunhas do fato explicaram que elas se preparavam para partir para uma cidade vizinha quando perceberam uma luz sobre a estrada. Um dos rapazes, então, seguiu de carro em direção à estranha luz, que subitamente teria envolvido o veículo em uma nuvem logo que se aproximou. Quando a fumaça se dissipou, a luz desapareceu — e o homem também, apesar de seu carro ter permanecido intacto.
Fala-se de abdução, fraude, montagem do serviço secreto francês e de outras hipóteses para explicar o episódio? O que o senhor acha?
Hoje ainda hesito entre a tese de fraude e a de operação psicológica. A personalidade de Franck Fontaine, personagem que teria desaparecido, e suas dúvidas sobre a experiência me intrigam — não tenho a impressão de que ele mentiu. Por outro lado, sabemos que as experiências sociológicas não são raras nos quadros da guerra psicológica. Em Cergy-Pontoise, várias evidências que poderiam indicar uma manipulação não foram investigadas pelos pesquisadores. Por quê? Sem dúvidas, o Groupement d’Étude et d’Informations sur les Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés (Grupo de Estudos e de Informações sobre Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados, Geipan) tinha razão para não estar mais envolvido no assunto, uma vez descartada a hipótese de uma abdução verdadeira.
Os chamados contatados, como George Adamski e Eugênio Siragusa, têm um testemunho ufológico de credibilidade, em sua opinião? Alguns pensam que são farsantes…
Se nos ativermos à realidade científica, parece claro que estamos diante de fraudes no caso de Adamski ou de abusos psicológicos [Delírios, fugas, parafrenia], entre outros, no caso de Siragusa. Mas o impacto dessas histórias é mais profundo do que uma simples fraude — uma farsa seria rapidamente eliminada uma vez conhecida a verdade. Veja, por exemplo, as famosas observações Gulf Breeze — aquela série de fotos de UFOs tiradas em supostos avistamentos no estado da Flórida, pelo construtor Ed Walters, que se comprovou serem falsas — ou o caso de Edward “Billy” Meier, na Suíça, que a Ufologia felizmente esqueceu. São fraudes emblemáticas e que corroeram a credibilidade da Ufologia.
São fraudes emblemáticas e que corroeram a credibilidade da Ufologia.
Exato. Sobre isso, Carl Jung não se enganou quando tratou do impacto cultural e psicológico dos relatos de contatos dos anos 50, quando chamou atenção para a presença de arquétipos poderosos. Por exemplo, os contatados foram os primeiros a lançar o alerta da poluição perigosa do planeta, 20 anos antes dos ecologistas — e este é um ponto que os visitantes cósmicos insistiam frequentemente. Mais recentemente, o professor Jeff Kripal, que é presidente do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade Rice, retomou esta análise em termos da evolução dos conceitos religiosos no mundo moderno. Nesta ótica, o fato de que as novas crenças sejam baseadas em fatos não verificáveis ou falsos não tem nenhuma importância. Jesus Cristo realmente fez a água virar vinho?
Diz-se que durante a Segunda Guerra Mundial os cientistas alemães teriam desenvolvido máquinas com asas circulares, chamadas Vrils e Hanebus. O que o senhor sabe sobre isso?
Essas pesquisas estão bem estabelecidas e foram encontrados alguns dos protótipos — eu mesmo vi um em um laboratório no Texas. Do ponto de vista aeronáutico, é lógico tentar desenvolver esse tipo de máquina. Até o fim da Primeira Guerra Mundial, as empresas Avro, no Canadá, e Couzinet, na França, tentaram construir um disco voador que funcionasse. Os norte-americanos retomaram estas pesquisas tentando reencontrar os irmãos Horten. Na França, a Sociedade Nacional de Construção Aeronáutica do Sudoeste contratou Thomas Townsend Brown, cofundador do grupo ufológico National Investigations Committee On Aerial Phenomena (NICAP), em 1955, para realizar trabalhos de eletrogravidade. Mais perto de nós há o doutor William Moller, da Califórnia, que encontrei em Sacramento e que me mostrou seus protótipos de discos voadores — ele mantém a esperança de fazer voar um desses aparelhos para o grande público e nesse momento está procurando financiamento para isso.
