Em seu vasto território, o Estado de Minas Gerais tem sido palco de diversas manifestações desconhecidas, geralmente canalizadas pelas populações para o âmbito religioso ou folclórico prevalecente nas respectivas regiões em que se dão. Constam inúmeros locais no território mineiro onde se narram aparições de seres fantásticos como as misteriosas senhoras mensageiras, as medonhas assombrações, a enigmática Mãe D’Ouro e a aterrorizante Mulher de Branco, entre outras. De posse do controle cultural, sobretudo nos lugarejos mais isolados do Brasil, a Igreja Católica tem tomado frente ante os casos de aparições marianas, vindo a impor sua versão explicativa dos fatos, vista por detrás das lentes de seus dogmas e demais conceitos pré-estabelecidos. O efeito disso causou o aumento da fé junto às populações, despertando a devoção ao culto mariano em países de todos os continentes.
O Caso da Maria Santíssima, avistada em Piedade das Gerais, na região centro-oeste de Minas, não foge à regra dos demais e sugere em diversos de seus aspectos uma íntima correlação contextual com todos os demais fatos ocorridos no mundo, desde Fátima, em Portugal (1917), a Medjugorje, na Iugoslávia (1981). A partir dos acontecimentos na cidade portuguesa, que culminou no episódio chamado de Milagre do Sol [Veja matéria completa nesta edição], presenciado por mais de 70 mil pessoas, as posteriores manifestações dessa natureza pareceram se padronizar e passaram a se enquadrar dentro de um mesmo clichê.
Na década de 80, o pequeno município mineiro de Piedade das Gerais tinha como principal protagonista dos contatos Marilda Cleonice de Santana, na época com 12 anos. O caso se configura a partir dos avistamentos conduzidos pela menina, que levou algumas pessoas a afirmarem a observação da santa juntamente com um menino pequeno nos braços, sendo descritas suas feições físicas e alguns de seus gestos. A jovem sensitiva tinha o dom de ver por inteiro a aparição e se comunicar com Nossa Senhora. Desde o primeiro avistamento, Marilda trazia em sua companhia algumas crianças de seu convívio, como as meninas Íris e Juliana, que ao seu lado teriam presenciado de alguma forma as ações da entidade durante as diversas aparições, porém, esses poderiam enxergar somente partes do corpo da santidade.
Após uma primeira e emocionada aparição onde, conforme a descrição de Marilda, a senhora trazia consigo uma criança pequena, o fenômeno se propagou na região atraindo a atenção dos moradores. No dia 03 de outubro de 1987, cerca de 300 pessoas se aglomeraram às 14h30 no local dos avistamentos, um descampado na zona rural, rente a uma cerca de arame. Ao avistar a imagem, invisível aos demais, a menina transmitia a ela perguntas das pessoas que se portavam, como que em catarse coletiva, cantando ladainhas e rezando o terço, a pedido da Virgem.
Anos de mensagens — E assim, por diversas datas futuras e cada vez mais atraindo multidões de pessoas, a Nossa Senhora de Piedade das Gerais voltou a aparecer até o último registro que consta do dia 04 de abril de 1989, no livro Maria Santíssima – Piedade dos Gerais. Contudo, ficou notório que a entidade voltou a aparecer em datas posteriores e aleatórias. Conforme cita o portal oficial das aparições de Piedade das Gerais [www.aparicoes.com.br], após 17 anos do primeiro contato, a mais recente mensagem canalizada estaria datada de 19 de setembro de 2004 e nela a santa teria dito: “Vocês cresceram espiritualmente e isso me dá uma alegria tão grande. Isso me faz compreender que esses dezessete anos da minha vinda aqui de corpo e alma não foram em vão, e nunca serão em vão, porque da mesma forma que o Sol hoje brilha, o divino Espírito Santo ilumina a nossa vida neste lugar”.
