O fenômeno da abdução e do contato direto com seres extraterrestres não se restringe a regiões do planeta, grupos étnicos determinados, faixas etárias, profissões específicas ou a seguidores desta ou daquela religião. Ele ocorre com pessoas de todos os países, idades, tradições, raças e classes sociais. E justamente por ser tão pulverizado surpreende o fato de encontrarmos tantas semelhanças nos depoimentos das testemunhas. Embora cada caso seja único em suas particularidades, há semelhanças incríveis quando comparamos os métodos adotados pelos abdutores.
Obviamente o leitor pode argumentar que isso se dá por contaminação da mídia ou porque os abduzidos, após uma experiência incomum, tendam a buscar informações dentro da Ufologia, terminando por incorporar inconscientemente aquilo que leram às suas experiências pessoais. Mas o que dizer das testemunhas que não conhecem o assunto e nem acreditam em UFOs ou extraterrestres em nosso planeta? Como podemos explicar que tanto pessoas que moram em regiões isoladas quanto moradores de grandes cidades descrevam praticamente a mesma coisa quando contam suas experiências?
E há outro fator importante nesses casos, que é a distribuição temporal dos relatos. Quando comparamos testemunhas de abdução das décadas de 50, 60 e 70, quando as comunicações eram muito difíceis, vemos que seus relatos já eram coincidentes desde aquela época — se isso não comprova a realidade do fenômeno, ao menos é um fator a corroborá-lo. Um dos aspectos mais comuns relatados por abduzidos é conhecido dentro da Ufologia como memória de tela ou memória visual. Neste artigo vamos dar uma breve explicação do que são, como se relacionam com o contato e também fornecer alguns exemplos de casos que analisamos em nossas pesquisas.
Memórias de tela
A definição formal de memória de tela diz que ela é “a memória de algo que é inconscientemente usado para reprimir a lembrança de um evento registrado e que é angustiante para o indivíduo”. Ou seja, significa que em certas circunstâncias é possível ao cérebro camuflar ou mascarar uma memória do passado, de modo que a pessoa, ao pensar no que lhe aconteceu, não se recorde exatamente dos fatos — e isso é particularmente comum em episódios de abduções alienígenas e de contatos diretos com seres extraterrestres. Na verdade, isso tende a acontecer em incidentes em que o indivíduo sofreu grandes traumas, que podem vir também de acidentes, episódios violentos ou extremamente agressivos ao conjunto das crenças da pessoa.
A memória de tela serve como um escudo que protege o indivíduo contra o trauma. A memória original dos fatos não é totalmente perdida, mas enterrada no cérebro e é difícil resgatá-la. Em certas ocasiões, a memória de tela será recordada com maior clareza do que o normal, mesmo que tenha acontecido muitos anos atrás. Isto pode ser observado pelo indivíduo e parece extremamente incomum para ele. É amplamente conhecido que o famoso neurologista austríaco Sigmund Freud era fascinado pelo assunto, tanto que foi ele quem cunhou o termo oficialmente. Freud escreveu pela primeira vez sobre o tema em um artigo divulgado pela imprensa em 1899. Nele, o pesquisador definiu as características das memórias de tela e citou um exemplo que ele mesmo havia experimentado em sua vida. Desde então, muitos outros psicanalistas têm mostrado interesse no assunto. Mas como as memórias da tela se relacionam aos casos de contato?
Foi o falecido e altamente respeitado investigador de sequestros por alienígenas Budd Hopkins o primeiro a notar que muitos dos abduzidos regularmente descreviam o que pareciam ser memórias de tela ao descreverem suas experiências — e que elas pareciam estar sendo usadas para mascarar a aparência dos próprios seres, o aspecto de sua nave e, às vezes, toda a experiência de abdução. É importante notar que nem todos os casos de sequestros e contatos apresentam esse tipo de falseamento de memórias, mas naqueles em que está presente, a memória de tela pode ser quebrada por meio de uma discussão detalhada sobre o incidente ou pela aplicação de sessões de hipnose regressiva.
