Um laboratório científico radicado na Costa Rica testou durante mais de três horas ininterruptas um motor de plasma, um avanço para uma eventual viagem tripulada a Marte, informou nesta quarta-feira um de seus responsáveis. O motor foi ligado no mês passado no laboratório Ad Astra Rocket e conseguiu se manter estável por mais de três horas, com temperaturas em torno dos 50 mil graus Celsius, disse o diretor da Ad Astra Costa Rica, Ronald Chang. A Ad Astra Rocket, empresa do astronauta costarriquenho Franklin Chang, funciona na localidade de Libéria, 250 Km ao norte da capital da Costa Rica. Após esta experiência, está previsto em dezembro próximo que o motor de plasma seja testado em uma câmara a vácuo na Ad Astra Houston, para em seguida iniciar a construção de um motor que sirva para mover satélites e estabilizar estações espaciais com um custo mínimo em comparação com os atuais.
O objetivo é que, dentro de alguns anos, será possível lançar uma nave tripulada para Marte, aonde, com um motor deste tipo, chegaria em menos de 40 dias. Com os sistemas de propulsão atuais, além do alto custo econômico da missão, o trajeto levaria dois anos. “Conseguimos melhorar substancialmente o que tínhamos alcançado em dezembro”, disse Ronald Chang, irmão do astronauta. Em dezembro passado, os cientistas chefiados por Chang conseguiram manter um disparo de plasma durante dois minutos, marcando o início da construção de um motor. Chang destacou a capacidade do laboratório e dos cientistas costarriquenhos em manter durante várias horas o disparo estável do plasma. A Ad Astra estimou que, em dezembro próximo, será possível disparar o protótipo do motor numa câmara de vácuo nos Estados Unidos, e se tiver sucesso, construiria um motor para testá-lo na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) em 2009 ou 2010.
Os foguetes baseados em produtos químicos queimam o combustível e os gases são expelidos para trás em grandes quantidades. Isto provoca uma aceleração muito forte, mas em poucos minutos são consumidas toneladas de combustível. Os motores de plasma, ao contrário, expulsam apenas alguns íons [átomos privados de um elétron e com carga elétrica], mas a mais de 55 mil Km/h. A velocidade superior de saída compensa, em parte, a minúscula massa de material ejetado, o que aumenta a eficiência. No entanto, o motor de plasma tem uma aceleração muito pequena, a ponto de torná-lo inútil para decolar de um planeta. Ao contrário, é ideal para uma viagem interplanetária, a partir da órbita de um corpo celeste e onde já não exista a fricção atmosférica. Segundo os cientistas, o motor de plasma é composto de três células magnéticas: uma fonte de plasma, um “superalimentador” que utiliza ondas eletromagnéticas e uma denominada tubeira magnética. “A fonte de plasma é constituída da injeção principal de gás neutro [tipicamente hidrogênio ou outros gases leves] para ser transformada em plasma e no sistema de ionização”, informou a Ad Astra.
Depois, o “superalimentador” utiliza ondas eletromagnéticas para energizar ainda mais o plasma e atingir a temperatura desejada, e a “tubeira magnética” transforma, finalmente, a energia do plasma em impulso. Franklin Chang, de 57 anos, é engenheiro mecânico e doutor em engenharia nuclear. Durante sua estadia na Nasa como astronauta, ele fez sete viagens espaciais. Ele deixou a agência espacial americana em 2005 para se dedicar ao sonho de desenvolver o motor de plasma. A viagem a Marte é planejada há vários anos. Mas, “ela poderá ser realizada em 20 anos, não é para o futuro imediato”, contemporizou Ronald Chang.