O mundo todo voltou seus olhos para as telas dos cinemas no dia 4 de julho passado. Era a estréia mundial do filme mais cogitado dos últimos tempos, Independence Day ou ID4. No Brasil o filme entrou em cartaz dia 9 de agosto, também com grande sucesso. A curiosidade e o interesse pelo assunto não são um fato recente nos sets holliwoodianos, muito menos nas casas dos cidadãos norte-americanos. Vide o grande sucesso de filmes como ET e Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de Steven Spielberg, e da mais nova febre, o seriado da Fox Arquivo X. A ficção científica sempre fascinou. Quem não se lembra de Guerra nas Estrelas, Alien ou Cocoon? Não importa o estilo do filme, se for sobre o Fenômeno UFO, atrai milhões de espectadores.
Se falarmos que um dos recordes de bilheterias dos EUA de todos os tempos, ET, é um filme ingênuo e com um enredo muito simples – que até hoje, apesar de ter sido lançado em 1980, encanta e diverte milhões de pessoas –, isso é suficiente para mostrar que os UFOs atraem uma imensa legião de pessoas, ávidas por informações e novidades no setor, de maneira assombrosa. Em Independence Day, a febre norte-americana pelos discos voadores é apresentada de maneira impressionante. Sem se preocuparem com a mensagem passada no filme – que no caso é somente de desmedida auto-estima e patriotismo –, os diretores de ID4 foram primorosos nos efeitos especiais, motivo pelo qual vale a pena assistir ao filme repetidas vezes.
Sucesso de público, de arrecadação e de crítica. Como um mero entretenimento, é o filme mais envolvente dos últimos anos. Ufologicamente, no entanto, não acrescenta quase nada à compreensão da “real” invasão que estamos tendo de civilizações que, dia após dia, se aproximam ainda mais da Terra e deixam claras suas intenções. Mesmo assim, até os ufólogos se recostam nas poltronas e se divertem com ID4
O diretor Roland Emmerick, o mesmo de Stargate, declarou que não tinha outra intenção ao produzir o filme a não ser a de causar medo nas pessoas – fato que conseguiu homericamente. Não há quem assista ao filme e não saia do cinema olhando para os céus, procurando por uma sombra estranha… É de causar espanto e deixar até o mais calmo dos mortais com os nervos à flor da pele. De aproveitável ufologicamente, no entanto, o filme deixa muito a desejar e está bem longe de ter uma mensagem do tipo da mostrada em Intruders ou Contatos Imediatos.
PROBLEMAS DE VISÃO — Após ID4, com certeza, o número de avistamentos de UFOs irá aumentar consideravelmente. Isso não quer dizer que o número de espaçonaves em visita à Terra será maior, mas sim que as pessoas começarão a olhar mais para o céu. Em conseqüência, poderão relatar um maior número de observações ufológicas. Além disso, as pessoas estarão mais influenciadas pelo efeito do filme, sendo muito mais propensas a acharem que viram um UFO. Muitas delas, no entanto, estarão tendo apenas problemas de visão (ou imaginação)…
A imaginação é livre para criar extraterrestres de todos os tipos. Os bonzinhos, como os dos filmes de Spielberg, e os maus, como em Fogo no Céu ou Inimigo Meu. Em Independence Day, escolheu-se ETs maus e horripilantes, muito parecidos com o monstrengo alienígena que aterroriza Sigourney Weaver na série Alien. Spielberg declarou em entrevista à uma rede de TV norte-americana que, apesar de nunca ter usado ETs do tipo mau e feio em seus filmes, tem uma certa preferência por eles, justificando assim seu entusiasmo por Independence Day. “O filme é certeza de sucesso e um ótimo entretenimento. Irei ao cinema vê-lo junto ao meu filho”, declarou o diretor [Editor: Já há mais de um ano os ufólogos de todo o mundo aguardam o próximo filme que Spielberg estaria fazendo, sobre um assunto mais polêmico ainda: a queda de Roswell].
Em ID4, a invasão do planeta por malvados e desalmados seres alienígenas é iniciada num dia 2 de julho e terminada num 4 de julho, coincidentemente, o dia da independência dos EUA. Neste aspecto, é um filme politicamente correto, pois possui heróis que agradam a gregos e troianos. O presidente dos EUA, Thomas J. Whitmore, vivido pelo ator Bill Pullman, é um ex-piloto da Força Aérea Norte-Americana (USAF) que decide não apenas comandar a operação de destruição dos UFOs, como também participar ativamente do combate. O presidente Whitmore é um homem protestante e branco, além de ser um ecologista que reluta antes de utilizar a bomba atômica contra os ETs, por receio de afetar o meio ambiente.
