No início dos anos 30, durante uma inspeção nos fundos do antigo palácio imperial de Topkapi, em Istambul, Turquia, descobriu-se um mapa antigo pintado sobre uma pele de gazela e esquecido em uma estante de madeira empoeirada. Logo se supôs que o mapa tivesse sido desenhado em 1513 por um almirante da frota otomana chamado Piri Reis, hoje já conhecido personagem que, ainda àquela época, não se tem ideia de como, fazia mapas precisos dos continentes da Terra a partir do céu, à grande altitude. Navegador de reconhecido prestígio em sua época, Reis publicou em 1521 o livro chamado Kitabi Bahriye, no qual descrevia palmo a palmo o Mar Egeu, desenhou com extraordinária precisão as costas atlânticas da África, da Antártida e da América do Sul sobre aquele pedaço de pele — e o fez coletando os dados necessários de um bom número de mapas antigos, cuja origem nunca foi esclarecida.
Apesar da extraordinária precisão geográfica da carta, quase três décadas se passaram até que um professor de história da ciência de New Hampshire, nos Estados Unidos, se interessasse por ele. Charles Hapgood, o professor em questão, rapidamente entregou uma cópia do mapa ao Esquadrão de Reconhecimento Técnico da Força Aérea Norte-Americana (USAF), encarregado da cartografia militar do país, com a intenção de comprovar a precisão de seus contornos. Em 06 de julho de 1960, o tenente-coronel Harold Z. Ohlmeyer relatou suas conclusões. Nelas, o militar admitia que a costa da Antártida representada no mapa teve, obrigatoriamente, que “ser cartografada antes que fosse coberta pela camada de gelo”. E complementou dizendo que, em nossos dias, “a camada de gelo desta região tem mais de um quilômetro de profundidade”.
Conclusões impressionantes
As afirmações de Ohlmeyer despertaram a curiosidade dos cientistas. Assim, Hapgood não demorou em calcular que as regiões antárticas cartografadas por Reis estiveram livres de gelo pela última vez há pelo menos 6.000 anos. Isso significa que o mapa foi desenhado vários séculos antes de, segundo a arqueologia ortodoxa, surgirem os primeiros vestígios da cultura egípcia no delta do Rio Nilo. Como isso seria possível? E levanta uma intrigante questão: até onde se sabe, se no ano 4000 a.C. não existia nenhuma civilização desenvolvida sobre o planeta, como pôde alguém mapear essas regiões tanto tempo atrás? E mais, eram ainda mais antigos os mapas em que se baseou Reis para confeccionar sua famosa carta marinha?
Para nossa sorte, o almirante Reis deixou bem claro que ele não inventou seu mapa, mas que se limitou a copiá-lo de vários outros registros cartográficos antigos aos quais teve acesso na Biblioteca Imperial de Constantinopla — segundo o professor Hapgood, muitos dos mapas guardados ali, no século XVI, haviam chegado até Constantinopla graças a marinheiros fenícios. “Temos evidências de que os fenícios consultaram e estudaram os mapas na Grande Biblioteca de Alexandria, no Egito, e que essas compilações foram feitas por geógrafos que trabalharam lá”, assegura Hapgood. Também não se pode perder de vista que, durante a Terceira Cruzada, os venezianos assaltaram Alexandria e muitos dos marinheiros daquele porto começaram a trabalhar com mapas de precisão a partir de 1204. Teria sido o conhecimento acumulado no Antigo Egito copiado por Piri Reis em seu mapa?
Imagens do espaço
Um pequeno detalhe, denunciado à exaustão pelo falecido cientista espacial francês Maurice Chatelain, que trabalhou no treinamento de astronautas na Agência Espacial Norte-Americana (NASA), tende a desafiar a tese acima. Segundo Chatelain, a deformação que as linhas costeiras apresentam no mapa de Piri Reis condiz com o fato de que a carta “representava uma projeção plana da superfície esférica da Terra, como poderia ser vista por um astronauta situado a uma grande altura sobre o Egito”. Efetivamente, uma foto de satélite tomada a 4.300 km acima do Cairo mostra exatamente a mesma deformação das linhas costeiras, o que permitiu que cientistas como Chatelain supusessem que o mapa de Reis fosse, na verdade, uma cópia de enésima geração de um mapa antiquíssimo feito bem acima da moderna cidade das pirâmides de Gizé.