Rompendo a falsa memória
A regressão hipnótica é um assunto controverso e muitas pessoas acreditam que as informações trazidas por meio dela podem envolver falsas memórias. Este autor já participou de muitas regressões e em certas circunstâncias ela é um método extremamente válido de investigação. A regressão é um dos únicos métodos de recuperação de detalhes adicionais testados em experiências de contato, especialmente naquelas que envolvem períodos de lapso de tempo. Se o indivíduo tem uma lembrança consciente de sua experiência e ela envolve uma memória de tela, muitas vezes sob hipnose ele será capaz de romper a falsa memória e descrever o que realmente ocorreu.
Tem-se observado também que temas similares para memórias de tela surgem regularmente. Se for o mascaramento da aparência real dos seres, elas podem levar a uma variedade de formas. Muitas vezes, em vez de seres extraterrestres operando instrumentos no interior de uma nave, o abduzido relata ver um animal que interage com ele ou que age de forma estranha — e os animais mais comuns relatados incluem corujas, lobos e veados, embora outros tenham sido descritos. Em alguns casos, os animais se comportam de uma forma que trai a sua aparência exterior.
Memória de tela é ‘a memória de algo que é inconscientemente usado para reprimir a lembrança de um evento registrado e que é angustiante para o indivíduo’. Em certas circunstâncias é possível ao cérebro camuflar ou mascarar uma memória do passado
Um dos primeiros casos detalhados de abdução alienígena que eu investiguei envolvendo uma memória de tela foi um acontecimento na cidade de Bletchley, perto de Milton Keynes, no município de Buckinghamshire, na Inglaterra. A testemunha que foi o foco principal da atividade de contato teve em uma noite o que inicialmente lhe pareceu um sonho estranho e muito vívido. No sonho, ela acordava durante a noite depois de sentir algo mexer em suas pernas. Ela, então, saía da cama e descia as escadas, sem realmente saber por que estava fazendo aquilo.
Ainda durante seu sonho, na
sala de casa a testemunha encontrava seu cão de estimação. No entanto, a cena estava longe de ser normal. Em primeiro lugar, havia dois cães no sonho e ele só tinha um. Em segundo lugar, os dois estavam de pé nas patas traseiras, eretos como seres humanos. E, por fim, estavam sorrindo para ele. Isso foi tudo o que ele conseguia se lembrar — ele não se recordava de voltar para sua cama no andar superior nem nada mais. Mais tarde, quando a testemunha passou por uma regressão hipnótica, disse ver dois seres grays [Cinzas] de pé na sala de sua residência. Os grays, como todos sabem, são o tipo mais comum de ETs relatados nas experiências de contato.
Conversas telepáticas
Em outro caso, acontecido na cidade de Erdington, em Birmingham, uma senhora lembrou-se de muitos incidentes em sua infância nos quais ela via, na frente de um celeiro, uma coruja olhando fixa e diretamente para ela. Essa visão lhe vinha constantemente à mente durante a noite, enquanto estava deitada na cama. A testemunha tinha uma forte sensação de familiaridade com aquela coruja, mas não tinha ideia de por quê. Em outro episódio completamente independente, um homem se lembrava de que desde sua infância tinha conversas telepáticas com uma coruja que vinha e pousava em uma árvore do lado de fora da janela de seu quarto. Como se vê nestes exemplos, não é realmente surpreendente que as corujas sejam uma das formas mais comumente relatadas quando consideramos a aparência desses pássaros e de seus grandes olhos arregalados.