CORAGEM E DECISÃO — Já o capitão Steven Hiller (Will Smith) é um corajoso e decidido oficial negro da aeronáutica americana que está tentando ser astronauta da NASA. Isto por si só, segundo os diretores do filme, já justifica o fato de saber pilotar (e bem!) naves extraterrestres… David Levinson, gênio dos computadores dentro de um clichê – o de ser isolado, subvalorizado e introvertido –, interpretado por Jeff Goldblum, é um judeu bem pouco ambicioso e terrivelmente solitário após sua separação, nunca superada. Randy Quaid, que faz o papel de um ex-combatente do Vietnã, é um piloto alcoólatra e pai adotivo de mestiços hispânicos que é usado para ajudar a combater os invasores. Ele é, em ID4, Russel Casse, que convenientemente já tinha sido seqüestrado por ETs antes desses “visitantes” resolverem tomar a Terra e os odiava intensamente.
Quem assistir ao filme poderá escolher qual dessas personagens se encaixa à sua figura de herói. Porém, não importa quem você eleja, quem ganha são os norte-americanos, que desfilam um patriotismo exacerbado neste filme. Todas as personagens têm a mesma importância. Os diretores se preocuparam em passar a idéia de que todos podem ser atingidos e exterminados. Que ninguém está livre da destruição e que todos podem ajudar a salvar a Humanidade. Um dos pontos culminantes do filme é o exato momento em que somos invadidos pelos extraterrestres. Os ETs têm uma entrada triunfal – um instante de tirar o fôlego do mais cético espectador.
Segundo A. J. Gevaerd, que assistiu à estréia norte-americana do filme junto dos mais renomados ufólogos do mundo, no final de mais um dia de palestras do International UFO Symposium da Mutual UFO Network (MUFON), em Greensboro, julho passado, o filme é sucesso mesmo entre pesquisadores sisudos e objetivos. “A emoção foi geral e contagiou a todos nós, acotovelados numa sala de projeção da Carolina do Norte. Afinal, o contato definitivo com ETs é o dia mais esperado por nós, ufólogos. Ninguém se conteve”, declarou. Há muitos “poréns” no filme, mas o resultado é positivo. Os ufólogos lembram, por exemplo, que as naves têm tamanho exagerado, sua forma não condiz com a realidade do Fenômeno UFO e a existência de um grande número de adereços e detalhe
s em sua fuselagem tampouco… Isso para não falar dos ETs, que nem de longe se parecem como nossos reais invasores!
CENAS DE CATÁSTROFES — Como entretenimento o filme é ótimo, cheio de efeitos maravilhosos que fazem o público vibrar. Ufologicamente, no entanto, é sofrível. “Já que toca no assunto da Área 51, manobras governamentais, UFOs acidentados etc, não custava nada o filme mostrar algo mais próximo da realidade”, disse Gevaerd. O filme fala sobre aliens invadindo o planeta — até aí, nenhuma novidade cinematográfica. No entanto, a riqueza de detalhes e a frieza com que os diretores detonam as principais cidades dos Estados Unidos é incrível. Em nenhum outro filme vimos ET algum destruir a Casa Branca, a Estátua da Liberdade, ou cidades inteiras, com tanta rapidez e sem receio algum de causar revolta entre a população. As cenas de catástrofes são para piromante nenhum botar defeito.
Para salvar a Terra da aniquilação total, militares dos mais variados países se unem, esquecendo todas as suas diferenças sociais ou pessoais. Talvez essa seja a maior mensagem de todas as que os diretores têm remota intenção de passar: a de que, para sobrevivermos à uma tentativa de submissão por parte de uma civilização extraterrestre belicosa, só teríamos chances se nos uníssemos. Só conseguiríamos manter viva nossa espécie, ainda que quase aniquilada, se todos os povos da Terra baixassem suas armas, esquecessem suas diferenças políticas, religiosas, territoriais, culturais etc. Duas personalidades já disseram isso em público, uma política outra artística. No fim de seu segundo mandato, Ronald Reagan, em conferência na ONU, disse que “…fico espantado ao ver quão rapidamente nossas diferenças cairiam por terra se fôssemos atacados por alguma força extraterrestre. Só teríamos chances contra ela se nos uníssemos.”