Seja como for, a precisão do mapa de Reis não para por aí. O almirante turco localizou, em seu mapa, a longitude e a latitude corretas da América do Sul e da África, fato esse nada fácil se levarmos em consideração que até o século XVIII nossos marinheiros não podiam calcular com precisão as longitudes, por carecerem de cronômetros que oferecessem margens de erro de poucos segundos. Não obstante, se deve reconhecer que o almirante cometeu certos erros, como repetir duas vezes o curso do Rio Amazonas ou ignorar a existência do Rio Orinoco. Sobre o primeiro, o professor Hapgood desculpa Reis argumentando que, no lugar daquele rio, o navegador desenhou profundas entradas no continente que devem ter se transformado no rio há muitos milhares de anos.
As afirmações de Hapgood ainda surpreendem, mais de duas décadas depois de serem formuladas. De fato, recentemente, uma tese idêntica foi retomada pelo jornalista e historiador Graham Hancock em sua obra As Digitais dos Deuses [Record, 1999], que pretende demonstrar que há mais de 12.000 anos a Terra era habitada por uma cultura científica e tecnologicamente muito desenvolvida. Sua obra, que recebeu todo tipo de críticas por haver passado à margem das investigações prévias de especialistas como Zecharia Sitchin e Erich von Däniken, conduz a outros mapas antigos — os citados por Hancock aparentemente usaram as mesmas misteriosas fontes que Piri Reis.O exemplo mais destacado é o mapa antártico de Oronce Finé, traçado em 1531. Sua descrição do continente gelado se ajusta quase totalmente aos mapas da Antártida desenvolvidos a partir de seu descobrimento oficial, em 1818.
Mais mapas, novas surpresas
Também foi Finé quem não somente desenhou detalhadamente as costas daquele continente não descobertas até datas mais recentes, como também localizou corretamente o Polo Sul, traçando seu mapa graças a cartas necessariamente elaboradas em uma época, segundo o professor Hapgood, “em que as costas deviam estar livres de gelo”. Hapgood ficou tão fascinado com o mapa de Finé que levou cópias ao doutor Richard Strachan, do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), para sua análise. Strachan confirmou que Finé copiou sua carta de outras anteriores e que as originais mostravam o perfil dos rios antárticos com o aspecto que deviam apresentar há seis milênios, antes que os depósitos de sedimentos modificassem parte de seu aspecto.
Finé, porém, não foi o único a copiar esses misteriosos mapas. Um contemporâneo seu, de nome Mercator e a quem muitos cientistas identificam como sendo o célebre cartógrafo Gera
rd Kremer, traçou um atlas, em 1569, no qual localizava com precisão lugares descobertos muitos séculos mais tarde, como o Mar de Amudsen e o Mar de Bellinghausen, ambos na Antártida. O que é certo é que Mercator teve laços estreitos com o Egito, chegando inclusive a visitar a Grande Pirâmide, em 1563. E não seria absurdo supor que, como fruto dessas conexões, obteve os mapas originais, ou cópias dos mesmos, hoje já perdidas, que serviram de documentação para sua obra. Seu trabalho funcionou como guia para que, dois séculos depois, Philippe Buache, um cartógrafo dos anos 1800, desenhasse a Antártida desprovida de gelo, dessa vez em sua totalidade. Um mapa que não se pode imitar até que os cientistas obtivessem novos dados do continente em 1958, por razão do Ano Geofísico Internacional. Seriam os dados contidos nesses mapas um indício mais sólido da existência de um conhecimento muito anterior do que admite a história? E estaria este conhecimento ligado à ação na Terra de outras inteligências cósmicas nos seus primórdios. Isso parece evidente.