Animais, porém, não são a única forma que os extraterrestres podem adquirir em memórias de tela — às vezes há seres bem humanos nas experiências dos abduzidos, mas que na verdade não são. Em alguns casos, assim como acontecia com o homem de Bletchley que via seu cão de estimação, a memória de tela mostrará alguém bem conhecido para o indivíduo, como, por exemplo, um membro da família ou um amigo próximo. Em outras vezes será algo familiar para a testemunha, como um médico, um palhaço ou alguém muito bem vestido. Um bom exemplo de memória de tela com seres humanos vem de um evento investigado na Carolina do Norte, Estados Unidos. O caso envolveu dois abduzidos, uma mulher e seu irmão mais velho. Ela se lembrava de um incidente que ocorreu quando tinha apenas cinco anos de idade e vivia em Minneapolis, em Minnesota.
A mulher se recordava de ter sido acordada por seu irmão durante a noite para ver dois homens que estavam em pé no quarto — eles eram magros e muito mais baixos do que adultos normais, com aproximadamente 1,20 m de altura. No entanto, estavam vestidos de ternos pretos e chapéus baixos, vestimenta típica da década de 50. Não foi possível ver os rostos dos supostos homens devido à sombra de seus chapéus. No lado de fora do quintal as testemunhas podiam ver uma nave prateada em forma de disco, que os irmãos interpretaram como um “carro voador”. Os estranhos na sala de sua casa então lhes perguntaram se queriam dar um passeio em seu veículo.
Depois disso, os detalhes dos quais ela conseguiu se recordar estavam fragmentados, mas parece que a mulher e seu irmão foram abduzidos. Esse caso tem, obviamente, algumas interessantes ligações com incidentes envolvendo os infames homens de preto — ou MIBs, do inglês men in black. No evento acima os contatados podiam ver a maior parte das figuras, mas seus rostos estavam cobertos por sombras, aparentemente devido aos chapéus que estavam usando. No entanto, existem outros casos em que não há nenhuma razão para que as testemunhas não consigam ver os detalhes faciais dos seres, como que “apagados” de suas recordações.
Naves escondidas
Já em outras ocorrências lembradas por vítimas de abduções, os abdutores aparecem totalmente encobertos por sombras. Isto pode, às vezes, ser explicado pela pouca iluminação noturna disponível — mas em alguns casos os seres estavam perto o suficiente para que as testemunhas captassem alguns detalhes, mesmo que fossem apenas silhuetas. Esses relatos poderiam indicar evidências de memórias de tela, embora seja importante lembrar ao leitor que é possível ver vultos no quarto durante as experiências de paralisia do sono. Enquanto em muitos casos as memórias de tela aparecem apenas para mascarar a aparência dos seres, há outros nos quais o formato da nave ou toda a experiência de abdução parece ter sido mascarada.
Simon Parkes é um abduzido do município de Yorkshire, na Inglaterra, cujo caso eu investiguei antes da testemunha torná-lo público. Em uma de suas experiências de infância, Parkes se lembrava de ter visto um avião biplano vermelho enquanto brincava com seus amigos. A aeronave parecia completamente fora de lugar na época e o rapaz não se lembrava de seus amigos o terem visto ou feito quaisquer comentários a respeito — ela parecia ter alguns artefatos estranhos que pareciam blocos nas asas. Mais tarde, quando Parkes começou a investigar suas experiências, esta memória de tela desapareceu e ele se lembrou de ter visto uma nave prateada em forma de gota, em lugar do biplano.
Em outro episódio fascinante, a senhora envolvida primeiramente se lembrou de um incidente que ocorreu quando estava na escola primária. Segundo se lembrava a testemunha, ela vira um helicóptero pousar no playground e o piloto sair dele. Ela, então, aproximou-se do homem, que estava usando um capacete com uma viseira preta e um macacão de voo e a convidou a embarcar. Ela aceitou o convite e o homem a levou para um voo no helicóptero, depois deixando-a no mesmo local. A senhora percebeu que esta memória parecia extremamente sem lógica. Muitos anos depois ela decidiu passar por uma regressão hipnótica e explorar o incidente de sua infância — e sob hipnose descreveu uma nave em forma de pires pousada à sua frente, e o piloto era, na verdade, um gray que a levou a bordo.
