O histórico das aparições marianas pelo mundo dá conta de alguns notórios episódios envolvendo manifestações de natureza desconhecida e supra-humana. E falar desses fenômenos sem citar a considerável participação católica nos mesmos, seria omitir o credo que mais se identificou com tais ocorrências, quiçá, em algumas situações – como defendem os pesquisadores –, teria chegado a moldá-lo, ajustando-o à sua doutrina. Desde tempos imemoriais a humanidade registra alguns marcantes fatos que seres de ambos os sexos se materializaram ou surgiram do nada diante das pessoas. Muitas foram as tentativas de se explicar tais fenômenos. Contudo, não há até os dias atuais uma informação segura que nos dê garantias da natureza desses casos. Tampouco, se quisermos nos manter num caminho isento e com o mínimo de cientificismo, não podemos aceitar passivamente as colocações católicas – culto mais ligado ao discernimento destes fenômenos – que os entende simplesmente como uma manifestação de Maria, mãe de Jesus.
Após sua fundação e com o avançar dos séculos, eis que a Igreja Católica aparece como intermediadora oficial entre as manifestações marianas e as grandes massas. O clero se viu íntimo de tais acontecimentos, chegando até a prever a ocorrência de alguns, clamando pela descida à Terra da mãe do Cristo, em remissão aos pecados humanos. Destarte, a igreja viu por estas oportunidades razões para investir contra seus inimigos, tais como os comunistas ateus e, ainda, arrebanhar para seu curral ideológico novos cordeiros ressequidos de fé.
Como uma coluna vertebral dos principais fenômenos marianos que vieram a público, está a coordenação católica e toda uma condução dos fatos dessa natureza, tradicionalmente encaminhados pelo prisma de seu próprio discernimento. Na grande maioria dos casos, tenham eles ocorrido em pequenas cidades brasileiras ou no interior da Europa, fato que, generalizadamente, a igreja buscou a princípio calar as testemunhas perante o sociedade e os veículos de comunicação. Estabeleceu-se então, nesses episódios, por ordem papal, uma apreensiva política de silêncio a todos que interagiram com a luz de tais fenômenos. Seguindo-se a isso, uma versão original dos respectivos fatos era estrategicamente colocada pela igreja, consumando-se a questão e não permitindo o desenvolvimento de mais pesquisas junto às testemunhas das aparições – partissem elas de onde fosse.
Impacto cultural — Nossa Senhora, Gospa, Virgem, Madonna e Santa Mãe foram algumas das alcunhas da personagem que apareceu em distintos locais da Terra, tomando para si o nome das vilas, lugarejos e cidades em que surgiu diante dos homens. Os sensitivos envolvidos diretamente com essas aparições, chamados videntes, tiveram em praticamente todos os casos a rotina de suas vidas norteadas exclusivamente pela fé cristã católica. Muitas das mulheres que presenciaram o fenômeno não puderam se casar, sendo recolhidas em conventos e tornando-se irmãs de caridade. A igreja buscou para si e protegeu praticamente todas as testemunhas das manifestações marianas. Em troca disso, ofereceu ao resto do mundo a ocultação dos principais detalhes que poderiam vir à baila através de relatos provindos destas pessoas “escolhidas”.
Notar-se-á ao longo deste trabalho o quão forte foi o impacto dos fenômenos marianos nos mais distintos rincões terrestres. Lugarejos que receberam o nome das santas e Virgens que tomaram nomes de localidades, incluindo, ainda, uma verdadeira salada popular, cujos principais ingredientes foram a crença e a comoção efervescente. Através destas ocorrências fica patente o arrebatamento de fiéis em prol do catolicismo, como também o reforço da fé escassa junto ao povo católico. Capelas foram erguidas e as informações dando conta dos episódios percorreram léguas, cidades, nações e continentes. Prestes à sua abertura político-econômica, o Leste Europeu viria também provar das aparições marianas, através do notório caso ocorrido na década de 80, em Medjugorje.
Desde todas as Américas, passando pela Europa, Índia e até na Ásia, se registram manifestações desse tipo que vieram influenciar a crença popular nos moldes católicos. Outros lugarejos e cidades localizadas em países avessos àqueles onde ocorreram as aparições, prestando homenagens, tomariam para si os nomes das senhoras que estavam sendo vistas pelo mundo afora. No Brasil, criou-se a Capital da Fé, sediada em Aparecida do Norte (SP), após ser encontrada uma imagem de madeira sob as águas de um rio no século XVIII. Em diversas cidades do interior de Minas Gerais surgiram santas que nomearam lugarejos, bairros e cidades, além do que nomes de batismo seriam inspirados nas personagens videntes das aparições, como Bernadette, Lúcia, Jacinta e tantas outras, incluindo as filhas dos fiéis católicos – Fátima, Lourdes, Conceição e Aparecida.
