Os irmãos Sixto e Carlos Paz Wells alegam que da década de 70 tiveram um excepcional contato com ETs numa praia quase deserta do Peru, chamada Chilca, do qual tomaram parte repórteres de várias empresas jornalísticas do país e do exterior. Os rapazes, filhos do pioneiro ufólogo peruano José Carlos Paz Garcia Corrochano, fundador do Instituto Peruano de Relações Interplanetárias (IPRI), alegam inclusive que entre os presentes esteve o repórter espanhol Juan José Benítez, que consagrou-se famoso nos anos 80 ao lançar – e manter até hoje – a série de livros Operação Cavalo de Tróia [Editora Mercuryo].
A história dos irmãos tem sido contada inúmeras vezes, das mais diversas formas, mas nunca havia sido rigorosamente checada antes. Assim, decidi fazê-lo em 1996, quando, em julho, viajei ao Peru. Em Lima, entrevistei longamente Sixto Paz Wells, o mais novo dos irmãos, a quem teria cabido comandar o que sobrou da Misión Rama, depois que Carlos resolvera migrar para o Brasil, tendo se instalado em São Paulo. Sixto, como era de se esperar, confirmou o teor da história tão conhecida sobretudo na América Latina, por forte influência do Rama. Disse que realmente houve o tal contato, numa madrugada fria dos anos 70, na referida praia.
Fui até lá para conhecer o local e checar com a população os fatos alegados. Um acontecimento da envergadura de um contato com uma nave discóide pousada na localidade não é algo que pudesse passar desapercebido. Em Chilca, 70 km a sudoeste de Lima, um misto de praia de deserto e pântano, repleta de mosquitos e com péssimas condições de salubridade, conversei com inúmeros antigos moradores. Também entrevistei autoridades municipais. Absolutamente ninguém se recordou dos fatos contados pelos irmãos Paz Wells – nem mesmo a aludida alta intensidade ufológica da região foi confirmada.
De volta ao Brasil, meses depois, encontrei em São Paulo o escritor Benítez, que viera ao país para lançar a segunda edição de Operação Cavalo de Tróia. Aproveitei para entrevistá-lo, o que o fiz na tarde de 06 de setembro daquele ano. Entre várias perguntas a ele formuladas e suas sempre didáticas respostas, surgiu a oportunidade para saber dele se realmente confirmava a história dos irmãos Paz Wells. Perguntei a Benítez se ratificava a afirmação de Sixto e Carlos de que houvera de fato um contato alienígena, estando ele presente, naquela noite em Chilca.
Benítez foi lacônico ao dizer que “parece ter havido algum movimento, talvez uma observação, do outro lado de uma montanha próxima”. Mas foi claríssimo ao dizer, “o que quer que tenha sido aquilo, certamente não foi nenhum contato com ETs”. E por fim confirmou que não teve mesmo contato algum naquela localidade, ou noutra, estando junto dos irmãos Paz Wells. Estupefato com as respostas, pois o próprio autor descrevera o suposto contato – embora não tão florido quanto os peruanos – em alguns de seus livros, insisti em saber por que ele mantivera o assunto pendente durante tanto tempo e, principalmente, por que não desmentia os irmãos. Sua resposta foi esclarecedora. Para ele, os irmãos estavam apenas “exagerando” e carregando nas tintas quanto ao que de fato se passou, sem, com isso, cometerem qualquer dolo.
Benítez deu a entender que achava que Sixto e Carlos estivessem insistindo na história porque acabaram acreditando nela – como pessoas que, de tanto repetir a mesma mentira, a transformam numa verdade. Nada mais que isso. Benítez não teve contato algum com ETs em Chilca e tudo não passou de uma invenção dos peruanos para sustentar a Misión Rama e, mais tarde, com Carlos Paz vivendo no Brasil, o Projeto Amar.