Já dizia o velho ditado: tem louco para tudo. E na Ufologia não há exceção. Muitas pessoas, numa atitude de extrema ignorância, retiraram a imagem de Jesus Cristo do altar e a substituíram pela figura dos discos voadores, acreditando que, dessa forma, iriam resolver os mais diversos problemas que as atinge: desemprego, dívida externa, inflação etc. Essas pessoas são chamadas pela Comunidade Ufológica Brasileira de ufólatras, indivíduos que se enganam profundamente ao pensar que a Ufologia lhes trará respostas às suas
ansiedades.
Em 1980, o falecido editor da revista Planeta, Edenilton Lampião, já alertava para o fato de que, somente no Brasil, havia naquela época cerca de 125 seitas baseadas na existência de discos voadores e suas origens. Seitas como essas surgem em todos os países e em geral são lideradas por uma pessoa, um guru ou um mestre que crê em contatos telepáticos com entidades extraterrestres. Algumas dessas entidades são mo-deradas, outras radicais e outras, ainda, bastante extremistas. Mas a pergunta que se faz é simples: será que seus fundadores mantêm mesmo ligações com seres intergaláticos? Seja como for, o curioso é que seus seguidores obedecem cegamente o que os mestres ensinam e nunca questionam se aquilo que se fala ou faz é correto. Agem como carneirinhos de presépio, balançando a cabeça e dizendo amém ao seu “amado guru”. Dentre os seguidores de tais seitas existem até aqueles que são de nível universitário – médicos, psicólogos, advogados, engenheiros, industriais, administradores de empresa etc. Todavia, parecem ter uma cabeça menor que a de um alfinete.
Normalmente, os líderes de tais agremiações se acham uma espécie de messias e acreditam que foram escolhidos para salvar a Humanidade. Alguns chegam ao absurdo de se intitularem grandes autoridades mundiais em Ufologia. Sem dúvida, fazem isso para a satisfação de seus egos de proporções astronômicas, maiores que a distância da Terra à estrela Alfa do Centauro! Antes de mais nada, gostaria de esclarecer ao leitor que, depois de tantos anos de pesquisas, depois de ver as mais incríveis aberrações ufológicas, depois de pesquisar centenas de “contatados” e algumas dezenas de pessoas que se diziam extraterrestres, posso afirmar com toda a clareza que eu não acredito em nenhum desses casos. Não creio em sequer um único contatado e muito menos em pessoas que dizem ser extraterrestres, até que me provem o contrário. Quero, no entanto, fazer a ressalva de que não devemos confundir contatados com abduzidos.
As razões para isso são óbvias. Um contatado ou principalmente um ser extraterrestre, no meu entender, teria que ser, pelo menos, melhor do que um simples terrestre ou do que eu, por exemplo. No entanto, depois de tanta pesquisa e inúmeros testes, tais pessoas mostraram ser apenas e tão somente simples mortais como eu, mas com uma grande diferença: com egos exacerbados. Supondo que os contatados realmente tenham a capacidade de manter contatos telepáticos com seres ou entidades extraterrestres, era de se esperar que pudessem fornecer as mais incríveis revelações relacionadas a conhecimentos astronômicos e científicos.
Combustível de UFOs – Por exemplo, imagina-se que tais contatados pudessem transmitir aos cientistas terrestres fatos como a descoberta de qual tipo de motor é usado nos discos voadores para percorrerem distâncias inimagináveis. Entretanto, a única coisa que vemos os contatados transmitirem aos humildes terráqueos são as mais inocentes mensagens de paz e amor. Algumas chegam a ser infantis, com conteúdos do tipo “cessem as guerras, os ataques com bombas atômicas” e “zelem pelo equilíbrio do planeta”, além de outras banalidades – válidas – que até as crianças estão cansadas de saber. Que falta de imaginação teriam os extraterrestres ao efetuarem contatos com seus escolhidos na Terra!
Já dizia o saudoso doutor Joseph Allen Hynek, considerado por muitos como o Pai da Ufologia, referindo-se a uma piada inglesa sobre os contatados: “Que falta de sorte têm esses visitantes do espaço… Todas as vezes que procuram alguém da Terra para se comunicar, seus escolhidos não regulam bem da bola”. Das centenas de pessoas que se denominam contatados, algumas chegam às raias do ridículo afirmando que viajam em discos voadores todos os dias. Que facilidade! Os fins de semana, quem sabe, passariam em Ganimedes, Alfa do Centauro etc. Nas férias anuais, visitariam Andrômeda, que fica um pouco mais longe… Uma verdadeira loucura!