As mensagens, em suma de cunho acentuadamente humanitário, dissertavam acerca da igualdade entre os povos, do amor ao próximo, pregando a palavra de Jesus. No entanto, devemos considerar que o conteúdo desses recados – não somente no caso específico de Piedade das Gerais – vinha sempre vinculado aos princípios dogmáticos católicos como, por exemplo, ao fato da Nossa Senhora pedir que freqüentassem a missa, em um templo católico, que rezassem o terço e outras solicitações exclusivamente inerentes às diretrizes comportamentais do catolicismo. Temos visto há muito o poder eclesiástico formalizar e conduzir praticamente a totalidade dos casos de aparições das inexplicáveis figuras femininas, nas mais variadas regiões do globo terrestre.
Poderiam todas essas santas aparecidas pela Terra se tratarem de uma mesma entidade, que estaria a “usar” a figura de Maria para contatar o reino humano? Afinal, a mais confortável imagem que o desconhecido poderia apresentar para qualquer um, seria a da mãe do Cristo – no entanto, ressaltemos ao fato de que ninguém jamais soube como seria fisionomicamente, Maria, a mãe de Jesus. As semelhanças das aparições entre si em todo o mundo trazem peças básicas para se compor à personagem principal, que quase sempre aparece com véus sobre a cabeça, túnica ou mantos, trajando roupagem em cores claras, às vezes brilhantes, portando semblante benévolo, de olhar condolente, feição amena, transmitindo confiança, ternura e amor.
No Estado de Minas Gerais, assim como em tantas outras partes da Terra, aparições de ‘senhoras’ vistas como figuras religiosas são portadoras de paz às populações carentes
— Pepe Chaves
Contudo, em muitos desses casos, é praticamente impossível se assegurar a veracidade das ocorrências registradas, como também a integridade do conteúdo das ditas mensagens. Na maioria dos episódios, desde o acontecimento inicial que gerou o fato até onde se culmina sua propagação por outras partes do mundo, sempre houve um tráfego de interesses e desinformações, boatos, acréscimos, choque de crenças e duelos no que se refere às interpretações de tais acontecimentos quando, notadamente, vence aquele melhor fundamentado. O ganhador desse pleito ideológico passa a conscientizar então a unanimidade popular através de uma proposta – longe de ser a mais viável – que é justamente aquela que possa ser a mais confortavelmente aceita pelas populações locais.
Deve-se registrar o momento que diversos desses fenômenos se percebeu a precipitação de chuvas, nevoeiros, trovões, odores e outras anomalias climáticas. Em verdade, temos a pensar que grande parte das aparições marianas seja mesmo genuína e tais processos possam estar intrinsecamente ligados a uma potente força oculta, capaz de moldar para si a aparência e a situação a que melhor julgar para se apresentar diante dos homens da Terra.
Sem querer entrar nos méritos da fonte dos casos, porém distante das teorias católicas, gostaríamos de assinalar que temos visto serem levantadas nos últimos
tempos poucas e boas possibilidades de explicação para eventos dessa natureza, incluindo teorias e teoremas que buscam discernimento no quase inexplorado campo das “interdimensões”, dos universos paralelos, supra e subatômicos e demais recursos hoje reconhecidamente pertencentes aos campos da física quântica. É claro, não devemos descartar a possibilidade de que tais manifestações possam estar partindo de civilizações antiqüíssimas do nosso universo dimensional, possuindo portanto milênios de desenvolvimento à nossa dianteira, fato que lhes dariam poderes sobre-materiais e daí a virem nos impressionar com seus milagres, ilusões coletivas e outras anomalias extrafísicas. Todos esses efeitos físicos e extrafísicos exibidos nos casos marianos nos levam a pensar que, em verdade, tudo isso pode se tratar da mostra de uma refinada tecnologia desconhecida e, até então, incompreensível aos sentidos humanos – fadados a captarem apenas determinados fragmentos de sua inteira manifestação.