No final dos anos 50 foi lançado por ninguém menos do que Carl Gustav Jung, o homem que trouxe à luz o conceito do inconsciente coletivo, o livro Um Mito Moderno Sobre Coisas Vistas no Céu [Editora Vozes, 1958]. O texto gerou impacto, é claro, e o próprio Jung declarou estar ciente dos riscos profissionais e de credibilidade que corria ao expressar sua opinião “sobre certos acontecimentos contemporâneos”, em suas palavras. O livro é uma preciosidade e eleva o estudo ufológico a tal nível que poucos têm alcance para compreender suas ideias.
O mais interessante é que, embora o texto tenha gerado impacto, ele o fez somente entre os intelectuais apreciadores da psicanálise e entre os profissionais de psicologia. Não foi, claro, um êxito popular de vendas e verdadeiramente até hoje nem sequer é considerado como referência bibliográfica por muitos autodenominados ufólogos ou investigadores de UFOs.
E, no entanto, fiel ao estilo de ilimitada audácia intelectual que sempre lhe caracterizou, Jung traça no livro um caminho apaixonante, que excede a estrutura da mente e aponta para o próprio coração da natureza cósmica. Já se passaram mais de 60 anos e ainda gera sentimentos opostos observar, por um lado, o campo infinito de possibilidades, tanto de investigação como de reflexão e especulação que propõe o ensaísta, e, por outro, a indiferença e a ignorância por parte daqueles que deveriam ser seus agradecidos destinatários.
Os UFOs, por Jung
A escassa popularidade do livro é somente o primeiro dos problemas. O segundo é sua má interpretação. De fato, alguns autores — especialmente aqueles que em um contexto ufológico se esforçavam, e ainda se esforçam, para desqualificar os acadêmicos — ainda hoje seguem insistindo em que Jung propôs em sua obra uma explicação psicológica para o fenômeno. Isso não é verdade e aponta para uma falsa interpretação do conteúdo do texto, por má-fé ou por deficiência de quem o leu. Aponta, também, para um desconhecimento da obra de Jung em geral.
Mas para que não restem dúvidas, vamos ver o que disse o próprio Jung sobre a materialidade do Fenômeno UFO, e suas palavras são claras: “Quanto mais me aprofundava nas inseguranças das explicações, maior a possibilidade de que este fenômeno, notoriamente complexo, possuísse junto a um fundamento físico também um essencial componente psíquico. O material que conheço até agora, isto é, que tenho examinado ao longo de uma década, justifica duas maneiras de pensar. Em um caso, há um processo objetivo real, isto é, físico, que constitui o terreno do mito que o acompanha. Em outro, um arquétipo gera a visão correspondente”.
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