Fenomenologia mariana — Apesar de todo o clima de religiosidade recaído sobre os casos de aparições marianas, acreditamos que fora isso estejam outros detalhes que nos permitem uma análise mais proveitosa de tais situações. Diversos pesquisadores de casos dessa natureza dão conta de que, fatalmente, inteligências superiores e desconhecidas estariam se manifestando abertamente ao promoverem fenômenos desconhecidos. Em grande parte das narrações se percebe a farta incidência de objetos e luzes no céu, interpretados por vezes como “acessórios divinos”. Em algumas mostras esses artefatos, geralmente em formatos circulares ou discóides, teriam sido confundidos com estrelas e astros celestiais, como o Sol. Por essas ocasiões as histórias dão conta de manobras espetaculares por parte desses objetos voadores, sendo que em grande parte dos avistamentos foram reportadas também a presença de luzes multicoloridas em movimento.
A idéia de que máquinas incompreensíveis e de tecnologia apurada estejam entrando em contato com nossa humanidade é muito antiga. Desde tempos antiqüíssimos temos ouvido casos que citam abertamente estes objetos avistados por diversos personagens bíblicos. Em tempos remotos, por muitas das vezes esses aparelhos ou veículos foram confundidos com criaturas vivas e assim descritos pelos profetas dos livros sagrados como deuses com mais de um rosto ou deformações em outros membros de seus corpos. Naqueles períodos não havia nada que se assemelhasse àqueles artefatos (ou seres) para que as testemunhas pudessem entender que o fato daquilo estar se movimentando não seria exatamente um ser vivo, mas, sim, um engenho construído inteligentemente, uma máquina. Porém, passados mais de 2005 anos do nascimento de Cristo,
nossa humanidade já criou um senso próprio que a permite deter capacidade de melhor discernir tais questões sem precisar se apegar à crendice ou às paixões – religiosas ou não – de nossos ancestrais. E, de nossa parte, procuramos ainda que limitadamente trilhar a senda do bom senso para melhor discernir as verdadeiras razões que acarretam tais fenômenos, espanando então a ignorância da rota na qual buscamos a verdade.
Em determinados casos marianos que veremos ao longo desta edição de UFO Especial, teremos a mais clara mostra de manifestações comumente conhecidas no mundo das pesquisas ufológicas. Consistem em termos de um vocabulário bastante conhecido pelos ufólogos, tais como: o avistamento de objetos periféricos em torno dos UFOs, esferas brancas no céu, “pétalas” caindo na terra, movimentação de luzes brancas intensas ou coloridas, flashes, alterações ambientais, ruídos, relâmpagos, roncos e trovões. Toda esta fenomenologia que até pouco tempo era associada somente aos casos envolvendo discos voadores ou UFOs, se mostra hoje perfeitamente encaixada dentro das chamadas aparições marianas.
Desde as vertiginosas ocorrências, comprovadamente originais, até algumas que tendem a se tratar de embuste ou fraude, estão elementos que devem ser estudados a fundo por seus pesquisadores com o intuito de se buscar a verdade dos fatos. O mistério do corpo de Bernadette, em Lourdes, na França, que não se decompõe, continuando belo e formoso desde sua morte, em 1879. A dança de um objeto no céu, chamado de “Sol”, assistida por mais de 70 mil testemunhas de Fátima. Os fenômenos vistos por multidões em Medjugorje e tantos outros que vêm mostrar de fato que uma inteligência superior – certamente fixada a um outro tempo, espaço ou dimensão, que não o nosso – parece nutrir o desejo de estabelecer algum tipo de contato com o nosso mundo, mas por alguma razão não se declara de forma aberta a todas as nações da Terra. Tal inteligência parece preferir buscar contato no mundo dos homens, através de aldeias pobres, junto às populações paupérrimas e às pessoas humildes. Quase sempre a santa aparece levando mensagens de encorajamento, fidelidade, harmonia, paz e ajuste moral a este povo.
Novas constatações — Devemos destacar que os casos mais contundentes das aparições marianas têm sido exaustivamente pesquisados por diversos laboratórios, universidades, cientistas e entidades autônomas em todo o mundo. Mesmo tendo alguns deles décadas ou séculos de suas ocorrências, ainda o são minuciosamente investigados nos dias atuais. Relatos descartados à época e diversos vestígios ignorados acerca de tais manifestações tratam-se de material valioso para pesquisas. E Portugal, terra matricial do Caso Fátima, ocorrido no início do século XX, colabora sobremaneira para com a positividade das análises nesse campo, através de seus patrícios, sendo eles, a doutora Fina d’Armada, o exímio historiador Joaquim Fernandes e o pesquisador Raul Berenguel, sendo os dois últimos integrantes da Rede Acadêmica Internacional e Multicultural de Pesquisa das Aparições, o Projeto Marian [Multicultural Apparitions Research International Academic Network]. Essa entidade pesquisadora dos fenômenos marianos não se prende às paixões religiosas, tampouco às crendices populares, mas também não descarta o contexto destas em suas investigações. Buscando novos elementos que venham esclarecer os incidentes, Fernandes afirmou em artigo publicado em UFO 106 que “…a avaliação que fazemos no contexto do Projeto Marian pretende ir além dessa dicotomia artificial. Não se rejeita o lugar da fé nem a importância da espiritualidade na vivência integral dos seres humanos”.