A que servem estes protótipos? Por que não funcionam?
Vendo retrospectivamente, compreendemos agora porque aqueles aparelhos eram instáveis — quando eles sobem acima da área de efeito, como um aerobarco — e, sobretudo, difíceis de usar com uma carga significativa ou com vários passageiros, pois o peso aumenta ao cubo em relação ao diâmetro e o centro de gravidade do aparelho, que é muito perto de seu centro de sustentação. Que eu saiba, os únicos veículos circulares capazes de levar um ou dois homens são os utilizados pelos militares em baixa altitude para operações de comando, especialmente em terreno pantanoso. E eles não giram sobre si mesmo, como os protótipos alemães. Não há mais mistérios sobre esse assunto.
Sociedades secretas iniciáticas
Qual é a ligação que o senhor faz entre a Ufologia e as sociedades secretas iniciáticas?
Se elas são guardiãs de uma tradição verdadeira, estão abertas à ideia de formas de consciência não humanas. Em obras de Paracelso, a quem a medicina deve importantes ideias e soluções práticas, encontramos uma série de descrições de seres que se supõem viverem em realidades paralelas à nossa. As coleções de tratados esotéricos contêm informações históricas preciosas, junto com especulações que a ciência moderna tem invalidado ou superado. Por outro lado, quando se olha a história recente dessas seitas, se encontra também uma conexão mais sinistra entre seus dirigentes e os serviços que eles utilizam para fins políticos ou para a facilitação de certas influências. Autores bem informados têm esclarecido essas relações com certas estruturas maçônicas na África. Sem mencionar, de novo, a Seita do Templo Solar, na qual as iniciações compreendem um contato com seres que se dizem extraterrestres, simulados com métodos de ilusionistas.
Qual é sua opinião a respeito da evolução atual da física quântica? Estaríamos próximos de descobertas que permitirão explicar certos fenômenos ligados aos UFOs?
A questão é legítima, uma vez que pesquisas sérias sobre o funcionamento da consciência estão diante do mesmo questionamento. A partir do princípio de não localidade, devemos nos perguntar se o pensamento se transmite instantaneamente, em vez de por ondas eletromagnéticas, como nas pesquisas soviéticas do período de 1930 a 1940, ou os trabalhos de cientistas franceses e ingleses do início do último século com o chamado “rádio mental”. Assim, seria possível entrar em contato com outras formas de consciência e com seres capazes de se movimentar no espaço, que poderiam nos influenciar a distância, ou mesmo nos iludir com cenas imaginárias? Porém, me parece que em seu entusiasmo certos pesquisadores colocam a expressão mecânica quântica em todos os assuntos. Como os mecanismos do funcionamento das partículas continuam sendo um mistério, esses pesquisadores podem explicar muitos fenômenos de forma abusiva. Estou mais interessado em novas ideias sobre a física da informação, como disse antes. Se o espaço-tempo é um efeito secundário de nossa consciência e uma ilusão física, então o problema dos fenômenos relacionados aos UFOs surge de uma maneira muito mais fundamental.
Voltando ao “sistema de controle”, por que ele se refere essencialmente aos UFOs e aos personagens associados a eles? Esta manipulação do espaço-tempo, que o senhor cita, não poderia se materializar na vida cotidiana, na rua, em casa?
Desde logo se pode imaginar um sistema de controle capaz de trocar gradualmente nossa realidade física e social e a substituir por outra coisa. Este é um mecanismo que o escritor argentino Jorge Luis Borges descreveu em seu magistral conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius [Publicado no Jornal Sur, 1940].
A ideia muitas vezes banalizada nas declarações das agências governamentais, segundo as quais os discos voadores não representam uma ameaça, nunca levou em conta a estrutura da evolução global do fenômeno.
O senhor poderia mencionar os principais autores e pesquisadores que atualmente compartilham sua corrente de pensamento?
