Em 20 de julho último a NASA comemorou um de seus maiores sucessos: o pouso do módulo Viking 1 em Marte em 1976. A Viking 2 repetiu a façanha em 3 de setembro, compondo a primeira missão bem-sucedida a pousar em outro planeta. Cada nave era composta de um módulo orbital e outro de pouso, e foram lançadas por foguetes Titan III-E em 20 de agosto e 9 de setembro de 1975. Em dezembro de 1971, por sinal, a sonda soviética Marte 3 conseguiu pousar em Marte, porém o contato foi perdido 20 segundos após o pouso. Na chegada a Marte os módulos das Viking eram separados, e o lander era desacelerado pela fricção com a atmosfera. Em seguida os para-quedas se abriam e o escudo de calor era descartado, antes de retrofoguetes garantirem um pouso seguro.
Viking 1 pousou na planície de Chryse, ao passo que a Viking 2 desceu na planície Utopia. Os planos eram de cada missão durar ao menos 3 meses, porém os módulos orbital e de pouso da Viking 2 operaram até julho de 1978 e abril de 1980, e os da outra nave até agosto de 1980, ao passo que o módulo de pouso funcionou até novembro de 1982. O Projeto Viking revolucionou nosso entendimento sobre Marte e os dois orbitadores estudaram vulcões extintos no planeta, além de formações geológicas produzidas pela presença de água líquida. Além disso, detectaram vapor de água na atmosfera e encontraram indícios de que o colossal Vallis Marineris foi produzido por mudanças tectônicas na crosta de Marte.
Foram os dois landers, entretanto, que conseguiram a maior quantidade de informações. Abastecidos por geradores nucleares, obtiveram milhares de fotos panorâmicas dos dois locais de pouso, realizaram observações climáticas e chegaram a detectar inclusive martemotos, similares aos terremotos que temos aqui. A Viking 2 chegou a captar um tremor de magnitude 3, mas o sismômetro da Viking 1 apresentou defeito, e a origem do fenômeno não pôde ser determinada. Graças aos braços mecânicos das naves as primeiras escavações no Planeta Vermelho foram realizadas e a composição do solo, similar a de areia terrestre molhada, pôde ser apurada. Mas o grande destaque foi mesmo a procura por vida alienígena, na primeira e até o momento única vez em que isso foi tentado em outro mundo.
RESULTADOS INCONCLUSIVOS PARA PRESENÇA DE VIDA DISCUTIDOS ATÉ HOJE
Cada lander das Viking levava três experimentos. Uma de trocas gasosas para verificar metabolismo nas amostras de solo, outro de detecção de compostos orgânicos decompostos, e o terceiro para identificar síntese de matéria orgânica. Conforme o saudoso Carl Sagan escreveu no capítulo “Toadas para um Planeta Vermelho” de sua obra-prima Cosmos, “os resultados têm sido torturantes, perturbadores, provocativos, estimulantes, e pelo menos até pouco tempo, substancialmente inconclusivos”. Essa foi a conclusão oficial da NASA, depois atribuindo os resultados parte à química exótica do solo marciano, parte à contaminação terrestre presente na sonda. Um estudo de 2006 ainda apontou que o equipamento dos landers não era sensível o suficiente para detectar compostos orgânicos de carbono.
Mais dados instigantes foram descobertos pela nave Phoenix em 2008, a primeira a pousar no polo norte de Marte e a primeira a realmente tocar a água que existe no planeta. Essa missão descobriu a presença de perclorato, composto contendo cloro. No experimento da Viking que aqueceu amostras de solo foram encontrados compostos com cloro, atribuídos à contaminação. Contudo, sabe-se que organismos terrestres consomem perclorato produzindo clorometado e diclorometano, os compostos detectados pelas Viking. E em 2010 uma equipe de cientistas, incluindo Chris McKay, do Centro de Pesquisa Ames da NASA, visitou o Deserto do Atacama, no Chile. Eles adicionaram perclorato às amostras de solo e analisando-as pelos mesmos processos utilizados pelas Viking encontraram precisamente os mesmos compostos que as duas naves detectaram em 1976. O próprio Carl Sagan afirmava que como Marte não tem proteção de uma camada de ozônio, qualquer organismo teria que se proteger, talvez vivendo pouco abaixo da superfície. Os resultados impressionantes das Viking, 40 anos depois, ainda são motivo de um profundo debate na comunidade científica, sobre como analisar as evidências para responder à questão da vida em Marte.
Visite o site da NASA sobre os 40 anos das Viking
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