Desde que a Terra começou a enviar equipamentos não tripulados ao espaço, no início dos anos 60, uma parafernália metálica e eletrônica passou a sondar os mundos vizinhos. Hoje, mais de quarenta anos após o envio das primeiras sondas para além da Terra, podemos vislumbrar detalhes incríveis dos anéis de Saturno em belíssimas cores reais. Tudo isso, graças à bem-aventurada Missão Cassini-Huygens, fruto de uma parceria entre a Agência Espacial Americana (NASA) e seu Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) com a Agência Espacial Européia (ESA) e a Agência Espacial Italiana (ASI).
As associações internacionais entre agências espaciais para a pesquisa e exploração espacial tendem a gerar futuros projetos, visto a adesão de países asiáticos como a China e o Japão que também começam a investir neste campo. Atualmente, podemos vislumbrar até detalhes microscópicos das rochas e do solo de Marte e ainda, observar, como que in loco, suas insólitas paisagens, mostradas nas imagens geradas pelos robôs da Missão Mars Spirit Rover (NASA/JPL); além, é claro, de observar de perto os tão polêmicos “Canais de Marte”, esclarecidos agora como leitos secos de antigos rios marcianos, segundo imagens geradas pelo módulo Mars Explorer (ESA) que se encontra em órbita marciana.
DADOS – Todos esses equipamentos utilizados nas missões foram frutos das mais intensas pesquisas científicas ao longo de vários anos. Fracassos e sucessos em projetos passados vieram gerar revolucionárias tecnologias, muitas das quais, desenvolvidas exclusivamente para aplicação nestes veículos espaciais. Através da tecnologia científica de ponta desenvolvida estamos assistindo, quase que ao vivo, à exploração do Sistema Solar. Após o envio dessas dezenas de sondas por nações diversas nas últimas décadas, o homem constatou diversos aspectos físicos e químicos, alguns inimagináveis, componentes destes globos – que de certa forma, interagem com o nosso, no mais, pelo simples fato de orbitar uma estrela em comum.
MERCURY MESSENGER – O mês de agosto de 2004 entrará para a história da exploração espacial, após o lançamento do módulo orbitador Messenger (Mercury Surface, Space Environment, Geochemistry, and Ranging) pela NASA e JPL. O avançado módulo – também denominado “Mercury Messenger” (Mensageiro de Mercúrio) – sondará o planeta mais quente do Sistema Solar e foi lançado ao espaço pelo foguete Delta 2 da NASA, no dia 03 (com 24h de atraso, devido a fatores climáticos desfavoráveis), da base de lançamento norte-americana no Cabo Canaveral, Flórida. Este lançamento representa, dentro da ciência, um segundo e demorado passo rumo à exploração de Mercúrio, visto que há cerca de 30 anos fora lançada também pela NASA a sonda Mariner 10, que navegou pouco tempo pelas plagas do diminuto globo, porém o suficiente para enviar informações básicas sobre sua peculiar natureza.
A VIAGEM – Serão quase cinco anos de viagem até que o Messenger atinja a região orbital de Mercúrio. A missão do Mensageiro será realizar levantamentos diversos acerca do ambiente planetário, além de estudos dos ventos solares e suas influências na Terra e nos outros planetas. Todo o projeto estrutural e o sistema de propulsão do Messenger ficaram a cargo do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, que coordenou todos os testes laboratoriais para a NASA. Uma intensa bateria de testes foi realizada com o intuito de verificar a força estrutural do equipamento, para que o mesmo não venha sofrer nenhum tipo de dano físico-estrutural causado pela alta temperatura e as fortes radiações solares. Para tanto, o veículo terá em torno de si um escudo térmico protetor (incluindo material cerâmico de última tecnologia em sua composição) elaborado pela empresa norte-americana GenCorp Aerojet.
EQUIPAMENTOS DE BORDO – O Messenger carrega consigo sete sensores básicos, que transmitirão à Terra todos os dados da missão, permitindo também o monitoramento total do veículo. A missão passará também por Vênus em 2006, devendo enviar nesta ocasião dados acerca do planeta. O módulo deverá sobrevoar as regiões de Mercúrio em 2007 e 2008, transmitindo dados e imagens que vão compor o mapeamento total da superfície de Mercúrio. Somente em 2009 é que o Messenger entrará definitivamente em órbita de Mercúrio, quando irá compor a primeira cartografia global do mesmo, além da leitura da composição química e física do planeta. Através de seus sensores analíticos, serão levantados dados sobre a natureza geográfica, magnetosfera, atmosfera e ainda, estudos sobre a possibilidade de haver água na região polar norte de Mercúrio.
SUPERFÍCIE ACIDENTADA – Mercúrio foi observado por telescópios terrestres na década de 70 e passou a ser analisado por radar no início da década de 90. Nessas observações, bem como naquelas feitas pela Mariner 10, foi revelada uma superfície altamente irregular, fraturada por marcas de enormes crateras (muito semelhantes às da nossa Lua), tendo algumas das quais, mais de 1000 km de diâmetro. Uma particularidade das causas destas fraturas superficiais se dá, sobretudo, pelo impacto intensificado da poeira cósmica e de meteoritos contra o corpo planetário. Em Mercúrio este fenômeno se dá de forma bem mais violenta, rápida e intensa que na maioria dos outros astros, devido à influência da forte gravidade do Sol em suas imediações. A temperatura na superfície planetária, quando esta recebe a luz solar, é da ordem de 500ºC. Sabe-se que seu núcleo é enorme (comparado aos núcleos dos outros planetas do sistema) e formado por alguma espécie de metal sólido, tornando-o adverso aos demais planetas conhecidos.
DIGITALIZAÇÃO – Recentemente, algumas das imagens de Mercúrio geradas em três cores pela Mariner 10 na década de 70, receberam tratamento digital. Isso possibilitou maior qualidade a estas imagens e a revelação de novos detalhes, impossíveis de serem observados mais precisamente nos originais, gerados de forma analógica. A técnica de digitalização vem possibilitar um ganho evidente na qualidade final dessas imagens geradas mecanicamente e enviadas pelo espaço através de sinais, a partir dessas sondas. Tais imagens podem ser consideradas ultrapassadas tecnicamente, se hoje comparadas às mais recentes feitas pelos robôs Spirit e Opportunity em Marte, por exemplo. O valor maior dessas fotos feitas por telescópio ou por radar está em mostrar à época, alguns detalhes de Mercúrio que instigaria um estudo maior por parte dos cientistas.
BEPI COLOMBO – A Agencia Espacial Européia (ESA), em parceria com a Agência Espacial Japonesa (ISAS),
desenvolvem paralelamente ao Messenger um vigoroso projeto de exploração a Mercúrio, através do módulo Bepi Colombo, que executará de 2008 a 2013 diversos levantamentos acerca da natureza de Mercúrio. Os cientistas envolvidos nessas duas missões internacionais estão empolgados com o avanço das explorações espaciais e o surgimento das novas parcerias. Ficou estabelecido entre os envolvidos na exploração de Mercúrio que haverá compartilhamento total de informações técnicas e dados colhidos em ambas missões, visando assim um maior aproveitamento dos estudos acerca do diminuto astro solar. Pensamos que, certamente, estamos a presenciar uma época a qual precederá àquela em que o homem viajará pelo espaço dentro de arrojados veículos, consciente das grandes e incontestáveis leis cósmicas.