Professor de Direito Romano na Faculdade Católica de Santos, no litoral sul paulista, o advogado João de Freitas Guimarães afirmou ter vivido em uma noite de junho de 1956 a experiência mais fantástica de sua vida, só tornada pública no ano seguinte. A edição de 15 de agosto de 1957 do jornal paulista A Gazeta qualificou-o como “pessoa do mais alto conceito, advogado dos mais ilustres do fórum de Santos, poeta distinto, professor e cidadão de vida ilibada, a quem todos tributam merecido e justo respeito”. Ele de fato merecia o tratamento. Seu caso é tão incomum que rodou o mundo.
Na ocasião de seu contato, Guimarães caminhava pelas areias de uma praia deserta de São Sebastião, litoral norte de São Paulo, quando avistou, vindo do mar, algo semelhante a uma “baleia expelindo jatos d’água, envolta em luz verde pálida”, conforme descreveu. Não tardou a constatar que se tratava na verdade de um aparelho incomum na forma de dois grandes pratos ligados pelas bordas. Logo ele teria contato com seus ocupantes, seres extraterrestres, e viveria uma experiência única de viajar para fora da atmosfera terrestre — e isso bem antes de qualquer outro ser humano. A edição de 22 de agosto do jornal carioca O Globo relatou que o disco pousara a poucos metros do advogado, com a parte da frente sobre a areia úmida e a parte de trás sobre a água.
Franca conversação com ETs
Guimarães lembrava-se perfeitamente de que o aparelho repousou em terra firme, assentando-se sobre a areia suas esferas, que seriam o seu trem de aterragem. Estranhos homens saíram do seu interior e desceram, estabelecendo-se um contato, depois de várias tentativas de sua parte, no sentido de manter uma franca conversação. Falou em português, francês, inglês e italiano, mas não obteve resposta. Não obstante, sentia que começava a entender-se com os estranhos, que o convidaram a entrar no aparelho espontaneamente, para conhecê-lo e, talvez, dar um pequeno passeio.
No interior do disco viu paredes de linhas retas, mas nenhuma porta. Um dos seus acompanhantes desapareceu, ficando em sua companhia apenas o homem que o guiara até o aparelho e foi com ele que se estabeleceu todo o entendimento. Uma das primeiras coisas que notou — apesar do estado de nervosismo em que se achava — foi que o seu relógio parara às 19h40. Ele sentia frio, especialmente nas mãos e na cabeça, enquanto pela vigia notava que o aparelho ganhava altura velozmente. A questão do relógio parece não ter explicação, pois continuou parado mesmo depois do seu retorno e só voltou a funcionar quando acionou o pino da corda.
O interior do aparelho estava profusamente iluminado, não se vendo, porém, qualquer espécie de lâmpada, tubo ou instrumento de projeção — ele não conseguiu saber donde provinha a luz, que era intensa e extremamente agradável. O advogado fez questão de esclarecer na reportagem um ponto que estava dando margem a interpretações errôneas: ele jamais dissera que avistou a Terra do interior do disco. Ao deixar a atmosfera terrestre e mergulhar na escuridão do espaço, Guimarães notou que os astros passaram a fulgurar com muito mais intensidade. Pela rapidez com que o cenário corria pela janela, calculou que o aparelho, impulsionado por força magnética, se deslocava a uma velocidade de 80 km por segundo.
O tripulante, além de certificar-lhe de que estavam aqui para advertir a humanidade dos perigos da radiação atômica, forneceu-lhe telepaticamente informações detalhadas sobre o único instrumento que se via naquele compartimento — um mostrador quadrangular com três agulhas muito sensíveis, que trepidavam e vibravam loucamente indicando o nível magnético de cada sistema. À sua volta havia inscrições semelhantes a sinais taquigráficos. A agulha central correspondia à resultante da composição de forças magnéticas. O passeio durou exatamente 42 minutos.
Conversação telepática
O doutor João de Freitas Guimarães descreveu os tripulantes, que se disseram oriundos de Vênus, como sendo jovens, altos, de cabelos loiros compridos, imberbes e de olhares serenos e acolhedores. Envergavam macacões verdes, parecidos com malhas finíssimas e bem ajustados ao corpo, mas que se estreitavam no pescoço, nos punhos e nos tornozelos — os sapatos, igualmente verdes, pareciam de borracha. Verifica-se aqui uma perfeita analogia com o venusiano de George Adamski [Veja artigo nesta edição]. E, tal como ele, não ouviu uma palavra sequer de qualquer tripulante, já que o entendimento entre eles também era telepático.
A mais importante revelação que recebeu referia-se ao Sol. O aludido jornal acrescentou, a propósito, que o professor, na angústia de que se via possuído, lembrou-se do astro como se fosse sua própria casa — recordou-se da sua luz, do seu calor, como se fosse o seu último amigo. Como que respondendo aos seus apelos, o misterioso tripulante, de olhar tranquilo, deu-lhe a entender que o Sol, ao contrário do que se acreditava, não atrai os planetas, e sim os repele. A luz e o calor seriam simples ondas de irradiação que percutem a atmosfera dos planetas.
Um padrão de contato?
Um segundo encontro foi aprazado pelos venusianos para o dia 12 de agosto de 1957. Avisados pelas emissoras de rádio e pelos jornais, populares aguardavam ansiosamente a chegada dos interplanetários no local marcado. O contatado, entretanto, receando desacatos e complicações, seguiu as recomendações dos amigos e simplesmente não compareceu na data fixada. E quanto aos tripulantes do disco voador, poderíamos perguntar se cumpriram o combinado? Nenhum dos presentes, salvo uma única e duvidosa testemunha, viu algo de diferente no céu. O enviado especial de O Globo reportou que Ernesto Tavolaro, proprietário do Praia Hotel, que hospedara Guimarães por ocasião do primeiro encontro, garantiu que poucos minutos antes de surgirem aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) — designados para aguardar o UFO —, um aparelho cruzou a baía com extraordinária rapidez. “Acho que veio antes da hora e, não encontrando o professor, voltou para sua base”, aventurou-se Tavolaro.
Anos depois, o advogado dirigiu um desabafo à comunidade científica, que nunca reconhecera sua experiência: “O que mais lastimo é que pessoas que eu julgava cultas se revelassem incapazes de admitir o assunto. Desta forma, toda ilustrada convicção contrária à realidade do fato vinha autorizada e consagrada no sorriso estúpido”. O ceticismo de que foi vítima não era unanimidade — entre os ufólogos brasileiros ele é tremendamente respeitado.