Barbra Streissand, num de seus melhores shows, assistido pelos primeiros escalões de vários países do mundo em 1978, em Malibu, Califórnia, parafraseou Marilyn Monroe dizendo, “…se quisermos sobreviver, terá que ser todos juntos. Ou ninguém restará”. Alguém tem alguma dúvida? Se tiver, talvez o filme ID4 a desfaça. Mas, voltando ao tema… Durante o filme, clichês holliwoodianos se repetem em abundância: há tempo para casamentos, reconciliações amorosas e até reencontros com o Senhor. Independence Day possui um enredo extremamente piegas e diálogos bem pouco inteligentes. Não passa quase nenhuma mensagem ou informação que preste. É até difícil dizer que se trata de uma ficção científica pois, por mais estranhos e impossíveis que sejam, os filmes de ficção utilizam embasamentos científicos explicáveis – coisa que não acontece em Independence Day.
ÁREA 51 — Segundo o produtor Dean Deavlin, o filme não tem nenhuma pretensão científica, preocupando-se apenas com as sensações que possa causar nos espectadores – sobretudo medo e angústia. Apesar de todo patriotismo e exagero, o filme tem um lado, embora tímido, de informação: uma parte dele é passada na Área 51, onde sabidamente o governo dos EUA mantém atividades de pesquisas ufológicas secretas. Este local, anexo a Groomlake, ao norte da super secreta Base Aérea de Nellis, a 70 km de Las Vegas, é para onde UFOs acidentados e ETs resgatados eram levados para exames, até quatro anos atrás, quando Bob Lazar resolveu botar a boca no mundo e dizer tudo o que viu quando trabalhou lá [Editor: veja edição UFO Especial 09 com relatório completo das atividades norte-americanas na Área 51 e as declarações de Lazar].
Mas os diálogos a respeito de UFOs no Deserto do Nevada acontecem de uma forma tão discreta que passam desapercebidos entre os mais distraídos. Quem se tocou, por exemplo, ao perceber que o diretor da CIA, dentro do avião presidencial Air Force 1, admitia ter escondido do próprio presidente dos EUA a existência de um programa secreto de pesquisa do assunto, que teria resultado na captura de um UFO e três seres em Roswell? “Isso nunca aconteceu, eu asseguro”, dizia Whitmore ao pai de Levinson. “Well, senhor presidente, não é bem assim…”, admitia o agent. Essa foi uma mensagem nada subliminar do filme, mas talvez não tenha o efeito que os ufólogos gostariam de ver.
A questão do tamanho da nave-mãe dos extraterrestres é um capítulo à parte do filme, uma coisa completamente fora do normal. “Chega a beirar o absurdo”, falou o ufólogo Jimmy Courant, um dos mais renomados dos EUA, durante a estréia em Greensboro. Se as naves que saem de dentro dela já encobrem cidades inteiras como Nova Iorque ou Washington, tente imaginar a nave-mãe. É difícil, ainda mais depois de terem falado em 90 bilhões de anos-luz – levando-se em consideração que o universo quase não tem 30 bilhões de anos… A tecnologia dos alienígenas mostrada no filme também é colossal. A forma como eles nos destroem impiedosamente nos faz ver o quanto somos frágeis e vulneráveis. Faz-nos sentir terrivelmente pequenos e inseguros. E se eles forem mesmo assim? Se ao invés de lindos e bonzinhos, ainda que cinzas e cabeçudos – como sempre esperamos –, os extraterrestres forem hostis e horripilantes?
Você já parou para pensar sobre isso? E se o dia do encontro for também o dia do confronto… Temos que estar preparados para tudo. Improvável, mas não impossível. Independence Day é entretenimento, é diversão, não é um filme sério no campo da Ufologia. Para quem for assistir, não espere maravilhas sobre as descobertas científicas mais recentes. Os diretores não tiveram a pretensão de fazê-lo dessa maneira. Sequer usaram ufólogos para assessorarem os sets, ao contrário de Intruders, Fogo no Céu e Contatos Imediatos. Falando como espectador, o filme vale cada centavo que você pagar na bilheteria. Sem sombra de dúvidas, os efeitos visuais vão ficar marcados para sempre na memória de quem for ver Independence Day.
A imprensa aplaude invasão dos ETs
De forma geral, a mídia internacional está delirando com a destruição da Terra nas telas de cinema. Revistas de grande circulação, que somam nos EUA, por exemplo, 50 milhões de leitores, dedicaram capas inteiras ao lançamento de ID4. No Brasil, a febre foi um pouco menos intensa. Mesmo assim, também em nosso país o lançamento do filme é recordista de bilheteria