Brasil e Inglaterra oficializaram nesta terça-feira (17), no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, São Paulo, um acordo de colaboração na área de pesquisas espaciais. Entre os projetos beneficiados estão a utilização de satélites, modelagem de cenários futuros de mudanças climáticas e observação da Amazônia. O acordo foi assinado pelo diretor substituto do Inpe João Braga e pelo diretor de Ciência e Tecnologia Espacial do Laboratório Rutherford Appleton (RAL) Richard Holdaway. A assinatura do documento foi testemunhada pelo príncipe Andrew, Duque de York, que está em visita pelo País.
O documento de cooperação tem duração de 5 anos. O detalhamento das ações de intercâmbio entre cientistas, estabelecimento de prazos e de eventuais investimentos na parceria anglo-brasileira acontecerão em um workshop previsto para ser realizado em novembro deste ano. “O workshop abordará vários aspectos da tecnologia. Temos 45 anos de experiência em nosso laboratório no desenvolvimento de sistemas”, disse o diretor do RAL. Segundo Holdaway, o entendimento das mudanças climáticas é um dos principais focos de interesse do Reino Unido em relação ao Brasil. “Mudanças climáticas são o mais importante. Não temos um entendimento muito grande sobre a floresta amazônica, que tem um impacto muito grande no clima global. Vocês têm muita experiência sobre os efeitos locais causados pelas mudanças”.
Para o cientista, os modelos de cálculos desenvolvidos no Brasil em relação à projeção de impactos ambientais futuros também auxiliarão o desenvolvimento das pesquisas britânicas. “Os dados brasileiros ajudarão a melhorar nossos modelos”. Como segunda prioridade, Holdaway destacou a possibilidade da instalação de equipamentos ingleses, como câmeras, nos satélites brasileiros. “Temos idéias interessantes sobre cargas a serem levadas nos satélites”.
O diretor substituto do Inpe afirmou que um dos exemplos de participação britânica seria no novo satélite multimissão para a observação da Terra, em especial da região amazônica, cujo cronograma aponta para o início de operações a partir de 2010 e substituição a cada 2 anos. “Os satélites ingleses ou são muito grandes, ou muito pequenos. Eles estão interessados neste nicho, que são os satélites de médio porte. Não existem plataformas multimissão na Inglaterra”, disse Braga.
Segundo o diretor substituto, uma plataforma como o satélite multimissão Amazônia-1, primeiro a ser lançado, exige investimentos de cerca de R$ 50 milhões. “Já temos praticamente definidos os sistemas que integrarão esse primeiro satélite, mas existe a possibilidade de eles colocarem câmeras ou até de contratarem uma plataforma inteira”. Segundo Braga, o sistema brasileiro de cooperação com o Reino Unido deverá seguir um modelo diferente do firmado com a China para o desenvolvimento dos satélites da linha CBERS. “O foco dessa cooperação será mais amplo. No momento, investimentos não foram especificados. As escalas de tempo serão definidas a partir de novembro”.
O príncipe Andrew e sua comitiva desembarcaram em São José dos Campos por volta de 10h50 e foram conhecer as instalações da Embraer. Em seguida, o grupo se deslocou para o Inpe, onde o príncipe pôde observar as atividades realizadas no Laboratório de Integração e Testes (LIT). Antes de retornar a São Paulo para mais atividades, o príncipe fez um pronunciamento, agradecendo a possibilidade de parceria com o Brasil. A assinatura do documento no Inpe é a terceira desde o dia 29 de março deste ano. Já foram formalizados protocolos de interesse com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).
Estas atividades fazem parte do Ano Brasileiro-Britânico da Ciência & Inovação, idealizado em 2006, durante visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Reino Unido. Um comitê consultivo formado por representantes dos dois países deverá elaborar a programação de eventos no País e ações de intercâmbio científico.