Alguns desses contatados chegaram ao cúmulo de convidar a Imprensa para assistir aos seus alegados contatos. Desses, nenhum conseguiu provar absolutamente nada. Certos contatados chegaram a levar jornalistas até determinados locais de vigília com o intuito de provar que falavam a verdade quando afirmavam que mantinham contatos telepáticos com ETs. Chegando lá, a Imprensa só conseguiu constatar que nada acontecia… Neste momento das discussões, o importante é levantar um perfil psicológico desses contatados.
Normalmente, essas pessoas se julgam selecionadas e eleitas pelos ETs. Em geral, têm um ego exagerado e são quase sempre solitárias. Acreditam que podem entrar em contato telepático com extraterrestres a qualquer hora e, por isso, acabam sendo consideradas por estudiosos sérios como fanáticas ou pseudo religiosas. Suas alegações quase sempre possuem um valor de credibilidade relativamente baixo. Agindo como falsos profetas, esses elementos têm a capacidade de convencer e também de se aproveitar da boa fé das pessoas. Com isso, acabam formando pequenos ou grandes grupos em que agem como líderes. Nessa escalada, um pouco mais de fanatismo e pronto: está formado mais um culto aos discos voadores.
Nessas três décadas que dediquei à pesquisa ufológica, dei bastante atenção à questão dos contatados. Meus estudos indicam que pelo menos 86% desses elementos estão envolvidos em processos anímicos, uma espécie de contato com seu eu interior. Também indicam que cerca de 8% dessas pessoas estão envolvidas com fenômenos paranormais do tipo poltergeist. Nessa categoria estão pessoas que geram mentalmente alguma espécie de energia que resulta em manifestações físicas no meio ambiente. Seguindo a analogia, por fim, meus estudos indicam que 4% dos casos de contatados referem-se a experiências de comunicação com espíritos.
Mesmo assim – e para que ninguém diga que sou radical –, dou um voto de confiança aos contatados que assim se denominam, admitindo que algo perto de 2% dessas pessoas re-almente têm algum contato telepático com seres extraterrestres. Quero deixar bem claro, entretanto, que de todos os casos que pesquisei, nenhum alegado contatado conseguiu me provar que realmente tinha contatos telepáticos com entidades alienígenas. O curioso é que esse fenômeno ocorre na área da Ufologia Mística, jamais na Científica. E antes que alguém fale qu
e sou contra os ufólogos místicos, informo que também pesquiso essa área. O que sou contra – e quero deixar claro – é o fanatismo. O fanático perde a razão, não tem senso do ridículo e constantemente está envolvido em situações negativas. Nunca tem noção da vergonha que passa em público ao fazer alegações infundadas.
Das centenas de pessoas que se denominam contatados, algumas chegam às raias do ridículo afirmando que viajam em discos voadores ao seu bel prazer para Ganimedes, Alfa do Centauro, Andrômeda etc… Uma verdadeira loucura que se alastra por todo o planeta
Documentos comprobatórios – Na realidade, nos últimos tempos, a Ufologia se tornou uma espécie de terra de ninguém, onde cada um fala o que quer sobre qualquer coisa. Ou então, quando solicitado a dar provas do que diz, se limita apenas a dizer que não precisa provar nada a ninguém… Idiotas são aqueles que acatam esses contatados, sem nunca questioná-los. Ora, deve-se provar, sim, o que se afirma. Senão, como iremos apoiar qualquer coisa sem provas? Uma ciência é criada em cima de documentos comprobatórios e jamais veremos a Ufologia ser reconhecida como tal enquanto existirem malucos falando as mais incríveis besteiras, ao seu bel prazer.
Alguns contatados chegam à beira da estupidez. Prova disso é a loucura cometida pelo grupo Portão do Céu, em que 39 pessoas se suicidaram coletivamente, induzidas e enganadas por um doente mental chamado Marshall Applewhite, que prometeu a ressurreição a bordo de um disco voador proveniente da cauda do cometa Hale-Bopp. Depois desse fato, muitos psicólogos perguntam: o que leva as pessoas a chegarem a esse ponto? Essa é uma questão difícil de se responder. Em primeiro lugar, devemos lembrar que, em todo final de século, a população mundial vive uma espécie de “medo psíquico” perante a passagem do mesmo e as incertezas do vindouro.
Em segundo lugar, esse temor ainda é maior agora, pois estamos chegando ao final não apenas de um século, mas de um milênio. Nesse clima, muitos fanáticos e irresponsáveis vão à Imprensa para afirmar que o mundo vai acabar em 1999 – a exemplo de outras situações semelhantes, no passado, em que previsões de fins-do-mundo nunca se realizaram. Com certeza absoluta, desta vez também não veremos qualquer coisa acontecer e o mundo não será liquidado como se afirma. O mundo acaba para quem morre e a Terra continuará tranqüilamente a sua órbita.
