Desde a reativação das pesquisas ufológicas oficiais francesas, agora através do recém criado Groupement d’Etude et d’Information sur les Phénomènes Aerospatiaux Non Identifiés [Grupo de Estudos e Informações sobre os Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados, GEIPAN], o novo responsável pelos trabalhos é o engenheiro Jacques Patenet, de 59 anos. Mas ele não coordena a entidade sozinho. Patenet está sob supervisão de um comitê de direcionamento com cerca de 15 membros, chamado Comitê de Controle do GEIPAN e encabeçado por Yves Sillard, um cientista que teve vários cargos de chefia no Centro Nacional de Pesquisas Espaciais (CNES). Ao anúncio da criação do GEIPAN se seguiram várias especulações e dúvidas entre os ufólogos de todo o mundo, em especial os franceses. Muitos questionaram a razão de haver um comitê de controle. Por que não foi feito um comunicado aberto da reativação à toda a imprensa? Os arquivos secretos serão finalmente liberados sem qualquer restrição? E quem trabalhará no GEIPAN? Eis a seguir os esclarecimentos fornecidos pelo engenheiro para as dúvidas – que não são poucas – dos ufólogos e da imprensa em geral.
O senhor é o responsável pelo novo GEIPAN, que funcionará dentro da estrutura do CNES. Poderia nos explicar o que é essa nova entidade? O GEIPAN continuará o trabalho iniciado pelo Service d’Expertise des Phénomènes de Rentrées Atmosphériques [Serviço de Investigação de Fenômenos de Reentrada Atmosférica, SEPRA] anos antes. Ele terá as mesmas funções de coletar, analisar e classificar testemunhos relacionados aos fenômenos aeroespaciais não identificados (PANs), dando destaque especial à função de divulgar essas informações. Outra novidade nos trabalhos da nova entidade é justamente a criação de uma comissão de controle dos trabalhos, composta por representantes dos setores de estatística e de ciências do CNES, com a missão de definir as linhas de atuação da entidade e gerenciar suas atividades.
Pode-se dizer que o estudo dos UFOs será agora levado a sério? Bem, em vez de UFOs, eu prefiro falar de PANs, fenômenos aeroespaciais não identificados, dos quais os UFOs constituem uma pequena parte. Nosso estudo será levado adiante e a sério com o objetivo de desenvolver conhecimento científico e sociológico, visando o esclarecimento do público e até mesmo auxiliar a segurança nacional.
A entidade anterior voltada para o estudo dos PANs, o SEPRA que o senhor citou, foi abruptamente fechada em 2004. Qual o motivo de se reativar agora uma similar e em que o GEIPAN se distingue dela? Foi realizada uma auditoria no SEPRA em 2001, com o objetivo de se avaliar a continuação ou não das atividades de estudos dos PANs, assim como para saber de que maneira poderíamos encarar uma continuação das pesquisas. Pelos motivos apresentados anteriormente, aquela auditoria recomendou a continuidade dos trabalhos dentro de um organismo público civil e sob autoridade de um comitê de controle. Essas recomendações foram aceitas pelo CNES após um certo período de espera, originado pelas mudanças na direção da instituição e sua completa reorganização, em 2003. O GEIPAN foi criado a partir dessas recomendações e se distingue do SEPRA por ter um posicionamento mais claro dentro da estrutura do CNES, além do controle das suas atividades sendo feito por uma comissão especialmente designada para tal função.
Esse comitê de controle responde ao CNES de alguma maneira? Não, o comitê de controle é independente e envia ao CNES suas recomendações para a condução das atividades do GEIPAN.
Qual é, então, o nível de autoridade desse comitê sobre o GEIPAN? Ele não possui autoridade de comando e é livre para tecer as recomendações que julgar mais apropriadas. Porém, o CNES não é obrigado a seguir as instruções fornecidas pelo comitê, que mesmo assim terá sua função preservada.
Parece então que temos agora uma organização semelhante ao Groupement d’Etude des Phénomènes Aerospatiaux Non identifiés [Grupo de Estudos de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados, GEPAN] original, fundado em 1977, porém tendo a divulgação de informações como um dos seus novos objetivos. Podemos dizer que o novo GEIPAN irá dispor dos mesmos recursos que a entidade antecessora? Depois da reorganização realizada por Y. d’Escatha, atual presidente do CNES, ele foi dividido em várias especialidades nas quais se apóiam seus diversos projetos. O GEIPAN, que também deve ser considerado um projeto, receberá os meios necessários para desenvolver suas atividades. Assim, teremos a quantidade ideal de pessoal alocado a elas. E o comitê de controle irá fiscalizar se o CNES está realmente disponibilizando todos os recursos que a entidade precisa.
Qual foi o caminho que o levou ao comando do GEIPAN, profissionalmente? O senhor já tinha algum interesse anterior pelos PANs? Eu tenho formação científica com trajetória profissional em várias áreas. Mas meu interesse no assunto vem de longe, porque durante os anos 80 eu fiz parte da equipe de voluntários que trabalharam no GEPAN original, quando ele começou.
Qual foi exatamente seu trabalho durante aquele período? Investigações de campo, estudos teóricos, o que enfim? E como esta experiência o auxiliou em sua compreensão do problema dos PANs? Eu participei apenas de estudos metodológicos dos PANs a partir de 1979, durante um período relativamente curto de tempo. Isso foi antes de eu partir para as Guianas, em 1981. Minha compreensão do problema é estritamente científica, independente das hipóteses levantadas.