Assim, esta e as demais juntas de cientistas têm trazido à tona novos contextos e possibilidades para os fenômenos marianos e outros semelhantes, no qual se configuram o aparecimento de seres, objetos, luzes e efeitos atmosféricos desconhecidos. A busca de respostas nesses terrenos pantanosos, tendo como ferramenta as múltiplas disciplinas acadêmicas, tem mostrado frutos interessantíssimos. Vale citar como positiva a descoberta científica da ação de efeitos eletromagnéticos (EM), sobretudo dentro do espectro das microondas, contados em alguns locais onde se deram os fenômenos. Está comprovado que estes efeitos existiram em diversos casos de aparições, sendo que a radioatividade foi constada em níveis elevados em objetos, pessoas e no solo. Em alguns casos, tais efeitos ainda persistem, mesmo após passadas muitas décadas. Noutros foram comprovadas mortes de testemunhas, possivelmente pela ação nociva de exposição física aos efeitos EM.
Da nossa parte, também procuramos sair da chuva que escorre no molhado procurando evidenciar detalhes interessantes e esquecidos em segundo plano no campo das aparições. Acreditamos que o cerne de diversas questões reside nas entrelinhas das mesmas, visto que estas são comprovadamente tudo aquilo que não conseguimos entender de uma forma objetiva ou cartesiana. Desse modo, nossa proposta nesta edição mariana é trazer um pouco dos registros clássicos dessas ocorrências ao longo dos tempos, para, através do esforço e dos estudos das mesmas, imprimir nossas convicções em torno desses fenômenos. E mesmo que as possibilidades a isso indiquem, ainda não podemos assegurar que tais fenômenos se tratam, efetivamente, da ação de seres extraterrenos interagindo em nosso ambiente vital.
UFO Especial Mariana — E estar aqui, no posto de editor convidado, coordenando uma edição de UFO Especial, que enfoca as aparições marianas, é para mim uma árdua mas prazerosa tarefa. No mais, fico feliz por estar contando com o engajamento de diversas pessoas inteiradas desse assunto, sérias e parceiras de nossas buscas investigativas na Ufologia. Primeiramente, agradeço pelo desígnio dessa missão, sobretudo pela confiança depositada em minha capacidade coordenadora. Expresso sinceros agradecimentos ao editor da Revista UFO, amigo pessoal e incentivador, A. J. Gevaerd, aos co-editores Reginaldo de Athayde, Marco Petit e Claudeir Covo, além de todos os colegas do Conselho Editorial da publicação, espalhados pelo Território Brasileiro. É necessário dizer que sem a contribuição dos respectivos autores e demais colaboradores seria inviável a produção desta ediç
ão especial de UFO nestes moldes. A eles segue meu agradecimento fraterno, na certeza de juntos estarmos levando nossas modestas reflexões acerca dos mais clássicos casos de aparições marianas, além da explanação de outras ocorrências até então desconhecidas ou pouco conhecidas das grandes massas.
A soma do trabalho de cada uma dessas pessoas envolvidas nessa produção foi imprescindível para que pudéssemos apresentar um produto final com bom conteúdo, caimento, acabamento e, logicamente, dentro da proposta primordial da Revista UFO, que é a abordagem desse delicado assunto pelo prisma de uma Ufologia de vanguarda, mas sem deixar de citar, claro, as versões defendidas pela Igreja Católica acerca desses casos. Respeitosamente nossos autores vêm abordar a casuística mariana de uma forma original, chegando a propostas de novos discernimentos, após revisões meticulosas – científicas ou não – em determinados aspectos analíticos desses incidentes.
Assim, gostaria de expressar aqui meus agradecimentos à toda a equipe que esteve dedicada por diversas horas e dias à produção desta edição de UFO Especial. Meus sinceros elogios aos autores Analígia Santos Francisco, Cláudio Tsuyoshi Suenaga, Fábio Bettinassi, J. A. Fonseca e Paulo Rogério Poian, bem como aos ilustradores Ícaro Chaves, Al Crux e Fábio Vieira. O apoio do fotógrafo Luís Carlos Toledo e a modelo que nos cedeu sua beleza para algumas fotos, que curiosamente se chama Mariana Rezende. Estendo essa satisfação a todos que colaboraram cedendo imagens, aos grupos ufológicos e demais pessoas que pesquisaram alguns dos casos constantes nesta edição. Para encerrar este já extenso editorial – e evocando desde já o clima mariano para as próximas páginas – gostaria de registrar as seguintes impressões do poeta mineiro Fernando Brant na música de Milton Nascimento: “Maria, Maria, é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta. Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta. Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre, quem traz na pele essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida”.