Em terceiro lugar, vemos que as pessoas que se envolvem com tais seitas ufológicas são problemáticas, gente que não vive bem com suas famílias, que são desajustadas na sociedade e que vivem crises existenciais contínuas. Isso é facilmente detectável nos indivíduos que freqüentam agremiações tais como as descritas. Por fim, vale dizer ainda que, essas pessoas parecem que encontram algum tipo de apoio em indivíduos que se trasvestem de gurus, desses que normalmente dizem estar em contato telepático com seres extraterrestres… Por alguma razão, as pessoas se agregam a tais seitas e obedecem cegamente os seus mestres, sem ter noção de que estes são mesmo doentes mentais, muitas vezes desequilibrados.
Vemos que as pessoas que se envolvem com seitas ufológicas são problemáticas, gente que não vive bem com suas famílias, que são desajustadas na sociedade e que vivem crises existenciais contínuas. Isso é detectável nos indivíduos que as freqüentam
O que aconteceu com a seita Portão do Céu não é a primeira vez e não será a última. Lamentavelmente, nos próximos três anos, até que se finde o milênio, iremos ver outras cenas semelhantes. Isso ocorre em qualquer lugar do mundo – e o Brasil não é exceção. Aqui já aconteceram coisas ligadas à Ufologia que são tão preocupantes quanto o suicídio coletivo da Califórnia. Por exemplo, o escritor Aladino Félix, autor de diversos li-vros sobre discos voadores e também conhecido pelo pseudônimo de Sábado Dinotos, dizia ter contatos telepáticos com seres extraterrestres e “…ser o escolhido por Cristo para reunir na Terra as 12 tribos de Israel”, segundo o próprio.
Convicto de que teria que cumprir com os escritos das Centúrias de Nostradamus para lograr êxito em sua empreitada, no final de 1967 Félix conseguiu “fazer a cabeça” de mais de 20 incautos para, juntos, assaltarem o depósito de armas da Força Pública de São Paulo. Depois, empolgados, investiram contra bancos, roubaram dinamite de pedreiras e até detonadores de explosivos. Em 1968, o grupo fez explodir várias bombas na capital paulista, matando, mutilando e ferindo centenas de inocentes, conforme os recentes documentos liberados pelo antigo Departamento de Ordem Política e Social (Deops). Entretanto, esse senhor não foi o único a dar desgosto ao cenário ufológico brasileiro. Em 1985, a senhora Valentina de Andrade, certa de que mantinha contatos com aliens, escreveu um estranho livro intitulado Deus, a Grande Farsa. Algum tempo depois, em 1993, já estava sendo procurada pela polícia de nada menos quatro países, sob a suspeita de ser a líder de uma seita que assassinava crianças em rituais satânicos no norte do Paraná.
Com base nesses dois exemplos ocorridos no Brasil, já dá para se ter idéia do quanto é perigoso seguir líderes de seitas ufológicas, os chamados ufólatras. Inadvertidamente, seus adeptos podem se ver envolvidos em crimes diversos sem sequer ter tomado conhecimento sobre as verdadeiras intenções dos grupos dos quais fazem parte. Quando percebem o que está por trás de suas seitas, já é tarde. Assim, caro leitor, teria ainda muitos outros exemplos a dar, ainda que de menor gravidade, todos eles referentes a fraudes, estelionatos com empréstimos bancários, remédios mirabolantes com preços extorsivos etc. Além, é claro, de pinturas artísticas supostamente inspiradas por seres extraterrestres, vendidas por valores exorbitantes…
Tratamentos psiquiátricos – Todo cuidado é pouco. Devemos questionar tudo o que ouvimos. Todo contatado é um sonhador até que se prove o contrário. É importante para quem ingressa em uma seita conhecer os antecedentes de seus gurus. No caso do Marshall Applewhite, se seus seguidores tivessem tido esse cuidado, a tragédia poderia ter sido evitada ou diminuída. Em 1975, este senhor já havia se internado em hospitais para tratamento de suas doenças, que só se agravariam no futuro, levando ao que aconteceu.
Assim, sempre é interessante levantarem-se as certidões negativas criminais dos gurus das seitas ufológicas, para que se possa saber melhor quais são suas verdadeiras intenções. Procurar informações a seu respeito com ufólogos mais velhos, sérios e experientes pode ajudar bastante. Um alert
a: se algum guru começar a dizer que você deve largar sua família, seu emprego e que deve doar tudo o que possui à seita que dirige – para que assim, supostamente, tenha a bondade dos extraterrestres –, chame a polícia e mande prendê-lo, pois é mais um aproveitador de sua boa fé ou, então, mais um maluco que vai levá-lo ao fundo do poço.