Em primeiro lugar, o citado Jeff Kripal, seus estudantes e os participantes de seus simpósios sobre o assunto no Instituto Esalen. Suas ideias convergem com aquelas de Jean Sider, na França, com as de vários físicos dos Estados Unidos e de pesquisadores como Philippe Guillemant, do Centro Nacional de Pesquisa Científica francês. Existem também vários grupos no Vale do Silício que trabalham com a ideia da casualidade inversa e desafiam a ciência convencional — acredito que esse trabalho deve ser feito antes, para que façamos perguntas sobre os UFOs com uma base verdadeiramente científica. De fato, eu resumiria o problema da seguinte maneira: o Fenômeno UFO existe realmente? Nessa base, só nos resta a renegociação do que entendemos por realidade.
O que pode nos dizer sobre John A. Keel, o jornalista e autor norte-americano que pesquisou fenômenos estranhos e Ufologia, além do Caso Point Pleasant? O episódio é verdadeiro para o senhor?
Keel não era um cientista e nem pretendia ser. Duvidaram dele justamente porque suas fontes não eram verificáveis. Em minha opinião, ele era muito rápido e se deixava levar pelas impressões do momento. No entanto, passou muito tempo realizando investigação de campo, foi o primeiro a reconhecer que as verdadeiras testemunhas eram uma maioria invisível e que os militares tinham um programa sistemático de interferência nas observações. Ele também questionou a hipótese extraterrestre em primeiro grau, notadamente no seu livro Disneyland of the Gods [Disneylândia dos Deuses, Illuminet Press, 1995]. Sobre o Caso Point Pleasant não posso fazer comentários, pois não interroguei as testemunhas. Mas eu confio em Keel quando ele descreve a destruição de uma ponte, tal como foi prevista por mensagens supostamente paranormais, e que ele deduziu que o fenômeno às vezes se diverte às nossas custas.
Poderia descrever sucintamente o Caso Point Pleasant?
Sim. O episódio refere-se ao fenômeno do aparecimento regular, na localidade, de uma criatura chamada de Homem-Mariposa, que as pessoas relatavam com uma grande criatura alada que anunciava tragédias — os fatos estariam relacionados ao avistamento de UFOs. Uma das mensagens anunciadas era a queda da tal ponte, que de fato ocorreu em 1967 e acarretou a morte de 46 pessoas na cidade de Point Pleasant.
E o que pode nos dizer do Caso das Luzes de Phoenix, no estado do Arizona, e sobre quedas de UFOs que deixam detritos materiais?
São duas questões muito diferentes. O Caso das Luzes de Phoenix mostra os limites de nossos sistemas de observação, uma vez que temos muitas testemunhas, um registro em vídeo e não chegamos a encontrar a natureza do fenômeno. Não tenho nenhum elemento adicional que poderia resolver essa questão, mas repare que o episódio não é único: ele coincide com numerosas observações inexplicáveis de grandes conjuntos de objetos — ou de luzes associadas a um grande artefato — nos Estados Unidos e em outros lugares. Já os citados detritos de materiais existem e eles não vêm, necessariamente, de supostas ou reais quedas de UFO. Tenho publicado análises de várias amostras que me foram confiadas após a observação de um objeto em baixa altitude que ejetava uma espécie de metal líquido, e os resultados foram esclarecedores. O Santo Graal da Ufologia poderia ser o fragmento de uma engrenagem quebrada de um disco voador, mas nossos laboratórios não estão equipados para analisá-lo. Seria como dar a Leonardo da Vinci um desses controles remotos que se utiliza para abrir uma garagem a distância.
Para finalizar, o senhor escreveu o prefácio do livro Perigo Alienígena no Brasil [Código LIV-014 da Biblioteca UFO], de Bob Pratt. O senhor ouviu falar de algum novo caso perturbador nos últimos anos?
Não vou ao Brasil desde os anos 80, mas continuo a receber informações confirmando o que Bob Pratt descreveu no seu livro e também o que as testemunhas me contaram nos locais que visitei, incluindo os oficiais da Aeronáutica, como o coronel Uyrangê Hollanda. O Brasil é um país riquíssimo em ocorrências ufológicas [Esta entrevista foi feita em 2014. Jacques Vallée esteve no Brasil, sem avisar ninguém, em julho deste ano].
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