Estávamos dentro de um taxi preso num pequeno engarrafamento no Rio de Janeiro. O calor era forte naquele sábado de manhã, com ar poluído e clima abafado. Já estávamos atrasados pelo menos 2 horas para um importante compromisso, por motivos de tráfego e outros afazeres. O moto-rista do veículo, como quase todo taxista carioca, estava visivelmente nervoso. No meio de uma situação dessas, a ufóloga carioca e grande pioneira da Ufologia Brasileira, Irene Granchi, sentada no banco da frente, conseguiu achar tempo e disposição para perguntar ao motorista se ele já havia visto um disco voador. E com toda a seriedade.
“Como? O senhor nunca viu um UFO?”, disse ao homem completamente surpreso. “Pois o senhor fique sabendo que muitos motoristas de vários tipos de veículos já viram UFOs e alguns até já estiveram dentro deles!”, garantiu dona Irene ao motorista, cada vez mais surpreso. É desnecessário dizer que até eu fui pego de surpresa pelas indagações de dona Irene ao taxista. Ainda presos no engarrafamento, nossa ufóloga-maior não teve dó e arrematou: “pois saiba o senhor também que os UFOs existem de fato, não são boato e que há muitos anos nos visitam e nos raptam”. A conversa era quase surrealista, o que fez o pobre motorista, por fim, dar-se por vencido com a persistência, a segurança e a indisfarçável sobriedade de sua octogenária passageira.
E dona Irene finalizou a conversa com aquela sua instigante atitude que apenas quem a conhece sabe qual é. “Se o senhor tiver algum avistamento, por favor me ligue, pois eu pesquiso o assunto seriamente e gostaria de ouvi-lo”. Que dúvida poderia ter o homem de que aquela senhora de fato conhece e pesquisa o tal “assunto do disco voador” com toda a seriedade do mundo? Algumas quadras a frente, quando já chegá-vamos ao nosso destino, dona Irene saiu do carro com alguma dificuldade e eu, que estava quieto no banco de trás, aguardei o homem fazer algum desses comentários cínicos ou jocosos pa-ra mim, sem dona Irene ouvir. Queria dar-lhe uma boa resposta! Mas sem gozação nem cinismo, o homem olhou-me e perguntou com a maior cerimonia e curiosidade: afinal, quem é esta senhora? É verdade mesmo tudo isso que ela falou?”.
Conviver com Irene Granchi é receber todo dia valiosíssimas lições que nos permitem compreender todos os estágios da manifestação do Fenômeno UFO. “Fazer Ufologia” é muito mais profundo e dinâmico do que sentar-se atrás de um computador e editar uma revista por 12 ou 14 horas diárias
Estufei o peito de satisfação e com uma pincelada de orgulho garanti ao homem. “Essa é a pessoa que mais entende sobre as visitas de seres de outros mundos ao nosso planeta. E tudo o que ela falou é uma grande realidade”. Dona Irene mais uma vez surpreendeu seus interlocutores, dando um fantástico recado e atraindo um novo adepto para a Ufologia. Mas muito mais que isso, deu uma grande lição. Eu recebi ali, no banco de trás daquele taxi, gratuita e inesperadamente, mais uma aula de como “fazer Ufologia” e uma demonstração clara de que “fazer essa tal de Ufologia” é algo muito mais profundo e dinâmico do que sentar atrás de um computador e editar uma revista por 12 ou 14 horas diárias. E foi sempre assim em todas as oportunidades que estive ao lado de dona Irene: lições e mais lições que, aos poucos, foram me permitindo compreender novos estágios da manifestação do Fenômeno UFO em nosso meio ambiente.
Incansável – Essa senhora que abordou o motorista incansavelmente é uma grande conhecida de todos nós, ufólogos brasileiros, pois “milita” em Ufologia há mais de 40 anos, i-ninterruptamente. Isso é mais tempo do que a média de idade da maioria dos ufólogos do país. Ela própria já viu UFOs várias vezes, embora não seja isso que dite sua determinação e obstinação como ufóloga. Muitos dos leitores a conhecem de conferências e congressos pelo Brasil afora, embora a maioria a conheça de seu livro UFOs e Abduções no Brasil, seus inúmeros artigos em revistas (em especial a UFO) e através das centenas de entrevistas que deu à televisão. Mas confesso que, dentre tan-tos ufólogos que com-partilham de seu agitado convívio, sinto-me um privile-giado, pois a conheço como um forte e próximo amigo há mais de 12 anos. Estive ao seu lado em incontáveis situações, em eventos no Brasil e exterior.