Recentemente, fiquei preocupado quando li, à página 399 do livro Os Semeadores de Vida, de Carlos Paz Wells (também conhecido como Charlie), que o autor afirma em público que já se sentiu como um poderoso, um guru, um messias, um escolhido e um enviado para salvar a Humanidade (sic). Minha preocupação advém do fato de que esse senhor afirma que o grupo que lidera, o ex-Projeto Rama, atual Projeto Amar, já tem 1.300 seguidores só no Brasil. Desde que esse senhor chegou ao Brasil, em 1976, vindo de Lima, Peru, tem dito publicamente que mantém contatos telepáticos com vários seres extraterrestres. Noutras ocasiões, afirmou diversas vezes que já fez seis ou sete viagens instantâneas, em corpo físico, para o planeta Apu (sic), que orbita a estrela Alfa do Centauro. Chega a dar a entender que parece estar cansado de viajar em discos voadores…
Lamentavelmente, eu não acredito nessas alegações. Todas as vezes que o senhor Carlos Paz Wells teve a chance de provar à Imprensa o que alega, fez exatamente o contrário! Para se ter uma idéia, Paz Wells afirma que, da primeira vez que foi para Apu, lá permaneceu por 15 dias, enquanto aqui na Terra só se passaram 15 minutos… Quando foi pela segunda vez ao tal planeta, segundo garante, lá ficou durante outros 12 dias. Aqui na Terra, no entanto, se passaram 12 minutos… Ainda conforme este senhor escreveu à página 389 de seu livro, teria aparecido de volta de sua viagem com uma barba crescida de 12 dias, sendo que para seus amigos, 12 minutos antes, estava com o rosto liso.
É interessante levantar as certidões negativas criminais dos gurus das seitas ufológicas, para que se possa saber melhor quais são suas verdadeiras intenções. Procurar informações a seu respeito com ufólogos mais velhos, sérios e experientes pode ajudar bastante
Que prova fantástica e inacreditável não seria essa, a de ter uma barba de 12 dias em tão somente 12 minutos? Isso poderia ser a comprovação definitiva de que algo estranho ocorrera com Paz Wells. No entanto, estranhamente, em vez de chamar seus amigos para mostrar essa incrível prova, a fim de documentá-la, fotografá-la, registrá-la em cartório ou qualquer coisa assim, o que fez o referido contatado? Ora, o senhor Carlos Paz disfarçou-se, enrolou sua cabeça em capuzes e gorros, e ficou longe dos seus amigos naquela noite fria quando isso teria ocorrido…
Encontro marcado com UFO – Aconselho todos os seguidores do senhor Carlos Paz Wells a irem até a revista Manchete ou solicitar uma cópia das folhas 50 a 54 da edição de 07 de abril de 1979. Nestas páginas o leitor encontrará uma matéria intitulada “Encontro marcado com um disco voador”, que envolve tal contatado do Projeto Amar. Após ler o texto, o leitor deve compará-lo com que o senhor Carlos Paz Wells escreveu em seu livro Os Semeadores de Vida, às páginas 400 e 401. Depois disso, que tirem suas próprias conclusões. Aquilo que seria a prova incontestável de um encontro com um UFO – um contato telepático com dia, hora e local marcados – resultou ser tão somente uma fraude ufológica, ainda que os truques fotográficos não tenham sido produzidos pelo referido senhor.
Assim, povo brasileiro, ufólogos, ufófilos e curiosos, como já diziam os escoteiros: sempre alerta. Devemos aceitar tudo, sem acreditar em nada. O ufólogo não deve se envolver emocionalmente com os protagonistas dos casos pesquisados. Deve ser um detetive, um policial (apesar de que hoje em dia a imagem deste profissional está meio desgastada). Se quisermos fazer uma Ufologia séria, temos que ser igualmente sérios. Senão, jamais iremos fazer dela uma ciência. Hoje a Ufologia está na moda e vemos muitos adolescentes interessados por ela.
Ao mesmo tempo, nos terreiros de Umbanda, ETs fazem mais sucesso que muito preto velho. Temos que tomar muito cuidado. Os contatados têm um ego exacerbado. Outra moda desta época é contatar telepaticamente Ashtar Sheran, já que contatar um “Zé da Esquina” qualquer, lá da Avenida 23 do planeta Apu, é muito pobre! Ashtar Sheran é mais pomposo. Ocorre a mesma coisa com os médiuns de cura: se incorpora, tem que ser o doutor Fritz. Outro espírito não tem status.
Estatisticamente, devem existir pelo menos uns 3.000 Ashtar Sherans por aí, para darem conta das milhares de pessoas que afirmam que estão em contato com ele. Só aqui no Brasil, já conheci mais de 200! Assim, torno a repetir: temos que tomar muito cuidado. Outros Marshalls Apple-whites poderão estar a caminho. Procurem fugir desses gurus, como o diabo foge da cruz. Quem sabe, assim, você não entra numa enrascada. Ou quem sabe, também irá se encontrar com a nave espacial na cauda do cometa Hale-Bopp antes da hora…