Quais serão as primeiras atividades que o senhor planeja para o novo GEIPAN? Por um lado, faremos a retomada das relações contratuais que nos ligam aos órgão de coleta de dados, entre eles Força Aérea Francesa, a Gendarmerie, a Diretoria de Aviação Civil e o Escritório Nacional de Meteorologia. E voltaremos a utilizar os diversos laboratórios científicos que nos permitem aprimorar o estudo e a análise dos casos registrados. Por outro lado, faremos o desenvolvimento de um site dedicado especificamente às atividades do GEIPAN, o que também é considerado uma prioridade importante.
O anúncio de uma recente reunião do comit&ecir
c; de controle do GEIPAN não foi devidamente enviado a todos os órgãos de imprensa e nem consta no site do CNES [www.cnes.fr]. O que o senhor tem a dizer sobre isto? Aquele comunicado foi enviado a todos os nossos correspondentes na imprensa – mais de 400 –, mas não tenho informação precisa de quantos acusaram recebimento ou não, porque as nossas prioridades no momento são outras.
E em relação ao site do CNES? O termo UFO ainda está no seu glossário. O site do CNES ainda não está totalmente atualizado acerca da nova organização do GEIPAN [Após a realização desta entrevista, muitas atualizações já haviam sido feitas, que podem ser encontradas em www.cnes-geipan.fr]. Com relação ao termo UFO, ele está lá simplesmente porque é uma chave de pesquisa para busca nas páginas do site que falam sobre exploração espacial, mais especificamente a marciana. Mas eu mesmo ainda não encontrei nenhuma ocorrência do termo UFO no texto que fale sobre o mito da vida em Marte, por exemplo…
Outro comunicado do CNES fala da criação do site exclusivo e oficial do GEIPAN, mas qual será o seu conteúdo e quando ele estará disponível? O conjunto de documentos acumulados pelas entidades antecessoras ao GEIPAN que podem ser divulgados estarão à disposição do público através desse site. Porém, o início do seu funcionamento depende basicamente dos trabalhos de digitalização dos arquivos, que já começou em setembro passado, mas é demorado e necessita de bastante tempo para ser concluído. Ficarão de fora apenas informações que não podem ser divulgadas por razões jurídicas, como aquelas que envolvem nomes de testemunhas que desejam permanecer no anonimato.
Qual será o conteúdo dos documentos a serem liberados? Relatórios de avistamentos? E os relatos de UFOs ou PANs enviados ao conselho científico do GEPAN, anos atrás, que jamais foram publicados, também estarão disponíveis? As condições para a publicação de todo o material no site estão ainda sendo analisadas. Mas tudo o que juridicamente puder ser disponibilizado será, com exceção dos relatórios do conselho científico e do comitê de controle, devido à necessidade de uma maior liberdade de expressão dentro das suas atuações.
Yves Sillard, presidente do comitê de controle do GEIPAN, deu uma entrevista recente em que falou de uma política de desinformação que teria ocorrido na França durante os últimos 15 anos, semelhante ao acobertamento que acontece nos Estados Unidos. Qual é sua opinião com relação a isso? Eu penso que a declaração de Sillard foi motivada por algumas das conclusões relacionadas ao relatório final da Comissão Condon, da Universidade do Colorado, criada para confirmar as descobertas do Projeto Blue Book, em 1966.?Nada tem a ver conosco.
O senhor compartilha da opinião do senhor Sillard? Eu me posiciono dentro de uma conduta científica restrita, na qual minha opinião pessoal importa muito pouco. Não gostaria de comentar os pareceres de outras pessoas, que devem se sentir livres para exprimir as próprias idéias.
Nessa mesma entrevista, o senhor Sillard disse que quatro cientistas iriam ajudar o novo GEIPAN. O senhor poderia nos dizer quem são? Veja, a análise dos casos de PANs exige que cientistas de diversas especialidades estejam na estrutura do GEIPAN. Vários já estão lá e também no comitê de controle. São das áreas de astronomia, ciências humanas e sociais, propulsão, ciências da Terra etc. Outros cientistas, de fora do CNES, também poderão vir a trabalhar no GEIPAN, como esses quatro e conforme as necessidades venham a surgir.
Mas o nome e as funções destes cientistas serão informados? Não, porque alguns deles têm reservas quanto a terem seus nomes expostos, devido aos trabalhos que desenvolvem em determinadas instituições. Além do mais, a simples divulgação dos nomes dessas instituições já é quase sempre suficiente para informar o tipo de atividade que realizam.
O que o senhor pensa do trabalho dos ufólogos civis? Acredita que o novo GEIPAN poderá contar com algum tipo de colaboração vinda deles? Não tenho nenhuma opinião a respeito do trabalho que desenvolvem. Esses ufólogos representam uma parte do nosso público e têm o estudo dos PANs como hobby, que é algo que deve ser respeitado. O CNES definiu que se manterá dentro dos limites do trabalho científico, sem tabus ou exclusivismo, e não poderia deixar de colaborar com cientistas reconhecidos dentro das suas respectivas especialidades. Alguns deles podem ser ufólogos e outros podem ser céticos, isso não importa. O que importa é nos mantermos dentro da metodologia científica.
Essa abertura a outros especialistas que se encaixem dentro da metodologia científica citada poderá envolver profissionais de outras disciplinas, além daquelas que já fazem parte do CNES? Sim, nós contataremos todas as pessoas e os órgãos que forem necessários para nosso trabalho, dentro das suas respectivas competências.
E essa rede de especialistas irá avançar geograficamente, ou seja, o GEIPAN terá correspondentes, pesquisadores ou consultores apenas na França ou espalhados pelo mundo? Agregaremos especialistas e instituições onde quer que eles estejam e quando isso se tornar necessário, mas não está programado cobrirmos todo o território francês com uma rede permanente.