Desde que fui recebido em sua casa pela primeira vez, como um entusiasta e inexperiente ufólogo, passei a receber fantásticas lições com o convívio que entre nós se intensificava. Dormi no sofá de sua casa, fiz refeições à sua mesa, ajudei-a a subir e descer escadas, ganhei várias broncas, ouvi muitos conselhos etc, sempre recebendo (e dando) um carinho praticamente de filho. Por isso sinto-me um privilegiado. Essa senhora, que completará nada menos do que 81 anos em novembro, ensinou-me muito do que sei sobre os UFOs, mas não contando-me casos ou narrando-me suas pesquisas. O que aprendi com ela é muito superior a tudo isso: dona Irene ensinou-me a ter perseverança em meus objetivos dentro da Ufologia, ensinou-me a ser meticuloso, correto e honesto com meu traba-lho. E ensinou-me a ver a posição dos ETs neste quebra-cabeças ufológico de forma totalmente diferente.
Foi ela quem deixou claro que os seres que nos visitam estão aqui para algo muito maior, mais impor-tante e imensamente mais profundo que meras visitas. Observando e admirando dona Irene nesses anos todos, confesso que sinto hoje uma responsabilidade enorme em fazer o que faço, como ufólogo e editor de UFO. Uma responsabilidade em valorizar, honrar e dar continuidade a um trabalho tão bonito e importante que ela e alguns outros raros pioneiros desenvolveram. Não consigo sequer me imaginar decepcionando essa figura que dedicou sua vida à uma causa que eu também abraço. E essa responsabilidade não é só minha, mas de dezenas de “crias” que dona Irene têm espalhadas pelo Brasil e mundo afora.
Quando falo mundo afora, vem à minha mente mais uma fantástica situação que vivi ao seu lado, como dezenas de outras que jamais esquecerei. Tive o privilégio de viajar e participar com dona Irene de vários congressos nos EUA, e numa dessas oportunidades vivi momentos de grande orgulho quando fui convidado, durante o 3° Congresso Mundial de Las Vegas, em 1993, a apresentá-la ao público. Como um dos diretores do evento, já havia apresentado vários ufólogos à platéia, lido seus cur-rículos etc. Mas apresentar dona Irene foi algo especial, pois eu, uma “cria” dessa fantástica senhora, iria agora, num evento internacional de porte gigantesco, apresentá-la como minha colega de trabalho, embora isso de forma alguma me fizesse imaginar que estivesse ao seu nível.
Forte orgulho – A simples oportunidade de dirigir-me à uma platéia constituída pelos maio
res estudiosos de Ufologia da atualidade para apresentar alguém que tanto admiro e que todos ansiavam conhecer, foi um momento de verdadeira glória. Quero aqui testemunhar pu-blicamente, unindo-me aos outros 11 brasileiros presentes naquela ocasião, que fizeram da delegação brasileira (chefiada por UFO) a maior comitiva estrangeira em Las Vegas, o quão calorosamente as pessoas da platéia receberam aquela senhora, incomparável lenda viva da Ufologia mundial. Não havia quem não soubesse o que dona Irene Granchi representava para todos nós que hoje vemos a Ufologia chegar aonde chegou. Todos queriam – antes, durante e depois de sua palestra – conversar com ela, cumprimentá-la, tocá-la enfim, para sentirem, talvez por osmose, um pouco daquele entusiasmo contagiante em narrar, em seus ple-nos 81 anos de idade, os fantásticos e inúmeros casos que pesquisou pessoalmente.
Meu testemunho é de que conheci também no exterior pessoas que nunca viram dona Irene na vida, mas que leram seus incontáveis artigos em revistas dos 4 cantos do globo, como o boletim da antiga e hoje extinta Aerial Phenomena Research Organiza-tion (APRO), que ela representou soberbamente por mais de 20 anos. Essas são pessoas que aprenderam – como nós, brasileiros – a admirá-la profundamente pelo que ela é e pelo que fez pela Ufologia. Quem está envolvido com esse espetacu-lar campo de estudos sabe muito bem que muito do que sabemos hoje, muito do que é consagrado como uma irrevogável realidade ufológica, foi conhecido através da obra de dona Irene Granchi – obra essa que se confunde com sua pró-pria vida.
Conheço inúmeras velhinhas nos seus 80 anos, todas comporta-dinhas como costumam ser essas senhoras octogenárias. Todas as que conheço passam seus dias de merecido repouso sentadas em su-as cadeiras de balanço, defronte da TV, fazendo tricô ou crochê. Mas “nossa” dona Irene, igualmente octogenária, está bem longe de ser uma velhinha comum. Nesta avançada idade, ainda não achou tempo para descansar, não conhece sábados e domingos (num desses dias, acompanhei seu almoço – já frio – feito em 3 etapas, enquanto atendia a inúmeros telefonemas). Do alto de sua idade, trocou a cadeira de balanço por uma escrivaninha, a televisão por uma máquina de escrever. Em vez de tricô, essa senhora faz relatórios de suas pesquisas ufológicas – episódios em que sai empunhando um pesado gravador pelos subúrbios perigosos do Rio atrás de algum novo fato que ajude as gerações futuras e entender melhor os UFOs.
Obrigado dona Irene Granchi, em nome de todos os ufólogos e ufófilos do Brasil. Obrigado dona Irene, por dar esse fantástico exemplo para todos nós que praticamos Ufologia!