Ao longo do período em que fiz cobertura dos fatos relativos à onda chupa-chupa e à Operação Prato na região de Colares, tive oportunidade de entrevistar mais de 30 pessoas, principalmente entre as que foram atendidas e submetidas a tratamento pela doutora Wellaide Cecim, na Unidade Sanitária de Colares [Veja texto nesta série]. Também vi mais de 50 pessoas atacadas na ilha e umas 30 na região de Imbituba. Na Baía do Sol conheci mais cinco, inclusive o casal que me apontou o seu cachorro, que ficou mudo após o fato. A história é interessante. O marido foi até a delegacia formular uma queixa do fato, relatando que ele e a esposa haviam sido atacados por uma luz e que seu cachorro — um vira-lata que servia de guia e tomava conta da casa — acabara ficando mudo. Eles descreveram que o animal era muito esperto e latia para qualquer estranho. Mas, após o contato, o cachorro nunca mais latiu.
Como jornalista, fui até o local para entrevistar o casal, que me relatou exatamente o mesmo que o repórter fotográfico Biamir Siqueira tinha vivido dentro de um veículo pouco antes, o fenômeno da luz translúcida [Veja texto principal]. O marido contou que estava com a mulher em um barranco quando, de repente, ficou tudo muito claro. Havia um feixe de luz dirigido para cima do barraco que atravessava tudo e o homem disse que parecia ter ficado dia. Mais tarde, naquela mesma noite, fui com o general Alfredo Moacyr de Mendonça Uchôa e uma equipe do programa Globo Repórter, que estava na área, fazer uma vigília em Colares. Mas os resultados foram frustrantes — nada vimos além de luzes de embarcações passando ao longe. Ficamos lá das 24h00 às 04h00 e nada. Na ocasião, tive oportunidade de conversar muito com o militar sobre a Operação Prato, e algumas ideias surgiram.
Relatório simplório inconclusivo
Já na vila de Penhalonga também investiguei o caso de um senhor que também teve um avistamento do chupa-chupa, mas que denominou de “satélite”, sim, um curioso satélite que fazia movimentos à baixa altitude e corria atrás das pessoas. Na época podia se ouvir essa denominação com certa fre-quência. Só depois se soube que quem fez as pessoas imaginarem que o chupa-chupa fosse um tipo de satélite foram os militares da Aeronáutica que operaram na área. Foi então, pesquisando a origem desta denominação, que descobri que antes da Operação Prato houve uma outra atividade militar na área, sob o comando de um tal sargento Alfredo Nascimento, que fez um relatório simplório inconclusivo. Só depois que militares da Operação Prato entraram na história, investigando tudo, mas também tentando ridicularizar aquelas pessoas humildes e enfiando ideias tolas em suas cabeças — como fazê-los achar que as luzes eram satélites.
O que pouca gente sabe, e que se descobriu ali, é que houve uma experiência de investigação militar anterior à Operação Prato, que resultou, naturalmente, em um relatório também anterior. Esta incursão na região foi realizada igualmente por determinação da direção do I Comando Aéreo Regional (COMAR I), no começo de 1977 e antes da Operação Prato, que teve início em setembro. Seu responsável foi o tal sargento Nascimento, mas o relatório foi considerado muito pobre e insuficiente — a decisão de fazê-lo, no entanto, partiu do brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira, então comandante do COMAR I. Ele era um homem de grande vivacidade intelectual e sabia que algo anormal ocorria ali.
As diferenças entre esse relatório anterior e o emitido pela Operação Prato são interessantes. As missões não tiveram o mesmo critério de trabalho, tanto que o primeiro documento nem teve uma comissão de pesquisa efetiva, ou sequer um nome. Já a Operação Prato teve critérios estabelecidos pelo capitão Uyrangê Hollanda e deu frutos, como todos sabemos, apesar de ele ter começado seu trabalho como um cético quando a natureza extraordinária do chupa-chupa.