O que está acontecendo?
Estes são apenas dois exemplos, mas há muitos outros, nem sempre envolvendo objetos voadores. Às vezes o abduzido se lembra de ver um veículo parado, como um caminhão ou automóvel de reparos de emergência. Experiências desse tipo geralmente envolvem um período de lapso temporal, sensação de tempo perdido [Missing time] ou memórias fragmentadas de uma abdução ou visitação. Então, o que poderia estar acontecendo com este aspecto do fenômeno de abdução alienígena? Por que memórias de tela prevalecem tanto nas experiências relatadas?
Alguns pesquisadores do assunto teorizaram que o contato é tão perturbador que o cérebro cria uma memória de tela para mascarar o que aconteceu e reduzir a possibilidade de um trauma surgir posteriormente causado pelo evento. Enquanto isto é certamente possível em alguns casos nos quais ocorreu uma abdução envolvendo interação direta, há muitos outros que não parecem se encaixar na explicação. Às vezes mem&oac
ute;rias de tela podem ocorrer apenas com a observação de um UFO, sem uma abdução — e convenhamos que é muito pouco provável que um avistamento seja tão terrível que o cérebro precise criar uma falsa memória para esconder o incidente. Além disso, existem muitos exemplos de eventos envolvendo várias testemunhas que vivenciaram a mesma memória de tela. Nestes casos, se a memória foi criada pelo cérebro, então não se pode esperar que elas sejam iguais para todos, mas que sejam específicas para cada indivíduo.
O fato de as memórias de tela serem muitas vezes relacionadas a algo familiar ou de importância para o indivíduo sugere que em pelo menos alguns casos os ETs são capazes de pesquisar a mente das testemunhas e assumir uma forma que lhes seja amigável
Depois de investigar muitas ocorrências de abdução e contato direto com seres extraterrestres, juntamente com outros ufólogos, percebo que estas memórias de tela são implantadas de propósito pelos próprios extraterrestres. Como eles fazem isso não está claro, mas parecem ser capazes de fazê-lo sem qualquer interação direta. Os seres geralmente se comunicam com os contatados por telepatia, e então é possível que implantem as memórias usando alguma forma de controle mental. O fato de que as memórias de tela sejam muitas vezes relacionadas a algo familiar ou de importância para o indivíduo — por exemplo, um membro da família ou animal de estimação — sugere que em pelo menos alguns casos os ETs são capazes de pesquisar a mente das testemunhas e assumir uma forma que lhes seja compreensível e amigável.
A pergunta que resta é: por que fazem isso? A memória de tela seria implantada para evitar traumas às testemunhas, de forma que, quando se lembrarem dos fatos, elas os verão menos terríveis do que realmente foram? Esta pode muito bem ser a razão e poderia explicar também porque apenas alguns abduzidos experimentam memórias de tela enquanto outros veem os seres ou a nave na sua forma real. Talvez os abdutores tomem a decisão de implantar a memória com base em como eles percebem que o indivíduo vá lidar com a situação no futuro.
Outra possibilidade é a de que a memória de tela seja implantada para que o indivíduo pense que nada fora do comum aconteceu, uma vez que a interação desses seres com nossa espécie é feita de forma secreta. Seguindo este raciocínio, não é difícil concluir que eles implantem uma memória de tela para esconder o fato de que o contato ocorreu e impedir a pessoa de falar sobre o incidente — se elas não sabem que observaram um UFO ou que foram levadas a bordo, então podem continuar sua vida normalmente e nunca mencionar os acontecimentos. No entanto, se esta é a razão do procedimento, então por que as memórias de tela nem sempre são parte da experiência? Enfim, existem muitas perguntas sem resposta relacionadas a esse aspecto das abduções, e é por isso que ele merece uma investigação constante.